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14 de jun. de 2024

Mulher em Gestação por Andréa Abdala

 


MULHER EM GESTAÇÃO


cinco dias no mês eu sangro
faço arte, faço vida
fora isso, nunca mais


lilian maial

 

 

Eu sou uma admiradora da poesia de Lílian e isso vem de alguns anos atrás quando nos conhecemos através de grupos literários no vasto mundo sem fronteiras chamado de mundo virtual. Seus poemas são expressivos, fortes, certeiros e falam mesmo quando pedimos silêncio, eles tomam espaços, são gigantes.

Mulher em gestação é uma pequena amostra da força da poetisa em apenas três versos. O título já nos surpreende. Ele fala da mulher gestante, como também, da mulher em construção, a mulher que é concebida por nós, em nossos ventres, a cada dia de existência.

A mulher se diferencia do homem em pequenos e grandes detalhes, alguns importantes outros sem nenhuma importância, no entanto, existe algo que é só dela, homem nenhum experimenta, é algo sublime, divino, mágico, intimamente surpreendente, a gestação. E para isso é preciso sangrar de verdade, sangue vermelho vivo, sangue que expressa dor e vaidade, sangue de cor, da força e delicadeza.

No primeiro verso - Cinco dias do mês eu sangro.  São dias onde a expressão feminina alcança seu ápice e sua glória, não desmerecendo os outros vinte e cinco ou seis. Somente as mulheres compreendem o significado da menstruação em suas vidas e como este rubro período causa impacto sobre suas identidades, sobre seus títulos de nobreza. E sangra, fazendo arte, fazendo vida. A plenitude do prazer e da reprodução habita o corpo feminino e nele encontra acolhida. São hormônios, ovários, útero, trompas, bocas, lábios... pura arte!

A mulher se enche de beleza tal qual uma obra prima, sim, uma obra da natureza no seu sentido mais puro. A mulher se encontra disponível à gestação, amando e brigando.  

No verso final, fora isso, nunca mais. A princípio eu pensei em falência, queda, desistência, um final triste. Por algum motivo ou vários, aquela gestação teria sido única, não haveria mais barrigas, fetos, embriões, vida sendo reproduzida. É provável que a autora tenha pensado nesse contexto, nos trazendo a dor e o lamento, um final não esperado para um título de grande expressão e significados.  O elemento surpresa do poetrix. Um susto triste.

Uma nova leitura pode ser feita, não seria o terceiro verso um ato de resistência?. Não sangro mais, nunca mais!... Não sofreremos com os ataques impiedosos aos nossos corpos, aos nossos modos, aos nossos desejos. Basta deste sangue ralo, sem cor e ternura.

É muito forte e agradável ler Lílian Maial.

 

Andréa Abdala

Acadêmica AIP – cadeira 23