11 de mar. de 2022

Metrificação - por Ana Mello


Métrica é a medida do verso, a divisão dos versos em sílabas poéticas. A contagem das sílabas poéticas é chamada de escansão e o estudo do metro (medida do verso) - metrificação. Fazer a escansão é escandir, dividir o verso em sílabas poéticas.

As sílabas métricas, ou poéticas diferem das sílabas gramaticais, a sílaba poética é baseada na tonicidade. Contam-se as sílabas ou sons até a tônica da última palavra de um verso.


A medição de versos obedece às seguintes particularidades:

Sinalefa: Junção de duas sílabas numa só, por elisão, crase ou sinérese.

Elisão: Supressão da vogal final átona quando esta estiver diante da vogal que inicia a palavra que se segue.

Crase: Fusão de vogais iguais.

Sinérese: Contração de duas vogais contíguas em um ditongo.

Diésere: Separação de vogais numa mesma palavra, constituindo duas sílabas distintas.

Hiato: Encontro de duas vogais átonas, constituindo uma única sílaba.


Então na prática é assim:

Conta-se da primeira sílaba da primeira palavra até a sílaba tônica da última palavra do verso; o que vier depois é ignorado.

Quando uma palavra termina em vogal e a palavra seguinte começa em vogal, as sílabas em que essas vogais estão se juntam e contam como uma só.

Os dígrafos –rr– e –ss– não se separam. 

Exemplo:

O/ poe/ ta é/ um/ fin/ gi/ dor - 7 Sílabas literárias

O/ po/ e/ ta/ é/ um/ fin/ gi/ dor - 9 Sílabas gramaticais

Fin/ ge/ tão/ com/ ple/ ta/ men/ te - 7 Sílabas literárias

Fin/ ge/ tão/ com/ ple/ ta/ men/ te - 8 Sílabas gramaticais

Que/ che/ ga a/ fin/ gir/ que é/ dor - 7 sílabas literárias

Que/ che/ ga/ a/ fin/ gir/ que/ é/ dor - 9 Sílabas gramaticais

A/ dor/ que/ de/ ve/ ras/ sen/ te - 7 sílabas literárias

A/ dor/ que/ de/ ve/ ras/ sen/ te - 8 Sílabas gramaticais

(Parte de “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa)


Quanto ao número de sílabas poéticas, os versos são classificados da seguinte forma:

Monossílabos - 1 sílaba
Dissílabos - 2 sílabas
Trissílabos - 3 sílabas
Tetrassílabos - 4 sílabas
Pentassílabos (ou Redondilha Menor) - 5 sílabas
Hexassílabos (ou Heroico Quebrado) - 6 sílabas
Heptassílabos (Redondilha Maior) - 7 sílabas
Octossílabos - 8 sílabas
Eneassílabos - 9 sílabas
Decassílabos - 10 sílabas
Hendecassílabos - 11 sílabas
Dodecassílabos - 12 sílabas
Bárbaros - mais do que 12 sílabas

Quando os versos têm o mesmo número de sílabas poéticas, ou seja, são regulares, eles recebem o nome de isométricos.

Quando os versos não apresentam regularidade, são chamados de heterométricos. Versos livres aqueles que não obedecem a qualquer forma e versos brancos aqueles que podem apresentar métrica, mas não possuem rimas.

Ana Mello - cadeira 3 da AIP

A importância do título - por Pedro Cardoso


Na maioria das vezes se inicia uma composição pelo título, mas nem sempre isto é possível ou razoável, até porque o processo de produção não é o mesmo para todas as pessoas que gostam de escrever.

O título é uma designação atribuída a um determinado texto. É como um registro de nascimento, no Poetrix é obrigatório.

O cuidado dispensado ao título deve ser redobrado. Ele direciona o leitor, dá a diretriz do texto, aponta uma trilha. Isto sem falar que pode despertar o interesse pela leitura.

Uma observação: muitos sonetos de Camões são conhecidos pelo primeiro verso, é como se não tivessem uma "marca" definida, uma referência que leve o leitor àquele poema.

Para ilustrar minha teoria, apresento dois Poetrix onde o texto é o mesmo, mas o sentido é completamente diferente.

1 - Empatia

quando a gente se cansa
um do outro
está na hora de trocar de lugar

Só a empatia nos permite compreender as razões do outro.
O título, associado ao poema, nos traz a ideia de que quando estamos cansados um do outro, é preciso que nos coloquemos no lugar dele, na posição dele. Que não o olhemos apenas como um espelho, como algo acabado. É como se nos transportarmos para o outro e nos depararmos com os problemas dele, com os sentimentos e percepções dele, para que assim, pudéssemos compreendê-lo de fato, através do seu próprio olhar e não apenas do nosso ponto de vista. E finalmente conseguimos, retornando ao olhar original, nos vermos inteiramente, quem sabe? Ou até de forma renovada – com a possibilidade de construirmos a relação.

2 - Outro eu

quando a gente se cansa
um do outro
está na hora de trocar de lugar

Por outro lado, no poema “Outro eu”,

Processos criativos - por José de Castro


“A criatividade consiste em ver o que todo o mundo vê e pensar o que ninguém ainda pensou.”
(Szent-Gyorgyi, Prêmio Nobel de Química)

Antes de tudo, uma observação. Esse texto não foi escrito especificamente para poetrixtas. Apresenta estratégias que utilizo para oxigenar o meu processo criativo e caminhos aconselhados por alguns autores da área. As dicas apresentadas podem ser transpostas para o universo do poetrix. Afinal, criar é inerente ao ser humano, independentemente do gênero literário. Aqui e ali, procuro estabelecer nexos com o poetrix.

Já ouvi pessoas dizerem que não têm criatividade. Bobagem. Dentro de todos nós há uma centelha criativa. Resta-nos, apenas, dar o polimento para ela brilhar.

Podem ocorrer bloqueios de natureza variada ou períodos em que estamos sobrecarregados com tarefas descoladas do ato criativo; ocupações domésticas ou atividades profissionais diversificadas que nos tomam o tempo.

Outras vezes, disponíveis para escrever, sentimo-nos sem motivação ou travados, sem inspiração, como se diz. O que fazer então?

Processo Criativo - por Lílian Maial


Eu sou médica, trabalho ainda e tenho filhos que requerem minha atenção e dedicação, então, começo meu dia na correria, entre cuidar de assuntos da casa e dos filhos e preparação para ir trabalhar. Portanto, não tenho ritual para criar, mas certamente fico mais confortável para escrever quando a casa está mais quieta, à noite e até de madrugada.

Normalmente tenho papel e caneta (ou lápis) na bolsa, além do celular, para fazer anotações de eventuais insights. Quando dá, pego a agenda e, nas folhas vazias de datas pretéritas, escrevo. Já fiz muito isso, chegando a preencher agendas mais com poemas, do que com pacientes...

Ao longo dos anos, já fiz de tudo um pouco na escrita: sonetos, cordel, trova, haikai, minicontos, contos, crônicas, prosa poética, poemas livres e eróticos, e poetrix. Atualmente, venho me dedicando também à literatura infantil. 

Meu processo criativo costuma vir de 3 maneiras:

Processo criativo - de Marilda Confortin


Meus Poetrix, poemas ou contos nunca nascem prontos. O título, então... é sempre a última coisa que escrevo. Sou lenta e escrevo pouco. Meu processo de criação é variável. Às vezes me ocorre uma ideia, sem forma. Anoto para o futuro. Outras vezes, ouço ou leio uma frase ou palavra, que me chama atenção. Anoto também. Nunca sei se usarei o que guardo no meu arquivo chamado de "baú de ideias".

Quando quero escrever um texto, seja poema, conto ou crônica, abro o baú e busco anotações que estejam de acordo com meu momento ou com o tema que estou escrevendo. Daí começo a brincar com as palavras. Faço perguntas a elas, troco-as de lugar, "torturo-as" para ver se querem me dizer mais alguma coisa. Bulo no texto, corto excessos, busco sinônimos, outros sentidos e assim vou sentindo se a ideia tem algum potencial ou não. Descarto muito mais do que aproveito.

Um exemplo:

Seis Propostas para o Próximo Milênio - por Pedro Cardoso


Tenho dedicado boa parte do meu tempo para escrever sobre o Poetrix, por acreditar que este gênero literário ainda está dando seus primeiros passos, de uma longa jornada. É bom lembrar, ainda assim, que ele foi criado há mais de vinte anos, pelo poeta baiano Goulart Gomes, em um momento de lucidez e ousadia.

O Poetrix tem uma ligação muito forte com as propostas para o próximo Milênio, do escritor cubano Ítalo Calvino. Um dos autores mais importantes da segunda metade do século XX.

Calvino reuniu o conteúdo de cinco Conferências, que faria em Harvard. Através delas, propunha para as próximas gerações a perenidade de determinados valores literários. Listados por ele na seguinte ordem: Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade e Consistência. Contudo, o autor faleceu antes de escrever o que seria "a última Conferência" da série.

Para auxiliar a compreensão dos novos poetrixtas, vou falar sobre cada uma destas propostas, exemplificando. Conforme a minha concepção:

Formas Múltiplas - por Lílian Maial

 


Formas Múltiplas foram derivações criadas a partir do Poetrix e, por isto, devem seguir as mesmas diretrizes do Poetrix. 
São elas: duplix, triplix e multiplix.

Duplix: é a junção de dois poetrix independentes, mas que se completam, formando um único poema, fazendo sentido e absolutamente compreensível. Separados, cada um é um poetrix completo. Juntos, formam um novo poema. Pode ser feito pelo próprio poetrixta que elaborou o poetrix original, ou por dois poetrixtas. Em termos de posição dos poetrix, pode o original ser colocado à frente ou atrás do segundo poetrix.

Exemplos de Duplix


música // ao longe
aila magalhães // goulart gomes

quando preenche meus vazios // som distante
torno-me eco // em pleno desfiladeiro
canção em pleno voo // rasante


Os poetrix individuais: 

música
aila magalhães

quando preenche meus vazios
torno-me eco
canção em pleno voo

//

ao longe
goulart gomes

som distante
em pleno desfiladeiro
rasante



Vá, idade // ...da (c)alma
marilda confortin // Eliana Mora

dobra os joelhos//não me peça tanto
doma o orgulho//não a mais do que devia;
apazigua minh'alma/: da (c)alma ainda vivo - um dia.


Os poetrix individuais:


Vá, idade
marilda confortin


dobra os joelhos
doma o orgulho
apazigua minh'alma

//

...da (c)alma
Eliana Mora

não me peça tanto
não a mais do que devia;
da (c)alma ainda vivo - um dia.


POR UM FIO // NO HORIZONTE
Mardilê F. Fabre // Lílian Maial

lua virgem // em luares de desejo
balança // ávida de azul
entre o céu e o mar // prata da casa

Os poetrix individuais:


POR UM FIO
Mardilê F. Fabre

lua virgem
balança
entre o céu e o mar

//

NO HORIZONTE
Lílian Maial

em luares de desejo
ávida de azul
prata da casa


Triplix: é a junção de três poetrix independentes (geralmente um poetrix acoplado a um duplix), que se completam, formando um único poema, fazendo sentido e absolutamente compreensível. Separados, cada um é um poetrix completo. Juntos, formam um novo poema. Pode ser feito pelo próprio poetrixta que elaborou o poetrix original, ou por dois ou três poetrixtas. Em termos de posição dos poetrix, pode o original ser colocado à frente, no meio ou atrás.

Exemplos de Triplix


Por um fio // no horizonte // Di(vaga)lume
Mardilê Friedrich Fabre // Lílian Maial // Marcelo Marinho

Lua virgem // em luares de desejo // lusco-fusco
balança // ávida de azul // penumbra
entre o céu e o mar // prata da casa // sonha ser o sol


Os poetrix individuais:

Figuras de Linguagem aplicadas ao Poetrix - por Dirce Carneiro

 

FIGURAS DE LINGUAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA APLICADAS AO POETRIX


As Figuras de Linguagem são recursos da Língua Portuguesa que criam novos significados para as expressões escritas no sentido literal (denotativo), empregadas na linguagem figurativa, o sentido conotativo do texto.

Importante ter bem claro as definições de:

Denotação – sentido literal (o mesmo do dicionário)

Conotação – sentido figurado (novo significado no contexto da escrita)

As principais Figuras de Linguagem são Metáfora, Símile, Analogia, *Metonímia, Perífrase, Sinestesia, Hipérbole, Elipse (ou Zeugma), Silepse, Hipérbato (ou Inversão), Polissíndeto, Antítese, Paradoxo, Gradação (ou Clímax) e Personificação (ou Prosopopeia).

As figuras de linguagem se classificam em:

- semânticas, sintáticas ou de construção, pensamento e sonoras.

- Figuras de palavras ou semânticas: estão associadas ao significado das palavras. Exemplos: metáfora, comparação, metonímia, catacrese, sinestesia e perífrase.

1. Metáfora

A metáfora é figura de linguagem muito utilizada na escrita e no dia a dia.

Na escrita, é um recurso usado para valorizar o texto e se expressar, saindo do lugar comum.

Na metáfora há uma comparação implícita, conceitual, mas sem os elementos comparativos, porque se dá uma perfeita e direta identificação entre o que o escritor tem em mente e a metáfora empregada.

Por exemplo, na frase “Presenciei a luta dos dois homens, eram leões em combate”

Exemplo em poetrix:

HUMANO HERÓI
Dirce Carneiro

Luta cotidiana
vida arena e pouso
leão de dia, à noite paz


2. Símile ou Comparação

A símile, assim como a metáfora, traz em si uma comparação — mas, dessa vez, explícita.

A metáfora é mais subjetiva, pois sugere diretamente uma identidade entre dois seres ou entidades diferentes a partir de uma característica em comum, enquanto a símile apenas aponta que existe uma semelhança específica e objetiva entre os dois elementos comparados.

Como a símile é mais objetiva que a metáfora, ela é uma opção mais segura para ser utilizada em textos com uma linguagem mais técnica.

9 de mar. de 2022

Poetrix de José de Castro

Na foto

sorri Marielle
névoa aqui
turvo os olhos

José de Castro
Antologia 7 [R]EXISTIR

Poetrix de Ronaldo Jacobina

OITO DE MARÇO

Bem te vi: vir
À janela do décimo andar
Cantar um hino feminino

Ronaldo Jacobina
8 de março de todos os anos
a partir de 2009

Poetrix de Lilian Maial

Vigilantes

Mulheres não dormem no escuro
Cuidam que a lua brinque de luz
Tecem bordados de sol na manhã

Lilian Maial
Antologia 7 [R]EXISTIR


Poetrix de Gilvana Machado

MOEDER AFRICANA
(moeder: mãe em africaner)

Navio tumbeiro
Das vestes, acalanto materno...
Bonecas de ninar: abayomi.

Gilvânia Machado
Antologia 7 [R]EXISTIR

Grafitrix de Regina Lyra


 

Poetrix de Marilda Confortin

Ninguém disse pra Ela: Fica em casa!

Alheia à lei
Há uma aliá
Na aleia

Marilda Confortin
Antologia 7 [R]EXISTIR

Grafitrix de Diana Pilatti


Diana Pilatti