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4 de jun. de 2024

Trilha do Outono - Cleusa Piovesan



NA TRILHA DA POETICIDADE DO OUTONO: UM

PERCURSO PELOS POETRIX DE JOSÉ DE CASTRO



Por Cleusa Piovesan, AIP, Cadeira número 27.





Os “Seis Poetrix para o Outono”, de José de Castro, chamaram minha atenção pela intertextualidade que percebi em relação a outros poemas, a textos e obras de autores e de artistas renomados, e também a obras da mitologia. Por isso decidi vasculhar minha memória literária para entrelaçar os fios poéticos que me auxiliassem a interpretar, artisticamente, os poemas desse autor.

Os seis poetrix que analiso dialogam com obras de vários autores que admiro e que demarcam meu lugar como estudiosa das artes em geral, razão pela qual atrevo-me a escrever esta crítica literária.

Aqui apresento as minhas conjecturas, que podem não se coadunar com as de outrem, porque a poesia é assim, desconstrói nosso “horizonte de expectativas" e alinha-se com o que nos apresenta sentido, relacionada a nossas vivências e experiências, algo subjetivo.

Como poeta posso dizer que se um poetrix não for explorado com um olhar poético, vendo além das aparências, extrapolando a concretude do texto, não há como extrair reflexões ou mesmo interpretá-lo em sua gama de significações, por se tratar de um gênero minimalista em que poucas palavras têm de condensar um vasto universo semântico.



SOPRO DE OUTONO


Pouco importa
Abraço o descaminho
Sigo o vento, folha morta



No poema “Sopro de Outono”, José de Castro me reportou a Walt Wittmann que contempla “regatos correndo pelo outono” (no seu poema “Regatos de Outono”, do livro “Folhas de Relva”).Aqui, os outonos correm através de imagens que evocam um dia em que as folhas voam e criam um tapete multicolor a enfeitar os caminhos. Indeciso, o eu lírico solta-se ao sabor do vento e segue sem rumo, à espera do destino traçado desde seu primeiro sopro de vida.

Também há intertexto com o "sopro divino" que, segundo algumas doutrinas religiosas, representa a gênesis de nossa existência. E José de Castro retrata "as duas pontas da vida" ao encerrar o poetrix com a expressão "folha morta". Os versos ainda me reportam ao personagem Bentinho, o Dom Casmurro, de Machado de Assis, em sua inútil tentativa de purgar-se dos erros e das decepções do seu passado. O estilo do autor revela-se a cada verso, compostos com a intencionalidade de evocar diálogos poéticos, permitindo aos leitores uma multiplicidade de interpretações, fazendo alusão a verso de Paul Verlaine, em “Canção de Outono”.