31 de mar. de 2021

PARA VIVER UM BOM POETRIX, por Goulart Gomes

PARA VIVER UM BOM POETRIX
(Goulart Gomes, parafraseando Vinicius de Moraes)


Para viver um bom poetrix, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e algum risco - para viver um bom poetrix.

Para viver um bom poetrix, mister é ser um poeta só daquela inspiração; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.

Para viver um bom poetrix, primeiro é preciso sagrar-se poetrixta e ser de sua idéia por inteiro - seja lá como for. Há de fazer do corpo uma morada onde clausure-se a musa amada e postar-se de fora com uma caneta - para viver um bom poetrix.

A pitada e o ponto, por Aila Magalhães

Quem cozinha conhece o segredo de um bom poetrix.

Não há receita no mundo capaz de ensinar o tamanho certo da pitada, a exata intensidade da mexida no tacho, a precisão do tempinho a mais no fogo. É tudo decidido no olhar cheio de interesse, no cheiro que se espalha pela cozinha, na ponta da língua...

Quem nunca se maravilhou perante um prato, surpreendido na descoberta de um tempero tão sutil quanto imprescindível? Assim também ocorre com o poetrix. Um título, três versos e trinta sílabas? Não basta! Há que se acrescentar pitadas de amores e humores e se mexer com jeito para não desonerar o molho.

A poesia por um trix, por Aníbal Beça

Trace três versos triscando o toque do temporal mínimo oriental de um santo Bashô, que baixou na Baixa do Sapateiro para buscar no azeite de dendê e na pimenta malagueta seu cavalo-de-santo, temperado no mar da Bahia, Oropas, França e Japão.


Dormiu cem anos de solidão na rede latino-americana, na cesta das tormentas, entre a sesta dos excluídos e escolhidos, para dar o salto do canga-pé universal. Falo de um personagem criativo e criador que, como xará onomástico de ex-presidente deposto por golpe, atende e diz-se Goulart Gomes.

O cognato: use e abuse de aliterações, assonâncias, rimas, símiles, onomatopéias, metáforas, metonímias, e outras que tais do inferno gramatical, mas podem chamá-lo poetrix. Um pelo outro, mescla-se o troco, ganha-se em dobro de corda e caçamba bem amarradas. Goulart e poetrix, não se largam. São um só: pai, filho e espírito santo.

O verso é como remédio: três em um. E cura cotovelo de apaixonado, espinhela caída de donzela, males da cornucópia, bochicho de esquina de mal-dizer & bem-querer, desigualdades da cólera social. Tudo em drágeas de colorido humor, no senso exato, que não subestima, inteligente, transgressor et, por cause, libertário.

No palimpsesto do verso, o reverso que retorna às liças medievais pela boca soteropolitana-gregoriana: o canto da boca do paraíso e do inferno
tropicais, de mel e fel, na síntese da Nova Trova, nas palavras da tribo de hoje. Daqui e d'além mar.

Um fenômeno que tomou de assalto as caravelas de bucaneiros que navegam pelos mares sistêmicos-internâuticos. De fato e de direito, pelo mérito, já se faz história, como primeiro movimento universal saído dessa rede. Não há como deletar, Tem-se que engolir o gênio baiano.

Morasse Goulart em São Paulo, ele já seria alçado parelha ao movimento dos concretos, do qual não nega ser caudatário. Sucesso no Brasil é perigoso. E quando se espalha babel, as línguas de fogo mexem com zelos-celos de salieris de atalaia. O Tom Brasileiro, afinado, já descobrira: " É um insulto" .

Que seja um insulto. Mas um insulto que o mundo já adota como um soco
renovador acabará por nocautear os misoneístas renitentes É ver para crer.

Os neofóbicos que me perdoem, mas o novo é fundamental.

Não gostava, como diria um poetrixista português, de me debruçar sobre as "amargas". O instante é de festa, de comemorar na dança das palavras. Pois então saudemos esta antologia com as alvíssaras que ela carrega. Que a Boa Nova, desça aos infernos e ascenda aos céus, com a mesma manemolência que fez de Pastinha um mestre:

Sai da rasteira
do tombo no seu quilombo -
Ás da capoeira!
Aníbal Beça

Fonte: https://poetrix.net.br/


Poetrix

EDUCAÇÃO DA CENSURA

Como está difícil a vida.
Tornou-se tão sombria
Ignorância aplaudida.

(Regina Lyra)

Poetrix

Estranhamentos

Escavo silêncios.
Dentro do poema,
Desvazio-me.

(Gilvânia Machado)

Apresentação da I Antologia Poetrix, por Alice Ruiz

Dizem os sábios que: o UM é a energia criadora, o Yang, o masculino; o DOIS, a materialização da energia, o Yin, o feminino; o TRÊS, resultado do encontro deles. Portanto, mágico.

Na poesia, os três versos sempre acharam alguma forma de se impor como forma, nem que fosse como estrofe. Até, enfim independentes, atingirem seu apogeu no haikai. 

Mas como poesia é liberdade, nova independência surgiu. 

E agora, diziam os poetas, que fazer com os tercertos que não seguem as regras do haikai mas insistem em acontecer? 

Eis que o profeta, digo, o poeta Goulart Gomes, tirou-os do limbo em que viviam, por falta de batismo, inventando a palavra Poetrix. 

Essa antologia é apenas o começo da história feliz do terceto que se salvou por um triz. Digo, por um Poetrix...

Alice Ruiz

Fonte: https://poetrix.net.br/

Poetrix

Divi_dida

não queria
ser deus
só duas...

(Aila Magalhães)

Breve resumo da trajetória do Poetrix

O POETRIX foi criado pelo escritor baiano Goulart Gomes e tem sua origem na publicação do seu livro TRIX - POEMETOS TROPI-KAIS em 1999, durante a III Bienal do Livro da Bahia, quando também foi publicado o  I MANIFESTO POETRIX, 

Em 2000 foi criado o MIP - Movimento Internacional Poetrix, sob coordenação de seu criador e  foram nomeados poetrixtas coordenadores em diversos estados do Brasil e também em Portugal, Argentina, Estados Unidos, Venezuela, Colômbia, Itália e Espanha.

O MIP realizou oito Concursos Literários Internacionais e publicou seis coletâneas com a participação de autores brasileiros e estrangeiros. Estimulou a publicação de diversos livros e promoveu a divulgação de Poetrix através da Internet.

Vinte anos depois, o MIP foi extinto e em seu lugar foi criada a Academia Internacional Poetrix, em 01/07/2020.

POETRIX: UMA PROPOSTA PARA O NOVO MILÊNIO, por Goulart Gomes

Em 1984 a Universidade de Harvard (USA), solicitou ao escritor e crítico Italo Calvino que elaborasse uma série de palestras a respeito das qualidades da escritura. Ao todo seriam seis palestras. Contudo, em 1985, este escritor nascido em Cuba, mas radicado na Itália, viria a falecer, deixando prontas apenas cinco palestras. Estas palestras foram reunidas em um livro publicado no Brasil pela Companhia das Letras, sob o título “Seis Propostas Para o Próximo Milênio”.

Com sua vasta cultura, Calvino discorre com bastante elegância e propriedade acerca destas “qualidades” - Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade - fazendo um rico passeio pela literatura universal, desde os clássicos até os escritores contemporâneos.

SOBRE A (IN)UTILIDADE do POETRIX, por Marilda Confortin

Um dos principais atributos da poesia é a inutilidade. Não fosse isso, ela já estaria extinta por obsolescência. 

Tudo já foi escrito e cantado em verso e prosa de todas as maneiras possíveis. 

Mas, a revelia dos tempos, da evolução tecnológica e da opinião dos críticos literários que execram os textos ingênuos, todo dia, em algum lugar dessa terra, alguém se depara pela primeira vez com uma lua cheia e solta um “putaqueospariu que coisa mais linda!” ou enche o peito e sem vergonha declama o primeiro versinho que lhe vem a cabeça “não há, ó xente, ó não, luar como este do sertão”[1]. 
E começa tudo outra vez: nasce um novo poeta rimando amor com dor, criança com esperança, lua com nua, Brasil com anil. 

II MANIFESTO POETRIX - 2002

Dos males, o menor!

Toda vanguarda será retaguarda: se não podemos ser eternos, sejamos pós-modernos; se não somos pós-doutores, sejamos pós-autores. Todas as ideologias estão mortas, todos os sujeitos fora de lugar.

Viva o Minimalismo e vamos flanar! O poetrixta desfolha a bandeira: descerrar é melhor que dissertar.

Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix! Viva a ciberpoesia!

Fazer poetrix não é fatiar uma frase em três partes. Viva a insubordinação gramatical, a desobediência civil! Abaixo as orações coordenadas e subordinadas!

Fora do título não há salvação.

Não mais que trinta sílabas para dizer o máximo.

E viva o canibal! Viva o caeté que comeu Sardinha e viva o Cabral!

Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire! Abaixo os derramamentos da poesia fast-food! Dizer muito, falando pouco. Concisão e coerência. Exploremos os significados polissêmicos das frases, a riqueza semântica das palavras, valorizemos as metáforas.

Queremos o salto
o susto
a semântica
a leveza
a rapidez
a exatidão
a visibilidade
a multiplicidade
a consistência

Queremos o Século XXI! Vamos acordar o Novo Milênio!

O poetrix é um projétil que se aloja na alma. O poetrix é um vírus em nossa memória discursiva. É a suprasíntese.

Viva Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald e Drummond!

E viva a Poesia!

E viva o Poetrix!

Viva a alegria e viva um planeta chamado Bahia!

Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu!


Maior é Deus.

Goulart Gomes

Bahia, Brasil, 28/07/2002.

MELHORES POETRIX DOS ANOS 2001 A 2007

MELHORES POETRIX - Eleitos pelos integrantes do MIP
Fonte: poetrix.net.br

2001

PESSOIX
(Goulart Gomes)

um terço de mim delira
um terço de mim pondera
outro terço: ah! quem dera!


2002

ORTOGRAFIA 
(Anthero Monteiro)

uma gaivota só
um til sobre a palavra
imensidão


2003

Fútil 
(Armando Leal)

sinto-me vazio e escrevo.
as letras parecem pedras,
e doem-me os gestos.


MORTE 
(Anthero Monteiro)

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga


2004

AGENDA CHEIA
(Eliana Mora)

Marquei encontro comigo.
E [como sempre]
não fui.


2007

PRÉ-NATAL 
(Marilda Confortin)

Dilato, contraio, ardo.
Estou prestes a parir
mais um ano bastardo.

I MANIFESTO POETRIX -1999



O I Manifesto Poetrix  foi publicado no livro TRIX POEMETOS TROPI-KAIS, de Goulart Gomes (Bahia: Pórtico Ed.,1999), premiado com Menção Especial pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores-RJ, em 2000


Alguns conceitos foram modificados posteriormente pelo MIP- Movimento Internacional Poetrix. 






Foi Aníbal Beça, um dos maiores pesquisadores brasileiros de Hai-Kai, quem gentilmente me falou: "Goulart, pode chamar seus inventivos tercetos do que quiser, menos de Hai-Kais". E ele estava absolutamente certo. Não podemos dizer que suco de uva é vinho sem álcool. O Hai-Kai (ou Haiko) é uma milenar arte oriental, que vem aprimorando-se com o passar dos séculos. Mexer na essência das coisas significa criar uma coisa nova, diferente da anterior.

Assim, necessariamente, o Hai-Kai deve possuir 17 sílabas, divididas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas; conter alguma referência à Natureza; referir-se a um evento particular e ater-se ao Presente.

O que apresento neste livro - e que também é feito por muitos outros poetas - é o que agora proponho se chame POETRIX (poe, de poesia, poema; trix, de três, terceto), ou seja, a poesia em três versos, o terzetto, originalmente chamado na Itália.

Mas não apenas isto: venho propor, também, um gênero com características (não, regras) bem definidas e abrangentes:

1. No POETRIX, o título é desejável, mas não exigível. Ele exerceria uma função de complementaridade ao texto, definindo-o ou sendo por ele definido.

2. Não existe rigor quanto ao número de sílabas, métrica ou rimas no POETRIX, mas o uso do ritmo e da similaridade sonora das palavras, sim.

3. O uso de metáforas e outras figuras de linguagem são uma constante no POETRIX, assim como a criação de neologismos.

4. A interação autor/leitor deve ser provocada através da subliminaridade do POETRIX.

5. O POETRIX é necessariamente uma arte minimalista, ou seja, ele procura transmitir a mais completa mensagem com o menor número de palavras.

6. O POETRIX considera Passado, Presente e Futuro como uma só dimensão: TEMPO, podendo ser utilizado indistintamente.

7. No POETRIX o observador (autor), as personagens e o fato observado podem interagir, criando condições suprarreais ou ilógicas ("non sense").

O POETRIX é tipicamente urbano. Ele também aproxima-se das leituras visuais, concretas, do epigrama e do caligrama, podendo ganhar formas animadas. Um experimentalismo deste tipo de POETRIX foi por mim realizado com a produção do livro em disquete MAIS FRACTAIS, em 1996.

O POETRIX vai muito além do ascetismo espartano do Hai-Kai. É isso o que trás este livro: poemetos tropi-kais, leves como quem vive abaixo da linha do Equador. Convido os poetas a exercitá-lo e os leitores a apreciá-los.

A capa deste livro é uma homenagem a Pablo Picasso, que também descobriu, em 1907, um jeito diferente de ver o mundo.

Muito obrigado.

Goulart Gomes


Poetrix


Mês(mice)


Mais um mês finda.
Por ele, não bebo sequer uma taça.
Nenhum estalo da língua.


(Marilda Confortin)

Poetrix "Balanço anual" de Marilda Confortin

 


Poetrix de Angela Bretas

Guardiã 

A vela
 vela
 a velha...

(Angela Bretas)

A origem do Duplix, Triplix, Multiplix - por Pedro Cardoso

Duplix, Triplix e Multiplix são formas poéticas derivadas do Poetrix, feitas por duas, três ou mais pessoas, respectivamente. 

Transcrevemos correspondência enviada pela Tê Soares, uma das criadoras do DUPLIX para a nossa lista de intercâmbio (extinto grupo poetrix no yahoogroups), dando explicações sobre as mesmas, alguns exemplos e as regras das formas múltiplas.

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Caros poetrixtas:

O Poetrix surgiu de uma brilhante idéia do poeta baiano Goulart Gomes. No nosso entender, o brilhantismo de sua "criação" foi a formação de um grupo de escritores via Internet, em que todos recebem, ao mesmo tempo, os diversos poemas como se fosse uma mesa redonda. Esta troca de e-mail permitiu um maior entrelaçamento de parte a parte. É importante dizer que o grupo é formado por poetas de vários países, o que, com certeza, dá ao poetrix, uma força maior.

Desse contato, nós, Pedro Cardoso e Tê Soares, começamos a trocar poetrix e a perceber que havia um grande sintonia na compreensão dos conteúdos e nas idéias. Um dia, Pedro encaminhou um poetrix e a Tê não resistiu. Para mexer com ele e sair brincando com as palavras, criou e juntou um poetrix e pronto! Era um autêntico duplix!

O Duplix não pode ser comparado com os tankas, essa modalidade de poetrix tem que ser elaborada a partir de um terceto pronto. Tem de ser um desafio, ser feito por dois poetas, ter rimas e vida própria. É quase um casamento, onde cada um dos dois já existe, faz sentido e tem seu papel. Ao juntarem-se, formam um casal - o Duplix - que, igualmente, é um ser completo, composto de duas partes entrelaçadas e fazendo um novo sentido. Para saber se dois poetas compuseram um duplix é simples: leia o primeiro poetrix independente do seu parceiro. Leia o do parceiro. Ambos tem de ser compreendidos sozinhos e, juntos, estarem no mesmo assunto, mas sendo outro terceto.

O nosso objetivo é lançar o DUPLIX e, agora, também o TRIPLIX, que, em verdade, são apenas uma derivação do poetrix, pois terão que ser obrigatoriamente apresentados de forma separada e em conjunto, ou seja, não poderão ser feitos por uma só pessoa. Essa é a regra de ouro e obrigatória para que nos mantenhamos fiéis à origem e finalidade de ambos. Além disso, o duplix (e cada um dos duplix que compõe um triplix) não poderá ter mais que sessenta silabas e deverá apresentar as mesmas rimas do poema original para garantir o ritmo e a musicalidade (não importa que sejam na mesma ordem do primeiro e nós temos nos perguntado se isto é viável ou é melhor deixar a rima a critério do escritor, mas como estamos apenas nascendo, ainda haverá muito tempo para errar e acertar...)

O duplix é, na verdade, um desafio. Acreditamos que a tarefa não seja das mais fáceis, mas é maravilhoso ter intimidade suficiente com as palavras para brincar com elas, além de ser pura arte...

Beijos da Tê para os meninos, do Pedro para as meninas e abraços para todo mundo.
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O PRIMEIRO DUPLIX:


EU e EU
Pedro Cardoso // Tê Soares

Menino carente // menina contente
feito pinto no lixo // feito quem brinca de cochicho
rega a vida, enganando a boca // negando a dor, veemente e louca



DUPLIX PESSOIX

um terço de mim delira // a vida me convida
um terço de mim pondera // o medo me atrela
outro terço: ah! quem dera! // sou inteira quimera...

Goulart Gomes // sara fazib




DUPLIX FLAGRA

Me pegaram de jeito // vigilantes tecelãs
osculando a manhã tecida // nos teares da alvorada,
a ouro em pó e praia // sereias douradas.

Amélia Alves // Walter Cabral de Moura



TRIPLIX FLAGRA



Me pegaram de jeito // vigilantes tecelãs // guardiãs da madrugada
osculando a manhã tecida // nos teares da alvorada, // na fina malha do tempo
a ouro em pó e praia // sereias douradas / cavalgando o vento

Amélia Alves // Walter Cabral de Moura // sara fazib




O PRIMEIRO MULTIPLIX




FEROHORMÔNIO MARINHEIRO

Pressinto-te no ar, // [ no mar ] // navego lentamente //, velas pandas
Farejo-te no vento. // [ sedento ] // me entrego, // em liberdade,
Qual bicho ao relento. // [ me rendo ] // como se você fosse uma deusa.// grega.

Sávio Drummond // [sara fazib] // Pedro Cardoso // fausto



REGRAS DO DUPLIX

1 - DEFINIÇÃO

O duplix foi criado pelos poetrixtas Tê Soares e Pedro Cardoso. É uma composição poética elaborada a partir da junção de dois poetrix. Cada um dos versos dos poetrix que o compõem devem ser harmônicos, dando um sentido único. Exemplo:

Juras Ausente


No dorso amante,//do homem nu
a mão ausente//recende...
é dor só.//Solidão.

Tê Soares // Pedro Cardoso


2 - ESTRUTURA

2.1 - Chamamos de POETRIX RAIZ (PR) o que deu início ao duplix e de POETRIX COMPLEMENTAR (PC) ao que resultou no duplix.

2.2 - Os versos dos poetrix que compõem o duplix são graficamente separados por duas barras(//), ao sendo impedido que outras formas de diferenciação sejam adotadas como (fontes, cores etc)

2.3 - Na elaboração dos versos é desejável a existência de verbos para que a estrutura sintática, sendo obedecida, facilite na clareza e compreensão, embora não seja proibida a seqüência de palavras da mesma classe gramatical.

2.4 - O duplix deve conter, no máximo, 60 sílabas para que não se perca a concisão e suas características.

2.5 - A pontuação deve fazer sentido tanto individual quanto duplamente. Ela deve ser usada em cada um dos poetrix para que eles tenham sentido, e, no entanto, obrigatoriamente, estar colocada de tal forma que estejam inseridas corretamente também quando da leitura do todo do duplix. A alteração da pontuação do poetrix raiz, bem como a quebra de versos, só poderá ser feita com o consentimento prévio do autor do Poetrix originário.

2.6 - Fica livre o uso ou não de rimas para preservar a liberdade de criação poética.


3 - DO TÍTULO

O título do poetrix complementar, para formar o duplix, deve formar um novo título único, que faça sentido.


4 - DO TEXTO

O texto do poetrix complementar, para a formação do duplix, não precisa dar continuidade à idéia original, podendo ter um sentido adverso ao POETRIX RAIZ.


5 - DA FORMA

5.1 - Um mesmo poetrix, dada a liberdade de expressão e de criatividade, pode gerar tantos duplix quantos forem desejados.

5.2 - Devem ser respeitadas, sobretudo, a liberdade para a criação, forma e a escolha de parcerias, ficando porém obrigatório constar o nome de cada um dos autores;

5.3 - As relações entre os tercetos são abertas à criação e cada poetrix, dentro do duplix, bem como este último como raiz de um triplix (que terá no máximo 90 sílabas), podem gerar novas composições livremente tanto à direita quanto à esquerda ou ainda, ao centro.

5.4 - Diferentes modalidades de composição podem ser criadas a partir da junção dos poetrix como: o triplix (três poetrix ), o multiplix (quatro ou mais poetrix), o classificatrix (classificados poéticos na forma de poetrix ou duplix), o clonix e ainda, as cirandas de poetrix, que podem ser encadeadas (um poetrix em resposta ao outro).



6 - FORMAS MÚLTIPLAS DE POETRIX


TRIPLIX: Idêntico ao duplix, mas formado por três poetrix.

MULTIPLIX: Idêntico ao duplix, mas formado por quatro ou mais poetrix.

CLONIX: Poetrix elaborado a partir da substituição de poucas palavras em um Poetrix Raiz

INVERTRIX: Poetrix elaborado a partir da inversão de palavras em um Poetrix Raiz, sem subtrair nem acrescentar outras.



7 - TIPOS DE DUPLIX

7.1 - DUPLIX SIMPLES: formado pela união de dois poetrix, podendo o PC ser colocado antes ou depois do PR.

7.2 - DUPLIX COMPLEXO (OU MISTURIX): Formado a partir de dois poetrix pré-existentes que, devido às coincidências de tema, proximidade de intenções e complementaridade formam uma nova composição poética. Pode ser feito por um terceiro poetrixta, juntando poetrix de dois outros poetrixtas ou pelo próprio autor, juntando dois poetrix seus (AUTODUPLIX).

7.3 - DUPLIX RARO: aquele em que alterada a disposição PR//PC para a posição PC//PR apresenta outro sentido ao final da composição.


Fonte: https://poetrix.net.br/


POETRIX: UM JEITO BRASILEIRO DE FAZER TERCETOS - Por Lílian Maial

Desde seu nascimento, no final da década de 90, o poetrix vem causando polêmica, além de demonstrações dramáticas apelativas de arroubos críticos nos desavisados, ou aqueles que se ocupam em criticar o que não entendem, o que não conhecem a fundo, ou o que simplesmente ignoram. 

Em alguns casos, apenas o desdém dos que não participaram de seu nascimento.

Goulart Gomes, poeta baiano, é um aficionado pela língua portuguesa, um estudioso de seus signos, e um inteligente defensor de neologismos. Goulart – poeta premiado – frequentava grupos de estudo e discussão dos haikais, porém, como bom brasileiro (e baiano), percebeu que o haikai é um produto genuinamente oriental, interessando as quatro estações do ano (muito bem delimitadas no Japão), como uma fotografia de instantes poéticos. Nada a ver com nosso modo irreverente, sarcástico e social de fazer poesia. Nada a ver com os modernismos que já eram impostos aos tercetos tropicais, banalizando a terminologia nipônica que tão bem define e pratica o haikai.

Assim, Goulart deixa os grupos de haikais, como um dissidente inquieto, e elabora um manifesto, numa tentativa de “abrasileirar” os tercetos, diferenciando-os dos haikais. 

30 de mar. de 2021

Discurso de posse de Gilvânia Machado - cadeira 8 AIP


MARESSÊNCIA

Trago um mar
Na solidão, cato conchas
Descubro-me pérola

(Gilvânia Machado)



OS TRISTES

Em seus caramujos,
os tristes sonham silêncios.
Que ausência os habita?

(Helena Kolody)



Ilustres confrades e confreiras da Academia Internacional Poetrix, para mim é uma grande honra fazer parte dessa instituição literária.

Quando recebi o convite para ser membro, ocupando a cadeira número oito e a escolher um patrono ou patrona, não hesitei em nenhum momento quando pensei na poeta minimalista paranaense Helena Kolody.

A escolha se deu por várias razões. Primeiro o fato de ela ser a pioneira na escrita de poemas minimalistas no Brasil

Outro motivo que orientou a minha escolha foi a identificação da cosmovisão poética da autora marcada por uma inquietação existencialista. Isso pude constatar ao ler seus poemas e também pesquisar a fortuna crítica da autora. Os estudiosos, na sua grande maioria, afirmam que a inquietação é um dos eixos temáticos de sua obra poética vistos como um questionamento da linguagem e como uma agitação interior do sujeito que, voltado para si mesmo, busca sua origem e transcendência.

Nesse “desassossego”, são temas constantes a solidão, o tempo, a contemplação, a permanência, a memória, a ausência, a transitoriedade da vida. Os estudiosos também apontam uma visão ora marcada pelo encanto da vida, em que a poeta celebra a existência, ora pelo desencanto.

Portanto, a presença do amor, do desejo, da religiosidade na busca do absoluto, da totalidade em contraposição à transitoriedade da vida, são formas de transcender por meio da escrita. Escrever é preencher vazios, ausências, aquietar os desassossegos da alma. Diante dessa consciência, apesar da nostalgia, da saudade de um futuro, a poeta insiste em viver com alegria e sabedoria, vivenciar o momento presente: carpe diem!

No que diz respeito à forma literária, Helena Kolody, como toda poeta minimalista, primava pela concisão dos versos, aparando as arestas, cortando tudo o que era desnecessário até chegar ao poema-pedra lapidado. Tanta intensidade em poucos versos. Tudo isso a faz uma grande poeta. Dizer o máximo com o mínimo na mais perfeita essência da poesia minimalista.

Dentre as diversas formas poéticas minimalistas, Helena Kolody, além de haicais, escreveu dísticos, tercetos, quadras, epigramas e tankas.

Atualmente, faço parte do Movimento Nacional do Mulherio das Letras, que começou em João Pessoa, na Paraíba, e ganhou o mundo. Hoje, temos o Movimento do Mulherio em Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Estados Unidos. E uma das bandeiras do Movimento é dar visibilidade às mulheres escritoras, ler mais as autoras. E quando falamos na poesia minimalista quem mais se destacam são os homens, desde Afrânio Peixoto, Guilherme de Almeida, Millôr Fernandes a Paulo Leminski. As poetas minimalistas não têm tanta visibilidade. No Brasil, além da pioneira Helena Kolody, há outras grandes poetas minimalistas que não alcançaram notoriedade devida pelo seu grande talento. Isso corrobora a luta atual do Movimento do Mulherio das Letras que está ganhando o mundo.

Para mim, o ato de escrever também é preencher silêncios, lacunas, vazios, ausências. E embora sabendo da efemeridade da vida, celebrar a existência é a palavra de ordem. Viver o momento presente como uma dádiva divina, da natureza. Além disso, na poesia a forma minimalista me seduz.

Como afirmou o teórico Todorov, se me perguntarem por que amo a Literatura, a minha resposta é a mesma dele: “Porque ela me ajuda viver”.

Traduzir a condição humana de forma transfigurada poeticamente é um presente divino. No ato de criar há o sopro da inspiração e o suor do burilar. É preciso se debruçar sobre o que se escreve. Saber o que dizer, ter voz própria para não ser mero eco. Cada vez mais, o ato de escrever está se tornando uma necessidade vital para continuar vivendo. No mundo há beleza, cores e perfumes. No entanto, há os desvalidos, os excluídos que não conseguem mais sentir isso por estarem acorrentados aos seus demônios interiores; outros, por serem vítimas de um sistema excludente, de um mundo intolerante que julga as pessoas pela cor, etnia, orientação sexual, classe econômica. A literatura é também uma bandeira em prol dos excluídos, é uma centelha no meio da escuridão. O Sol nasceu para todos. É isso que literatas e literatos têm que defender. A Terra é de todos, ser feliz é um direito de todos!

Por tudo isso sou poeta, sou escritora. Não é um mero penduricalho, título de status, poder. Se eu pensasse assim, minha literatura não passaria pelo processo de humanização e nem tocaria a sensibilidade das pessoas na sua pluralidade. Ao contrário, estaria a serviço do meu ego, a serviço dos opressores e não dos oprimidos. Escrever é um modo de ser e estar no mundo e eu desejo que isso seja da forma mais bela e humana, tanto em forma como em conteúdo!

Agradeço imensamente a Deus essa minha inclinação para as letras, ao meu avô Manuel Targino, que, com seu exemplo de leitor ávido e contador de histórias, despertou em mim o desejo de adentrar no universo mágico da literatura. Minhas memórias afetivas com meus avós são inundadas de poesia. Lembro que ele, agricultor, tinha uma plantação de algodão. Eu, ainda criança, pegava um bisaco e com minha avó íamos colher algodão. Ficava deslumbrada com a beleza da flor do algodão. Quando se afastavam, via os cabelos branquinhos que, muitas vezes, confundiam-se com a brancura do algodão. Eu não sabia que esses eram os primeiros fios tecidos da minha história, os primeiros fios das minhas memórias afetivas.

Nesse momento memorável que é se tornar membro de uma Academia literária, não poderia deixar de agradecer aos meus pais que investiram nos meus estudos e, mesmo quando passei um longo período sem estudar, hospitalizada, eles me presenteavam com o que eu mais amava: livros. Eram os livros meus companheiros de reclusão, longe da escola, dos outros pré-adolescentes.

Agradeço aos mestres do Curso de Letras, profissionais em que eu sentia a Literatura pulsar na veia. Todos ali estavam exercendo o ofício por paixão, por escolha. Cursar Letras, fazer mestrado em Literatura foram também escolhas que eu fiz movida pela paixão! Não foi à toa que passei em primeiro lugar no Curso de Letras.

Outro momento muito significativo foi conhecer e interagir com poetas e escritores. Alguns deles não posso deixar de citar: Goulart Gomes, o inventor dessa bela forma minimalista: o Poetrix. Uma pessoa talentosa, generosa, que acreditou no meu trabalho como organizadora de antologias poéticas e sempre me convidou a participar das coletâneas que ele organizava.

Outro poeta, e também grande parceiro literário, é José de Castro. Moramos no mesmo estado, mas nos conhecemos virtualmente através do Recanto das Letras. Foi ele que me apresentou o poetrix. E eu, tão apaixonada pela forma poética, lancei a fagulha, a centelha incendiando o Rio Grande do Norte. E, generosamente, Castro aceitou o meu convite para fazer parte das antologias Fagulhas Poéticas I e II. Além dele, talentosos poetrixtas de várias partes do Brasil vieram compor as antologias. E, assim, a centelha, como uma pira olímpica, foi percorrendo várias partes do Brasil. São conquistas, alegrias que a Literatura nos traz.

Aproveito o ensejo e agradeço às demais instituições que me acolheram como poeta e escritora: a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN; a Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares – ALAMP; a União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte – UBE-RN, o Movimento Nacional do Mulherio das Letras. Todos eles constituem uma irmandade literária.

    Para finalizar o meu discurso, cito um poetrix de minha autoria:

Estranhamentos

Escavo silêncios.
Dentro do poema,
Desvazio-me.


É isso: poesia é para causar espantos, estranhamentos. É incorporação. Mexer com os nossos sentidos. Virar-nos pelo avesso, desvaziar-nos! Preencher-nos! Redimensionar o nosso olhar. Tornar-nos mais humanos. É um Sopro. Luz! Fiat lux!

Gratidão, gratidão à Academia Internacional Poetrix!

Gilvânia Machado


Discurso de posse - Saulo Pessato

Certa vez, perguntei aos mestres que conselho inspirador dariam a um jovem aspirante a poeta, ainda inseguro dos seus trilhos. E Drummond assim me respondeu:

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.


Pessoa, corroborativo, quase não assumindo a mentira e o fingimento poético, completou:

Sentir? Sinta quem lê!

Foi assim que escolhi o trem — ou seria o comboio de cordas? — pelo qual seguiria viagem no universo da poesia, ainda que a insegurança estilística me levasse, vez por outra, a cogitar baldeações.

Discurso de posse de Pedro Cardoso - cadeira 18

Discurso de posse de Pedro Cardoso na Academia Internacional Poetrix


Devolva-me

AS
    AS
        AS

É com este Poetrix Concreto de Sonia Godoy - SONIA MARIA FERREIRA DE GODOY - (16/09/1948 – 31/03/2011) - paulistana, Psicóloga, Poetrixta de primeira linha, além de grande incentivadora, que inicio minhas considerações.

E assim, abro minhas ASAS para esse novo voo..!

Nunca foi tão fácil e gratificante escolher um Patrono. Desde o instante em que fui convidado a ocupar uma Cadeira nesta Academia, seu nome saltou-me aos olhos com força bruta. Sempre a tive como uma referência ímpar dentro do Movimento Internacional do Poetrix.

Sem os seus escritos e poemas Concretos, minhas Teorias Literárias não seriam as mesmas. Seus textos nunca respeitaram os limites da mesmice, suas frases inquietas sempre voaram para além dos versos e das rimas.

Queridos Acadêmicos, é com muito orgulho e gratidão que passarei a ocupar a Cadeira de número 18. Este número foi, voltou, foi de novo e me caiu como uma luva. Quando criança, tinha a mania de somar os números das placas dos carros para ver se o somatório terminaria em nove (1+8). "A prova dos 9"!

O número sempre me trouxe sorte!

Agradeço a todos vocês por terem caminhado comigo, lado a lado, nesta jornada poética. Não é necessário que eu cite nomes para fazer emergir em mim, e creio, em muitos de vocês, recordações, emoções e sentimentos que deixam claro o quão enriquecedor foi nosso compartilhamento. Trocas importantes, em vários aspectos.

Estavam lá naqueles momentos e aqui, agora, pessoas ímpares, que com suas peculiaridades fizeram, fazem e farão toda a diferença para mim em particular e para esta Academia. 

Discurso de posse de Marilda Confortin - cadeira 14

Discurso de posse de Marilda Confortin na AIP - Academia Internacional Poetrix - Cadeira 14

Bom dia queridos poetrixtas integrantes da recém criada Academia Internacional de Poetrix. 

Não poderia haver um momento mais simbólico para a criação da AIP. Um momento de pandemia mundial onde todos os valores das sociedades estão em xeque e as artes se apresentam como um bálsamo para atenuar as perdas, a dor e a solidão do confinamento.

É nesse contexto que nosso poema pílula pode arrancar um sorriso, uma reflexão, ou simplesmente, nos fazer esquecer por alguns minutos o momento caótico que estamos vivendo

Parabenizo e agradeço ao criador do Poetrix, fundador e presidente da AIP, Goulart Gomes, por me convidar a participar de mais esse desafio. Incansável e competente GG, a você, minha silenciosa reverência.
Sinto-me privilegiada e agradecida por pertencer a esse grupo de dinossauros sobreviventes e novas espécies de poetrixtas. Estamos privados do convívio presencial, mas não há solidão que resista ao contato virtual diário com vocês. Sintam-se abraçados, poetas.

Um dos primeiros ineditismos da AIP foi cada membro escolher seu patrono. Com tantos poetas que nos inspiraram, escolher apenas um, foi muito desafiador. Quando eu pensava já ter decidido, outro poetrixta se antecipava e reservava o nome. Por fim, escolhi Mario Quintana (ele não gostava do acento) e tive sorte de ninguém ainda tê-lo mencionado.

Tenho muitos pontos de identificação com Quintana, mas, confesso que não conheci seus escritos nas escolas e universidade que frequentei no Sul do Brasil. Porque ele não era adotado? Comecei a lê-lo na década de oitenta, quando o jornal Correio do Povo faliu e Quintana perdeu o emprego. Sem dinheiro, foi despejado do Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre onde residiu por vários anos. Na época, ele virou notícia, não tanto por sua obra, mas, porque o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão cedeu a ele um dos seus quartos no Hotel Royal e passou a sustentá-lo. Fiquei curiosa e fui atrás de sua história e obra. 

Discurso de posse de Anthero Monteiro - Cadeira 5


Caros confrades, poetas, poetrixtas, amantes da poesia e da aventura das palavras:

Nesta despretensiosa comunicação, saltarei ao pé-coxinho entre alguns dos pontos principais do meu itinerário poético e biográfico, para eu próprio me lembrar do modo como cheguei até aqui. A referência ao patrono vai incluída no meu percurso.

O poeta começou aos 13 anos, quando frequentava, longe da terra natal, um colégio para ser missionário, o que nunca aconteceu, pois missionário tenho sido, sim, mas da Poesia, que levo às escolas, às bibliotecas e livrarias, aos bares e restaurantes, às salas de teatro e até às feiras e mercados.

O poeta que primeiro me catequizou foi o grande sonetista e meu homónimo Antero de Quental (que, no seu tempo, era também com “h”). Sabia de cor muitos dos seus sonetos, mas também poemas de Guerra Junqueiro, o poeta idolatrado pelas multidões em tempo de Regicídio e República, e de muitos outros poetas.

Aos 18 anos, tinha mais de 100 sonetos escritos, mas ainda não ganhava para poder publicar. A minha escrita era clássica e eu movia-me aí com extremo à-vontade. Aprendi depressa que essa Poesia já não

Discurso de posse de Martinho Branco - Cadeira 16

  

Caríssimos amigos, poetas, poetrixtas, sonhadores, semeadores de palavras e confrades da grande família Poetrix, o mar nos separa e o Poetrix nos une numa profunda e virtual/real amizade.

Grato a todos pelo convite que me endereçaram e por me acolherem como membro da Academia Internacional Poetrix.

Viagem no tempo.

Estávamos no ano de 2001, três ou quatro dias depois do tristemente horroroso e célebre 11 de Setembro. Andava eu a navegar ao sabor do vento pelo universo da rede de comunicação internética, em demanda de novos autores e novas formas de escrita poética. Eis quando, ao virar de uma página virtual, me surgiu uma palavra tremendamente misteriosa… Poetrix!

POETRIX? - Interroguei-me, parafraseando Augusto Gil, no poema “Balada da neve”…

- Será bicho, “será gente”? / Inútil “não será certamente”… (a continuar…)

Patrono: Armando Leal (Portugal) - Os poetas fazem a diferença.

Para quem conviveu, ainda que virtualmente, através da sua escrita poética, de Setembro de dois mil e um a Outubro de dois mil e quatro, guarda na lembrança, certamente, o olhar atento, lúcido e dinâmico, patente nas escritas do poeta e poetrixta Armando Leal.

Quando ele nos deixou… Pedi silêncio, porque tinha partido um poeta e um bom amigo. Escrevi num poetrix, na altura, algumas palavras sentidas de homenagem ao Armando…


Os poetas fazem a diferença


Questionam

Futuram a vida

Despertam silêncios


É com profunda tristeza [emoção] e grande saudade que sentimos a ausência de um Amigo [Leal] tão verdadeiro. O Armando partiu demasiado cedo, em dois mil e quatro, e nunca [Nunca] nos encontrámos no mundo real.



Discurso de posse de Oswaldo Francisco Martins - Cadeira 17

Como no álbum da canção Terral (EDNARDO, 1973), “Eu venho das dunas brancas / Da onde eu queria ficar /”... Dali fui trazido em voo da VARIG em 1976 pela Petrobras para a terra dos soteropolitanos. A mudança aconteceu de forma remunerada e tão só graças à aprovação por concurso público do ainda estudante universitário. Tudo promovido pela petrolífera em convênio com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Sim, foi assim que obtive condições materiais para deixar os “mares verdes bravios” de Alencar para acabar definitivamente encantado pela beleza das centenas de igrejas do lugar de todos os santos e de todos os orixás, de tanta beleza na exuberante primeira capital do país. A prova de tal união estável tem então quatro décadas e meio: 1976-2021... Tudo isso ainda parece ter acontecido ontem.

Neste momento não consigo me afastar do pensamento empresarial Odebrecht, com o qual tanto convivi em minha trajetória laboral em busca da própria sobrevivência: entendo que a boa, verdadeira e exitosa arte literária acontece quando ela nasce, cresce e se perpetua. É o caso da consagrada arte minimalista e, em particular, do ainda novíssimo poetrix.

É de muito tempo atrás – desde adolescente – que venho rabiscando versos, sempre guardando-os em cadernos e folhas de papel. Muitos deles foram definitivamente perdidos sem deixar rastro nem sequer na mente do profeta.

A relembrança feita antes incorpora a influência do genitor do confrade, Oswaldo Evandro Carneiro Martins, poeta parnasiano, intelectual eclético, poliglota, com formação superior em Ciências Humanas e Exatas, doutor em Direito, professor universitário, o maior e melhor professor deste que vos fala.

Costumava dizer o genitor que o filho tinha a veia poética, o que naturalmente funcionou como um catalisador de motivação para o interesse do confrade pela poesia e que essa ganhasse força e culminasse no atual estágio literário deste aprendiz de poetrix hoje. Uma coisa é certa: o confrade jamais alcançará seu genitor na criação, na riqueza e na beleza de versos, mas não apenas aí será menor, pois o será também em todos os legados advindos do pai.

Ululante é para quem uma vez tenha tecido e/ou adquirido familiaridade com trovas e sonetos há de guardar decerto intimidade com as estrofações desses escritos quando corretamente versificados. Em particular, na seara dos tercetos, onde também são abrigados haicais e haicus, há presente a forma em três versos que estruturalmente tangencia a do poemeto caracterizado como poetrix.

No princípio, ainda nos anos 2000, ainda sem ter a tipificação completamente definida, o poetrix fora confundido meramente com o terceto e, antes de ter obrigatoriamente título, o novíssimo poemeto já guardava características que o separavam claramente dos poemetos nipônicos tais como a não exigência de temática sobre a Natura, a não obrigatoriedade de rimas nem de métrica nenhuma para os versos, sem estabelecer entanto restrição nenhuma sobre isso.

Traços típicos dos poemetos citados antes foram então constatados no poetrix com significativa frequência. Houve incorporação de tais coincidências e essas ainda acontecem hoje, o que não é difícil de ser verificado na vasta produção de poetrix em todos os meios em que o poemeto está presente atualmente.

Além da vasta produção do vate em sonetos petrarquianos e shakespearianos, trovas, quadras e tercetos, o confrade tem se debruçado na identificação da existência de poetrix embutido em trova (trotrix), em quadra (quatrix); e, também, na possibilidade da existência de trova em poetrix (trixtro) e em quadra (trixqua). Para uma melhor compreensão das interconversões apresentadas aqui é recomendável proceder a leitura do ensaio de OFM Uma nova forma de interação entre poemetos: trotrix, trixtro, quatrix e trixqua. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5768359. Acesso em: 31 jul. 2021.
Na obra solo de estreia em poetrix do autor, Realidades versejadas em poetrix (2002), tomos I e II, constam conjecturas sobre a linguagem literária em poetrix, as quais foram transformadas no artigo Conjecturas sobre a linguagem literária poetrix. (Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-literatura/5775129. Acesso em: 31 jul.2021.)
Algumas das conjecturas tratadas no trabalho citado antes já foram demonstradas e/ou provadas pelo confrade e, pelo que se pode depreender, a futurologia tem se mostrado consistente, fato que se nos revela congruente com a disseminação e a aceitação do poetrix no Brasil e pelo mundo afora.

Mais livros do confrade em poetrix se seguiram: Erotrix (2006), Poetrix (2006), Instantes em poetrix (2009). Outras obras literárias publicadas de OFM são: Desabafo em versos (2006), A caçada matinal e outros contos (2006), Realidades versejadas em sonetos (2007), Crônicas verdadeiras: na pulsão de registrar (2009) e A titulação pelo saber (2009).

Goulart Gomes tem sabido muito bem conduzir e manter o grupo de poetrixta, fato esse que tem funcionado como pilar de sustentação do sucesso do poetrix pelo empenho e pelo intenso poetrixar de vates ao longo dos 22 anos de vida dessa linguagem literária, que não para de crescer em variantes e formas desafiadoras, todas estreitamente dependentes da criatividade dos seus praticantes.

Dentre todas as formas já consolidadas ressaltam-se o duplix e o triplix, pela simples razão de promoverem a interação entre poetrixtas, o que é fundamental para que se mantenham coesos os poetrixtas que confeccionam poetrix em todas as formas ora estabelecidas e consagradas, os quais até se predispõem a novas e inovações formulações a ver com o trabalho poetrix. OFM recomenda uma breve incursão pelo seu ensaio Contribuições ao novíssimo poetrix. (Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5773551. Acesso em: 31 jul. 2021.); e, também, pelo ensaio Formas poetríxticas: erotrix, concretrix e outras. (Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5773597. Acesso em: 31 jul. 2021.)

Há o fato de que anos atrás se aprovou, entre os poetrixtas, a Bula poetrix.
(Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/teoria-literaria-sobre-poetrix/7007823. Acesso em: 31 jul. 2021).

Ela recentemente sofreu pertinentes lapidações por competentes e destacados vates, reconhecidos poetrixtas muito hábeis na concepção de excelentes poetrix.

Justamente na Bula poetrix que figuram características apontadas para a confecção de poetrix – de evidente valor literário – e, dessa maneira, ela se presta para consumar a tipificação do poetrix, a qual deve servir de orientação para quem se atrever a compor poetrix.

A evolução do poetrix enquanto linguagem literária se consolidou no país e no mundo. Isso fez muito bem e nutriu o confrade que vos escreve com importantes balizas que, em sendo respeitadas, logicamente devem implicar em evidente ganho de qualidade para a lavra poetríxtica. Aos novatos, a Bula poetrix deve facilitar a iniciação da escrita quando da composição literária em linguagem poetríxtica. À guisa de exemplo pelo confrade sobre tamanho, título, fazer poetríxtico etc se tem o seguinte poetrix:

POETRIX

Um insight
Chama a pena...
Traz um susto.


Salvador, 21/01/2021.

(Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/poetrix/7165153. Acesso em: 31 jul. 2021.)

Na sequência dos fatos anteriores e para dar sustentação à realidade da prática poetríxtica hoje, além das publicações de trabalhos quer individuais ou coletivos de autores de poetrix – para registros literários (sobre o poetrix) – e manter a união dos literatos afeitos ao poetrix, eis que nasce a AIP – Academia Internacional Poetrix, entidade que congrega poetrixtas com trabalhos literários que têm indubitavelmente se constituído em contribuições à prática e à divulgação do poemeto poetrix por intermédio de quaisquer meios de publicização.

Este versejador vem continuadamente aprendendo sobre a escrita em poetrix desde 1999, ano em que o Aníbal Bessa fez despertar a luz do Lampadinha em Goulart Gomes ao comentar via conversa virtual a obra minimalista TRIX, POEMETOS TROPI-KAIS. Desse glorioso insight tido por Goulart brotou o poetrix justo com essa obra em que ele então acreditava apresentar haicais. Naquela mesma ocasião OFM estreava no mundo literário com a obra solo Pedaços de uma existência na Feira do Livro realizada em Salvador em 1999 – momento em que contava com expressivo número de trabalhos literários publicados em obras coletivas igualmente literárias.

Além dos trabalhos avulsos em publicações literárias nacionais, o confrade havia participado de justas literárias diversas conquistando medalhas e certificados como premiação. Tudo isso – publicações e prêmios conquistados em justas literárias – integra o currículo literário do confrade, não cabendo aqui enumerá-los em função da elevada quantidade desses registros, fato esse que se nos mostra incongruente com a extensão pretendida para o presente discurso.

O confrade chega enfim à AIP sendo convidado pelo confrade Goulart Gomes para assumir uma das cadeiras da entidade recém-fundada, depois transformada em Cadeira 17, com o patrono dela sendo de escolha deste acadêmico.

O poetrixta escolheu como patrono o autor do soneto Apelo, o poema mais traduzido do Português para línguas estrangeiras: Eno Teodoro Wanke.

A biografia e a obra literária do patrono da Cadeira 17 da AIP ainda deverão ser motivo de um trabalho futuro do confrade para exposição na página da AIP na rede mundial de computadores.

Todavia não foram os tercetos do belíssimo soneto shakespeariano que definiram o nome do escritor Wanke para patrono do Cadeira 17 da AIP. Trata-se de escolha que se pauta na significativa contribuição wankeana ao movimento literário pela trova no Brasil no século passado, onde o poema entendido como trova (abordado aqui antes) pôs inicialmente o confrade no minimalismo bem antes de abraçar e mergulhar no poetrix.

É mister acrescentar neste momento que a trova literária preserva o rigor da métrica e mantém a forma das rimas (cf. antes abordados), graças à forte atuação das Sessões da União Brasileira de Trovadores (UBT) espalhadas pelo Brasil e junto aos vates e trovadores devotados à discussão e à geração de escritos sobre esse consagrado poema. Informações amiúde sobre a trova podem ser vistos no artigo (de autoria deste confrade) Breve abordagem da trova. (Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-literatura/ 5774616. Acesso em: 31 jul. 2021.)

Interações via internet no domínio do antigo grupo para discussão do poetrix estimularam o confrade a mergulhar na composição em poetrix, compondo uma lavra que atinge algumas dezenas de milhares de poetrix, com mais de três mil desses já postados no site Recanto das Letras, além de publicar cinco livros em poetrix – dentre muitas outras publicações. Recomenda-se aqui uma incursão pelo artigo O poetrix em discussão. (Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-literatura/5775088. Acesso em: 31 jul. 2021.)

Tem-se que o poetrix se encontra em processo de evolução e que a AIP deve ser o palco em que todas as discussões que envolvam a arte minimalista em poetrix e que ela deverá regular as ações envolvendo a participação de poetrixtas em prol do continuado desenvolvimento e/ou aprimoramento da notável e consagrada linguagem literária em poetrix.

Que todos nós caminhemos harmonicamente na AIP de mãos dadas pela criação artístico-literária através da senda poetríxtica!

Oswaldo Francisco Martins

Poetrix

 


Poetrix

 


Discurso de Posse de Goulart Gomes na AIP

Era uma vez um menino esquelético que mal tinha o que vestir, nem sempre tinha o que comer e morava em uma casa que não tinha nada, mas tinha um teto, sob o qual seus pais procuraram fazer o melhor que podiam pela sua “criação”. Filho adotivo de Mário, um guarda civil comunista, paraplégico, aposentado por invalidez e de Maria, uma negra semi-alfabetizada de coração gigante, diziam os médicos que o menino raquítico não iria se criar, que não adiantaria tomar Emulsão Scott nem Biotônico Fontoura.  

O golpe militar havia acontecido um ano antes e o pai adotivo – talvez por ironia, talvez por admiração – não hesitou em colocar no menino (nascido no Dia do Trabalhador) o nome do presidente deposto: João Goulart e lhe dar seu sobrenome:  de Souza Gomes.  Um ato de coragem, naqueles anos de chumbo e pólvora, nos quais pessoas desapareciam por muito menos. Não fosse por isso, o menino seria um Ferreira da Silva (sobrenome de Alice, sua mãe biológica), assim como Lampião, o rei do cangaço.  Aquele menino não tinha noção de quase nada, nunca se perguntara a que veio ao mundo, nem mesmo para que o mundo servia. Vivia. Um dia após o outro, proibido de transitar nas perigosas ruas do Centro Histórico de Salvador, Bahia, onde morava, mas que tinha permissão para ir sozinho aos cines Liceu, Guarani, Tamoio, Excelsior, Bahia e à Biblioteca Monteiro Lobato, no Largo de Nazaré, sempre andando, pois dinheiro para a passagem do ônibus não havia.

Aquele menino, que se encantou com os poucos livros de seu pai (trancados em uma velha cristaleira, pois taças também não havia), os filmes do cinema e as séries de ficção científica da TV (Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do Mar, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, etc), foi o gérmen deste homem que aqui fala. Ninguém acreditaria que pudesse ser. Mas aos poucos, mais livros e filmes foram chegando. Como diria meu querido amigo, o poeta Damário da Cruz, o menino conheceu o mundo primeiro por intermédio deles. Daí, talvez, a visão equivocada, ficcional, das coisas que ele carregaria ao longo da vida. Não era um menino para integrar academias, nem de ginástica nem de letras. O escritor Antônio Torres conviveu com aquele menino e seu pai, antes de ganhar o mundo e uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Feliz coincidência: dois acadêmicos passarem por uma mesma casa.

O menino virou adolescente e foi trabalhar como office-boy do Banco Nacional do Norte, aos quatorze anos de idade. E a partir de então já não faltava dinheiro para comprar livros e mais livros, muitos deles adquiridos no sebo Casa dos Livros, de Dário, no Viaduto da Sé. Seis anos depois se casou com uma colega de trabalho (que já mudou de dimensão e lhe legou dois maravilhosos filhos: Gersínio e Leonardo), mesmo ano em que publicou suas primeiras poesias em uma coletânea. Mania de leitor voraz, que achava que podia ser escritor. E foi se inventando poeta, e foi garatujando muitas coisas. A Educação, a Cultura, o Conhecimento são os mais fortes elementos de transformação socioeconômica.

Foi um processo gradativo de mudanças de seus nomes literários: primeiro, Souza Gomes; depois, João Goulart de Souza Gomes, até afirmar-se como Goulart Gomes (por sugestão do poeta Hugo Pontes).

Discurso de posse de Antonio Carlos Meneses

 

Olá, meus amigos poetrixtas!

É uma grande satisfação fazer parte dessa nossa Academia, tendo como objetivo a ampla divulgação do nosso poetrix. Ocupo a cadeira 6, tendo a honra de ter como patrono o saudoso mestre poeta Carlos Drummond de Andrade (Itabira-MG, 31 de outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987).

Sobre a minha formação universitária, bem como quanto à minha trajetória profissional, em resumo, tudo começou quando fiz o curso de Direito, entre 1977 a 1982, na Universidade Católica de Pernambuco. Logo após a conclusão do curso e, com o registro da OAB-PE, passei a exercer a minha atividade advocatícia na área do Direito do Trabalho. Posteriormente, contemplado no concurso para o cargo de Delegado de Polícia, exerci aquela função em diversas cidades do interior, até quando fui designado para a Corregedoria, onde completei a minha missão como Delegado, aposentando-me com a intenção de retornar a minha atividade anterior. Fiz mais dois cursos de pós-graduação na área jurídica. Porém, sempre fui apaixonado pela literatura, especialmente à poesia. Durante minha cavalgada poética, encantei-me pela poesia do admirável poeta Carlos Drummonde Andrade, meu digníssimo patrono.

Nesta oportunidade, venho saudar ao mestre e amigo Goulart Gomes, criador dessa nova linguagem poética, uma pessoa maravilhosa, inteligente, criativa, que se dedica à literatura em geral, especialmente à poesia, com quem continuo aprendendo muito, durante esses 20 e poucos anos na elaboração do nosso terceto.

Saudade, sinto muita, da época que começamos a criar, inventar, reinventar os nossos poetrix no grupo do Yahoo. A empolgação era intensa, uma alegria demasiada, uma vontade extraordinária de escrever sempre o que sentíamos, o que pensávamos, o que vivíamos, extraindo o que havia de melhor, de mais bonito...

Sinto-me grato e pleno por ter participado de todas as antologias publicadas pelo Movimento Internacional Poetrix.

Em 2014, publiquei o meu primeiro livro de poetrix, pela editora Literata - São Paulo, lançado primeiramente na Bienal do Livro de São Paulo e, posteriormente, na minha cidade Recife/PE, na Livraria Jaqueira. Foi um momento de conquista e de festa!

O meu desejo é seguir esse Movimento Literário sempre na condição de eterno aprendiz, participando de todos os eventos dedicados ao nosso poeminha. E que nem os afazeres e tampouco as adversidades da vida roubem de mim o tempo e a disposição para que eu cada vez mais desfrute dos meus momentos de leitura, de criatividade.

Para finalizar, agradeço de coração a todos os meus amigos poetrixtas e admiradores do nosso poemeto.

Abraços com poesia,

ACM

Discurso de Posse de Aila Magalhães

Hoje só é possível porque foi-se o ontem. 

Tudo é transitório, desfazimento, e por mais que doa ou pareça doer, também passará.

Quisera ter conhecido Manoel de Barros e perdido passos ao seu lado pelas margens de um rio.

Imagino quantos descoisamentos ele poderia ter me revelado. 

Na impossibilidade desse desejo, faço-o cúmplice de meus descompletares.


O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.

Manoel de Barros

Descobrir Manoel de Barros foi assombroso, foi como olhar dentro de mim. 

Quando o leio, é como se estivesse lendo algo escrito para mim, sinto-me encontrando um amigo de velhos tempos. Não poderia escolher um Patrono que não ele.

Ser poeta não é divino, sublime, nem nada. Penso que ser poeta é mais um não-ser, o que exige o  trabalho de desfazimentos.É difícil praticar desfazimentos, mas isso não precisa ser preocupante. Na verdade, quanto maior a pre-ocupação, menos a  poesia sairá de trás da orelha, do bico da chaleira ou de dentro de uma nuvem.

Bem, o primeiro beijo sempre haverá de preocupar - e muito -  o que não quer dizer que não possa ser poético, porque pode, já que começa por fazer-se e vira tudo que nem sabemos, como lagarta que voa, folha molhada de orvalho, concha que gestou pérola, o primeiro respiro de uma criança ou um raio de sol nadando em um lago .

Poetrix é poema de desfazimentos. Furtar dos versos as desnecessidades e oferecer em troca pegadas que não se sabe aonde chegarão, silhueta nua na sombra da parede,  buraco de fechadura de onde escapa luz.

Estou aprendendo desfazeres. Há 20 anos. 

Neste tempo de ligeirezas, percebi-me por vezes em um estado de não-ser, que somente a poesia ou sonhos orgásticos podem proporcionar, mas vocês sabem, ambos são como nuvens em uma linda manhã de outono, chegando e partindo sem aviso ou cerimônia. 

Então vou seguindo por aí, especulando horizontes e veredas, e vez por outra dou de cara com fiapinhos de espantos largados ao pé de um tamarindeiro - Devires.

Não é segredo que tenho um caso  - com o Poetrix - Um grande caso de amor! 

Conheci-o através do Pedro Cardoso que à distância  cutucou minha curiosidade, bem forte, creio, ou quem sabe fez-se essência do próprio nome e bateu-me na cabeça. Digo-lhe que não doeu, mas rachou, e escorreu um poetrix, o primeiro de muitos. Serei sempre grata pela cutucada e ensinamentos, querido Pedro!

Aquilae

Enquanto dorme a minha noite
Amanhece o teu dia
Quando haverá eclipse?

Depois veio o João Goulart Gomes, o GG. Confesso ter sentido um pouco de medo. 

GG era cheio de pequenas graças escondidas por trás dos óculos, enfeitava palavras com belezuras de tirar o fôlego, inventadas ali, na hora. 

29 de mar. de 2021

Poetrix de Oswaldo Martins

A FOME NOSSA DE CADA DIA

O pão nosso que nos falta
Ressalta na mesa rica.
Para nós a fome fica!

(Oswaldo Martins)

Biografia de Saulo Pessato


Saulo Pessato

CADEIRA 22
PATRONO: Augusto dos Anjos
FUNDADOR: Saulo Pessato
ATUAL: Saulo Pessato
DATA DE INGRESSO: 5 de julho de 2020



Nasceu em Brasília - DF e reside na cidade de Campinas - SP.

Graduado pela PUC-Campinas (Letras Português/Inglês), ministrou aulas de Língua Portuguesa e Literatura para diversos colégios de Campinas e região, nos quais desenvolveu atividades teatrais para as quais escreveu duas peças de teatro infanto-juvenis Farsa dos Retidos e O substituto de Morfeu.

Entre 2011 e 2013, trabalhou como autor de material didático digital e de roteiros de jogos e aplicativos educacionais para o grupo SEB-COC.

Em 2011, criou a revista digital de textos autorais Poesia Reclamada, onde começou escrever Poetrix entre outras formas poéticas. A página conta atualmente com mais de 500 mil assinantes.

Entre 2016 e 2021, publicou cinco livros:

Em verso:  No jardim das borboletas e Verso entre virilhas;
Em prosa:  Diálogos de olhos e Laranja com papaia
Em co-autoria:  Aglomerados.

Também participou da revista de Arte e Literatura da Editora Laranja Original e da III Mostra Poetrix – As quatro estações, além da revista Ciranda Poetrix.

Atualmente, participa de dois projetos regionais, num como autor de doze livros infantis sobre virtudes humanas e noutro como roteirista de um programa de televisão educativo para crianças.

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Biografia de Pedro Cardoso

 

Pedro Cardoso

CADEIRA 18
PATRONO: Sonia Godoy
FUNDADOR: Pedro Cardoso
ATUAL:  Pedro Cardoso
DATA DE INGRESSO: 5 de julho de 2020

Pedro Cardoso Machado, nasceu em 24 de dezembro de 1947, na cidade de Bambuí (MG). Casado com Gláucia Resende Braga, pai de Renata, Cristina e Maria Clara. Hoje vive cercado pelas mulheres da sua vida!

Economista e Contador, dedicou boa parte do seu tempo, durante aproximadamente 40 anos, ao Serviço Público Federal.

Foi professor de cursinho pré-vestibular, professor no Colégio Marista de Brasília e professor de Economia e Contabilidade no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) por dez anos. Seguindo o ofício de compartilhar conhecimentos, durante um ano trabalhou como voluntário em uma escola pública do DF, com o intuito de levar um pouco da Literatura e do Poetrix para jovens carentes.

Tem textos publicados no Recanto das Letras, em diversas antologias e alguns jornais de Brasília e São Paulo.


Biografia de Oswaldo Martins

Oswaldo Martins

CADEIRA 17
PATRONO: Eno Teodoro Wanke
FUNDADOR: Oswaldo Martins
ATUAL: Oswaldo Martins
DATA DE INGRESSO: 5 de julho de 2020

OSWALDO FRANCISCO MARTINS (1952), defensor da democracia e do estado democrático, é alencarino, radicado em Salvador desde 1976. Casado e pai de três filhos. Engenheiro químico (UFBA), licenciado em matemática (UCSAL), mestre em engenharia industrial (UFBA) e perito criminal (Acadepol/BA). Conselheiro do CREA-BA desde 2019. Integra o Movimento Nacional Elos Literários – MNEL, o Movimento Internacional Poetrix – MIP, o Grupo Pórtico da Bahia, a Academia de Letras de Jequié – ALJ, a Academia de Letras do Brasil – ALB, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – IGHB e outras instituições. Autor de onze livros publicados. É coautor de obra sobre saúde (ainda não publicada e já depositada na Fundação Biblioteca Nacional). É autor de artigos técnico-científicos publicados em veículos desse gênero e de textos literários publicados em mais de duzentas obras coletivas e nos sites Recanto das Letras e Usina de Letras. Premiado em justas literárias. Na seara da arte minimalista realiza experimentos sobre conversões poetrix <-> trova e poetrix <-> quadra. 

Algumas obras publicadas, de sua vasta produção literária:

MOVIMENTO INTERNACIONAL POETRIX (MIP)
______. Divinos sóis; Conjectura; Inútil caneta; Noturno; Turbulências; Torturinha; Tristuras; Ingratidão; O barco em ato. In: GOMES, G. (Org.). 501 poetrix para ler antes do amanhecer. Lauro de Freitas: Livro.com, 2011. p. 181-183.
______. Prisão; O que sobra pro santo; Elasticidade do caráter; Sexo natural; Revelação; Tristuras; No fim da virgindade; Desconexidade; Absorvente íntimo; Ingratidão; Decisão célere; Da pena de Jorge...; Torres da ilha; O raio Cássia; Nostalgia; Trabalhadoríase; Absorto; Cidade-verão; Faces do dito; Na frialdade; Eternidade; Avaria; Poeta bom, poeta ido; Mais que ver(s)os...; Transformer; Caoticidade; No cotidiano viver; Triste surpresa; Minutos marcantes; Como em Vidas Secas...;  No dilúvio na urbe; Faces do mar; A fome nossa de cada dia; Tudo passa... passará!; Estratificação; Inexorabilidade; Casa no campo; Parte e todo; Lati(d)(n)a lei; Gole duma boa pinga; O barco em ato; Gigantes caudais; Incógnito; Coisa mais gostosa; O legado de Alf; A matança do verde; Nas sombras do golpe; No fogo natural. In: GOMES, G. (Org.). Antologia poetrix: edição definitiva reunindo as quatro primeiras coletâneas organizadas pelo MIP. Salvador: MIP, 2012. p. 86-88; p. 163-165; p. 219-220; p. 275-276.
______. O roubo da decência; Torpor; A revolução de 64. In: GOMES, G. (Org.). Caderno internacional de poetrix. 3. ed. Salvador: MIP, 2011. p. 63.
______. O mar em combate eterno; Claridade do divino; Fortaleza: mares verdes; Semimorta para a vida; Hamurabitrix; Vazio mental; Traidor, traíra em lama...; Entreguista, ser abjeto...; Depressão de todo dia; Sem porvir: torpor, desgosto; Nobres e eternos esforços; Terato-humanismo médico. In: MAGALHÃES, A. (Org.). Antologia poetrix 20anos. São Paulo: Rumo Editorial, 2019. p. 187-190.
______. À luz da carência; Higiene espiritual; Último percurso de Fidel Castro; Tempo (in)certo; O vate adormece...; Linha do tempo da corrupção; Axiologia proverbial; No return; Uma pá de cal; Repeteco; Dissipação; Dorida lembrança. In: GOMES, G. (Org.). Antologia poetrix 5. São Paulo: Scortecci, 2017. p. 102-104.
______. Gole duma boa pinga; O barco em ato; Gigantes caudais; Incógnito; Coisa mais gostosa; O legado de Alf; A matança do verde; Nas sombras do golpe; No fogo natural. In: GOMES, G. et al (Org.). Antologia poetrix 4: Terra. São Paulo: Scortecci, 2010. p. 65-67.
______. No dilúvio na urbe; Faces do mar; A fome nossa de cada dia; Tudo passa... passará!; Estratificação; Inexorabilidade; Casa no campo; Parte e todo; Lati(d)(n)a lei. In: GOMES, G. (Org.). Antologia poetrix 3: comemorando 10 anos de criação do poetrix. Lauro de Freitas: Livo.com, 2009. p. 70-72.
______. Trabalhadoríase; Absorto; Cidade-verão; Faces do dito; Na frialdade; Eternidade; Avaria; Poeta bom, poeta ido; Mais que ver(s)os...; Transformer; Caoticidade; No cotidiano viver; Triste surpresa; Minutos marcantes; Como em Vidas Secas... In: GOMES, G. (Org.). Antologia internacional poetrix 2: com autores radicados na Alemanha, Brasil, Estados Unidos e Portugal. Salvador: Movimento Internacional Poetrix, 2007. p. 92-96.
______. Prisão; O que sobra pro santo; Elasticidade do caráter; Sexo natural; Revelação; Tristuras; No fim da virgindade; Desconexidade; Absorvente íntimo; Ingratidão; Decisão célere; Da pena de Jorge...; Torres da ilha; O raio Cássia; Nostalgia. In: GOMES, G. (Org.). Antologia poetrix: Brasil – Portugal – E.U.A. São Paulo: Scortecci, 2002. p. 162-166.

 
LIVROS SOLOS
______. A titulação pelo saber. Salvador: o autor, 2009. 72 p. ISBN 85-902897-7-X.
______. Instantes em poetrix: versejando em trísticos de Goulart. Salvador: Egba, 2009. 228 p. ISBN 85-902897-5-3.
______. Crônicas verdadeiras: na pulsão de registrar. Salvador: Egba, 2009. 134 p. ISBN 85-99366-06-3.
______. Realidades versejadas em sonetos. Salvador: Egba, 2007. 258 p. ISBN 85-902897-4-5.
______. A caçada matinal e outros contos. Salvador: Egba, 2006. 240 p. ISBN 85-902897-6-1.
______. Poetrix. Salvador: Egba, 2006. 212 p. ISBN 85-902897-8-8.
______. Desabafo em versos. Salvador: Egba, 2006. 160 p. ISBN 85-902897-3-7.
______. Erotrix. Salvador: Egba, 2006. 130 p. ISBN 85-99366-05-X.
______. Realidades versejadas em poetrix. Salvador: Egba, 2002. v. 1. 226 p. ISBN 85-902897-1-0.
______. Realidades versejadas em poetrix. Salvador: Egba, 2002. v. 2. 242 p. ISBN 85-902897-2-9.
______. Pedaços de uma existência. Rio de Janeiro: Litteris, 1999. 152 p. ISBN 85-7298-482-8.