2 de fev. de 2024

Pichação - por Pedro Cardoso



PICHAÇÃO 

No grafite, grito riscado
Murais de palavras habitam
Arte germina no asfalto

(Valéria Pisauro)




Abri, aleatoriamente, a Antologia Poetrix 8 - Infinito. Encontrei, no sobressalto, o poetrix Pichação.

Confesso que o título despertou, em mim, a curiosidade poética. Achei interessante e instigante, uma vez que, essa modalidade é considerada crime no nosso país.

A pichação teve início no final dos anos 1960 em Paris, período da contracultura e das revoluções estudantis.

O grafite surgiu em meados dos anos 1970 na cidade de Nova York, quando jovens começaram a registrar marcas e desenhos nos muros da cidade.

A pichação é diferente do grafite.

Um esclarecimento: enquanto a pichação é feita sem permissão e com intuitos geralmente subversivos, o grafite é feito com autorização e em ambientes artísticos e/ou abertos..., tendo um conceito por trás.

É importante observar, de início, que o poema já nos mostra que se trata de um tema controverso.

O grafite geralmente se veste de mensagens sociais, mas, ainda assim, finca o dedo nas feridas das comunidades. Aflora os problemas intensos, promove uma visão mais apurada da sociedade e dos indivíduos que compartilham os mesmos valores éticos e culturais.

Já a pichação ganha contornos diferentes e bem mais controversos.

A expressão "grito riscado" no primeiro verso, passa a ideia de que o grafite é um desenho feito por extenso: algo comprido, que tende a ser longo. Não deixa de ser um desabafo, cunhado a partir do asfalto, como iremos encontrar depois, já no terceito verso. Sendo possível, inclusive, compreender a ideia de asfalto....tendo duplo sentido: o palpável e o figurado.

"Murais de palavras habitam". Um verso aliciante, parece que foi escrito de trás para a frente. Tem-se a impressão de que foi feito às avessas. O usual seria, palavras habitam murais.

Me fez lembrar a "competência" do ex-governador de São Paulo, que usou avental, máscara e óculos de proteção, para posar de mocinho da mente cinza e apagar, pessoalmente, os desenhos e palavras, que tomavam conta da avenida 23 de Maio.

"Arte germina no asfalto". Um verso onde a poesia transborda, vai além das palavras que o representam.

Finalmente, um poetrix que me fez repetir... E viva a poesia!!!


8 comentários:

Angela Bretas disse...

Tanto o poetrix da Valéria , como a interpretação do Pedro estão excepcionais ! Palmas a ambos 👏

Dirce Carneiro disse...

São faces da realidade tratadas na Poesia.
Precisamos desses poemas e dessas análises.

Darlan Torres disse...

Uma análise perfeita. Eu escrevi um texto sobre o grafite falando um pouco sobre isso porque vi que haviam pessoas confundindo grafite com grafitrix. O poetrix "Pichação", da Valeria Pisauro e tão perfeito quanto a análise de Pedro Cardoso. Ambos são dignissimos de aplausos

Marília Tavernard disse...

Um tema sempre instigante. Análise maravilhosa de Pedro, bem esclarecedora. Abraços poéticos Pedro.

Andréa Abdala disse...

Bela análise, Pedro!

Valeria Pisauro disse...

Muito obrigada, Pedro. Abraços.

Anônimo disse...

Bela análise, Pedro! Pichação, de Valéria Pisauro, em especial, o terceiro verso, me remete a um grito poético de socorro. Um presta atenção.
Lembrei-me de "Gentileza"... e do poder transformador que a arte literária tem. Parabéns querida, Valéria! Abraços, Margarida Montejano

Marilda Confortin disse...

É ótimo ler as interpretações do Pedro Cardoso. Ele fica garimpando por aí, encontra pepitas e compartilha sua aventura conosco. 💎