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29 de jan. de 2024

ENTREVISTA DE ANGELA BRETAS

 






ANGELA BRETAS

Acadêmica ocupante da cadeira 4 da AIP


Entrevista concedida a Goulart Gomes

1. Fale um pouco sobre você, sua vida pessoal:

 “Sou quem sou, simplesmente mulher não fujo e nem nego… Sou uma mulher temperada, não deixo o sal da vida salgar o meu lado doce”. Além da escrita sou apaixonada por artes visuais, especialmente a fotografia de natureza, tenho um olhar fotográfico e poético, consigo enxergar a beleza em tudo…  Sou irmã, tia, amiga, engraçada, estilosa, curiosa, ativista comunitária, voluntária, pecuarista, dona de casa, esposa, mãe de humanos, de jardins, hortas, plantas, poesias e pets… Nasci e vivi minha infância em Santa Catarina, parte da minha adolescência em Rondônia (família pioneira da região), lá conheci meu esposo, pai dos meus dois filhos Casamos e fomos juntos para os Estados Unidos, no ano de 1985. 

 2. Como se deu sua transição para os EUA? 

Como foi essa aventura que deu certo? Uma longa história que já foi descrita no meu livro Sonho Americano. Lá tive que me adaptar a uma vida completamente diferente, aprender nova língua, me acostumar com o clima, lá passei frio, sofri discriminação, xenofobia, assédio sexual, solidão… mas foi lá também que me tornei mãe, estudei (sou formada em Broadcasting), trabalhei em multinacionais, aprendi novos costumes, escrevi meus primeiros poetrix, publiquei livros, coordenei antologias, fui colunista social, repórter investigativa… Ufaaa! Nem acredito o tanto que já fiz, cansei só de lembrar. Atualmente possuo dupla cidadania, brasileira/americana e divido minha vida entre o aqui e o lá… Lá chamo de Flórida, onde residi por mais de duas décadas. Aqui no Brasil, em Rondônia, onde vivo, resido na zona rural. Duas residências paralelas e completamente distintas, que fazem parte da minha vida e me tornam o que sou, onde encontro inspiração para escrever.

 3. Como foi o seu início na literatura? 

Desde sempre gostei de escrever e de jornalismo. Com o passar dos anos e a mudança para outro país, a literatura e a leitura passaram a se tornar mais presentes na minha vida. Estando fora do Brasil e tendo que aprender outra língua me apeguei a leituras de livros em inglês. Assim que cheguei nos EUA fui para Massachusetts, Boston. Lá necessitava usar o metrô para me locomover e constatei admirada que a maioria dos presentes possuía um livro nas mãos, uma era em que não havia celulares e os americanos viviam mergulhados em leituras. O ar tinha cheiro de livros, de cultura, diariamente me via cercada por estudantes da Harvard, MIT, entre outros, que usavam o mesmo trajeto diário. Naquela cidade (Boston) há também uma das melhores e mais antigas bibliotecas do país (Copley Square). Lá eu tinha acesso a milhares de livros, gostava de ir lá e me perder entre livros e mais livros nos jardins seculares do local. Assim, foi como, no início aprendi parte do meu inglês. Posteriormente, já na Flórida, consegui uma bolsa de estudos e me formei.  Comecei lendo livros de história dos EUA, queria aprender tudo sobre aquele país. Depois passei a ler os clássicos de Shakespeare, li vários do Stephen King e as poesias de Mark Twain, Edgar Alan Poe, entre outros. Um dia fui comprar um casaco de frio em um brechó, em Boston, possuía somente vinte dólares no bolso. Achei o casaco, que custava quinze dólares, e ao me dirigir ao caixa avistei uma máquina de escrever, destas antigas, pesadas, de ferro. Esta máquina custava os vinte dólares. Desisti do casaco, optei pela máquina de datilografia. Recordo que carreguei aquela máquina pelas ruas geladas de uma manhã de inverno. Usava uma camiseta de mangas curtas. Entretanto, não senti frio. Abraçada à máquina sabia que ali iniciava a escrita da minha história de vida. Seria minha terapia, deixaria um diário de minha rotina. E assim nasceram as primeiras poesias, em Boston, escritas nesta máquina. Várias delas foram publicadas em meu livro de verso e prosa “Conversando com as Estrelas”. Posteriormente este diário foi adaptado para um conto, com a inclusão de narrativas de outros imigrantes que, assim como eu, estavam em busca do “sonho americano”, título do meu livro de contos, também publicado e divulgado nos EUA. Frutos desta máquina adquirida em um brechó.  Após alguns anos em Boston, a comunidade brasileira foi crescendo e foi fundado um jornal comunitário “Brazilian Times”. Fui colunista deste jornal por duas décadas, escrevendo desde a história dos EUA, para que os novos imigrantes pudessem conhecer também um pouco sobre o novo país. Dicas de passeios, de serviços comunitários e, é claro, com um espaço para a poesia, principalmente o poetrix. Nestas três décadas, em Massachusetts e Flórida, publiquei três livros e fui curadora e idealizadora das antologias “Brava Gente Brasileira em Terras Estrangeiras“ volumes 1 e 2. Antologias escritas exclusivamente por imigrantes brasileiros residentes no exterior. Fundei uma biblioteca comunitária. Promovi encontros lítero-culturais, concursos de poesia… enfim, levantei a bandeira do hábito da escrita aos brasileiros no exterior. Com orgulho recebi inúmeras condecorações internacionais, participei de encontros literários e bienais nos Estados Unidos, Japão e Itália. Recentemente fui empossada como “Imortal vitalícia / Doutora Honoris Causa” da ALB - Academia de Letras do Brasil - SP, por ter contribuído com a divulgação e propagação da literatura brasileira em terras estrangeiras. 

26 de dez. de 2023

ENTREVISTA COM OSWALDO MARTINS por Goulart Gomes


Oswaldo Martins 



Conte um pouco sobre você, sua trajetória profissional e família

Nasci numa família católica e meus pais eram professores, tendo minha mãe Ariza dedicado sua vida às prendas domésticas – após a minha chegada – e ao cuidado maternal dos três filhos: eu, Evandro e Larisa. Enquanto isso, meu pai Oswaldo Evandro exerceu a profissão de professor universitário até o golpe de 1964 e voltou a exercer o magistério após seu retorno do exílio, em Paris e Moscou.

Vim ao mundo em casa e minha mãe contou com a assistência duma parteira, portanto meu nascimento seguiu a tradição alencarina, àquela época.

Casas em que morei desde a tenra idade estiveram sempre tomadas por livros em todos os cômodos e foi assim que herdei o carinho que meu pai dedicava aos escritos nesse universal formato. Crescemos, eu e meus irmãos, lendo de um tudo e vendo nosso pai na biblioteca lendo, escrevendo e datilografando páginas e páginas.

Fui educado a aprender buscando

8 de set. de 2023

ENTREVISTA COM MARÍLIA TAVERNARD, por Goulart Gomes






AIP1: Marília Tavernard, fale-nos um pouco da sua biografia e do seu percurso literário. Como conheceu e aderiu ao poetrix?


Sempre gostei de escrever. Apesar da minha formação acadêmica, Administração de Empresas. Escrevi muito na juventude, poesia romântica, era muito sonhadora. Em 2008, através de um grupo de poesia na Internet, conheci o poeta e amigo Antônio Carlos Menezes que me apresentou ao poetrix. E o Poetrix chegou pra ficar. Nessa época entrei para o grupo yahoo de poetrix (saudades), onde conheci muitos dos atuais acadêmicos. Comecei também a escrever no Recanto das Letras e a participar de diversas antologias de Poetrix, ao todo 15. Ainda não publiquei meu livro solo, porém tenho um pronto que acho que sempre está precisando de mais um ajuste


AIP2: Que temas você prefere abordar em sua obra?


3 de jul. de 2023

ENTREVISTA COM RONALDO RIBEIRO JACOBINA, por Goulart Gomes



É com grande honra que a Academia Internacional Poetrix - AIP  recebeu, em seus quadros, o doutor Ronaldo Ribeiro Jacobina, médico, professor da Universidade Federal da Bahia e escritor, com uma obra extensa e variada, perpassando os campos da ficção, da não ficção e da ciência. Vamos conhecer um pouco mais sobre este ilustre intelectual.



AIP1: Ronaldo, como é de praxe, nos conte um pouco sobre a sua trajetória profissional e literária, destacando as obras que publicou.

RRJ: Hoje as pessoas acham seu currículo facilmente na internet. Sou médico formado pela escola mater da medicina brasileira, a Faculdade de Medicina da Bahia, UFBA. Psiquiatra por concurso público e médico sanitarista por pós-graduação (Mestrado em Saúde Comunitária na UFBA e Doutorado na Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP-FIOCRUZ-RJ). Dirigente médico na Associação Psiquiatra da Bahia - APB (Secretário-Geral), Presidente do Centro Brasileiro de Estudo em Saúde – CEBES-BA e Secretário-Geral e 18º Presidente da Associação Baiana de Medicina – ABM (1986-87). Na vida universitária, cheguei a professor titular de Medicina Preventiva e Social, obtive o Destaque em Extensão da UFBA em 1994 pelo projeto “Rádio Saúde” no “Excelsior, Bom dia”; dois prêmios nacionais com o projeto “Educação em Saúde na Região de Subaúma”. Outra premiação destacada foi o “Prêmio Jornalista Sérgio Cardozo” (NICSA-Secretaria da Cultura do Estado da Bahia). Sou autor da Memória Histórica do Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia - 2008. Em livros de não ficção sou coautor, com o psiquiatra Antônio Nery Filho,do livro Conversando sobre Drogas (1999). Os destaques mais recentes são para os livros Juliano Moreira: um intelectual de múltiplos talentos (2019), Os Bons frutos de Oitis (2021) e a série História da Medicina na Bahia, Volumes I-IV. Como escritor tenho várias obras publicadas, sendo o primeiro livro Poemas Piche, lançado pela Literarte em 1º de fevereiro de 1980, com direito a um “araponga” da ditadura presente no evento. Como Leminski lançava o dele, tivemos a presença ilustre de Caetano Veloso. Em literatura infantil publiquei o premiado livro Cantigas de Ninar A & B: até Z é com Você (1997). Depois vem Cantigas para ninar Cecília e Poemas para acordar Gente Grande (2003) e o recente Frida, Paçoca e o Poeta. Poemas para Cadelinhas e Gatinhos (2021). Tenho mais de duas dezenas de prêmios com poesias, contos e crônicas. Em literatura publiquei também  No Baú da Cafua (crônicas, 2004), Luzes Negras (contos e crônicas, 2008), O Poeta e o Lógico (poesia, 2015) e Macaquinhos de Marfim (e-book, poemas premiados, 2020). Em e-book estou publicando Coisas de Poeta. Cirandas em tercetos: poetrix, haicai e poemetos li.


AIP2: Fale-nos de suas influências, suas preferências literárias, suas referências.

25 de fev. de 2023

Entrevista para o Blog da AIP Lorenzo Ferrari

AIP - ENTREVISTA POR ESCRITO DE ACADÊMICOS PARA O BLOG DA AIP

Entrevistado: Acadêmico Lorenzo Ferrari

Cadeira: 13

Patrono: Ítalo Calvino


Lorenzo Ferrari


Neste final da Gestão Por Um Trix, a Diretoria da AIP apresenta a entrevista, exclusiva, para o seu Blog, do Acadêmico Lorenzo Ferrari.
"Escritor, poeta, matemático, engenheiro. Filho de dois artistas plásticos, com uma avó russa escritora. Escreve desde os dez anos sendo que a primeira poesia fez aos 15 anos."
Sua biografia completa, bem como seu discurso de posse, podem ser lidos em Biografia e Discursos, aqui no Blog da Academia: https://www.academiapoetrix.org/

Primeiramente, quero agradecer ao acadêmico Lorenzo Ferrari por ter aceito participar deste projeto. Agradeço também em nome da Diretoria e da AIP.

1) Você nasceu em São Paulo. É paulista- paulistano? Quais as lembranças que guarda da sua infância? Gostaria de falar sobre seus pais – origem, perfis, legado?

Nasci em São Paulo na Avenida Paulista. Mais paulistano acho impossível. Na verdade, nasci no Hospital Matarazzo, que ficava numa travessa, a um quarteirão da Paulista. Hoje, o hospital não existe mais.
Lembranças de infância são muitas. A mais antiga que eu tenho é caindo de um cadeirão com três anos de idade. Mas as grandes lembranças são do tempo em que morei com meus avós. Lembro-me que aos sábados eu pedia ao meu avô para irmos à linha de trem e andar de carro até onde desse. O trem passava no final da tarde. Lembro-me também de que gostava de contar tudo e todas as coisas. Com dois anos já sabia contar e reconhecer os números. Havia também o Tesouro da Juventude, uma antiga enciclopédia de conhecimentos gerais, no estilo da “Barsa” ou "Larousse", reeditada aqui no Brasil nos anos 1950. Deve ter sido usada para educar minha mãe. Eu achava maravilhoso, que além de conhecimentos gerais tinha Poesia e “Os Livros dos Porquês". Sempre quis saber o porquê das coisas.

Minha avó, por parte de mãe, era russa, de Rostov. O pai dela fugiu da Revolução Russa. Falava dez línguas, aprendeu sozinha. Gostava de escrever, inclusive, posteriormente, achei um caderno dela de poemas e publiquei alguns no Recanto das Letras.

Meu avô, por parte de mãe, era brasileiro, filho de espanhol com italiana. Era um cardiologista muito famoso e também professor da Escola Paulista de Medicina. Fez parte da fundação da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Foi cassado pelo AI5, um dos poucos que nunca foi indenizado por isso. Morei com esses avós quase toda minha infância.

Tempos difíceis. Minha avó dizia para ficar de olho em "Veraneios Azuis", sem placa. Era o pessoal do DOI/CODI, prendendo gente sem mandado. Eu lembro de ter presenciado gente sendo metralhada em uma casa, a dois quarteirões da minha. Lembro dos tanques na rua, guardando o Estádio do Pacaembu.

Fico muito triste quando ouço a turma jovem dizer que os militares não fizeram nada de ruim. Eu tinha tio na faculdade; todo dia prendiam um monte de estudantes e desapareciam com eles. Minha avó foi perseguida por ser russa. Meu avô perdeu emprego por inveja alheia.

Mas, vamos em frente. Espero que isso nunca mais se repita.

Minha mãe era artista plástica. Sempre viveu pela arte.

Meu pai também era artista plástico. Foi ele quem criou o primeiro Curso de Artes Plásticas do Brasil, na FAAP. Fez Academia de Arte de Roma. Italiano, veio para o Brasil em 1960 curtir o Carnaval, e resolveu ficar. Teve muita ajuda do Comendador Matarazzo. Viveu a Segunda Guerra na Itália, levou até tiro de um avião alemão por causa de um prato de comida.
(Foto com os pais, Lorenzo é o terceiro, da direita para a esquerda. Seus pais estão nas pontas)

Ainda sobre as lembranças de infância, eu tenho as histórias que minha avó contava da sua terra natal. Uma que ficou marcada para mim foi o momento que a família saiu da Rússia. Meu bisavô era rico e não queria deixar nada para os bolcheviques. Tinha uma cristaleira cheia de cristais tchecos. Minha avó contou que ele quebrou tudo para não deixar para o pessoal pegar. Essa cena me marcou: os cristais virando cacos. Seus últimos gemidos e o silêncio fúnebre depois dessa quebradeira.

2) O que lhe atraiu para a escrita, desde quando escreve e porquê?

A escrita foi algo natural. Apesar de que sempre fui fissurado por números, gostava de literatura. Lia muita ficção científica: Júlio Verne, Isaac Asimov. Minha avó me introduziu a vários "Prêmios Nobel": Hermann Hesse, Pirandello, Faulkner, Samuel Beckett, Bertrand Russell, Pablo Neruda. E outros, que até hoje não entendo como não ganharam: Milan Kundera, Júlio Cortázar, Jorge Luís Borges...

Comecei a escrever cedo. Cursava uma escola chamada "Juca Peralta" que adotava uma linha revolucionária. Era semi-integral e havia aula de literatura e culinária em seu currículo escolar. Comecei a escrever com nove anos. Escrevia histórias e contos para o pessoal do primeiro ano primário, estando no terceiro ano. Meu primeiro poema escrevi com 15.  Ou seja, já escrevo há mais de 50 anos. Acho que é bem natural. Minha avó escrevia, eu dispunha de uma biblioteca farta para ler, tinha horário para escrever e gostava muito também.

3) Como sua formação acadêmica intercambia com sua escrita?

Minha formação acadêmica, por incrível que possa parecer, é Engenharia, mas fui para a área de Informática e me especializei em Banco de Dados. Acho que por ser filho de pais artistas e, principalmente pelo convívio com minha avó, desenvolvi habilidades na área de Ciências Humanas. Falo muito de números, de estrelas e de Ciência, temas que sempre me fascinaram.

4) Que autores tiveram mais influência na sua prosa ou na sua poesia?

Autores são todos os citados anteriormente na resposta número dois. Hermann Hesse em especial. Cada livro dele representou uma fase da minha vida. Adoro Sidarta, li quase tudo dele. Muito mais tarde conheci Ítalo Calvino. Acabei lendo tudo desse autor também. Gosto de escritores do realismo fantástico. Adorei Os Cronópios e Famas, do Júlio Cortázar; O Livro dos Seres Imaginários, de Borges; a trilogia de Ítalo Calvino - O Visconde Partido ao Meio, Cavaleiro Inexistente e, o melhor de todos, O Barão nas Árvores.

Acho que todos esses me influenciaram.

5) Acha que a Arte também salva? Poderia falar sobre a importância da Arte para a vida de todos?

Claro que a Arte salva. Para mim é um estilo de vida. Todos deveriam viver pela Arte, faz as pessoas saírem do seu lugar comum. Penso que se ela não existisse, eu a inventaria. Vivi a vida inteira cercado por ela. Meu pai foi curador da Bienal de Artes de São Paulo, e várias vezes presenciei “happenings” e adorava ver as diversas reações.

Arte faz a gente refletir.

6) De onde vem sua inspiração para escrever? Como é seu processo criativo? Tem períodos em que não produz? Se sim, como reage?

Inspiração vem de tudo e de todos. Escrever é querer comunicar algo. Quem muito lê, deglute e transforma a experiência do outro em sua. Qualquer coisa é inspiração. O mundo é uma fonte inesgotável de temas. A vida, então, é infinita.
Meu processo criativo veio de uma aula que tive com minha avó. Ela dizia: "você deve fatiar o seu dia". Tem que ter horário para tudo. Eu escrevia com hora marcada. Meu período mais produtivo é cedo, pela manhã, ou fim de noite. De manhã, eu dedico duas horas para escrever, mesmo não sabendo o que vou escrever. Acho que nós, que nos consideramos escritores profissionais, não temos desculpas. Temos que escrever sempre. Imagina um jornalista ter que cumprir uma pauta e dizer: "Deu branco". Perde o emprego. Hoje, na Confraria Poetrix, fazemos Poetrix Temáticos no formato de Cirandas, e são dois temas por semana. Precisamos escrever pelo menos dois Poetrix por tema. Não tem como dizer que não consigo escrever.

É o que falo sempre para todos: “Você faz academia para condicionamento físico. Se ficar uma semana sem ir para a academia, é como se tivesse ficado um mês parado”.

Há momentos em que estou sem ideias. Então, tento escrever qualquer coisa. O tempo tem que ser aproveitado ao máximo.

7) Porque se interessou pela poesia minimalista e, especificamente, pelo Poetrix?

Minha história com Poetrix é bem longa. Eu morei em Salvador, de 1990 a 2000. Fazia parte do pessoal que frequentava, às terças-feiras, o “Extudo” (bar no Rio Vermelho) onde aconteciam noitadas literárias. Ali conheci Djalma e João Sampaio e este me falou de um tal de Goulart Gomes. Morava em Salvador, gostava de Poesia. Gostei da turma que conheci, foi algo natural. Estava lá quando foi lançado o Poetrix. Escrevo Poetrix desde 2000, quando escrevi o primeiro.

Antes do Poetrix, escrevia contos. Fiz várias oficinas literárias. Acho que como sempre, é estar no lugar certo na hora certa. Fui apaixonado pela Sara Fazib, uma poetrixta das melhores, com quem passava horas e horas conversando. Houve um período de afastamento, tanto é que nas Antologias 3 e 4, nem apareci. Voltei para São Paulo e acho que fiquei uns três anos sem contato com ninguém. Culpa dessa coisa de misturar Poesia com paixão. Não recomendo. Mas sempre fui muito bem-aceito no grupo antigo dos "dinossauros", até hoje. Goulart, além de excelente escritor, sempre foi muito bom amigo, fora aquele jeito baiano de ser que só um baiano sabe ter. Adoro a Bahia. Vivi em muitos lugares, mas a Bahia sempre me deixa com saudades, só ao lembrar.

8) Gosta de pertencer à Academia Internacional Poetrix, a AIP? Qual a importância dela? Por que escolheu Ítalo Calvino como patrono da sua cadeira, a número 13?

Gosto sim de pertencer, apesar de achar que a AIP não está fazendo a sua competência principal, que é divulgar, zelar e promover o Poetrix. Não acho que seja por causa das pessoas. Não sei direito. Ainda acho que vamos ter um "turn over". Alguma coisa vai acontecer. Confio muito nas pessoas que estão começando. Eu acho que o Poetrix é futuro. Já estamos com quase um quarto de século, não é pouca coisa.

A AIP deveria ser mais ativa. Deveria divulgar mais. Deveria se preocupar com a qualidade e com o nome. Muitos no Recanto das Letras dão nome a coisas que podem ser tudo menos Poetrix. Poetrix não é um movimento solidificado, não é reconhecido pela Academia Brasileira de Letras. Eu ministrei várias oficinas de Poetrix e todo mundo se encanta. Acho ainda que apenas um em 20 escritores, pego a esmo, sabe o que é Poetrix. 

O papel principal da AIP deveria ser o de fazer o Poetrix reconhecido, e não pelos acadêmicos e sim pelo seu estilo. 
Ítalo Calvino foi a escolha natural. (Foto à esquerda)

Além de ter sido a base da Bula Poetrix e ter tudo a ver com essa modalidade minimalista, é um dos meus autores favoritos.

9) Qual o significado de ser um membro fundador da Academia?

Pelo menos, ser membro fundador é ter o reconhecimento merecido pelo trabalho de divulgar e fazer conhecido esse estilo chamado Poetrix, que nos encanta e contagia. Uma vez, me falaram que eu tenho uma estrela-guia muito forte. Eu acredito nisso. As coisas não acontecem por acaso. Poetrix ainda vai acontecer.

10) Que projetos gostaria de ver implementados na AIP?

Qualquer coisa que divulgue melhor o Poetrix acho que vale a pena. Pode ser a volta dos concursos. Ministrar oficinas, palestras, promover certificação de Poetrix. Isso a AIP poderia e deveria fazer.

11) Qual a matéria dos seus livros publicados? Tem algum livro seu preferido? Em que gêneros já escreveu? Como divulga suas produções? Tem expectativas de venda quando publica? Como faz para vender a sua literatura?

Meus dois primeiros livros foram de Poesia, poemas livres. Depois, segui publicando mais Poetrix.

Meu livro preferido é Beijo Manual Poético. Inclusive, preciso resgatar meu único exemplar.

Já escrevi de tudo. Contos, poemas, romance, mas desde 2000, só escrevo Poetrix.

Como todo poetrixta, divulgava no Recanto das Letras. 

Meu primeiro livro, "Lua de Câncer", foi feito em 1989, pela Scortecci. Produzi 500 exemplares e vendi 400 no lançamento. Era outra época.

Participei de várias antologias. Fizemos um selo editorial, Confraria Poetrix para os poetrixtas que ainda não têm nada publicado. Ajudei a produzir o Café Literário, um jornal de literatura, e eu tinha uma coluna que divulgava os ditos "Prêmios Nobel".

Fiz outra revista literária que não durou muito. A Pussanga.

Divulgar hoje não é complicado. A gente tem a Internet. Por incrível que pareça, hoje é muito mais complicado vender livros que antigamente.

Hoje em dia, vender 50 livros num lançamento é maravilhoso. Nossas últimas vendas não têm sido muito gratificantes. Só na Confraria Poetrix fizemos três Coletâneas, nove livros do Selo Confraria Poetrix, e o último, Pérolas Poetrix, foi muito interessante o projeto. Foi a escolha, entre os confrades, dos poetrix que mais agradaram a cada um. Também fazemos uma votação para escolher medalhistas como em uma olimpíada. A ideia veio dos Jogos Olímpicos mesmo. Elegemos ouro, prata e bronze. O Pérolas foi um  projeto decorrente de um ano e meio dessas escolhas. Ficou muito bom, com uma qualidade excelente de texto.

Para vender não tem segredo. É fazer muitos lançamentos. Gilvânia Machado (acadêmica da AIP, cadeira 8) mostrou que isso funciona. Se num lançamento vende-se dez a 20 livros, você, ao fazer dez lançamentos em locais distintos, vai conseguir vender em torno de 100 ou 200 exemplares.

Hoje, nem aconselho a alguém fazer uma tiragem maior de 200 exemplares. Você tem que ser muito conhecido e admirado para vender isso num só dia.

12) Como escolhe os títulos dos seus livros e dos seus textos de Prosa e Poesia? Como definiria o seu estilo de literatura?

Como sempre digo, o título é meio livro. O livro se vende pela capa e pelo nome. O mesmo serve para o Poetrix. Um leitor só “compra” a leitura se tiver um bom título. Temos que ter isso em mente.

Normalmente, quando eu vou dar um título, primeiro eu escrevo o texto, depois, eu dou o nome. No nosso grupo Confraria Poetrix, que é temático, precisamos, além de seguir as Diretrizes da Academia Internacional Poetrix - AIP, Bula Poetrix, não fugir do tema da ciranda. E orientamos que o título tem que ser desenvolvido nos três versos do Poetrix. Então, sempre é bom escrever primeiro os versos e depois o título. O meu primeiro livro escolhi Lua de Câncer porque o astro regente do meu signo, Câncer, é a lua, e eu sou um canceriano raiz. No segundo livro, Beijo Manual Poético, a maioria dos poemas era de beijos, então foi natural. Eu fui entrevistado na Bienal do Livro de São Paulo, por causa do nome. A repórter fez uma brincadeira de como eu classificaria os beijos vendo o perfil das pessoas. 

Nos meus poemas sempre busco resumir o assunto e sempre coloco um título que atiça a curiosidade de todos.

Meu estilo é romântico das antigas. Sofro por amor, gosto de dar flores, de falar coisas boas. 

Isso é um ponto que confesso: temas tristes, eu prefiro que não sejam desenvolvidos. 

A gente tem tanta tristeza normalmente e não consigo entender porquê obrigar as pessoas a dedicarem tempo para sentirem mais tristeza.


13) Gostaria de falar sobre A Confraria Poetrix? Que projetos estão previstos para o futuro?

Podemos sim. Hoje dedico-me quase 100% para a Confraria Poetrix. Nossa missão é aprendizado sempre. Temos Quatro Pilares que todos seguem à risca. Como sempre falo, a Confraria não sou eu. Eu sou apenas o presidente. O que gosto muito é que temos objetivos comuns. Todos querem ter  Poetrix cada vez melhores. Somos todos iguais apesar de ter pessoas com quase 24 anos de Poetrix e outros com quatro a seis meses. Somos uma grande escola na qual todos aprendem a todo instante. Estamos em mutação sempre, e todo ano temos novos projetos.

Para este ano de 2023 estamos reformulando o nosso site. Vamos ter a Revista Poetrix registrada. Vamos fechar o Selo Poetrix. Coletânea IV, para agosto ou setembro. E no começo do ano que vem, Pérolas II. Temos nossa Revista trimestral. Vamos fazer oficinas para o segundo semestre.

14) Como vê as redes sociais? E o que acha dos grupos de literatura feminina e/ou feministas?

Rede social é a popularização dos meios de comunicação. O bom do mundo da internet é que tudo que se publica fica ad eternum. A informação é atemporal e isso é ótimo para a literatura. Você tem chance de conhecer pessoas do mundo todo sem esforço só por terem algo em comum. Para quem viveu grande parte da vida fazendo xadrez poético pelo correio não tem nem graça como a vida foi facilitada hoje em dia.

Gosto sempre de grupos. Acho que as pessoas quando se juntam em grupo aproveitam a força de cada um. E a restrição, por mais que dê a sensação de limitação, na verdade gera mais foco. As mulheres no dia a dia são massacradas naturalmente, portanto nada mais justo que criar uma força tarefa para redirecionar esforços.

15) Qual a sua visão de mundo na atualidade - e do Brasil?

Minha visão do mundo: eu sempre tive uma queda por movimentos sociais. Atualmente, se luta por qualquer coisa, o capitalismo se tornou mais selvagem ainda. Hoje, o dinheiro vale muito mais que a vida das pessoas. Vale mais que qualquer coisa. É uma pena. Mesmo em países comunistas valorizam o dinheiro como o ser supremo. Dinheiro já virou Deus. E o valor das coisas não deveria ser pelo quanto custa e sim pelo que importa. O Brasil é um país ainda muito rico em recursos naturais. Poderia ser do primeiro mundo se não houvesse tamanha roubalheira. Mas eu acredito no nosso país. Poderia ter passaporte russo, italiano, americano, mas nunca senti necessidade de deixar o país.

16) O que achou desta entrevista? Tem alguma sugestão a fazer para a Diretoria ou para as entrevistas?

Gostei muito da entrevista. As perguntas foram bem elaboradas, abrangentes, e consegui falar sobre tudo que queria e tinha vontade de comentar.

Sugestão para a próxima diretoria. Primeira coisa: anuidade não é caridade. Tem que ser obrigatória. Não se pode fazer nada neste mundo capitalista sem dinheiro. É muito complicado fazer algo só com a vontade de alguns.

Projetos têm que existir a todo instante. Todo ano façamos um plano diretor.

Entrevistas devem continuar. Eu leio todas. É uma forma de conhecer melhor o pessoal que escreve. Acho que as entrevistas estão muito boas e bem planejadas

17) Gostaria de falar sobre algum assunto que não foi abordado nesta entrevista? Deixe um Poetrix de sua autoria para os leitores.

O que não foi abordado acabei falando.

Quero agradecer a paciência de terem lido até aqui. Obrigado pela oportunidade de me darem a chance de ficar um pouco mais conhecido. 
Agradeço também à Dirce Carneiro pelas perguntas formuladas. Muito boas. 
Abraços e beijos a todos e todas.
Segue o Poetrix:

NECESSITO SENSAÇÕES

Gotejo meus desejos
Torno um hábito meu sentir
Sou orvalho de um denso pensar

@lorenzo


_______________________________________
Diretoria de Comunicação - Gestão Por um Trix
Dirce Carneiro
Entrevistas para o Blog da AIP
Fevereiro/2023

4 de dez. de 2022

Entrevista com Pedro Cardoso

 AIP - ENTREVISTA POR ESCRITO DE ACADÊMICOS PARA O BLOG DA AIP

Entrevistado: Acadêmico Pedro Cardoso
Cadeira: 18
Patrona: Sonia Godoy

A biografia e discurso de posse do poetrixta Pedro Cardoso podem ser lidos acessando o menu Biografias e Discursos da AIP.

Primeiramente, agradeço ao acadêmico Pedro Cardoso por esta entrevista, exclusiva, para o Blog da nossa Academia.

Agradeço também em nome da Diretoria.

1) Nascer em Minas define um modo de ser? Quais as lembranças que guarda da sua infância? Gostaria de falar sobre seus pais – origem, perfis, legado?

 Acredito que sim. Sou como quase todos os mineiros, meio desconfiado, meio calado. Às vezes falo Uai, às vezes, "na estação",  falo: "pega os trens que a coisa vem aí".
Nasci em um município muito pequeno que se chama Bambuí (foto à direita).
 A cidade está localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais e faz parte da região da Serra da Canastra. Mas logo me mudei para Goiânia. Porém, a ascendência mineira nunca me deixou, está grudada em mim. Sempre que posso procuro minhas raízes, seja na comida ou na fala.
Ser mineiro é apreciar o nascer do sol todas as manhãs, é ouvir o cantar dos sabiás no entardecer, é ouvir o mugir do gado à beira do curral, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida que sempre floresce. É ter simplicidade e pureza na alma.

1.2 Quais as lembranças que guarda da sua infância?

Preciso dizer que minha infância e adolescência foram até os 24 anos de idade, quando comecei a trabalhar no Serviço Público Federal. Até então, vivia para jogar futebol e soltar pipa nos dias mais ensolarados. Devo dizer que brigava demais, cheguei a quebrar o nariz por três vezes.
Nas horas vagas dava aulas particulares de matemática, geralmente para crianças e adolescentes. Era bom demais! Tenho saudade daqueles meninos de outrora.  

1.3 Gostaria de falar sobre seus pais – origem, perfis, legado?

Falar dos meus pais me emociona. Meu pai apenas terminou o segundo grau, meu Herói, que me levava para o seu trabalho no cano de uma bicicleta Harley, de cor preta e pneu faixa branca.

Minha mãe não terminou o primário, mas deixou três livros publicados. Sempre contando suas histórias, da infância à velhice.

Ela teve 13 filhos, de parto normal e em casa, com parteira. 

Todos estão vivos e formados com nível superior.

Em tempo

falar de minha mãe
é algo grandioso para mim,
é quase uma insanidade
defini-la? não é o caso!
não há uma única palavra,
que eu possa dizer neste momento,
que a descreva com total fidelidade.
suas virtudes, ora findas e mortas,
ficaram registradas nas paredes do meu Ser
como lembranças difíceis de serem apagadas.
hoje é um dia paranoico para as minhas verdades,
me doem os ossos, as carnes e metade da alma,
me sinto um menino desnudo,
é como se um nó desatasse as minhas mãos,
me deixasse solto e só.
talvez não devesse revelar estes sentimentos,
eles fazem parte do que há de mais sagrado em mim,
melhor seria que eu chorasse com meus irmãos,
com os amigos e os parentes.
cada pá de terra despejada,
foi como se enterrassem com ela
os meus sonhos
os meus encantos
a minha concretude.
Mãe!
penso que sou um filho insano,
confesso que rezei por sua morte nestes últimos dias,
horas infindáveis... vil solidão!
porém uma parte de mim é luto
a outra, quase na sua totalidade, é gratidão.
não sou o mais bonito dos seus filhos,
nem o mais forte ou rico
posto que, só desejei ser um Fingidor,
um poeta dos versos livres.
leve os meus sonhos,
os meus pesadelos
as minhas vísceras
para onde for
e que Deus a tenha
como a mais bela rima dos meus poemas

2) O que lhe atraiu para a escrita, desde quando escreve e porquê?

Sempre tive vontade de escrever. Mas sempre achei muito difícil, os versos viviam brigando em minha cabeça, uma loucura!