ENTREVISTADA: GILVÂNIA MACHADO
POR: GOULART GOMES
Queremos saber um pouco mais sobre você. Fale-nos da sua vida pessoal.
Sou uma pessoa simples, sensível. Amo viajar, ler, estar com a família. Na maioria das vezes, gosto muito de ficar em casa apreciando minhas músicas, assistindo filmes. Quando saio é para uma praia, cafeteria, livraria. Mas é importante frisar que nem tudo é calmaria. Sou muito intensa, e isso causa em mim um desassossego. Às vezes, parece está tudo bem, mas fico numa inquietação interna e uma indagação: o que falta? Que temores são esses? Talvez sejam essas águas agitadas que me levem a escrever como uma forma de apaziguamento. Enfim, isso faz parte da complexidade humana, e quando somos voltados para as artes, o nosso olhar superdimensiona tudo ao redor.
Além do poetrix, que outros gêneros você escreve?
Escrevo poemas, poetrix, contos, prosa poética, microcontos. No momento, estou me dedicando a escrever contos de terror e livros para crianças.
Quando não gosta de algum texto que escreveu, você reescreve ou rasga e joga fora?
Na minha adolescência, rasgava tudo. E como me arrependo! Atualmente, quando sinto que um texto ainda não está do meu agrado, eu o guardo, dou um tempo e procuro reescrevê-lo noutro momento.
É notívaga ou escreve durante o dia?
Já fui notívaga. Hoje, prefiro escrever durante o dia.
Quando começou a escrever Poetrix? Como o conheceu?
Comecei a escrever Poetrix em 2010. Eu o conheci através do Recanto das Letras. Foi interessante, porque nessa época gostava muito de haicais e escrevi um e postei no Recanto. Então, o poeta José de Castro (na época, não o conhecia) fez um comentário e disse que eu tinha feito um poetrix e não um haicai. Curiosa, fui pesquisar mais sobre esse gênero minimalista e me apaixonei.
Nesse período, recebi um convite da editora Literata, de São Paulo, para trabalhar como organizadora de antologias de poemas. Daí pensei em organizar uma antologia de poetrix, gênero, o qual acabara de conhecer. Foi um verdadeiro desafio, pois eu tinha a responsabilidade de procurar e garimpar bons poetrix publicados nas redes sociais. Foi um trabalho árduo, porque havia muitos poetrix, principalmente na página do Recanto das Letras. Todavia, é importante ressaltar que muito do que estava posto lá tratava-se apenas de um terceto, não tinha a estrutura do gênero poetrix. E quando eu encontrava uma pérola, o poetrixta não tinha interesse de participar de antologias. Mas, com persistência, consegui selecionar vinte e dois poetrixtas de várias partes do Brasil, inclusive do meu estado o Rio Grande do Norte. Confesso que me surpreendi com a qualidade! Encontrei verdadeiros talentos. Assim, consegui organizar dois volumes: Fagulhas I (2011) e Fagulhas II (2013). Ambas tiveram repercussão nos jornais e blogs culturais. O lançamento foi na Academia Norte Rio-Grandense de Letras, com a presença dos poetrixtas de várias partes do Brasil e também a presença de ilustres escritores e poetas . O lançamento dessas duas antologias despertou a curiosidade de se saber o que é Poetrix! Até hoje, quando vou às escolas ou algum instituto federal, a primeira pergunta é essa. Vejam as imagens abaixo.
Como você vê o Poetrix hoje e no futuro?
Em comparação há dez anos, vejo que o poetrix está muito presente em livros físicos. Tem-se publicado muito tanto em coletâneas como em livros solo. Portanto, não é um gênero exclusivamente da internet. Outra coisa importante é a presença do Poetrix nas escolas públicas municipais e federais. Muitos professores têm trabalhado esse gênero com os alunos. Já na Universidade, embora ainda de forma restrita, o gênero tem sido objeto de pesquisa de mestrado e doutorado. Portanto, para o futuro, vejo a consolidação do poetrix em todos os espaços. Ele veio para ficar!
Que acha da interação entre o poetrix e o ensino didático?
Muito boa! O poetrix é um gênero excelente para ser ensinado nas escolas. Por meio dele, pode se ensinar concisão, intertextualidade, promover as habilidades de inferências, estudo das figuras de linguagem, etc. É importante também ressaltar que haja um ensino sistematizado desse gênero nas escolas por meio de metodologias tipo as sequências didáticas de Joaquim Dolz e as sequências básicas de Rildo Cosson.
Como transporta o domínio do sensual para seus textos?
Sinceramente não sei explicar. É como se fosse uma questão de estilo mesmo. O sensual está entranhado nas fendas das minhas palavras. Muitas vezes escrevo sem nenhuma intencionalidade, e, os leitores fazem uma interpretação levando para o campo do erótico. No entanto, é preciso estar consciente de que, quando o autor escreve, o texto deixa de ser dele. A leitura literária éplurissignicativa. Não importa o que o inspirou. Importa o que foi dito e como foi dito.
Que autor(es) você destacaria no atual cenário da literatura?
Sou apaixonada pela literatura de Conceição Evaristo e Mia Couto. No gênero poetrix prefiro não falar porque não quero ser injusto com alguns. Tem muita gente talentosa escrevendo poetrix. Isso é o que importa.
Quais autores entendem a alma humana?
Para mim são Dostoiévski, Shakespeare, Machado de Assis, Clarice Lispector, Marina Colassanti, e Guimarães Rosa.
Como você vê a questão do “lugar de fala”?
Complexa! Penso que quem mais tem propriedade para falar das dores de suas vivências, dos silenciamentos, preconceitos, apagamentos, são os que sentiram tudo isso na própria pele. É essa voz silenciada, presa na garganta que deve gritar. Percebo isso quando leio Carolina de Jesus, Conceição Evaristo. No entanto, hoje, sou menos radical. Para defender determinadas bandeiras não é preciso que eu seja negra, indígena. Podemos, sim, em nossa literatura defender muitas bandeiras. Mas ouvir isso de quem sentiu na pele toca muito mais na alma da gente. Isso é fato.
Você escreve à mão ou escreve direto no computador?
No início dos anos1990 não conseguia “pensar” no computador. Tinha que escrever à mão e depois digitar. Hoje, é natural, automático, direto no computador.
Como vê a relação entre novos autores e o mercado editorial?
Acho tudo muito relativo, porém, de um modo geral, o caminho para os novos autores terem validação no mercado editorial são as premiações em concursos. Pelo menos é que se percebe na atualidade!
Como tem sido sua experiência como membro da Academia Internacional Poetrix?
Acho a Academia um pouco engessada, nos moldes tradicionais. Falta leveza. Porém, é inegável que tanto a primeira e atual diretoria têm feito um ótimo trabalho no que concerne à divulgação e à qualidade estética do gênero.
Gostaria de fazer um comentário final?
Sou muito grata à modalidade poética minimalista – Poetrix – que um dia ressignificou a minha vida numa fase difícil e me fez voltar a escrever. Por um “trix” tudo mudou... rsrs