11 de mar. de 2022

Processo Criativo - por Lílian Maial


Eu sou médica, trabalho ainda e tenho filhos que requerem minha atenção e dedicação, então, começo meu dia na correria, entre cuidar de assuntos da casa e dos filhos e preparação para ir trabalhar. Portanto, não tenho ritual para criar, mas certamente fico mais confortável para escrever quando a casa está mais quieta, à noite e até de madrugada.

Normalmente tenho papel e caneta (ou lápis) na bolsa, além do celular, para fazer anotações de eventuais insights. Quando dá, pego a agenda e, nas folhas vazias de datas pretéritas, escrevo. Já fiz muito isso, chegando a preencher agendas mais com poemas, do que com pacientes...

Ao longo dos anos, já fiz de tudo um pouco na escrita: sonetos, cordel, trova, haikai, minicontos, contos, crônicas, prosa poética, poemas livres e eróticos, e poetrix. Atualmente, venho me dedicando também à literatura infantil. 

Meu processo criativo costuma vir de 3 maneiras: ou uma ideia, que anoto e vou desenvolvendo aos poucos, ou um desafio que alguém me lança (adoro um desafio!), ou uma situação vivenciada, que decido escrever a respeito e, nesses casos, vem de imediato. 

Minhas ideias vêm tanto da observação do que me circunda: pessoas, comunidades, minorias, a visão social e política, como das sensações reais e surreais, a natureza, o amor, a morte. Como hábitos para desenvolver ideias, tenho a leitura constante (menos do que gostaria, porque ainda trabalho), filmes, música, pintura e desenho. Outro hábito que amo é a fotografia. Por vezes, já fiz poemas com base em fotos que captei.

As ideias que anoto ficam espalhadas por sobre a minha mesa do computador no quarto, em papeizinhos, notas fiscais, folhas arrancadas de algum bloco ou caderno. Vez por outra os organizo no computador, numa pasta que acabo não sabendo onde guardei (prefiro os papéis espalhados). Tenho agenda e bloco para essa finalidade, mas os papeizinhos são resultado de ideias que tive fora de casa.

Os desafios são muito interessantes. Houve época, no início do grupo do Movimento Internacional Poetrix (MIP), no Yahoogroups, que eu me especializei em duplix, justamente pelo desafio de fazer um poetrix que se encaixasse em outro e fizesse sentido sozinho. Isso me alimentava e despertava ciúme da família, porque eu ficava horas no computador depois de um dia inteiro de trabalho.

E as situações vivenciadas são muitas no dia-a-dia: plantas e animais, clima, pessoas a caminho do trabalho, pacientes, dor, sofrimento, injustiças sociais, abandono, enfim, não faltam ideias para quem observa o outro e tudo o que acontece a sua volta.

A execução dos meus textos é semelhante a fazer pão. Não costuma ser muito demorada. Faço um poema, releio, mexo aqui, remexo ali e deixo descansar. Num outro dia, releio, amasso e ponho para assar. Às vezes sola, noutras fica uma delícia!

Se eu pudesse voltar à escrita de meus primeiros textos, diria para ter mais paciência, deixar os poemas crescerem, não me precipitar para publicar logo. Diria também para falar menos de sentimentos e mais de realidade. Olhar mais ao redor e tomar consciência social e política, usar a escrita para gritar, denunciar, alertar, compartilhar. Eu comecei muito primitiva, intuitiva, sem muito trabalho da palavra. A coisa fica meio confessional. Depois que comecei a participar de grupos de poesia, percebi o quanto os poemas confessionais ficam em segundo plano, repetitivos, sem um propósito, e fui tomando consciência social na poesia. Não sou de formação profissional literária, então meu esforço é redobrado.

Em certas ocasiões, surgem as famigeradas travas poéticas, quando nada sai de bom. Já fiquei sem nenhuma inspiração e sem nenhuma vontade de escrever por meses! Aí é esperar. Em algum momento, nem que seja para falar desse luto literário (ou poético), vem um verso, um soco, um susto, um poetrix!

Lílian Maial  -  Cadeira 12 - AIP

4 comentários:

José de Castro disse...

Foi interessante conhecer nuances do seu processo criativo. Identifique-me com algumas delas... Valeu, poeta!

Regina Lyra disse...

Boa noite, Lilian!
O processo criativo de cada um é bastante interessante. Eu era bastante disciplinada, tinha horário de trabalho e determinava temas para escrever. Chegou a pandemia perdi a noção. Mu livro que estava quase pronto, ficou esquecido nos documentos arquivados. Não consegui ter disciplina.

Melancolia da Pandemia - Regina Lyra

Entrei no casulo da pandemia,
Poemas no arquivo.
Perdi o melhor de mim.

Tenho sempre insights. O celular tem seus aplicativos.
Escrevi muitos poemas breves.
Beijos!
Regina

Lorenzo Ferrari disse...

gostei do pão

Lílian Maial disse...

Obrigada, amigos! E vamos colocar a mão na massa, né, Lorenzo? Beijocas.