Haicai e Poetrix
O Haicai teve suas origens no waka (poema japonês), no século VIII e começou a ser escrito no Japão em 712. O waka se subdividia nos estilos: kata-uta, chôka e tanka. O kata-uta (meio-poema), que tinha o ritmo silábico 5-7-7 era composto como uma resposta a um destinatário (daí o termo "meio poema"). Ainda no século VIII surge o estilo chôka (poema longo) em que se adiciona uma estrofe dupla (5-7) à estrofe tripla do kata-uta, passando ao estilo silábico (5-7; 5-7-7). No século IX surge o tanka, com distribuição silábica diferente (5-7; 5-7; 7) evoluindo três séculos mais tarde para uma forma bipartida (5-7-5; 7-7), cuja primeira parte é usada até hoje. Dois ou mais poetas passam a fazer poemas em cadeia (estilo renga), separando-se em dois estilos opostos: o ushin-renga (renga sério, ligado à elite literária) e o renga "ligeiro" (praticado por poetas do povo). Essas práticas deram origem a duas escolas distintas: Teimon (fundada por Matsunaga Teitoku) seguindo os critérios rígidos e Danrin (criada por Nishiyama Sôin), seguindo o critério informal. No século XVII Matsuo Bashô, que era ligado às duas correntes, funda sua própria escola (Shômon) nascendo o haikai (com versos no estilo 5-7-5) que chegou até nós. No início do século XX o haikai chega ao Brasil e poetas como Guilherme de Almeida "abrasileiram" o haicai raiz, modificando-o e criando o haicai Guilhermino. Assim é que outros poetas como Paulo Leminski e Milôr Fernandes entram também nessa moda, criando seus haicais "personalizados". Vale lembrar que Kobayashi Issa (1763-1827), um dos maiores poetas do haicai japonês já acentuava a presença do eu, em contraposição aos preceitos de Bashô, mas é um eu lírico afirmativo, que se "dissolve" nos limites do não-eu.
Em 1999, na Bienal da Bahia, um poeta baiano, Goulart Gomes, intenta criar os haicais "goulardianos" no livro "Haikais tropi-kais". O crítico literário Aníbal Bessa percebe que Goulart não estava escrevendo haicais, mas havia criado um novo gênero poético inspirado no haicai... Nasce, no ano 2000, um movimento amplo constituído por poetas do Brasil e outros países, o Movimento Internacional Poetrix (MIP) para estudar, desenvolver e divulgar o novo gênero de poesia, que passara a se chamar Poetrix. Em 2020 é fundada a Academia Internacional Poetrix (AIP), hoje composta por poetrixtas de vários países, como Brasil, Portugal, Estados Unidos e Itália, como exemplos.
Por - Francisco José Soares Torres
AIP - Cadeira 24
Na foto abaixo: Angela Bretas, Francisco José, Pedro Cardoso, Lorenzo Ferrari, Marilda Confortin [apresentadora], Marília Tavernard, José de Castro, Gilvânia Machado, Dirce Carneiro e Bianca Reis. Participaram ainda: Goulart Gomes [criador do Poetrix], Andréa Abdala [presidente da AIP], Lílian Maial, Luciene Avanzini, todos membros da AIP e Margarida Montejano (convidada). Foto compartilhada por Angela Bretas .
9 comentários:
Que texto ótimo em síntese e informação. Parabéns!
Confrade Francisco José, bom dia! Gostei muito do seu texto a despeito da explanação sobre o haicai, cobrindo o que foi falado pela inspirada e sempre criativa confreira Marilda em evento recente, que infelizmente não pude assistir por motivo de saúde. Gostaria demais e até sugiro que o nobre poeta e escritor acrescente ao texto uma boa e abrangente referência (na forma de livro) sobre o poema nipônico em foco, que, além do seu belo e rico texto e dos escritos de Goulart Gomes, possa nos permitir maior aprofundamento no importante e cativante tema da poesia japonês. Antecipadamente agradeço pela compreensão. Forte abraço poetríxtico. Inté!
Caro Oswaldo. Grato por seus comentários. Quero ainda agradecer a nossa querida, Sandra Boveto. Meu "namoro" com a poesia Minimalista vem da adolescência. Como desde sempre, fui leitor do escritor americano Jack Kerouac (tenho todos os seus livros), ao adquirir o "Livro de Haicais" de Kerouac (que é único entre as obras de Jack) reunindo mais de 500 poemas escritos entre 1956 e 1966 (o grande e inigualável Matsuo Bashô escreveu 1002 haicais), apaixonei-me pelo gênero dessa forma poética. Ampliei minha biblioteca acerca do tema (possuo mais de 20 livros relacionados, inclusive um de Adriana Calcanhoto: "Haikai do Brasil", outro de Mário Quintana:"Livro de Haikais", dentre vários outros, mas a bibliografia que recomendo como fonte de consulta é: "Haikai - Antologia e História" de Paulo Franchetti e Elza Taeko Doi: "Haicais Tropicais" da Editora da Unicamp 2012; o livro:"Boa Companhia - Haicai" da Editora Companhia das Letras 2009 (livros impressos), além do livro no kindlo: "Isso não é arte", de Kodayashi Issa, Editora da Bestiário 2021.
* O livro:"Haikai - Antologia é História" é da Editora Boa Companhia, edição 2018.
Ufa!!! Que aula. Gostei demais, quanta informação que eu não conhecia, obrigado meu irmão e que venham outras.
Grato, Pedro. "E viva o poetrix"!
Francisco José, o Chico Zé, sempre nos traz belos e instrutivos textos. Muito obrigada por me proporcionar riquezas.
Obrigado, Andréa, por publicar nossos escritos. Esse, eu havia publicado em meu feed no Facebook, quando compartilhei com você... Bem rápido, com o texto ainda quentinho, você já publica. Gratidão!
Ótimo texto para conhecer mais da história desses dois tercetos preciosos. 👏😚
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