Discurso de posse de Andréa Abdala - cadeira 23

 

Prezado Goulart Gomes, criador do gênero e fundador desta Academia, e amigos poetrixtas, é com imensa honra e alegria que hoje me encontro aqui entre vocês. Sinto-me verdadeiramente em casa; muitos de vocês fazem parte da minha vida virtual a mais de duas décadas. Vejo-me neste momento poetrixta eleita, ocupando a cadeira 23 desta congregação literária, tendo Sávio Drummond como Patrono.

Não tive o privilégio de conhecer Sávio, porém a admiração que tinham por ele chegou à mim, por meio de depoimentos e textos literários compartilhados por Goulart.

Sávio Drummond, baiano, médico, possui um belo acervo de contos, poesia e poetrix, além da sua habilidade para desenhar. Como desenhista criou caricaturas de amigos e capas dos livros de diversos escritores do Grupo Cultural Pórtico. Tratava-se de uma alma liberta, por isso não demorou muito neste plano. Após seu falecimento prematuro, Goulart descreveu sobre a maestria do poeta nas artes em geral - "Passeava do trágico ao cômico, do lírico ao popular, com muita leveza e propriedade."

Assim sendo, vos apresento um pouco deste ícone. Sávio está na Bailarina, na enfermeira, na vizinha e até nas bruxas. As fábulas. O beija-flor. O baianês. Nos livros e coletâneas. Nos contos e escritas que nos permite apreciá-lo, senti-lo e aplaudi-lo.

Temos também Sávio em FADA

Corre fada, sara meu mal de amor.

Vem em teus passos de vento assanhar o meu leito,

acalmar meu peito, calar pra sempre esta dor.

Expulsa os fantasmas eternos das muitas noites sem fim.

Ama-me intensamente ou simplesmente, finges que sim.

Em ANJO

Se o amor tomasse forma

teria que ter o teu jeito.

Teria os cabelos negros

e muita dor no peito.

As vezes penso que não existes

assim em teu olhar de mel.

Pois se estás aqui comigo

deve estar faltando anjo no céu.

E Sávio Drummond nos encantando nos poetrix.

antropofágico

quando te fores

leva contigo meus olhos,

já que levastes as cores.

ferohormônio

pressinto-te no ar,

farejo-te no vento,

qual bicho ao relento

pergunta

pergunto-me deste criança:

o que resta ao homem,

quando acaba a esperança?

Obrigada, Sávio Drummond!

Bem... eu cresci ouvindo Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso e outros tantos poetas. Tenho uma admiração por Mário Quintana - Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!

Carlos Drummond de Andrade disse: Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.

Como docente e nutricionista eu me dedico à assistência nutricional de idosos, tema de tese e dissertação do doutorado. Sempre participei de congressos, seminários e palestras divulgando este saber. Desenvolvo trabalhos com nutricionistas e médicos especialistas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - RJ, em diversas instituições de ensino superior e em instituições de assistência ao idoso. Na escrita foram vários artigos, textos, redações técnico-científicas, até surgir o primeiro livro.

Intitulado Nutrição no Envelhecer, o livro organizado e escrito por mim e por alguns especialistas no assunto, está na sua terceira edição. Foi o primeiro livro publicado em todo território nacional contendo unicamente abordagens sobre nutrição, envelhecimento e qualidade de vida, antes disso o mesmo conteúdo era distribuído em um único capítulo, de alguns títulos da área. Por meio desta obra científica recebi menção honrosa na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e no Conselho Regional de Nutricionistas da 4a região, onde hoje componho o grupo de conselheiros.

Escrevo poemas a pouco tempo e sempre preferi os poemas curtos.

Conheci o poetrix por intermédio de conversa entre amigos de outros grupos de poesia, entre 1999 e 2000, dos quais faziam parte Sara Fazib, Marcelo Marques, Eliana Mora, Lilian Maial, Marcos Salun, Nathan de Castro, Silvana Guimarães, entre outros. Sara foi quem me motivou a escrever poetrix e convidou a fazer parte do movimento. Ela dizia que eu tinha um olhar sensível, perspicaz, "sempre se deu bem nos curtos ... eu vejo em você tudo para ser ótima poetrixta". E eu fui acreditando nela.

Pedi a ela que me ensinasse a escrever poetrix, e em carta aberta, ela escreveu: "... penso no poetrix perfeito como um pequeno projétil que nos atinge direto num órgão vital; um detonador de emoções; algo que nos dispara o coração, o tesão; que atinge como um raio a nossa cabeça ...; que nos suspende a respiração, nos incha o fígado de tanta raiva, ou que, simplesmente, mata-nos de rir; algo que nos cega, por um instante, de tanta beleza. É exatamente assim que penso até hoje!! Além da delícia que é poder mergulhar na poesia.

Em 2001 fui presenteada, por Goulart, com a II Antologia Prêmios Pórtico, e lá estavam publicados três poetrix de minha autoria, sendo dois deles eleitos como melhores dos meses de março e maio na lista de intercâmbio do Movimento Internacional Poetrix - MIP. Não poderia ser mais perfeito e mais encorajador. Eu já estava completamente encantada pelo poetrix e acredito que ele por mim. Em setembro de 2002, com a Antologia Poetrix do MIP, eu pude estar bem próxima de muitos de vocês - Pedro Cardoso, Aila Magalhães, Angela Bretas, Lorenzo Ferrari, Antonio Carlos Menezes, Oswaldo Martins e Marilda Confortin. Lembro-me ainda de muitos outros nomes marcantes à época.

Durante um período eu permaneci afastada da lista de intercâmbio mas não distante do poetrix. Em 2017, por obra do acaso, fui convidada à participar da Antologia Poetrix 5 e, assim, retornei ao convívio de antigos parceiros, como também conheci outros poetrixtas, alguns aqui presentes. A partir de então, os encontros virtuais são diários e nos convidam à exercitar e à crescer neste caminho das letras

Em entrevista à Revista Poetrix junho de 2021, perguntada qual seria minha preocupação com o futuro do poetrix, respondi:

De 2017 até esta data, em quatro anos apenas, eu participei de três Antologias do MIP (5, 6 e 7), da I Coletânea Ciranda Poetrix, da Antologia Poetrix do Mulherio das Letras e da I, II e III Mostra de Poetrix. Além das publicações na Revista Poetrix. Neste mesmo tempo fui membro da comissão julgadora do VIII concurso de poetrix em comemoração aos 20 anos do MIP ao lado de José de Castro e Gilvânia Machado. Em 2019 o site Ciranda Poetrix organizou um outro concurso para novos poetrixtas. Vendo por este lado, não temo pelo futuro do poetrix, pelo contrário. Veja o quanto foi produzido. Vislumbro um futuro brilhante!

E por falar em futuro do poetrix, tivemos a fundação da AIP, em julho de 2020, que preza por definir, desenvolver, zelar, preservar, valorizar, estimular, promover e difundir a expressão literária Poetrix, bem como contribuir com a memória, organização, produção literária e congraçamento dos poetrixtas.

Divulgo o poetrix em diversas antologias poéticas, nas minhas redes sociais e nos grupos interativos de estudo e divulgação do poetrix., Faço parte também da comissão de avaliação de conteúdo da Confraria Ciranda Poetrix, o Selo Confraria Ciranda Poetrix, que tem como proposta viabilizar publicações literárias, unicamente poetrix, de seus participantes. Este é um outro desafio assumido em prol deste pequeno porém imenso gênero literário. Muitos projetos estão por vir. Quem ama, cuida!

O poetrix faz meu coração bater forte, é encantador, único e merece ser cuidado. Acredito que estarei sempre em fase de aprendizado, me aperfeiçoando a cada dia e sem vislumbrar o fim da estrada.

Vida longa ao poetrix! Muito obrigada a todos!