VARAL TEMÁTICO – MÊS DE ABRIL 2025
“DIA DO ÍNDIO: A CELEBRAÇÃO QUE OS POVOS INDÍGENAS DISPENSAM”
Segue o texto da escritora Eva Potiguara, articuladora nacional do Mulherio das Letras Indígenas, gentilmente cedido pela a autora, para reflexão e inspiração.
“Ah, o mês de abril! O momento em que, de repente, todos lembram que existem indígenas no Brasil. Corre-se para comprar cocares de plástico, pintar o rosto das crianças com tintas especiais e encher a sala de aula com "brincadeiras e comidas típicas" que fariam qualquer ancião indígena tremer de desgosto. Afinal, se está na agenda escolar, deve ser suficiente, não é mesmo?
E lá estão eles, os primeiros habitantes dessa terra, reduzidos a um estereótipo folclórico. Quem se importa se suas terras são roubadas diariamente? Se sua identidade é questionada, sua língua silenciada, sua existência constantemente julgada como um entrave ao progresso? Importante mesmo é garantir que, por um dia no ano, possam ser lembrados como personagens de um livro infantil, com arcos e flechas de papelão. “
*Para ler o texto na Instagram, acesse a Bio do Instagram* @evapotiguara:
*ou o link do site do PN abaixo*:
Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu, em Baía Formosa/RN. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN, é Professora e pesquisadora do IFESP-SEEC, atuando nos cursos de Pedagogia e Letras. É produtora cultural da EP Produções, escritora, ilustradora, contadora de histórias, membro da UBE/RN, da SPVA e de várias academias de Letras no Brasil e em Portugal. Tem livros solos infantis e de poesia, publicados no Brasil
ANGO-INDIGENISMO
Sou carne & osso
Sangue rubro, não negro
Minha porção, nossa ração
António Luamba (Angola)
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DEIXEM VIVER
Curumim quer terra para morar
Quer rios para nadar
Quer sua cultura para ser
Dirce Carneiro
UM DIA PARA REPARAR 500 ANOS?
Sistema consagra um dia
Falsa ideia de valoração
O dia passa, as terras não voltam
Dirce Carneiro
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NOVO GRITO
Eugenia minou povos indígenas
vamos descobrir Brasil nativo?
Pinte a cara por justiça social!
Cleusa Piovesan
MAIS DE 500 ANOS DE INVASÃO EUROPEIA
Originários: donos legítimos
massacre da ganância capitalista
vil espólio de herança usurpada
Cleusa Piovesan
NÃO ERA UMA VEZ... É AGORA
Uma história – não ou mal – contada
povos resistindo ao extermínio
guerra silenciosa ecoa fora da tribo
Cleusa Piovesan
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ILHA DE VERA CRUZ
cercou, o dono
escritura do acordo
pele vermelha sangra
Angela Ferreira
FÉRTIL COMO A TERRA
raízes indígenas
cacique do lar
semeando descendentes
Angela Ferreira
EU, INDÍGENA
Pajé, sábio orienta
todos somos natureza
respeitem a ascendência
Angela Ferreira
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AMAZÔNIA
Muito verde
Pouco interesse
Silvículas queimados
Cezar Defilippo
TONS DE CINZA
Floresta virgem
Alma incendiada
Adeus verde...
Cezar Defilippo
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BRASIL INDÍGENA
Importa a voz da aldeia
Livre bandeira de existir
Com a posse, coroar-te
Andréa Abdala
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DEScolonizar-SE
Banhar-SE de rio
Voltar ao pó da Terra
Nascimento indígena!
Socorro Borges
HOMEM TÃO BRANCO, O QUE TE OFEREÇO
penas e flechas não
pena e setas
o que mais posso fazer?
Socorro Borges
CIVILIZADOS?
indígena não está à venda
evolução não é isso
retirem a venda
Sandra Boveto
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MEMÓRIA FANTASIADA
brincam de ser indígena
encenam cultura usurpada
terra chora sem chão
Nanda Chinaglia
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PINDORAMA É AQUI
pintaram e bordaram com o pau
Brasil é nome de guerra
roubaram nossa paz
Lílian Maial
A CARA DO BRASIL
as cores das araras, o frescor das águas
solo rico destruído
gente virou caça
Lílian Maial
DE VOLTA ÀS ORIGENS
quase tudo nos foi tirado
nossos ancestrais exigem dignidade
jijangum*
Lílian Maial
*luta contínua, em tupi-guarani
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GAYA GUARDIÃ
Mãe nascente encanta o ventre
Sopro divino de Tupã
Sabedoria Yanomami.
Valéria Pisauro
GUERREIRAS
Eva singular, plural, coletiva
Voz ancestral não cala o grito
Aldeia Potiguara Sagi Jacu.
Valéria Pisauro
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CANTO DA FLORESTA Vozes do vento (ouço) Mitos que ensinam vida Tecer tempo com linhas de memória Ximo Dolz
3 comentários:
Lamentei ter perdido o prazo para participar deste varal. Conheço pessoalmente a Eva Potiguara, uma guerreira em todos os sentidos. Aqui no RN ela é uma das vozes mais contundentes em defesa dos povos originários. Parabéns a todos(as) os(as) poetas que trouxeram o seu grito em favor destes povos.
Um canto necessário, para um povo que somos nós também.
O varal “Dia do Índio: a celebração que os povos indígenas dispensam” traz reflexões inevitáveis no contexto atual:
Por que os indígenas — os povos originários — são lembrados apenas na época do carnaval, como fantasia, ficção, estereótipo, uma ideia folclórica e preconceituosa?
E no “Dia do Índio”, por que aparecem apenas como símbolo, mas quando lutam por seus direitos, o noticiário se silencia? Até quando?
Nosso agradecimento à querida Eva Potiguara, por nos ceder seu lindo e inspirador texto.
Gratidão também aos acadêmicos e convidados que enriqueceram este varal com suas presenças e contribuições.
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