5 de jun. de 2024

Poetrix de Marcelo Marques


INTERAÇÃO CONTÍNUA

Cada momento traz novas imagens
Sentir e pensar despertos 
Troca de inspirações

Marcelo Marques

VENDAVAIS

Movem-se sobre mim
Sopram em meus ouvidos
Sussurros seus

Marcelo Marques

REINVENTANDO-ME

Morri ontem
Nasci hoje
Renascerei amanhã

Marcelo Marques

LUZES & SOMBRAS 

Momentos me formam
preces, sorrisos e lágrimas 
Sou feito de brilhos e breus

Marcelo Marques

4 de jun. de 2024

Trilha do Outono - Cleusa Piovesan



NA TRILHA DA POETICIDADE DO OUTONO: UM

PERCURSO PELOS POETRIX DE JOSÉ DE CASTRO



Por Cleusa Piovesan, AIP, Cadeira número 27.





Os “Seis Poetrix para o Outono”, de José de Castro, chamaram minha atenção pela intertextualidade que percebi em relação a outros poemas, a textos e obras de autores e de artistas renomados, e também a obras da mitologia. Por isso decidi vasculhar minha memória literária para entrelaçar os fios poéticos que me auxiliassem a interpretar, artisticamente, os poemas desse autor.

Os seis poetrix que analiso dialogam com obras de vários autores que admiro e que demarcam meu lugar como estudiosa das artes em geral, razão pela qual atrevo-me a escrever esta crítica literária.

Aqui apresento as minhas conjecturas, que podem não se coadunar com as de outrem, porque a poesia é assim, desconstrói nosso “horizonte de expectativas" e alinha-se com o que nos apresenta sentido, relacionada a nossas vivências e experiências, algo subjetivo.

Como poeta posso dizer que se um poetrix não for explorado com um olhar poético, vendo além das aparências, extrapolando a concretude do texto, não há como extrair reflexões ou mesmo interpretá-lo em sua gama de significações, por se tratar de um gênero minimalista em que poucas palavras têm de condensar um vasto universo semântico.



SOPRO DE OUTONO


Pouco importa
Abraço o descaminho
Sigo o vento, folha morta



No poema “Sopro de Outono”, José de Castro me reportou a Walt Wittmann que contempla “regatos correndo pelo outono” (no seu poema “Regatos de Outono”, do livro “Folhas de Relva”).Aqui, os outonos correm através de imagens que evocam um dia em que as folhas voam e criam um tapete multicolor a enfeitar os caminhos. Indeciso, o eu lírico solta-se ao sabor do vento e segue sem rumo, à espera do destino traçado desde seu primeiro sopro de vida.

Também há intertexto com o "sopro divino" que, segundo algumas doutrinas religiosas, representa a gênesis de nossa existência. E José de Castro retrata "as duas pontas da vida" ao encerrar o poetrix com a expressão "folha morta". Os versos ainda me reportam ao personagem Bentinho, o Dom Casmurro, de Machado de Assis, em sua inútil tentativa de purgar-se dos erros e das decepções do seu passado. O estilo do autor revela-se a cada verso, compostos com a intencionalidade de evocar diálogos poéticos, permitindo aos leitores uma multiplicidade de interpretações, fazendo alusão a verso de Paul Verlaine, em “Canção de Outono”.

2 de jun. de 2024

Poetrix de Valéria Pisauro


CICLOS

Primaveras de existência
Cabelos neve de inverno
Verão colheitas de outonos. 
 
Valéria Pisauro


ÊXTASE

Beijo teu silêncio
Aroma Avon amora
Nudez de salivas.

Valéria Pisauro


SONHO E REALIDADE

Vagão classe operária
Trilhos paralelos seguem
Moça sonha com maçã do amor.

Valéria Pisauro


ESCOLA FECHADA

Bala cega a tatuar
Sangue na sala de aula
Presente – ausente!

Valéria Pisauro

1 de jun. de 2024

Poetrix e Grafitrix de Francisco José



MOTOCIATAS DE JOÃOZINHO DE BLAZER


pacto com mefistófolis
amigo "men" da onça
morre pelo seu trato fino

Francisco José



SACREBLEU!


policial da palavra
guarda do vocábulo
tira... de letra


Francisco José





29 de mai. de 2024

Poetrix de José de Castro


SOPRO DE OUTONO

Pouco importa
Abraço o descaminho 
Sigo o vento, folha morta 

José de Castro


FIANDEIRO

Desfio as tranças do outono 
Monótono o dia escorre
Coleciono fios de neve 

José de Castro


NAVEGOS

Águas lépidas
Folhas_barquinho seguem 
Na pele do rio, outono.

José de Castro


OUTONO DOS VERSOS

Argonauta poetrix 
Navego imensidões 
Rio das estrelas

José de Castro 


25 de mai. de 2024

Entrevista Gilvânia Machado




ENTREVISTADA: GILVÂNIA MACHADO

POR: GOULART GOMES




Queremos saber um pouco mais sobre você. Fale-nos da sua vida pessoal.


Sou uma pessoa simples, sensível. Amo viajar, ler, estar com a família. Na maioria das vezes, gosto muito de ficar em casa apreciando minhas músicas, assistindo filmes. Quando saio é para uma praia, cafeteria, livraria. Mas é importante frisar que nem tudo é calmaria. Sou muito intensa, e isso causa em mim um desassossego. Às vezes, parece está tudo bem, mas fico numa inquietação interna e uma indagação: o que falta? Que temores são esses? Talvez sejam essas águas agitadas que me levem a escrever como uma forma de apaziguamento. Enfim, isso faz parte da complexidade humana, e quando somos voltados para as artes, o nosso olhar superdimensiona tudo ao redor.



Além do poetrix, que outros gêneros você escreve?


Escrevo poemas, poetrix, contos, prosa poética, microcontos. No momento, estou me dedicando a escrever contos de terror e livros para crianças.



Quando não gosta de algum texto que escreveu, você reescreve ou rasga e joga fora?


Na minha adolescência, rasgava tudo. E como me arrependo! Atualmente, quando sinto que um texto ainda não está do meu agrado, eu o guardo, dou um tempo e procuro reescrevê-lo noutro momento.



É notívaga ou escreve durante o dia?

Já fui notívaga. Hoje, prefiro escrever durante o dia.



Quando começou a escrever Poetrix? Como o conheceu?


Comecei a escrever Poetrix em 2010. Eu o conheci através do Recanto das Letras. Foi interessante, porque nessa época gostava muito de haicais e escrevi um e postei no Recanto. Então, o poeta José de Castro (na época, não o conhecia) fez um comentário e disse que eu tinha feito um poetrix e não um haicai. Curiosa, fui pesquisar mais sobre esse gênero minimalista e me apaixonei.

Nesse período, recebi um convite da editora Literata, de São Paulo, para trabalhar como organizadora de antologias de poemas. Daí pensei em organizar uma antologia de poetrix, gênero, o qual acabara de conhecer. Foi um verdadeiro desafio, pois eu tinha a responsabilidade de procurar e garimpar bons poetrix publicados nas redes sociais. Foi um trabalho árduo, porque havia muitos poetrix, principalmente na página do Recanto das Letras. Todavia, é importante ressaltar que muito do que estava posto lá tratava-se apenas de um terceto, não tinha a estrutura do gênero poetrix. E quando eu encontrava uma pérola, o poetrixta não tinha interesse de participar de antologias. Mas, com persistência, consegui selecionar vinte e dois poetrixtas de várias partes do Brasil, inclusive do meu estado o Rio Grande do Norte. Confesso que me surpreendi com a qualidade! Encontrei verdadeiros talentos. Assim, consegui organizar dois volumes: Fagulhas I (2011) e Fagulhas II (2013). Ambas tiveram repercussão nos jornais e blogs culturais. O lançamento foi na Academia Norte Rio-Grandense de Letras, com a presença dos poetrixtas de várias partes do Brasil e também a presença de ilustres escritores e poetas . O lançamento dessas duas antologias despertou a curiosidade de se saber o que é Poetrix! Até hoje, quando vou às escolas ou algum instituto federal, a primeira pergunta é essa. Vejam as imagens abaixo.


Como você vê o Poetrix hoje e no futuro?

Em comparação há dez anos, vejo que o poetrix está muito presente em livros físicos. Tem-se publicado muito tanto em coletâneas como em livros solo. Portanto, não é um gênero exclusivamente da internet. Outra coisa importante é a presença do Poetrix nas escolas públicas municipais e federais. Muitos professores têm trabalhado esse gênero com os alunos. Já na Universidade, embora ainda de forma restrita, o gênero tem sido objeto de pesquisa de mestrado e doutorado. Portanto, para o futuro, vejo a consolidação do poetrix em todos os espaços. Ele veio para ficar!



Que acha da interação entre o poetrix e o ensino didático?

Muito boa! O poetrix é um gênero excelente para ser ensinado nas escolas. Por meio dele, pode se ensinar concisão, intertextualidade, promover as habilidades de inferências, estudo das figuras de linguagem, etc. É importante também ressaltar que haja um ensino sistematizado desse gênero nas escolas por meio de metodologias tipo as sequências didáticas de Joaquim Dolz e as sequências básicas de Rildo Cosson.


Como transporta o domínio do sensual para seus textos?

Sinceramente não sei explicar. É como se fosse uma questão de estilo mesmo. O sensual está entranhado nas fendas das minhas palavras. Muitas vezes escrevo sem nenhuma intencionalidade, e, os leitores fazem uma interpretação levando para o campo do erótico. No entanto, é preciso estar consciente de que, quando o autor escreve, o texto deixa de ser dele. A leitura literária éplurissignicativa. Não importa o que o inspirou. Importa o que foi dito e como foi dito.


Que autor(es) você destacaria no atual cenário da literatura?

Sou apaixonada pela literatura de Conceição Evaristo e Mia Couto. No gênero poetrix prefiro não falar porque não quero ser injusto com alguns. Tem muita gente talentosa escrevendo poetrix. Isso é o que importa.


Quais autores entendem a alma humana?

Para mim são Dostoiévski, Shakespeare, Machado de Assis, Clarice Lispector, Marina Colassanti, e Guimarães Rosa.


Como você vê a questão do “lugar de fala”?

Complexa! Penso que quem mais tem propriedade para falar das dores de suas vivências, dos silenciamentos, preconceitos, apagamentos, são os que sentiram tudo isso na própria pele. É essa voz silenciada, presa na garganta que deve gritar. Percebo isso quando leio Carolina de Jesus, Conceição Evaristo. No entanto, hoje, sou menos radical. Para defender determinadas bandeiras não é preciso que eu seja negra, indígena. Podemos, sim, em nossa literatura defender muitas bandeiras. Mas ouvir isso de quem sentiu na pele toca muito mais na alma da gente. Isso é fato.


Você escreve à mão ou escreve direto no computador?

No início dos anos1990 não conseguia “pensar” no computador. Tinha que escrever à mão e depois digitar. Hoje, é natural, automático, direto no computador.


Como vê a relação entre novos autores e o mercado editorial?

Acho tudo muito relativo, porém, de um modo geral, o caminho para os novos autores terem validação no mercado editorial são as premiações em concursos. Pelo menos é que se percebe na atualidade!


Como tem sido sua experiência como membro da Academia Internacional Poetrix?

Acho a Academia um pouco engessada, nos moldes tradicionais. Falta leveza. Porém, é inegável que tanto a primeira e atual diretoria têm feito um ótimo trabalho no que concerne à divulgação e à qualidade estética do gênero.


Gostaria de fazer um comentário final?

Sou muito grata à modalidade poética minimalista – Poetrix – que um dia ressignificou a minha vida numa fase difícil e me fez voltar a escrever. Por um “trix” tudo mudou... rsrs














23 de mai. de 2024

Poetrix de Marianne Sobreira




OUTONOU

Circulam mortas folhas
Vivas palavras rodopiam
Eu na Ciranda a bailar

Marianne Sobreira



O CORRER DA ESTAÇÃO

Chuá do riacho
Folhas outonais dançam
Natureza colore suas águas

Marianne Sobreira



AMARELINHA

Folha cai
Vento assobia
Pulam as crianças

Marianne Sobreira



COMEÇA A FESTA

Mudança sazonal
Chegam convidados
Folhas bailam

Marianne Sobreira

15 de mai. de 2024

Varal de Poetrix - MEIO AMBIENTE – NATUREZA NÃO PERDOA


Os acadêmicos da AIP, solidários e sensibilizados com a catástrofe ambiental, dedicam estes poetrix à população do Rio Grande do Sul. 
Maio, 2024.





ÁGUAS SERPENTEIAM DESTRUIÇÃO

gaia chora feridas
dilúvio ceifa inocentes
luto, vida pede clemência

Luciene Avanzini


MEDO NOS OLHOS FELINOS

Águas lambem os telhados.
Gatos acuados.
Canoa vem, ufa!

José de Castro


LIQUIDEZ

Águas do sul
Natureza busca pote
Triste ocupação

Dirce Carneiro


SULRREAL

ciclos de exploração
descaso pelos quatro cantos
Terra deságua, aos prantos

Bianca Reis


NATUREZA SEM PARTIDO

chove na hipocrisia
direita e esquerda submersas
ilhado, um cavalo solitário aguarda o resgate

Lílian Maial


DESCOMPASSO

Barragens aguardam documentos.
Sem burocracia, a natureza.
Temporal vem sem licitação.

José de Castro


VENDAVAL DE TRISTEZAS

Angústias desabrigadas
Caminhos alagados
Há lamas de arrependimento

Claudio Trindade


DESASTRE AMBIENTAL

as águas ensinam o caminho
vá firme em frente, contorne os obstáculos
barreira da ganância: não comporta

Lílian Maial


INUNDAÇÃO NO RS: TRÁGICO IBOPE

Deu no Fantástico.
Bombou no Jornal Nacional.
Reality horror show.

José de Castro



ALAGADA

perdida, só lama e lodo
confusa, sem cama ou toldo
cheia da cheia que enche

@ Angela Bretas



AFOGADOS VERSOS

Natureza reage sem piedade
Humano frágil não comporta...
Lágrimas transbordam alvoroço

Marcelo Marques


CONTRASTE

Ciclones vão e vêm.
Rios inundam tudo.
A burocracia, tartaruga.

José de Castro


PORVIR DO DESMATAMENTO

No presente chega a conta.
Pagamento em bens e vidas.
Impunes estão bandidos.

Oswaldo Martins


REPLAY

Águas revoltadas
Desaba o céu sem parar
Lamentos e dores e prantos

Marília Tavernard


EMOÇÃO QUE ESMAGA O PEITO

Arritmia de sensações
Amor que transborda idades
Correnteza de dúvidas

Claudio Trindade


ERODIDOS

rio flui furioso
correnteza incerta
... nada mais resta

@Angela Bretas


Afogado

transbordaram os meus olhos
inchado de dor, calo
o céu desabou em mim

Pedro Cardoso



Intempéries no campo

Vidas e plantações perdidas
Projetos na gaveta
Na mesa, pratos vazios

Marilda Confortin


O GRITO DAS ÁGUAS

Botes e não mais asfaltos
Natureza reclama cuidado
Coração, um rio seco

Andréa Abdala


GUAÍBA

O Rio do Sul é Grande mesmo
Águas transbordam
Margem de vida é urgente

Dirce Carneiro



A CONTA DA OMISSÃO

Lágrimas não rolam
Rios vingam, afloram
Críticas, não é a hora!

Andréa Abdala


SONHOS AFOGADOS

Água voraz vaza entre vãos
Distraída ou distração?
Transborda sem borda.

Valéria Pisauro


Tristeza

tenho andado cego
não me vejo, não me sinto.
é como, afogado, estivesse

Pedro Cardoso


NATUREZA GRITA

Norte, Nordeste, ecos no Sul
Brasil e mundo em alerta
Ouçam, ajam, acordes...

Dirce Carneiro


CANALHICES E MENTIRAS

Vomitadas por ‘pastor’…
Fortes chuvas, tristes mortes.
Humanistas contra horrores.

Oswaldo Martins


CATÁSTROFES

Forças incontroláveis
natureza age contra exploração
até Deus perdeu o comando

Cleusa Piovesan


Triste Porto Alegre

Guaíba inunda a cidade
Quintana e Drummond paralisados
Olhos fixos na praça vazia

Marilda Confortin



S.O.S. MEIO AMBIENTE (INTEIRO)

Lagoa dos Patos engole gente
sem saída há vidas em risco
mãe Gaia é que virou madrasta má

Cleusa Piovesan


Angústia

dói em mim as lágrimas do rio
(comportas abertas em meu peito)
destemperadas rasgam o chão

Pedro Cardoso



Tragédias climáticas

Topografia, El Niño, marés,
Ventos, suor da Amazônia.
Explicações não confortam.

Marilda Confortin 



CÓDIGO AMBIENTAL

Leis mutiladas por Leite.
Rio Grande do Sul sob águas.
Gaúchos no prejuízo…

Oswaldo Martins


6 de mai. de 2024

Poetrix de Antônio Carlos Menezes

O  AMOR

Acontece em silêncio 
Tem passos lentos...
A luz do amanhecer

Antônio Carlos Menezes


AS FLORES DE ABRIL

A terra molhada
O cheiro da relva
Uma brisa morna

Antônio Carlos Menezes


O MEU DIA DE ABRIL

São Jorge é o protetor 
Estórias de um eterno amor
Nas letras, o Shakespeare

Antônio Carlos Menezes


O OUTONO

Relâmpagos e trovoadas
A chuva chega forte
O medo das criançadas...

Antônio Carlos Menezes