28 de nov. de 2021

Discurso de Posse de Diana Pilatti - Cadeira 10



“Sou força, energia vital e arrimo (...)
Sem máscara ou exibicionismo,
Vou em frente”

Denise Severgnini


Com grande alegria saúdo os amigos e amigas poetas, membros da Academia Internacional Poetrix, e demais leitores que aqui chegarem.

Saúdo a poeta gaúcha, radicada na Argentina, Isiara Caruso, minha antecessora, que ocupava a cadeira número dez nesta Academia, por muito tempo representante do Movimento Internacional Poetrix na Argentina, e com a qual compartilho o amor pelo magistério e pela literatura.

Nesta data, assumo a cadeira número dez, que homenageia Denise Severgnini, saudosa poeta gaúcha, que nos deixou no dia 9 de janeiro de 2013, aos 53 anos. Também professora, sua escrita audaz transita por vários gêneros, da prosa ao poema, da literatura infantil à erótica – cujos textos estão disponíveis em diversos sites especializados em publicações literárias e também em seu site pessoal na internet (link). Curiosa e apaixonada pela inovação, explorava a palavra em todas as suas possibilidades. Dela guardo um duplix, escrito em 2008, sobre o outono e seus encantos:

Magia (das folhas) / do Outono...

em tons laranjas, / colorindo a relva
num tapete outonal / as folhas caducas dançam
fazem festa os pardais... / na mágica estação

Diana Pilatti / Denise Severgnini
28 de fevereiro de 2008 (link)


Sobre a poesia de Denise Severgnini, em especial o Poetrix, destaco três de que gosto muito. O primeiro, pela leveza e sinestesia, efeitos poéticos que tanto aprecio; o segundo, pelo toque amoroso e sensual, tão recorrente na obra de Severgnini; e o último, pela Lua, musa da noite branca, que tanto me encanta:

Plenitude

Águas azuis correm
Som primaveril ecoa
– Ouvidos do tempo!

Denise Severgnini
01 de novembro de 2011 (link)
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Afagos

Dádivas em braços
Reconfortos no ninho
Mundo de carícias

Denise Severgnini
22 de janeiro de 2011 (link)
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Ocaso

Lua despertada
Clareia noite invernal
Adormece o dia

Denise Severgnini
13 de agosto de 2010 (link)


Uma poeta de espírito livre e criativo, sem medo de provar a palavra, degustá-la, moldá-la. Nestas aventuras poéticas até as formas múltiplas do Poetrix exploramos (link). E sem ter pretensões ao saudosismo, gosto de afirmar que a Diana de hoje é resultado de todas as ousadas Dianas que fui e carrego comigo boas lembranças destes aprendizados.


Mas hoje, tomando posse na Academia Internacional Poetrix, confraternizo com todos meus amigos e amigas, escritores e escritoras, com o compromisso (po)ético de zelar e divulgar o Poetrix, pelo qual estou a cada dia mais encantada.


Nesta oportunidade, rememoro meu primeiro encontro com o gênero, por volta de 2007, lendo poetas como Kathleen Lessa, que sempre me puxava a orelha quando eu escrevia mal, Mardilê Friedrich Fabre, com suas ótimas aulas sobre poesia, e a própria Denise Severgnini, com a qual volta e meia me aventurava em um duplix, todas poetas queridas que nos deixaram uma vasta obra e muita saudade. Por volta daquele tempo, também conheci bons amigos com os quais mantenho contato até hoje, como Carlos Vilarinho, José de Castro e tantos outros. Foi para mim um período muito produtivo, mas o sonho de publicar um livro parecia distante, e minha vida literária se resumia às postagens em blogs, páginas de escritores e redes sociais. É claro que o perfil que eu utilizava para divulgação naquela época já não existe mais, e muitos desses escritos se perderam nas frestas do tempo... Guardo alguns poetrix em um blog antigo (off-line) que uso como arquivo daquilo que se salvou. Relembrando esse encontro com o Poetrix, deixo aqui a leitura de três que acredito serem das minhas primeiras experiências com o gênero:


Poesia

chove em mim
bebo do azul celeste
broto passarinho

Diana Pilatti
26 de janeiro de 2007
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Primavera

sentei à sombra do ipê
vi meu sonho florescer
– tarde de setembro

Diana Pilatti
24 de março de 2007
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rosa trigueira rosa

trigo maduro
rosa desabrochada
mágica simbiose

Diana Pilatti
20 de maio de 2007

Mas a poesia entrou na minha vida bem antes disso. Fiz graduação em Letras por causa da Literatura. Queria ser professora, queria ser escritora, queria que as crianças descobrissem o mundo mágico que habita os livros que tanto me fizeram bem na juventude – um lugar de fuga, uma morada segura, mesmo que por pouco tempo, o tempo da leitura, os livros eram meu refúgio da realidade sombria e indigna à qual muitos brasileiros e brasileiras sempre estiveram expostos. Na graduação conheci os estudos linguísticos e segui por essa linha de pesquisa. Fiz Mestrado em Estudos de Linguagens, com ênfase em Sociolinguística. Foram longos anos de aprendizado e conquistas. Hoje, em 2021, regresso à universidade, tentando dar continuidade à vida acadêmica. Mas, é claro que esta é uma outra história para uma outra oportunidade.

Relembrar estas trajetórias literárias me inunda de grande satisfação. É muito mais que recordar as lições aprendidas, é sobre respeitar as fases vividas, sobre crescimento e realizações… E mesmo tendo ficado anos sem publicar, a poesia nunca saiu de mim, nem eu dela.

Voltei a me dedicar aos versos, em 2017, com a promessa de jamais partir da Poesia. Comecei a publicar em coletâneas, antologias e revistas literárias. Desejei estar entre aqueles que amam a poesia para poder partilhar comigo (e eu com eles) o Poema nosso de cada dia. E foi nos grupos de poetas que pude conhecer escritoras de excelência como Tânia Souza, Vera Azevedo, Valéria Pisauro, Marília Tavernard e tantas outras que admiro, sendo impossível aqui nomear todas. Neste caminho, estabeleci uma meta pessoal de um livro solo por ano: o primeiro veio em 2019, Palavras Avulsas, volume 7 da I Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, organizada pela Editora Venas Abiertas. Esta coleção esteve entre os dez mais votados no Prêmio Jabuti de Literatura 2020, categoria “Inovação: Fomento à Leitura”; Palavras Póstumas, publicado em 2020, também pela Editora Venas Abiertas na II Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, um livro sensível na voz de uma mulher silenciada e vítima de um relacionamento abusivo; e Palavras Diáfanas, lançado neste ano de 2021 pela Editora Patuá (link), um livro de amores, saudade e estrelas translúcidas, com prefácio belíssimo de Tânia Souza e comentários de José de Castro, aos quais sou imensamente grata pela amizade e parceria poética; o quarto livro está a caminho, Haicais e outros poemínimos, mais um livro de bolso que sairá na próxima edição da Coleção Mulherio das Letras, coletivo no qual sigo fazendo parte.

A poesia foi minha companheira e salvadora em meio aos tempos sombrios da pandemia. O exercício da escrita nas Cirandas (produções coletivas de poetrix temáticos), trouxe mais parcerias e oportunidades de criação. Em 2020, nasce a Mostra Poetrix, coletânea digital temática, que organizo junto com o amigo poeta José de Castro, com o objetivo de divulgar o Poetrix e seus autores, que neste segundo semestre de 2021 está na quarta edição (link).

Ano passado, recebi a notícia da criação da Academia Internacional Poetrix com alegria, e aproveito para parabenizar o poeta Goulart Gomes por esta iniciativa, que agrega valor e longevidade ao Poetrix. E, em setembro de 2021, pleitear uma vaga nesta Academia foi uma experiência gratificante de partilha, pois estava entre escritoras e escritores com os quais já havia trabalhado anteriormente, como a poeta Dirce Carneiro, que assim como eu faz parte do Coletivo Mulherio das Letras, e os poetas André Figueira, Ronaldo Jacobina e Andréa Abdala, com os quais já participara de coletâneas e antologias. Eleitos que felicito e comigo tomam posse. Hoje, inicia-se um novo capítulo na minha história com a Poesia. E não sigo só, caminhamos juntos e tenho certeza que muito podemos aprender e construir uns com os outros.

E, por fim e não menos importante, deixo aqui minha prece às Musas da Poesia que comigo seguem desde os tempos mais antigos: Calíope, que a palavra dita com sabedoria nunca se ausente da minha boca; Érato, que me concedas a leveza do poema úmido de orvalho; Clio, celebre comigo a inspiração diária e que meus versos possam ecoar nas paredes do tempo e que a Poesia jamais me falte.

Vida longa ao Poetrix!
Diana Pilatti, cadeira 10 da AIP.

4 comentários:

Regina Lyra disse...

Parabéns querida Diana Pilatti!
Seja bem vinda à esta casa.
Sua presença enaltece à Academia.
Abraços,
Regina Lyra

Dirce Carneiro disse...

Já tinha ouvido e li de novo agora. Seu texto nos conduz numa leitura com leveza, mas muito profunda e bonita. Grata por mencionar meu nome. Uma alegria imensa estarmos juntas nesta jornada Poetrix. Sigamos agora trabalhando aqui na Academia. Abraço fraterno.

Lílian Maial disse...

Belíssimo discurso, Diana!
Muito elegante de sua parte mencionar sua antecessora!
E gostei do texto como um todo. Parabéns e bem-vinda!
Grande abraço!

isimieres disse...

Parabéns querida Diana pelo teu belíssimo discurso e obrigada por estar seguindo com tanta competência na cadeira 10 que ocupei por algum tempo.
Nem sempre conseguimos seguir, por sorte sempre teremos companheiros que nos amparem na tarefa.
Parabéns grande abraço.
14 de fevereiro de 2022.