28 de abr. de 2025

Varal Temático Dia do Índio

 VARAL TEMÁTICO – MÊS DE ABRIL 2025 

“DIA DO ÍNDIO: A CELEBRAÇÃO QUE OS POVOS INDÍGENAS DISPENSAM” 

 

Segue o texto da escritora Eva Potiguara, articuladora nacional do Mulherio das Letras Indígenas, gentilmente cedido pela a autora, para reflexão e inspiração. 

 

“Ah, o mês de abril! O momento em que, de repente, todos lembram que existem indígenas no Brasil. Corre-se para comprar cocares de plástico, pintar o rosto das crianças com tintas especiais e encher a sala de aula com "brincadeiras e comidas típicas" que fariam qualquer ancião indígena tremer de desgosto. Afinal, se está na agenda escolar, deve ser suficiente, não é mesmo? 

E lá estão eles, os primeiros habitantes dessa terra, reduzidos a um estereótipo folclórico. Quem se importa se suas terras são roubadas diariamente? Se sua identidade é questionada, sua língua silenciada, sua existência constantemente julgada como um entrave ao progresso? Importante mesmo é garantir que, por um dia no ano, possam ser lembrados como personagens de um livro infantil, com arcos e flechas de papelão. “ 

*Para ler o texto na Instagram, acesse a Bio do Instagram* @evapotiguara: 

*ou o link do site do PN abaixo*:  

 

Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu, em Baía Formosa/RN. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN, é Professora e pesquisadora do IFESP-SEEC, atuando nos cursos de Pedagogia e Letras. É produtora cultural da EP Produções, escritora, ilustradora, contadora de histórias, membro da UBE/RN, da SPVA e de várias academias de Letras no Brasil e em Portugal. Tem livros solos infantis e de poesia, publicados no Brasil 

 

ANGO-INDIGENISMO 

 

Sou carne & osso  

Sangue rubro, não negro  

Minha porção, nossa ração  

 

António Luamba (Angola) 

 

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DEIXEM VIVER 

 

Curumim quer terra para morar 

Quer rios para nadar 

Quer sua cultura para ser 

 

Dirce Carneiro 

 

UM DIA PARA REPARAR 500 ANOS? 

 

Sistema consagra um dia 

Falsa ideia de valoração  

O dia passa, as terras não voltam 

 

Dirce Carneiro 

 

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NOVO GRITO  

 

Eugenia minou povos indígenas 

vamos descobrir Brasil nativo? 

Pinte a cara por justiça social! 

 

Cleusa Piovesan 

 

MAIS DE 500 ANOS DE INVASÃO EUROPEIA  

 

Originários: donos legítimos  

massacre da ganância capitalista 

vil espólio de herança usurpada  

 

Cleusa Piovesan 

 

NÃO ERA UMA VEZ... É AGORA  

 

Uma história – não ou mal – contada  

povos resistindo ao extermínio  

guerra silenciosa ecoa fora da tribo 

 

Cleusa Piovesan 

 

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ILHA DE VERA CRUZ 

 

cercou, o dono 

escritura do acordo 

pele vermelha sangra 

 

Angela Ferreira 

 

 

FÉRTIL COMO A TERRA 

 

raízes indígenas 

cacique do lar 

semeando descendentes 

 

Angela Ferreira 

 

EU, INDÍGENA 

 

Pajé, sábio orienta 

todos somos natureza 

respeitem a ascendência 

 

Angela Ferreira 

 

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AMAZÔNIA 

 

Muito verde 

Pouco interesse 

Silvículas queimados 

 

Cezar Defilippo 

 

TONS DE CINZA 

 

Floresta virgem 

Alma incendiada 

Adeus verde... 

 

Cezar Defilippo 


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BRASIL INDÍGENA  

 

Importa a voz da aldeia 

Livre bandeira de existir 

Com a posse, coroar-te 

 

Andréa Abdala 


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DEScolonizar-SE 

 

Banhar-SE de rio 

Voltar ao pó da Terra  

Nascimento indígena! 

 

Socorro Borges 

 

HOMEM TÃO BRANCO, O QUE TE OFEREÇO 

 

penas e flechas não 

pena e setas 

o que mais posso fazer? 

 

Socorro Borges 

 

CIVILIZADOS?  

 

indígena não está à venda 

evolução não é isso 

retirem a venda 

 

Sandra Boveto  


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MEMÓRIA FANTASIADA 

 

brincam de ser indígena 

encenam cultura usurpada 

terra chora sem chão 

 

Nanda Chinaglia 


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PINDORAMA É AQUI 

 

pintaram e bordaram com o pau 

Brasil é nome de guerra 

roubaram nossa paz 

 

Lílian Maial 

 

A CARA DO BRASIL 

 

as cores das araras, o frescor das águas  

solo rico destruído  

gente virou caça  

 

Lílian Maial 

 

DE VOLTA ÀS ORIGENS 

 

quase tudo nos foi tirado 

nossos ancestrais exigem dignidade 

jijangum* 

 

Lílian Maial 

 

*luta contínua, em tupi-guarani 


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GAYA GUARDIà

 

Mãe nascente encanta o ventre 

Sopro divino de Tupã 

Sabedoria Yanomami. 

 

Valéria Pisauro 

  

GUERREIRAS   

 

Eva singular, plural, coletiva 

Voz ancestral não cala o grito 

Aldeia Potiguara Sagi Jacu. 

 

Valéria Pisauro 


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CANTO DA FLORESTA Vozes do vento (ouço) Mitos que ensinam vida Tecer tempo com linhas de memória Ximo Dolz

 

 

 

3 comentários:

José de Castro disse...

Lamentei ter perdido o prazo para participar deste varal. Conheço pessoalmente a Eva Potiguara, uma guerreira em todos os sentidos. Aqui no RN ela é uma das vozes mais contundentes em defesa dos povos originários. Parabéns a todos(as) os(as) poetas que trouxeram o seu grito em favor destes povos.

Dirce Carneiro disse...

Um canto necessário, para um povo que somos nós também.

Valeria Pisauro disse...

O varal “Dia do Índio: a celebração que os povos indígenas dispensam” traz reflexões inevitáveis no contexto atual:
Por que os indígenas — os povos originários — são lembrados apenas na época do carnaval, como fantasia, ficção, estereótipo, uma ideia folclórica e preconceituosa?
E no “Dia do Índio”, por que aparecem apenas como símbolo, mas quando lutam por seus direitos, o noticiário se silencia? Até quando?
Nosso agradecimento à querida Eva Potiguara, por nos ceder seu lindo e inspirador texto.
Gratidão também aos acadêmicos e convidados que enriqueceram este varal com suas presenças e contribuições.