25 de dez. de 2025

Discurso de Posse de Rita Queiroz - cadeira 3

 Prezada Presidente Valéria Pisauro, Prezada Diretoria, Prezados integrantes e fundadores da Academia Internacional Poetrix, Prezada Comissão eleitoral, minhas sinceras saudações!

Saúdo também o poeta Goulart Gomes, a quem reverencio pela criação, pela divulgação e pela projeção do poetrix. Seu trabalho é incansável em prol desses objetivos, sendo também o motivo pelo qual nos reunimos nesta arcádia.

Meus agradecimentos às acadêmicas e aos acadêmicos que votaram em mim, validando meu trabalho como poeta. Meu muito obrigada!

É uma grande honra tornar-me membro da Academia Internacional Poetrix, juntamente com renomados poetas, pelos quais sinto grande admiração e respeito! Assim, comprometo-me a zelar e a servir aos propósitos desta arcádia, no sentido de elevar a cultura, a literatura e todas as ações que sejam encampadas para esse fim.

Saúdo e agradeço, especialmente, a acadêmica Luciene Avanzini, minha madrinha poetrixta, por todo incentivo que vem me dando desde 2019, ano em que nos conhecemos em Natal durante a realização do III Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Foi ela quem me convidou para a oficina de poetrix, ministrada pela renomada Aila Magalhães, e para a Ciranda Poetrix, da qual faço parte desde então. Assim conheci oficialmente o poetrix e me apaixonei por esse texto minimalista.

Sou soteropolitana! Vim ao mundo aos 22 dias do mês de agosto, às 21h10min, ao som das águas da Baía de todos os Santos e sob as cores mágicas que fazem dessa data o dia do Folclore. Em Salvador, vivenciei algumas fases de minha vida, sempre tendo o Oceano Atlântico como horizonte, para onde mirava e sonhava com outros mundos, outros povos, outras culturas. O mar sempre me encantou, sendo banhada por ele desde bebezinha. Trago uma imagem muito forte da baía, quando visitei pela primeira vez o Museu Solar do Unhão. As luzes douradas refletidas nas águas diziam para mim que as dores sempre se esvaem na poesia, essa libertária manifestação artística que tudo transforma.

Seguindo meu destino ligado à palavra, cursei Letras Vernáculas na Universidade Federal da Bahia, onde também me tornei Mestre em Letras. Apaixonada por escritas antigas, dediquei-me ao estudo de manuscritos, sejam estes antigos ou contemporâneos. No Mestrado, estudei os sonetos do poeta baiano Arthur de Salles, falecido em 1952. No Doutorado, cursado na Universidade de São Paulo, debrucei-me sobre os manuscritos medievais do texto Castelo Perigoso, traduzido do francês para o português no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, o qual é composto por sete tratados que falam sobre como nos proteger dos perigos mundanos. Prosseguindo com a pós-graduação, fiz Pós-doutorado em Estudo de Linguagens na Universidade do Estado da Bahia, estudando o vocabulário de Jorge Amado na obra Tereza Batista cansada de guerra. Com toda essa ligação com o mundo das letras, fui professora universitária durante 30 anos, tendo lecionado a disciplina Filologia Românica na Universidade do Estado da Bahia e na Universidade Estadual de Feira de Santana.

Durante 25 anos dediquei-me com afinco à carreira acadêmica, sendo professora com dedicação exclusiva, produzindo diversos artigos, capítulos de livro, livros; orientado alunos e alunas de iniciação científica, de tcc, de mestrado e de doutorado, além de ter uma supervisão de pós-doutorado. A partir de 2015, aliando as carreiras acadêmica e literária, criei o coletivo Confraria Poética Feminina, o qual reúne escritoras baianas e que conta com 9 coletâneas, 2 agendas literárias e 1 CD. Com a Confraria Poética Feminina alavanquei a minha carreira solo, com 22 livros publicados: 10 de poemas, 3 de contos, 1 biográfico e 8 infantojuvenis. Participei de mais de 200 coletâneas/antologias, sejam estas nacionais ou internacionais. Dentre os livros de poemas, 1 é exclusivo de poetrix, Silêncios submersos (premiado em 2º lugar no Prêmio Ecos da Literatura 2024 na categoria livro de poesia), e 1 com poetrix, haicais e aldravias, Mínima poesia (premiado em 2º lugar pela Academia Internacional Poetrix na categoria livro que contenha poetrix).

Esta noite é memorável, como outras que já vivi e que ainda viverei. Neste 12 de dezembro de 2025, torno-me oficialmente membro da Academia Internacional Poetrix, ocupando a cadeira de número 3, tendo como patrona a escritora Olga Savary e como fundadora a Ana Mello.


Minha patrona, Olga Savary, é paraense. Nasceu em 1933. Olga viveu entre Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro, recebendo influências das culturas desses lugares. Com a separação dos pais, em 1942, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou o desenvolvimento de suas habilidades literárias, quando aos 11 anos, passou a redigir um jornalzinho. Sua mãe não via com bons olhos a carreira literária, preferindo que Olga se dedicasse à música, o que ela detestava. Passou a registrar suas produções em um caderninho preto, que sempre deixava com o bibliotecário da ABI para que sua mãe não o destruísse. Multifacetada, Olga Savary foi poeta, contista, crítica, tradutora e ensaísta. Correspondente de diversos periódicos no Brasil e no exterior; organizadora de várias antologias de poesia; multipremiada: Jabuti, autor revelação com o livro Espelho provisório (1971), com o livro Sumidouro pela Associação Paulista de Críticos de Arte (1977), com o livro Berço esplêndido, Prêmio Artur de Sales de Poesia pela Academia de Letras da Bahia (1987). Publicou 15 livros, sendo apenas 1 de contos, os demais de poesia, com 1 erótico, Magma, de 1982. Olga faleceu em 2020, aos 86 anos, em Teresópolis-RJ, devido a complicações cardíacas por conta da Covid-19.

Nome I

Dar às coisas outro nome

que não o vosso, amor, não pude.

Nem pude ser mais doce e sim mais rude

por conta das lamentações mais ásperas,

por causa do agravo que pensei ser vosso.

Amor era o nome de tudo, estava em tudo,

era o nome do macho cheirando a esterco,

a frutos passados e a raízes raras.


De posse da intimidade da água

e da intimidade da terra,

a animais vorazes é a que sabíamos.

Amor é com que me deito e deixo montar

minhas coxas em forma de forquilha e onde

amor abre caminho pelas minhas águas.

Do livro Magma (1982)

Encerro este discurso com dois poetrix que mostram minha relação com as águas e com a poesia, agradecendo mais uma vez pela magia desse encontro.



TRAVESSIAS

Atravesso meus mundos
Lados opostos alinhados
Águas correm sob os pés


SOU POETA

Vejo o mundo pelo avesso
Driblo o tempo em versos
Não tenho pés, tenho asas



3 comentários:

José de Castro disse...

Gostei demais de conhecer outras facetas tuas... É uma grande alegria contar com você por aqui. Um abraço afetuso, amiga...

José de Castro disse...

Que maravilha conhecer um pouco mais desta excelente poeta... Parabéns Rita... Seja bem-vinda... É uma enorme alegria contar com você por aqui... Abraço afetuoso...

Marilda Confortin disse...

Bem-vinda, Rita! Parabéns pelo belo discurso.