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26 de fev. de 2024

Equilibrista - por Pedro Cardoso

Equilibrista

bêbado na escuridão
afasta estrelas com as mãos
sopra o sol... e apaga

(Francisco José)

Em tempo...confesso que fiquei na dúvida se este poema é ou não uma frase fatiada. Mas não importa. Sigo com as minhas análises.
Depois da implementação das Novas Diretrizes da Academia Internacional Poetrix - AIP para se fazer um bom Poetrix, passei a ver o terceto com outros olhos, virei a chave - duas voltas completas. 
Penso que ele ficou mais elitizado, mais ousado e mais trabalhoso.

Tenho garimpado tercetos que me afrontam, e que, me fazem pensar. Refletir sobre tudo o que foi lido e o que não foi dito.

O poema Equilibrista está calcado em uma palavra chave: BÊBADO. 
Ela nos oferece dois significados distintos:

1º) Refere-se ao cidadão habituado a beber frequentemente, o alcoolista.
2º) No sentido figurado, retrata o indivíduo que está inebriado de fortes emoções.
Equilibrista. Uma palavra interessante: aquele ou quem exibe extrema habilidade e destreza de movimentos do corpo.
O título, à primeira vista, parece contrastar com o primeiro verso "bêbado na escuridão". 
Fiquei matutando de um lado ao outro tentando encontrar uma saída para as minhas hipóteses de leituras.

O segundo verso veio para me socorrer "afasta estrelas com as mãos". Uma metáfora bonita! Diria rica, se isto é possível!
É flagrante imaginar que o cidadão segue caminhando fora do compasso, quase a trote. Vai como se estivesse nadando de braçadas nos becos do negrume.    

O terceiro verso "sopra o sol..." é muito bonito! Indica que o sujeito cambaleou até o dia amanhecer. Que ele queria, por tudo, que o sol não nascesse, por isso, bafeja.
"e apaga", no final do verso, nos brinda com um duplo sentido importante: primeiro ele queria que o sol apagasse com o seu sopro. Depois, o cidadão esmoreceu, de vez. Caindo sem sustentação sobre as pernas. Ou seja: apagou geral.
Outra interpretação que o poetrix pode sugerir é no sentido figurado.
Retrata um indivíduo que está inebriado de fortes emoções.
Dá para imaginar um ser humano solitário, que caminha de um lado para o outro, no ermo da noite, à espera do momento exato em que o Sol vai aparecer no horizonte... eufórico, assopra de mentirinha, se entrega à mansidão do dia que está nascendo - simplesmente... fecha os olhos - apaga!

E viva a poesia!!!

2 de fev. de 2024

Pichação - por Pedro Cardoso



PICHAÇÃO 

No grafite, grito riscado
Murais de palavras habitam
Arte germina no asfalto

(Valéria Pisauro)




Abri, aleatoriamente, a Antologia Poetrix 8 - Infinito. Encontrei, no sobressalto, o poetrix Pichação.

Confesso que o título despertou, em mim, a curiosidade poética. Achei interessante e instigante, uma vez que, essa modalidade é considerada crime no nosso país.

A pichação teve início no final dos anos 1960 em Paris, período da contracultura e das revoluções estudantis.

O grafite surgiu em meados dos anos 1970 na cidade de Nova York, quando jovens começaram a registrar marcas e desenhos nos muros da cidade.

A pichação é diferente do grafite.

Um esclarecimento: enquanto a pichação é feita sem permissão e com intuitos geralmente subversivos, o grafite é feito com autorização e em ambientes artísticos e/ou abertos..., tendo um conceito por trás.

É importante observar, de início, que o poema já nos mostra que se trata de um tema controverso.

O grafite geralmente se veste de mensagens sociais, mas, ainda assim, finca o dedo nas feridas das comunidades. Aflora os problemas intensos, promove uma visão mais apurada da sociedade e dos indivíduos que compartilham os mesmos valores éticos e culturais.

Já a pichação ganha contornos diferentes e bem mais controversos.

A expressão "grito riscado" no primeiro verso, passa a ideia de que o grafite é um desenho feito por extenso: algo comprido, que tende a ser longo. Não deixa de ser um desabafo, cunhado a partir do asfalto, como iremos encontrar depois, já no terceito verso. Sendo possível, inclusive, compreender a ideia de asfalto....tendo duplo sentido: o palpável e o figurado.

"Murais de palavras habitam". Um verso aliciante, parece que foi escrito de trás para a frente. Tem-se a impressão de que foi feito às avessas. O usual seria, palavras habitam murais.

Me fez lembrar a "competência" do ex-governador de São Paulo, que usou avental, máscara e óculos de proteção, para posar de mocinho da mente cinza e apagar, pessoalmente, os desenhos e palavras, que tomavam conta da avenida 23 de Maio.

"Arte germina no asfalto". Um verso onde a poesia transborda, vai além das palavras que o representam.

Finalmente, um poetrix que me fez repetir... E viva a poesia!!!


30 de jan. de 2024

Duplix - Pedro Cardoso e Cleusa Piovesan

DUPLIX 


FOTO Pedro Cardoso  //  AMOR PLATÔNICO Cleusa Piovesan




beijo colado na boca - menina // Ideal de felicidade

lábios de mel - Flor de Lis // desabrocham (des)ilusões

garota presa na moldura // sonho em pinceladas de Münch



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27 de jan. de 2024

Poetrix de Pedro Cardoso



Colombo

deserto - alto mar - santa
maria, pinta e niña - caravelas
Salvador, Dalí, não as viu

Pedro Cardoso


Embaçados

olhos esmaecidos - nus
eu e ela, frente e verso
desejei, apenas, roçar os seios

Pedro Cardoso


Foto

beijo colado na boca - menina
lábios de mel - Flor de Lis
garota presa na moldura

Pedro Cardoso

18 de dez. de 2023

Poetrix Natalino por Pedro Cardoso e Diana Pilatti




Natal

hoje é um dia atravessado
muitos risos... um pote de lágrimas
uma mão castiga a outra


Pedro Cardoso



navidad

brilha a abóbada celeste
passado: três reis magos
presente: faço um pedido

diana p

21 de nov. de 2023

Poetrix de Pedro Cardoso


RISTE

água de rio
profundo
viver-me na superfície

Pedro Cardoso


ESCOLHA

invade-me com o seu cheiro
desnuda-me com o seu cio
não quero ir para Pasárgada

Pedro Cardoso


NADA_DOR

diga-me se me queres
posso morrer na poça d'água
a dor já está pelo meio

Pedro Cardoso


COISAS

sou uma espécie de pássaro sem asas
o instinto de ninho não me pertence
meu poema engole sapo

Pedro Cardoso

11 de ago. de 2023

Carta entre Amigos - Pedro Cardoso


Brasília, 05/05/23

Oi Marilda!


Recebi seu e-mail, hoje pela manhã, como se fosse uma carta, que prazer! Nem pude esperar que o sol se debruçasse no costado do muro, para que eu pudesse lhe responder. É sempre uma alegria enorme falar com você sobre tudo e, também, sobre nada.

Não podemos nos esquecer das nossas conversas ferrenhas sobre a poesia e, principalmente, dos nossos embates calorosos sobre o poetrix: esse bichinho mimado, cheio de garras e três cabeças quentes, que tanto nos faz pensar e dialogar, com seus concisos e malucos versos. Às vezes são tão densos que precisamos lê-los e relê-los, inúmeras vezes, para podermos entender o que foi dito e o que ficou escondido nas abas das entrelinhas. Este último que você me mandou, foi uma grata surpresa, me fez pensar como leitor e não como um escritor. Foi assim que nos vi diante dele - ombro a ombro. Mas vamos em frente, marchando firmes e fortes, sem perder a cadência poética das palavras.

Confesso que esperei ansioso por sua resposta ontem, como havíamos combinado, mas imaginei mesmo que você estava ocupada com as flores do seu delicioso jardim. O meu, como já lhe falei de outras vezes, tem uma Flor especial: não murcha, nem perde o cheiro... um verdadeiro encanto!

Ouvir de você: "Desculpe não ter cumprido com a promessa de responder tua carta ontem. Terminei muito tarde a minha lida de jardinagem. Chegou a noite, eu estava exausta e só queria tirar a terra que estava em todos os cantos do meu corpo. Mas, antes de dormir eu li. Emocionei. Já disse em outras ocasiões que o Poetrix para mim, tornou-se um estilo de vida. Ele ampliou o meu modo de entender e praticar o minimalismo.", foi encantador!

Fiquei feliz demais ao ver que você destacou uma parte, tão importante para mim, da minha própria fala:: "Através da arte minimalista o autor instiga o leitor a viver melhor, a se desapegar das coisas inúteis e fúteis - um verdadeiro descarte! Essa forma de expressão busca despertar um olhar mais acurado para os prazeres que o consumo desenfreado da vida moderna não consegue comprar. Para mim, a essência do minimalismo pode ser resumida em uma única frase do poeta Mario Quintana: "Eu moro em mim mesmo". "

Já no final do e-mail, você arrematou: "Nesse parágrafo, você escreveu o que eu gostaria de ter escrito. Perfeito! Eu só não sou minimalista com as folhagens do meu jardim. Mas, as jararacas, aranhas e gambás me deram um ultimato. Pratiquei o descarte do excesso. Vou me contentar com a mata nativa que mora depois do meu muro.".

Falarmos mais o quê?! Não é mesmo, minha amiga/irmã, dos versos e da prosa?!


Adorei o seu poetrix, incrível!

Vou repetí-lo, aqui, para que você o leia, em voz alta, para as suas flores, elas vão gostar de ouvi-lo em uníssono. 

15 de jul. de 2023

Coluna Literária - À LUZ DA POESIA - por Pedro Cardoso




Um grilo em casa

melodia verde
cricrila a vida e eu canto
pequena esperança na parede

Lilian Maial 


Estou sempre à procura de poetrix que me façam pensar e querer falar sobre eles. Que me encantem também e fustiguem minha cabeça inquieta e barulhenta. Hoje me vejo diante deste poetrix da poeta Lílian Maial. Eu o li e reli, algumas vezes, tentando escarafunchar suas linhas e entrelinhas. Ora de frente para trás, ora de trás para a frente. Um vaivém de deleite, nem sempre silencioso.

Minhas leituras são fatiadas.

Primeiro leio o título. Tento decifrar o que ele quer me dizer no todo. Reflito sobre as possibilidades que vão surgindo em minhas alucinações. Esqueço, a princípio, a leitura literal do texto. Para mim é o que menos importa, de início.

Vislumbrei duas premissas interessantes. Esta é uma característica marcante no poetrix: permitir várias interpretações.

Primeira: Um grilo em casa. Ele pode ser um problema, uma preocupação ou um transtorno. Isto é um fato corriqueiro em nossas vidas do dia a dia. Fiquei com ele manquitolando em minha austeridade por alguns instantes preciosos.

Segunda: Um grilo em casa. Um inseto, um pequeno animal que traz significados mais comumente ligados à boa sorte em qualquer área de nossas vidas. Representa o salto, carrega uma mensagem de mudança, revelando a necessidade de se mover, caminhar, pular em outras direções.

Pois bem, parto então para o primeiro verso que diz: "melodia verde".

Ele está diretamente ligado ao segundo e terceiro versos. Essa conexão já nos passa a informação de que o bicho não é um qualquer, mas sim, um grilo verde barulhento.

Já no segundo verso, é importante observar o que a autora diz: "e eu canto".

Sinto como se ela estivesse dizendo que "louva_a_deus" com o seu canto, em uníssono com o cricrilar do Esperança.

Não se contenta apenas com o "canto" dele. Vai além do esperado.

O terceiro verso, para mim, é o mais significativo.

A expressão "pequena esperança" é bacana. Se o leitor não estiver atento, não vai entender nada de nada, vai remar, remar e morrer na trincheira da poesia.

Ela está falando de um animal bem pequeno. Na verdade, quando entra em casa, de livre e espontânea vontade, mesmo que seja diminuto, ele pode simbolizar, para nós, prosperidade para a vida.

É intrigante observar que a autora é uma profissional da saúde, que vive e trabalha em uma metrópole. Uma cidadã urbana por excelência. Porém, o que ela nos descreve pode ser mais associado às pessoas que vivem em comunidades rurais ou em pequenos povoados.

Chego a inferir que, como o grilo que pula, ela está dando um salto triplo do urbano para o bucólico.

Quem sabe, até em busca de uma vida mais tranquila e pacata.

Assim sendo, ouso dizer que este é um poetrix extremamente simbólico.


PS: Este poetrix me fez lembrar do "putzgrila". Tão usado na minha juventude. Expressão que surgiu com o jornal O Pasquim, um dos símbolos da contracultura da época.


E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso


21 de jun. de 2023

Poetrix de Pedro Cardoso

 

I
a
n

na parede, o prego
o paletó parecia velho.
__ não, não era meu amigo! 

Pedro Cardoso

S
O
S

portas e braços abertos
não é a morte!
__ ouço o riso da lombriga

Pedro Cardoso

l
i
a

Raquel a mais velha
Labão, pai cuidadoso.
__ "para tão longo amor tão curta a vida!"

Pedro / Camões

L
a
r

minha casa de campo
sopé da montanha.
__ "moro em mim mesmo"

Pedro / Quintana

27 de abr. de 2023

CARTA PARA UM AMIGO, POR PEDRO CARDOSO

 



Carta para um amigo escritor 

por Pedro Cardoso


Brasília, 31/03/23


Ô meu amigo, quanto tempo?! Já nem me lembro de quando foi que escrevi pra você pela última vez. Estou até envergonhado. Sei que fazem alguns carnavais, cada qual, mais distante e saudoso. Isto sem falar do período recente da pandemia, que horror! Fiquei literalmente confinado. Ficamos. Foi assim que embaralhei os pés nos passos, por esses anos todos.

Não vou dar notícias da minha querida Flor. Escrevi para ela recentemente, estamos com as conversas em dia, a par e passos... tudo como lhe falei da última vez, sem mais nem menos.

Hoje, quero confessar que ando com a cabeça voltada para o Minimalismo, sigo encantado! Por isso lhe escrevo para contar as novidades.

Passeando pela internet deparei-me com a expressão: "o mínimo é o máximo". Esta frase é uma antiga companheira de caminhada. Fica martelando em minha cabeça, por vários dias. Ela sempre faz todo sentido para mim.
Vivo às voltas com poemas enxutos, adequados às figuras de linguagem e com títulos que induzem o leitor a relacioná-los com o conteúdo.

Sei que você gosta de uma boa leitura, principalmente de poemas dos poetas clássicos, isto é bom demais! Mas gostaria de lhe falar sobre uma tendência minimalista que, ora, aflora com mais intensidade, tanto na internet como nas publicações de livros autorais e revistas literárias. É um gênero relativamente novo. Não sei se você, que mora do outro lado do mundo, já teve algum contato ou ouviu falar do terceto que se chama Poetrix. Ele foi criado em 1999, pelo poeta baiano Goulart Gomes. No início éramos um grupo de uns gatos pingados (acredita que faço parte deles?), dez escritores ou até menos. Tudo era trocado na base dos e-mails, as mensagens corriam de um computador ao outro, sem dó nem piedade. Sempre sob a batuta do seu refinado criador.

O Poetrix nos oferece muitas facetas: é humorado, é transgressor, é narrativo, faz história. Ele está ganhando fôlego entre os poetas de primeira linha, com muita rapidez. O grupo já saiu das nossas fronteiras, ganhou o mundo minimalista, com vontade!

Vou lhe apresentar um exemplo que consta do livro que escrevi - ainda falando das novidades!.
Espero que goste e tente fazer um outro desses tercetos para mim. Quem sabe....
No começo pode parecer complicado, mas depois de algumas tentativas frustradas, vai perceber que é bem legal!
Podemos trocar "figurinha": para cada um que você me mandar, vou devolver dois bem fresquinhos. Combinado?

No início tem-se a tendência de escrever uma frase dividida em três partes - um poetrix um tanto "capenga", para as propostas mais atuais. Não poderia deixar de registrar, no entanto, que os clássicos contêm verdadeiros tesouros.
É que, no começo, era aceitável, mas com o passar do tempo ele ficou mais exigente, mais elitista, mais sofisticado e até mesmo mais atrevido. Hoje o que é desejável é que não seja uma frase "esfaqueada".

Vou lhe mostrar as particularidades, em detalhes, para que você não se assuste de imediato. Vamos no passo a passo.


Primeiro vou apresentar um Poetrix clássico, escrito por mim. Na verdade é uma frase fatiada em três partes, como se fossem três versos. Mas, ainda assim, tem um efeito bonito e forte. Gosto muito dele!

Veja:

Fome

a distância
entre a mão e a boca
tem nome...

É importante notar, que mesmo sendo uma frase fragmentada, ela nos remete ao título e a leitura se repete, como em um ciclo.

Eu disse, lá no início, que não falaria da minha amada, mas é impossível deixá-la de lado quando estou confabulando com a Poesia. Ela é a minha rima mais que perfeita, faz parte dos meus escritos, das minhas loucuras, do meu dia a dia. Como você sabe, sempre a chamo de Flor Azul.
Pois bem, falando nela, vejamos um outro exemplo:

Amor,

doçura de Flor, atiça delitos
todo cuidado é pouco.
picantes temperos aguçam desejos

O título é uma peça importantíssima dentro do contexto. Ele tanto pode ser longo como curto, uma única palavra já é suficiente, por vezes. Este fato é relevante porque ele não faz parte da contagem das sílabas que compõem o Poetrix (no qual,é permitido até trinta sílabas métricas).

Pois bem meu amigo, dizem que um poema que precisa de explicação não é bom. Não vou dar explicações sobre o poema. Quero apenas lhe dizer como gostaria que você lesse o texto para que possa ir se familiarizando com a arte deste estilo de escrita. Desejo ajudar na compreensão dos pontos ora abordados.

Veja que, após o título, coloquei uma vírgula. Fiz isto para que o poema fosse lido como eu o idealizei. Com esta pontuação, adiciono o título ao primeiro verso, para que a leitura seja feita da seguinte forma: Amor, doçura de Flor. Trago a força do sentimento junto. Observe também que usei a palavra "Flor" com letra maiúscula, uma referência à minha amada. Se tirar a vírgula, a leitura fica diferente, você vai ler: Amor (.)__doçura de Flor, atiça delitos. Nesta hipótese, aparece mais a minha afirmação de que a... Mulher atiça delitos.

Sobre o segundo e o terceiro versos, podemos conversar melhor depois. Assim, deixamos nossos assuntos sempre a postos!

Agora você já pode tentar! Venha para esse mundo de loucos escritores, o mais rápido que puder! É um convite especial. Como deve ser a Amizade.

Um grande abraço... E viva a poesia!!!

2 de abr. de 2023

Poetrix de Pedro Cardoso


 Flor

boia na superfície
um golpe de vento a afronta
meus olhos a_colhem

Encontro

fui descoberto
o louco me deu um abraço
desaguei em cascata

Pedro Cardoso

25 de fev. de 2023

Poetrix de Pedro Cardoso

Bola sete

não influencio nenhuma pessoa
nem a mim mesmo
sou brinquedo de rua

Pedro Cardoso

Duplix de Pedro Cardoso e Angela Bretas

Melancolia / Andarilha

vim de muito longe// percorri caminhos
légua e meia// sem sola no sapato
para ser exato, eu era moço// com fogo nos pés

@Pedro Cardoso //@Angela Bretas


——

Melancolia

vim de muito longe
légua e meia
para ser exato, eu era moço


@Pedro Cardoso

——

Andarilha

percorri caminhos
sem sola no sapato
com fogo nos pés

@Angela Bretas

10 de jan. de 2023

Poetrix de Pedro Cardoso


Eu vi...!


rua deserta
caminhava de cá pra lá
o menino Manuel Bandeira de Barros

Pedro Cardoso

Série Poetrix de Pedro Cardoso


Cova grande

alguém pedia socorro
sufocado com as rimas
palavras tropeçavam nos versos

Cova grande

confiei ao poeta minhas rimas
uma a uma foi devolvida
...pobres demais!

Cova grande

dorme, dorme, dorme...
poeta maldito!
Pedro, tu és pedra

Cova grande

maracatu, tatu, urubu
na poça da lama o verso
esburacado na rima

Cova grande

ora me seduz
ora me magoa
rima pobre, rima rica, rima pobre ...

Cova grande

que bonito sorriso
belo beijo
a poesia não tem face

Cova grande

do presídio das paredes
rimas pobres ganham o mundo
a poesia está morrendo



Cova rasa

era meio-dia
corpo estendido no catre
nem sobra fazia

Cova rasa

vão demolir a casa
preto velho na janela
ficou na moldura

Cova rasa

uma pessoa grande
não coube na vala
os pensamentos ficaram com os pés de fora

Cova rasa

não permita que eu morra
buraco à flor da pele
não cabe meus poemas

Cova rasa

não era amor
alguém pedia socorro
o enterro passou antes da missa

Cova rasa

nua, nua, nua...
vitória-régia
o sonho é coisa pouca

Cova rasa

vão derrubar a casa
quarto, cozinha, banheiro
os poemas serão enterrados no quintal

PEDRO CARDOSO

4 de dez. de 2022

Entrevista com Pedro Cardoso

 AIP - ENTREVISTA POR ESCRITO DE ACADÊMICOS PARA O BLOG DA AIP

Entrevistado: Acadêmico Pedro Cardoso
Cadeira: 18
Patrona: Sonia Godoy

A biografia e discurso de posse do poetrixta Pedro Cardoso podem ser lidos acessando o menu Biografias e Discursos da AIP.

Primeiramente, agradeço ao acadêmico Pedro Cardoso por esta entrevista, exclusiva, para o Blog da nossa Academia.

Agradeço também em nome da Diretoria.

1) Nascer em Minas define um modo de ser? Quais as lembranças que guarda da sua infância? Gostaria de falar sobre seus pais – origem, perfis, legado?

 Acredito que sim. Sou como quase todos os mineiros, meio desconfiado, meio calado. Às vezes falo Uai, às vezes, "na estação",  falo: "pega os trens que a coisa vem aí".
Nasci em um município muito pequeno que se chama Bambuí (foto à direita).
 A cidade está localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais e faz parte da região da Serra da Canastra. Mas logo me mudei para Goiânia. Porém, a ascendência mineira nunca me deixou, está grudada em mim. Sempre que posso procuro minhas raízes, seja na comida ou na fala.
Ser mineiro é apreciar o nascer do sol todas as manhãs, é ouvir o cantar dos sabiás no entardecer, é ouvir o mugir do gado à beira do curral, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida que sempre floresce. É ter simplicidade e pureza na alma.

1.2 Quais as lembranças que guarda da sua infância?

Preciso dizer que minha infância e adolescência foram até os 24 anos de idade, quando comecei a trabalhar no Serviço Público Federal. Até então, vivia para jogar futebol e soltar pipa nos dias mais ensolarados. Devo dizer que brigava demais, cheguei a quebrar o nariz por três vezes.
Nas horas vagas dava aulas particulares de matemática, geralmente para crianças e adolescentes. Era bom demais! Tenho saudade daqueles meninos de outrora.  

1.3 Gostaria de falar sobre seus pais – origem, perfis, legado?

Falar dos meus pais me emociona. Meu pai apenas terminou o segundo grau, meu Herói, que me levava para o seu trabalho no cano de uma bicicleta Harley, de cor preta e pneu faixa branca.

Minha mãe não terminou o primário, mas deixou três livros publicados. Sempre contando suas histórias, da infância à velhice.

Ela teve 13 filhos, de parto normal e em casa, com parteira. 

Todos estão vivos e formados com nível superior.

Em tempo

falar de minha mãe
é algo grandioso para mim,
é quase uma insanidade
defini-la? não é o caso!
não há uma única palavra,
que eu possa dizer neste momento,
que a descreva com total fidelidade.
suas virtudes, ora findas e mortas,
ficaram registradas nas paredes do meu Ser
como lembranças difíceis de serem apagadas.
hoje é um dia paranoico para as minhas verdades,
me doem os ossos, as carnes e metade da alma,
me sinto um menino desnudo,
é como se um nó desatasse as minhas mãos,
me deixasse solto e só.
talvez não devesse revelar estes sentimentos,
eles fazem parte do que há de mais sagrado em mim,
melhor seria que eu chorasse com meus irmãos,
com os amigos e os parentes.
cada pá de terra despejada,
foi como se enterrassem com ela
os meus sonhos
os meus encantos
a minha concretude.
Mãe!
penso que sou um filho insano,
confesso que rezei por sua morte nestes últimos dias,
horas infindáveis... vil solidão!
porém uma parte de mim é luto
a outra, quase na sua totalidade, é gratidão.
não sou o mais bonito dos seus filhos,
nem o mais forte ou rico
posto que, só desejei ser um Fingidor,
um poeta dos versos livres.
leve os meus sonhos,
os meus pesadelos
as minhas vísceras
para onde for
e que Deus a tenha
como a mais bela rima dos meus poemas

2) O que lhe atraiu para a escrita, desde quando escreve e porquê?

Sempre tive vontade de escrever. Mas sempre achei muito difícil, os versos viviam brigando em minha cabeça, uma loucura!