14 de abr. de 2021

Poetrix de Anthero Monteiro

ORTOGRAFIA 

(Anthero Monteiro)

uma gaivota só
um til sobre a palavra
imensidão

BULA POETRIX

O hai-kai é uma pérola; o Poetrix é uma pílula. (Goulart Gomes)

Com o objetivo de melhor definir o POETRIX, estabelecendo critérios quanto à sua forma e conteúdo que possam orientar mais precisamente os seus autores – o MIP - Movimento Internacional Poetrix divulga esta BULA POETRIX, conjunto de orientações para o aperfeiçoamento e uniformização deste gênero literário.


1 POETRIX – Informações Técnicas

CONCEITO

Poetrix (s.m.): poema com um máximo de trinta sílabas métricas, distribuídas em apenas uma estrofe, com três versos (terceto) e título.

FORMAS MÚLTIPLAS

São criadas em contextos comunicativos e constituídas como derivações do POETRIX; sua elaboração tem como características básicas o dialogismo, a intertextualidade e a polissemia da linguagem. Identificadas e reconhecidas pelo MIP como Duplix, Triplix e Multiplix são mesclagens de dois ou mais poetrix que se compõem com a participação obrigatória de variados autores e com suas poéticas formando sentidos complementares entre si (individualidade-interação-universalidade). 

2 CARACTERÍSTICAS DO POETRIX

2.1 O poetrix é minimalista, ou seja, procura transmitir a mais completa mensagem em um menor número possível de palavras e sílabas.

2.2 O título é indispensável. Ele complementa e dá significado ao texto. Por não entrar na contagem de sílabas, permite diversas possibilidades ao autor. 

12 de abr. de 2021

Dez dicas para um bom Poetrix, por Goulart Gomes


1. EVITE AS ORAÇÕES COORDENADAS. Um poetrix não é uma frase fatiada em três partes. Vamos tomar um exemplo:

TELEFONEMA

passei a noite em casa
esperando que ela ligasse
mas ela não ligou

Isso não é um poetrix, é a primeira oração de um texto! Está simplesmente horrível! Mas, notemos como ele poderia ficar bem melhor, se a idéia fosse expressada de outra forma:  

TELEFONEMA

noite em branco
telefone mudo
até o amanhecer


2. EXPLORE O PODER DO TÍTULO. Uma das grandes vantagens do poetrix é a existência do título, o que não há no hai-kai. Por vezes, ele pode ganhar uma característica de “verbete”, sendo definido pela estrofe. Suprimam o título e observem diferença que faz:

SEMÁFORO

pensei ser outra lua
olho verde contra o céu
fugaz, no meio da rua

Outro trunfo é que o título não entra na contagem de sílabas. Assim, alternativas criativas podem ser formuladas. Num exercício “exagerado” desta possibilidade, uso como exemplo:

ESTUDO SOCIOANTROPOLÓGICO DE UM COMUM CIDADÃO LATINOAMERICANO DE CLASSE SOCIAL DESFAVORECIDA, À LUZ DA NOVA ORDEM MUNDIAL, IMPACTADA PELA GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO, NUM ENFOQUE MÍSTICO-TRANSCENDENTAL, CORROBORADO PELOS IDEAIS FREUDIANOS-LENINISTAS, SEM ASPIRAÇÕES EPICURISTAS

nasceu
cresceu
desencarnou

3. MINIMALIZE. Corte tudo o que está sobrando. Escrever um poetrix é lapidar um diamante. Nenhum texto fica pronto “de primeira”. É preciso, sempre, trabalhá-lo. Literatura é 10% inspiração e 90% transpiração. Com o poetrix, apesar de pequeno, não é diferente. Exemplo:

ANTES:

DRAGÃO

com a cabeça no ar
e com os pés no chão
é um homem? não, um dragão

DEPOIS:

DRAGÃO

cabeça no ar
e pés no chão
homem? dragão

4. PESQUISE. Enriqueça o seu texto com informações pertinentes. Vejam este poetrix:

XENOGLOSSIA

na Planície de Sine-Ar
decifrar tua língua
em minha Torre de Babel

Após ter a idéia, fui à Bíblia obter mais informações sobre a Torre de Babel. Lá descobri que ela foi supostamente erguida na planície de Sinear. Em latim, “sine” quer dizer sem. A informação caiu perfeitamente: a língua, a torre, alguém “sem ar”... Uma pequena informação pode fazer uma grande diferença.

5. NÃO CONFUNDA POETRIX COM HAI-KAI. Para isso, é importante conhecer, também, os fundamentos do hai-kai. Para começar: se o tema do seu poetrix é a Natureza, desconfie. Pode ser que nasça um hai-kai, e não um poetrix.

6. UTILIZE FIGURAS DE LINGUAGEM. Em todas as formas poéticas, o uso de figuras de linguagem, metáforas, tropos e imagens enriquecem bastante o texto. Por vezes, é necessário “substantivá-lo”.

QUANDO A MARÉ ENCHER

Verdi no azul do mar
tocardo forró no piano
pra Netuno e Yemanjá

7. ACABE COM AS CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS: Mas, Contudo, Porém, Todavia, Não Obstante, Entretanto, No entanto, geralmente não servem para nada em um poetrix, assim como a conjunção explicativa Pois.

8. NÃO FORCE RIMAS. Poetrix não é soneto. Às vezes pode-se dispensar completamente uma rima, utilizando-se bem o ritmo, a sonoridade e a riqueza semântica das palavras.

9. POETRIX NÃO É PROVÉRBIO. Muito menos, frase de pára-choque de caminhão. Evite coisas como (blargh!):

ARROCHA

mulher e parafuso:
comigo
é no aperto

(Só um texto explicativo, mesmo, para me fazer criar uma “coisa destas”! Que sacrifícios a gente não faz pela Literatura!)


10. O NÃO-DITO FALA MAIS QUE O DITO. Não pense que seu leitor é burro. Não dê tudo “mastigado”. Faça com que seu texto “dialogue” com o leitor, permita que ele faça sua própria “viagem” nas palavras:

ÁCIDO

a água furou a pedra
moinhos de amsterdã
a manhã será mais bela

HOLOKAWSTO

há o que não houve
retalhos de nylon
cogumelo atônito

E, para finalizar, não esqueça: O POETRIX é um poema composto de título e uma estrofe de três versos (terceto) com um máximo de trinta sílabas métricas.


Por Goulart Gomes

Fonte: https://poetrix.net.br/visualizar.php?idt=273564
Postado em 25/10/2006

11 de abr. de 2021

Poetrix de Ana Mello

Identidade

O reflexo é um fato
Na poça de água da chuva
Rosto caricato

(Ana Mello)

9 de abr. de 2021

7 de abr. de 2021

Poetrix de Martinho Branco

Rua dos Lusíadas
[Lisboa]


Numa tarde molhada,
os pombos debicam versos de Camões,
nas pedras da calçada…

(Martinho Branco)

6 de abr. de 2021

Poetrix de Marília Baêtas Tavernard

Asilo

Abrigo de corações
solitários e sofridos,
carentes de amanhã.

(Marília Baêtas)

5 de abr. de 2021

HOMENAGEM À KATHLENN LESSA, por José de Castro

 UMA CARTA PARA KATHLEEN LESSA (1949 -2016), por José de Castro

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Caríssima poeta:

Confesso-te: foi difícil escrever esta carta. Primeiro, porque tive que remexer em gavetas do tempo, reabrir escaninhos de memórias, quando a gente pode quase tocar as palavras que esculpias no teu caleidoscópio, no teu recanto de poeta apaixonada pela vida. A outra dificuldade: tive que buscar respostas noutras páginas de uma dimensão revirada ao avesso, por entre infinitos e estrelas, em tua poesia.

Sinto falta de ti, poeta. Aliás, todos nós sentimos, pois não são todos os dias que temos o privilégio de desfrutar a presença de alguém que fale de quase tudo com esse jeito às vezes irônico, ferino, mas sempre brincalhão e profundo. Um quê de meninice e brilho inocente no filosófico olhar.

HOMENAGEM À DENISE SEVERGINI, por Fátima Mota

 DENISE SEVERGNINI,  por Fátima Mota

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Que bom seria se você pudesse ler essa mensagem, mas você partiu precocemente e deixou uma enorme lacuna na poesia brasileira e por onde passou.

Seria também interessante a sua participação nesse projeto com seus belos poetrix, mas não somos donos do nosso destino e não podemos mudar o rumo dos acontecimentos.

Hoje não quero falar de tristezas e de saudade.

Permita-me falar de poesia como sempre fizemos, ainda que virtualmente.

HOMENAGEM À NATHAN DE CASTRO

 NATHAN DE CASTRO, por Lilian Maial

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Nathan de Castro era um poeta simples, dessas pessoas, como Manoel de Barros, que dizia belezas e sentia a natureza e a vida como poucos. Sua inércia perante a finitude e a incompletude era expurgada nas pequenas rebeldias de seus versos, fossem quartetos, sonetos ou tercetos. O poetrix possibilitou-lhe voos mais curtos, porém, com a mesma imensidão da poesia que brotava, feito olhos d’água, desse bardo liquefeito.

Sim, Nathan de Castro mantinha uma intensa relação com a água, desde seu nascimento (em meio a uma tempestade, como ele mesmo descrevia), até ao nome da cidade natal: “Olhos d’Água”, município de João Pinheiro – MG.

HOMENAGEM À SÁVIO DRUMMOND, por Goulart Gomes

 SÁVIO DRUMMOND, por Goulart Gomes

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019


Sávio Drummond é um dos mais completos multiartistas que eu já conheci. E digo É, por que acredito que, onde quer que ele esteja, continua a produzir magnificamente, como sempre fez.

Médico por profissão, nascido em Salvador, a 22-04-1971, aproximamo-nos primeiramente não pela arte, mas pelo trabalho. Colegas na mesma empresa, tomei conhecimento dos desenhos e textos que ele produzia, no âmbito da medicina do trabalho. Logo percebemos que tínhamos muito em comum.

Sávio desenhava muito bem, elaborou a capa dos livros de diversos escritores do Grupo Cultural Pórtico. Fez várias caricaturas minhas, gostava de “sacanear” os amigos, colocando-os em situações irônicas, em seus desenhos. Este seu perfil “gozador” também se estendia aos seus demais talentos, em contos, crônicas, poetrix e poesias. Mas, o que mais me surpreendia era como ele conseguia escrever bem tanto o trágico quanto o cômico, tanto o lírico quanto o popular.

HOMENAGEM À ARMANDO LEAL, por Martinho Branco

ARMANDO LEAL - por Martinho Branco

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Para quem conviveu, ainda que virtualmente, através da sua escrita poética, de Setembro de dois mil e um a Outubro de dois mil e quatro, guarda na lembrança, certamente, o olhar atento, lúcido e dinâmico, patente nas escritas do poeta e poetrixta Armando Leal. Quando ele nos deixou… Pedi silêncio, porque tinha partido um poeta e um bom amigo.
Escrevi num poetrix, na altura, algumas palavras sentidas de homenagem
ao Armando…

Os poetas fazem a diferença

Questionam
Futuram a vida
Despertam silêncios *

É com profunda tristeza [emoção] e grande saudade que sentimos a ausência de um Amigo [Leal] tão verdadeiro. O Armando partiu demasiado cedo, em dois mil e quatro, e nunca [Nunca] nos encontrámos no mundo real. É curioso, em Portugal moramos todos perto uns dos outros [o país é tão pequeno], mas tão distantes, cada um de cada um.

HOMENAGEM À SONIA GODOY - Por Katia Marchese

QUERO FALAR DE NADIR TORQUATO, NOSSA SONIA G.

                                                             girassol não gira

à sombra imensa

dos dentes de leão.


Sonia G


Poeta, Poetrix, trabalhava a palavra com a maestria de um blue maduro e ácido, tinha a voz poética intensa como Elis Regina, que aliás ela cantarolava, viveu e vive em outras dimensões sua grande força feminina diante das belezas da arte e das injustiças sociais desta vida.

Uma mulher apaixonada e forte, e como dizem empoderada, sempre à frente do seu tempo, criou 04 filhos, foi mãe solteira na década de 60 e tinha orgulho de ter formado os filhos sozinha, comprou na mesma época seu próprio carro para ir a faculdade e trabalhar no Hospital Amparo Maternal em SP onde ousava dirigir a ambulância.

4 de abr. de 2021

Polêmica da polinização

 

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES (do Vandré, das abelhas, do poetrix, do clonix,do plágio...)

por Marilda Confortin

Então tá amigos poetrixtas. Vou cutucar esse vespeiro. O problema é que minha vara é curta e não tenho fumigador para me defender das ferroadas dos zangões. Sou tão leiga em apicultura quanto em linguística. Eu gosto mesmo é do produto final. Sempre comi e me lambuzei do mel cantado e decantado dessas duas artes, sem nunca ter me preocupado com os aparatos utilizados na sua fabricação ou colheita. Mas aí pintou uma nova marca chamada Poetrix e para melhor apreciá-la tive que pesquisar algumas ferramentas, técnicas e variações. Mas não fui muito fundo, não.

Tipo assim: Li que alguns apicultores usam máscara de filó, com chapéu de algodão e outros usam máscara de arame, com chapéu de palha. No poetrix, alguns autores fazem uso de metáforas e tropos enquanto outros preferem paródia e pastiche. Tem especialistas no MIP que conhecem bem a diferença entre essas ferramentas e podem explicar melhor que eu, como e quando utilizá-las. Como apreciadora de poetrix, quero mais é sentir o gosto do mel no meu pão de cada dia.

Lembrei do Leminski numa de suas palestras. Ele disse que poeta é quem sente a poesia, não importa se escreva, publique ao não. E reforçou dizendo que quem não tem senso de humor não acha graça da piada. Todo mundo riu alto. Bando de puxa-sacos. Aí percebi que senso de humor não se mede pelo volume da gargalhada e que nem sempre quem ri por último ri melhor (sempre tem um bobo pago para rir alto nos programas de auditório, perceberam?) Mas voltemos às abelhas.

Sei que a grande contribuição ecológica da apicultura é provocar a fecundação utilizando o pólen, isso é: a polinização; E qual é a grande contribuição cultural do poetrix, senão polemizar provocando a fecundação da poesia? (O quê? Polêmica não é derivada de pólen? Putz! Então acabei de criar um neologismo. Desculpem.)

Os aprendizes, quando sentem o perfume de uma flor no pote de mel, podem pensar que o produto é falsificado. É não, gente! É que as abelhas costumam visitar a mesma flor várias vezes. Leitores desavisados também podem sair dizendo que as canções de exílio de Casimiro de Abreu, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes e tantas outras, são todas plágio da Canção do Exílio de Gonçalves Dias. São não, gente! É que os poetas costumam visitar as mesmas flores várias vezes.

O geólogo e poeta Argemiro Garcia, ao ler um Poetrix de minha autoria, lembrou de um belo poema de Manuel Bandeira e escreveu: 

Vira-latas
a Marilda Confortin e Manuel Bandeira

Revirando o lixo,
menos que um bicho
é um menino. 

Inversão de valores
Marilda Confortin

Cachorro e seu mendigo
Olhares de compaixão
... para o cão
---

O Bicho, de Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
---

Plagiamos? Não! visitamos a mesma flor nascida na pobreza da nossa podre sociedade. Nem toda rosa é perfumada. A de Hiroshima era?  

O Poetrix, não só pratica a polinização (ou devo chamar de simulacro? Intertextualidade? Recorrência temática?), como incentiva a revisita, a releitura e até criou uma categoria chamada Clonix.

Um clonix, nunca pode vir desacompanhado do poetrix que o originou. Não precisa nem explicar o motivo. É só ler o belo exemplo da Eliana e Lilian e, como diz no Segundo Manifesto Poetrix: "Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire!"

MÃE

a teu colo sempre volto
quando a tristeza
me mima
(Eliana Mora)

MÃE

a teu colo sempre volto
quando há tristeza
menina
(Lílian Maial)

Gostaram? Eu também. E tem mais. Já leram o Segundo Manifesto Poetrix? "Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix" (Goulart Gomes)

Poetrix não é brinquedo não. Ou a gente procura entender o significado de cada uma dessas palavras, pesquisa aí na Internet a história do Chacrinha,do Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald, Drummond e do bispo que comeu sardinha, entra no espírito e diz um verso bem bonito, ou, diz adeus e vai simbora. Sem essa de ficar por aí, atirando um pau no gato e dizendo que o MIP incentiva o plágio. Que pobreza de espírito!

Uma curiosidade: "O Prof. Dr. Zander descobriu que uma abelha visita no mínimo 10 flores em um minuto. Ela precisa de 10 minutos para voltar de uma colheita. Visita, portanto, 100 flores. Ela faz, diariamente, 40 colheitas. Isso quer dizer que ela visita 4.000 flores por dia". Copiei essa informação do endereço: www.breyer.ind.br.

Querem saber quantas flores são polinizadas diariamente por uma colméia? Ou querem levar um susto e saber quantos poetrix foram escritos em 3 anos de existência do MIP e multiplicar pelo número de pessoas que leram esses poetrix na internet? Isso é que é polinização.

Ah, só para piorar: o título desta postagem é um plágio ou revisita a famosa música censurada do Geraldo Vandré?  

Qual era mesmo o motivo de eu estar escrevendo esse texto?

Publicado originalmente em 2006 no site do Movimento Internacional Poetrix

3 de abr. de 2021

Poetrix de José de Castro

ESTRELAS


Solitários
poemas
luz-indo no céu.

(José de Castro)

Poetrix de Aila Magalhães

 

Grafitrix

Grafitrix de Lílian Maial TIMIDAMENTE

Poetrix de Lílian Maial

                                                             

Grafitrix de Lílian Maial FLOR DE CACTO

Poetrix de Lílian Maial

                                   Foto e poetrix de Lílian Maial

Poetrix de Lílian Maial m i n i m a l i s t a

 


um sopro, um soco, um susto 
nascer, crescer, morrer:
a vida é um poetrix!
 
 
Lílian Maial

Poetrix #AngelaBretas


 

Grafitrix de Lílian Maial EQUILÁTERO

Autora: Lílian Maial

 #Grafitrix, Lílian Maial

Grafitrix de Lílian Maial BRIGA DE AMOR

#Grafitrix, Lílian Maial
 

Grafitrix de Lílian Maial ANTROPOFAGIA


 #Grafitrix Lílian Maial 

POETRIX: o Salto, o Susto e a Semântica - de Goular Gomes


"...penso no poetrix perfeito como um pequeno projétil
que nos atinge direto num órgão vital" (Sara Fazib)

Há quem veja as artes minimalistas – entre elas, o Poetrix – como artes menores. Como se fosse possível medir o valor de todas as pedras preciosas por seus tamanhos. Um cristal grande vale menos que um pequeno diamante e mesmo dois diamantes de igual tamanho podem ser avaliados diferentemente. Existem poetrix que valem mais que extensos poemas como, também, muitos deles não precisariam terem sido escritos. Dentre os vários elementos que podem aumentar ou diminuir os "quilates" de um poetrix, eu gostaria de falar, neste artigo, sobre três deles: o Salto, o Susto e a Semântica.

A cena é recorrente, o cinema hollywoodiano dela usa e abusa: o herói (ou vilão) está em fuga. Em sua perseguição, o inimigo. Após inúmeras infrutíferas tentativas de escape, surge o obstáculo: um abismo, uma ponte quebrada, o teto de um edifício, uma estrada inacabada. O que fazer? Morrer ou morrer? O protagonista da cena escolhe o risco. “A possibilidade de arriscar é que nos faz homens”, segundo o poeta baiano Damário Dacruz. Salta... para a salvação. O mesmo acontece com alguns poetrix. Por ser um texto breve, isso não quer dizer que ele deva ser lido com brevidade. É preciso querer-se captar as suas nuances, as pequenas particularidades de cada palavra, desde o título e a cada verso. Ele também tem o seu ritmo e intensidade próprios, possibilitados pela livre distribuição das sílabas em cada linha, conquanto não venham a ultrapassar o máximo de trinta sílabas. Existem poetrix que encaminham-se lentamente para o seu final como quem irá desencarnar por morte natural e, de repente, o Salto! Observem como isso foi bem elaborado por Sara Fazib (SP) no poetrix CARA METADE:

melhor par não faria
eu e essa minha falta
de companhia

ou em SONSAS, de Lílian Maial:

Estrelas
não dizem a verdade.
Elas piscam.

e ainda em GRÁVIDA, de Pedro Cardoso (DF):

No corpo da menina
a barriga cresce
como uma boca faminta

O Salto, no poetrix, subverte. O texto dialoga consigo mesmo, opõe-se, contrapõe-se, quase nega-se e, nessa dialética, ressuscita.

LinguaJá, meu mais recente livro de poesias, tem como subtítulo "O Território Inimigo", numa alusão ao nosso idioma, campo minado no qual o escritor tem que saber pisar com artimanhas. Voltemos ao filme no exato momento do salto do nosso (anti)herói. Stop! Imagem congelada. Agora solte, devagar, como num filme de John Woo. O leitor/telespectador, nesse curto espaço de tempo, viverá a brevidade da expectativa, mesmo sabendo, de antemão, o que acontecerá: ou ele cairá são e salvo, do outro lado, ou se espatifará. Mas, se não acontecer nem uma coisa nem outra? Se, digamos, o personagem simplesmente desaparecer no ar, teletransportado por alguma Ciência ou Magia? Eis o Susto. Nem, sempre, porém, quem deseja assustar atinge o seu intento. Sempre existem aqueles que “já viram de tudo” e “não se impressionam com mais nada”. Como os koans zenbudistas, que para alguns podem ser instrumentos de iluminação e para outros meras historietas sem graça, a intensidade do Susto depende muito mais de quem o recebe do que de quem o proporciona. Com o Susto, o poetrixta pretende surpreender, ainda que nem sempre o consiga. Um dois poetrix que mais me “assustaram” chama-se HEROESIA, também de Sara Fazib (que transformou-se num belíssimo grafitrix ilustrado pela poetisa Silvana Guimarães, disponível em www.poetrix.org):

de joelhos, reverente
provo a Tua presença
sarça ardente

Outro bom exemplo é NOVA EDIÇÃO, de Andréa Abdala:

conto da carochinha,
mulher de verdade
não goza de mentirinha

Foi também o que intentei fazer com o poetrix PESSOIX, inspirado em poemas de Fernando Pessoa e Ferreira Gullar:

um terço de mim, delira
um terço de mim, pondera
outro terço, ah!, quem dera

Eu estava utilizando o exemplo da fuga no cinema hollywoodiano, onde uma fuga é apenas uma fuga, não há nada por trás dela, seja a pé, de moto, carro ou caminhão. Mas não podemos dizer o mesmo quando tratamos do cinema europeu, onde tudo pode não ser simplesmente o que aparenta. Nele, uma cena de fuga pode estar metaforicamente simbolizando uma perda ou busca de identidade, uma inadequação social, um estado psicológico... ou patológico. Uma fuga, como a outra, mas dentro de um novo contexto idealizado. O poeta Gilberto Gil, na letra da música METÁFORA diz que “uma lata existe para conter algo, mas quando o poeta diz ‘lata’, pode estar querendo dizer o incontível.” Quando o poetrixta explora inteligentemente a riqueza semântica de algumas palavras, seja metaforizando, fazendo trocadilhos ou utilizando figuras de linguagem, o poetrix vai muito além das três linhas, ganhando uma vastidão de possibilidades. Quando Djalma Filho (BA), em LUSCO-FUSCO diz:

deitada,
quase apagada,
a noite armadilha

ele está fazendo isso. A palavra “armadilha” consegue deixar de ser um substantivo para tornar-se verbo, como suas sinônimas tocaia/tocaiar e emboscada/emboscar, permitindo outras (re)leituras do poetrix. A mesma coisa ocorre com estes dois poetrix meus, onde as palavras “mama”, “filho da mãe”, “presente” e “torres”, “rock”, “xeques”, “xadrez” permitem várias interpretações:

MAMA

aninho-me em teu ventre
filho da mãe
roubo-te o presente


TERRORISMO

as duas torres caem
nenhum rock, réquiem
xeques no xadrez

Poderão objetar: “sim, Goulart, isto tudo é muito singular; qualquer texto literário cresce quando conta com esses elementos” e eu “vos direi, no entanto”: para o poetrix, a menor (em tamanho) das linguagens poéticas, “crescer” é fundamental!

Machado de Assis, na apresentação do seu livro VÁRIAS HISTÓRIAS diz, com relação aos contos:

"O tamanho não é o que faz mal a este gênero de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos."

Isto é válido para o poetrix em relação à poesia, assim como o inverso também é verdadeiro: se tais elementos – Susto, Salto e Semântica – são importantes no texto longo, mas ainda o são no poetrix, onde não há tempo ou espaço para corrigir erros.

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(meus agradecimentos aos cúmplices: Ana Cristina Carvalho e Sara Fazib pelas "dicas" que contribuíram para a elaboração deste texto; a Damário Dacruz pela autorização para inclusão da sua citação e a Machado de Assis, por ser tão genial!)

Goulart Gomes
in: https://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=409724

1 de abr. de 2021

Grafitrix #Aila Magalhães

 Boa noite, amigos!  Um poetrix antiguinho....



Poetrix de Lorenzo Ferrari

Vestiria seu corpo


Não sabendo que roupa usar
quem sabe visto você
Aquilo que mais dentro tenho de mim.

(Lorenzo Ferrari)

Poetrix de Judith de Souza

amor platônico


de que vale um rosto
se não sei do resto
se nem sei do gosto

(Judith de Souza)

Grafitrix Angela Bretas


 

Poetrix

 LIVE IS LIFE

Conversas com versos
Risos e rimas com Gil
Mix Brasil

(Mimotrix de Marilda Confortim para Gilvânia Machado rsrs)

Poetrix

Stela


Nas fissuras da palavras
Fios descascados
Poemas, eletrochoques.


(Poetrix de Gilvânia Machado, dedicado à Estela do Patrocínio)