30 de mar. de 2024

NATHAN DE CASTRO

 

NOME COMPLETO DO PATRONO: NATHAN DE CASTRO FERREIRA JÚNIOR

NOME LITERÁRIO: NATHAN DE CASTRO

Nathan de Castro -  foto: Lílian Maial

 

DATA DE NASCIMENTO: 23/01/1954

DATA DE FALECIMENTO: 08/09/2014

NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 12

FUNDADORA: Lílian Maial

ACADÊMICO ATUAL: Lílian Maial

 

 

VIDA E OBRA DO PATRONO

 Nathan de Castro nasceu em 23 de janeiro de 1954, em Olhos d'Água, município de João Pinheiro, Minas Gerais, e as águas permearam sua existência de maneira marcante. Passou a infância e adolescência em Patrocínio (MG), onde estudou na Escola Erasmo Braga e no Colégio Dom Lustosa, nomes que fez questão de preservar até o fim de sua vida.

Em 1975, ingressou na carreira bancária, pelo extinto Banco Estadual de Minas Gerais, e se especializou em Ciências Contábeis e cursos de relações humanas, finanças e áreas bancárias, o que o levou a mudar de cidade em cidade durante anos: para Iturama, onde conheceu a futura mãe de seu casal de filhos, depois para Itumbiara, Divinópolis, Cláudio e, por fim, depois de aposentado, Uberlândia.

Na infância, gostava de ler Júlio Verne, Monteiro Lobato, Machado de Assis e poemas de Castro Alves, Camões e Gonçalves Dias. Foi quando nasceu a paixão pela poesia e um sonho, que aflorou em 1998, quando, pela internet, começou a escrever e participar ativamente de listas de e-mails voltadas à troca de poesia e literatura, e de concursos em sítios de editoras. Em 2003, teve seu sonho realizado, ao ser premiado com a publicação de seu primeiro livro de poemas – Sentença de um Poeta - pela Blocos Editora, de Leila Miccolis, através do Prêmio Blocos.

Em 2005, publica “1001 Noites de Sonetos & Rabiscos”, pela Scortecci Editora, premiado no II Prêmio Literário Livraria Asabeça (Scortecci Editora).

Em 2012, publica “Sede de Voar”, pela Scortecci Editora, com prefácio de Lílian Maial, amiga poeta, com quem escreveu sonetos e outros poemas por mais de 15 anos, até seu falecimento, em 2014. Teve participações em diversas antologias e concursos.

Em 2019, saiu a publicação do livro “Duetto”, uma homenagem póstuma da poeta Lílian Maial, com diversos sonetos e poemas que fizeram a quatro mãos, com posfácio da poeta Silvana Guimarães e textos de seus dois filhos – Pablo e Paula Pamplona de Castro.

Nathan faleceu em Uberlândia, aos 60 anos de idade, sepultado em Patrocínio, onde residia a mãe e a maioria dos irmãos e irmãs.

O último poema postado por Nathan de Castro, no dia 1º de setembro, fazia referência ao mês de setembro, finalizado com o verso: "silêncio, outro soneto e outro sorriso no rosto".



SONETO DE SETEMBRO


Com voz de trovoada e olhos de coriscos,
o céu de cara feia afugenta o soneto.
Arrisco-me no verso livre, em branco e preto:
cantigas de setembros, chuvas e rabiscos.


Sinais de tempestades, flores, borboletas?
Versos de folhas verdes nas mãos do Poeta?
Quiçá, quem sabe a terra ensinando-me as letras
das cepas dos coqueiros de praias desertas?!


Canções de erva-cidreira, picão e canela,
remédios para curar as paixões de agosto...
Sementes nos canteiros de eterno desgosto?


Verso livre com cheiro de amor - primavera -
abóbora madura (onde estão minhas feras?).
Silêncio, outro soneto, e um sorriso no rosto.

 A volta à infância é frequente, como podemos atestar abaixo:


LÁPIS DE ESPERANÇA

 

Andarilho-burguês passei o tempo,
sem tempo para o tempo aproveitar.
O tempo era pretexto e contratempo
que não deixava tempo pra sonhar.

Os amores ficaram pela estrada
da poeira do tempo de entender,
nos olhares da Estrela perfumada,
a imensidão do tempo de viver.

Hoje, quando no céu a nuvem passa
carregada, procuro uma caneta
para escrever um verso que me faça

voltar aos velhos tempos da criança
que enxergava com olhos de poeta
e escrevia com lápis de esperança.

 

SONETO CRIANÇA

Eu sou criança, sei contar estrelas
e elas me contam versos de voar...
As noites de quintais são sempre belas
quando as nuvens retornam para o mar.

Preciso apenas de umas passarelas
de cores vivas para desfilar
o amor, a paz, a vida e as aquarelas
que a lua me ensinou a desenhar.

Não quero a fome, a sede, as tristes bombas
e nem os nevoeiros, feitos sombras,
nos olhos dos meus pais... Felicidade

é um passarinho livre no arvoredo,
é caminhar ao sol sem sentir medo
e adormecer no chão da liberdade.

 

O poeta também discorria sobre um mundo de lembranças vivas (“Coração trem-mineiro singrando pelos vales, montanhas e lugarejos esquecidos no mapa das Gerais”), de traquinagens dos tempos de menino (“Moleque que treinava para poeta, cavando cavernas e construindo casas de bambu e pita”), de homem perplexo com as mudanças da modernidade (“O casarão e a Rua do Internato já não abrigam sonhos de criança”), e, em outras vezes, mostrando que guardava o passado em um pote de mel (“Asas de borboleta e as sombras das paineiras ficaram na colmeia de sonhos, no enxame das letras e varandas dos meus fins de tarde”), ou em uma fotografia mágica (“Pedra de poesia retirada do coração da serra, e que tem, incrustados, os amores dos galhos das estações de luas e saudades. Pedras Apaixonadas!”).

Já nos poemas “Ausência”, “Canção de Amor”, “Contando Lobos”, “Soneto Chorinho”, “Auroras” e tantos outros, a saudade e a solidão são a tônica, escancarando o coração que habitava o poeta, aquele que temia a dor do amor, o que abominava a luta e as rotinas, e buscava na memória - nem sempre vivida - o refúgio para essa ausência de matéria, de personificação do sentimento. (“Feliz quem sabe o amor nos galhos da estação e voa na poesia sem tocar o chão... ausência de palavras não lhe mete medo”).

A solidão era constante companheira do bardo, como em “Senhora Solidão”, em que o próprio poeta reconhecia a sua insistência, quase desejo: Senhora Solidão, aceite o abraço deste poeta amigo e de um só tema.

Na solidão do meu silêncio busco as madrugadas no fundo de oceanos com dragões, duendes e fadas das mil e uma noites de sonhar vinte mil léguas e os quarenta ladrões da inspiração não me dão tréguas.

 Nathan se autodenominava “poeta argonauta”, e não faltaram viagens alucinantes pelo reino da fantasia, inclusive o título de um de seus livros - “Mil e Uma Noites”. Em “Poeta Argonauta” ele viaja mais: “Marujo velho e amigo das estrelas, ao brilho de Canópus me entreguei, para beber da luz e absorvê-la, mas nada... meu poema não achei.”

Nathan de Castro também possuía uma característica em seus escritos, que era a de rir de si e de suas andanças atrapalhadas entre rimas tortas e versos sem razão (“Hoje eu vi um sabiá comendo alpiste na porta de um soneto atrapalhado, e o canto dos pardais na tarde triste, calando este meu verso desbotado.”). Em “Soneto Piegas”, o autor zombava do poeta que vivia dentro dele: “Não zombes dos meus versos despejados. Bem sabes que, de ti, vêm estas luas, com todas as histórias e os bordados, que arrastas dia e noite pelas ruas.”.

O poeta não dedicava seus poemas ao amor a uma musa de carne e osso e figuras celestiais. Ele preferia a musa que não conheceu, aquela por quem o seu poeta esperou, e que, enquanto não vinha, deixava o poeta de braços dados com a Senhora Solidão: “Procuro o teu olhar, as tuas linhas e todas as florestas que eram minhas, para fechar, no peito, estas clareiras.” (Clareiras – Nathan de Castro).

Em alguns poemas, como em Chorinho, percebe-se a nota triste de uma juventude de tempos idos, não tão intensa: “Pandeiro e violão: instrumentos do crime. Polícia e camburão, sol nascendo entre as grades. E tudo em Patrocínio era felicidade!

Não podemos afirmar que a inspiração dos poemas de Nathan de Castro tenha vindo de Florbela Espanca, de Fernando Pessoa, ou de Bandeira, que muitas vezes lembram verdadeiras maravilhas desses autores. No entanto, em seu centenário, certamente Mario Quintana teve muita influência nos versos deste poeta, como em seu soneto “Os Parceiros”: “Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem? O meu parceiro...eu vejo que ele tem um riso silencioso a desenhar-se numa velha caveira carcomida. Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...Como também disfarce é a minha vida!” (Os Parceiros – Mário Quintana).

Ah! Vida, vida... enquanto a voz do tempo passa, Eu passo medicando as marcas das esgrimas e suturando sonhos, paixões e saudades. (Enquanto a Voz do Tempo Passa – Nathan de Castro).

No Poetrix, Nathan exercitava a concisão, e marcou sua passagem pelo Movimento Internacional Poetrix no início dos anos 2000:


Prelúdio


O céu, de cara feia,

Troveja um verso rouco

De assustar palavras

 

Pesca(dor)

 

Nos lagos da poesia,

Eu faço ventania

Pesco lambaris com uma peneira

 

Bote

 

Enrodilho as palavras

Desenho um verso

Sem portas, janelas e travas

 

Delírio

 

No delírio do poeta

A certeza do nada

Que o verso completa


 

Besouro

Besouro besta,

Tromba nas paredes...

Pensa que é poeta!

 

Alma de Poeta

Alma de poeta
tem asas de borboleta
e penas de solidão.

 

A poesia de Nathan de Castro é um nascer do sol em cada página, e resta aos leitores a descoberta das diferenças em seus versos, assim como as proporcionadas pela natureza. A técnica que Nathan de Castro emprega em seus sonetos é bastante correta e musical, embora não se prenda a elas para uma discreta quebra aqui ou ali, que só fazem beneficiar o poema. Não há erudição redundante, ao contrário, a beleza de seus versos encontra-se na simplicidade mineira e no aconchego de noites de frio e som de grilos, onde se chega a sentir o cheiro do mato, do café e do pão de queijo. Seus livros trazem muita satisfação ao leitor que se interessa por poemas de amor e saudade, de lirismo e romantismo, de beleza e tristeza de mentira. Sim, porque todo poeta é um fingidor...

 

REFERÊNCIAS


Sentença de um Poeta – Nathan de Castro – 2003 – Editora Blocos.

1001 Noites de Sonetos & Rabiscos – Nathan de Castro – 2005 – Editora Scortecci.

Sede de Voar – Nathan de Castro – 2012 – Editora Scortecci.

Duetto – Nathan de Castro e Lílian Maial – 2019 – Rumo Editorial.

Germina Literatura – site de Silvana Guimarães.

Blocos on-line – site de Leila Miccolis.

http://sededevoar.blogspot.com/

https://www.facebook.com/sededevoar?mibextid=LQQJ4d


Autora: Lílian Maial


4 comentários:

Cleusa Piovesan disse...

Linda biografia desse autor que eu não conhecia. Compor sonetos, que é um dos gêneros mais difíceis, um "labor de ourives", como disse Olavo Bilac! Os poetrix metalinguísticos também são lindos! Parabéns pelo belo trabalho, Lilian!

Marilda Confortin disse...

Poucos de nós conheciam Nathan. Eu sou uma. Se não fosse por esse trabalho de pesquisa aprofundado da Lílian, esse escritor, patrono da AIP , não seria reconhecido. Parabéns e obrigada, Lílian. 🌷

Andréa Abdala disse...

Como é bom relembrar o poeta através do texto da Lílian. Sinto-me privilegiada por ter conhecido e convivido com Nathan de Castro ainda no Cantinho do Poeta, em 1998. Que beleza!

Dirce Carneiro disse...

Ter uma parceria assim, com o poeta em vida é tudo que se almeja. Muito justo homenageá-lo