7 de jan. de 2024

Discurso de Posse de Cleusa Piovesan


Boa noite a todos e a todas!


Saúdo, primeiramente, à Diretoria em vigência: Presidente: Andréa Abdala; Vice-presidente: Pedro Cardoso; Tesoureiro: Francisco José Torres; Diretoria de Comunicação e Secretaria-Geral: Marília Tavernard; Diretoria de Cultura e Evento: Goulart Gomes, também criador do poetrix, essa pérola da Literatura Contemporânea, e aos demais acadêmicos da Academia Internacional Poetrix!


... é maravilhoso ter intimidade suficiente com as palavras para brincar com elas, além de ser pura arte...

(Tê Soares)



QUEM É TÊ SOARES?


Terezinha P.S. Sayago Soares, Tê Soares) – Nasceu em São Paulo/SP, em 15/11/1952, mudou para Brasília/DF em 1978, e faleceu em 23/04/2023, em Brasília. Graduada em Letras e Pedagogia na Universidade do Distrito Federal (UDF), atuou como professora e coordenadora pedagógica, no Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Brasília. Ela também era corretora das provas do ENEM. Tê Soares teve dois filhos: Mariana e Rodrigo, que lhe deram três netos.




FUGAZ (TÊ SOARES)

Cama desarrumada,
liberdade para as borboletas
estampadas nos lençóis...



Tê Soares é co-criadora do Duplix, com Pedro Cardoso. Pelo contato virtual que o Movimento Internacional Poetrix - MIP Academia Internacional Poetrix proporcionou a seus autores, a interação poética foi possível e Pedro Cardoso e Tê Soares começaram, como disse Tê “a trocar poetrix e a perceber que havia uma grande sintonia na compreensão dos conteúdos e nas ideias. Um dia, Pedro encaminhou um poetrix e a Tê não resistiu. Para mexer com ele e sair brincando com as palavras, criou e juntou um poetrix e pronto! Era um autêntico Duplix!”, e assim, o poetrix foi tomando novas formas, ampliando-se para o Triplix e para o Multiplix. A contribuição de Tê Soares no MIP é digna de louvor e admiração. Eis o primeiro Duplix, de autoria de Pedro Cardoso // Tê Soares:


EU e EU

Menino carente // menina contente
feito pinto no lixo // feito quem brinca de cochicho
rega a vida, enganando a boca // negando a dor, veemente e louca



QUEM SOU EU?


Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras; Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; Especialista em Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, e em Língua e Literatura; pesquisadora das relações de gênero; escritora e poetisa; organizadora de três livros com alunos, e 13 obras publicadas, de autoria própria. Tem participação em mais de 60 antologias e coletâneas; acadêmica do Centro de Letras do Paraná; integrante do Centro de Letras de Francisco Beltrão/PR; acadêmica da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas – ABLAM); integrante da Confraria Ciranda Poetrix; e da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas; Acadêmica Correspondente da Academia Literária Internacional – ALPAS 21.


Comecei a escrever na década de 1980, mas deixei meus escritos amadurecendo em gavetas, caixas, papéis avulsos jogados nos armários e estantes até a iniciativa de publicar um livro com os alunos. Na empolgação, publiquei três livros de autoria própria no mesmo ano de 2016: um de poemas; um em prosa, de contos e crônicas; e outro de causos populares, reunindo tudo o que havia escrito em mais de 30 anos. Não parei mais. Comecei a publicar em antologias, a participar de concursos, tendo algumas premiações e, não fosse por falta de dinheiro, e pelo pouco retorno financeiro com a venda dos livros e o deficiente hábito de leitura da população brasileira, mais obras sairiam dos arquivos de Word para a edição.

Posso dizer que sou uma experimentalista da literatura e a literatura contemporânea me permite transitar por vários gêneros poéticos, já conhecidos, e alguns novos, de modo que minha inquietação com a funcionalidade da linguagem e suas formas de expressão me atraem e vou em busca de aprender cada vez mais como degustar essa “sopa de letrinhas”.

Escrever me dá a liberdade de ser um pássaro sem asas que voa na imaginação e recolhe migalhas de histórias (reais ou imaginárias) com a força do pensamento, para além da realidade vivida, permitindo que a força das palavras desvele quem realmente sou. Registro meu mundo e o de outrem, sem compromisso com a verdade, apenas com a alteridade, afinal, “o poeta é um fingidor...”.  

Há propostas de produção que desafiam os poetas e os autores de prosa, nos grupos de Facebook, Instagram e WhatsApp, e é preciso analisar todo um contexto social, para que a produção seja de relevância e atenda à estrutura de cada gênero, antes de ser publicada no site. Há os administradores, que fazem a avaliação e dão o aval sobre o que está dentro da estrutura do gênero e da ética estipulada pelo grupo. Nesses trânsitos literários pela Web, encontrei o poetrix!

Cada autor tem o seu baú de ideias, que de vez em quando vira uma caixa de Pandora, e necessita de tempo de reflexões para que a inspiração flua, que sua criatividade seja despertada, que possa expressar-se com poeticidade. Quando esse baú é aberto, pode-se dividi-lo com o leitor, pôr seus escritos em interação com o público, que pode apreciar ou não, dependendo do impacto que o texto tenha sobre ele. E assim, descontrói-se o que havia se consolidado e constroem-se novos conceitos de poesia, recriando os ideais da Semana de Arte Moderna de 1922, primando pela sinteticidade do texto poético, em toda sua expressividade.

Ao pedir para participar do grupo Poetrix, no Facebook, fui aprovada pelos administradores e fiz minha primeira publicação em 27 de setembro de 2021:

POETRIX

Pílulas de saber
incrustada... poucas palavras
pérola literária


Nesse grupo, encontrei uma mensagem de que, se quisesse me aprofundar na escrita do gênero, havia a Ciranda Confraria Poetrix, com um número de contato. Entrei imediatamente em contato com o Lorenzo Ferrari, naquele momento, e até hoje, o “poderoso chefão” do grupo, que me enviou as regras da Confraria, a Bula Poetrix, e um texto sobre as Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino, que eu já conhecia de meus estudos acadêmicos, e me atribuiu o confrade Dreyf Gonçalves como padrinho. Literalmente, “tremi nas bases”. Já havia sido aceita em outros grupos e academias com muito menos exigências. Dei a resposta no dia seguinte, e foi uma das melhores decisões que tomei.

Pouco tempo depois, o Dreyf se retirou da Confraria e o Lorenzo passou a ser meu padrinho. A responsabilidade de participação no grupo, nas produções das duas Cirandas semanais, fez com que eu aprimorasse minha ideia sobre a composição do poetrix, criado por Goulart Gomes, em 1999, do qual já havia lido as regras de composição no Recanto das Letras, e aprimorasse minhas próprias composições, agora atendendo à Bula Aplicada.

Eu já havia escrito um livro com tercetos de sete sílabas literárias em 2017, Haicaindo n’alma, uma “perversão do haicai”, porém, ainda não conhecia o poetrix. Apesar de ter 21 sílabas literárias, eles não contêm título, são enumerados, do contrário se encaixariam na estrutura do poetrix; já era um prenúncio de minha veia minimalista. Receber os exemplares das publicações anteriores com poetrix, organizadas pela Confraria Ciranda Poetrix, fundada em 2018, e ler as produções de confrades e confreiras também me serviu de apoio. Encontrei uma bagagem poética com poetrixtas já com chão trilhado, o que confirmou minha premissa de que escrever poesia também demanda a leitura de poesia, para que possamos ter um juízo de valor sobre as produções literárias, nossas e de outros.

Desde que adentrei ao universo poetrix, tenho a grata satisfação de fazer parte do livro em comemoração aos 200 anos de Independência do Brasil, Ecos e gritos (2022); da II Coletânea Ciranda Poetrix: POETRIX – 200 anos de arte poética, ambos organizados pela Confraria Ciranda Poetrix; da Antologia Poética 7 [R]EXISTIR, organizada por Goulart Gomes e Aila Magalhães (2022); da primeira publicação de Pérolas Poetrix (2022), com os medalhados com ouro, prata e bronze, nas cirandas semanais.

Tive meu próprio livro de poetrix publicado, Pílulas poéticas (2022), um livro em dupla com o confrade e amigo Cláudio Rogério Trindade, Na vida poetrix, e ainda a participação no lançamento na Bienal Internacional do Livro em São Paulo, quando pude conhecer alguns dos integrantes da Confraria Ciranda Poetrix, estreitando nossos laços poéticos e de amizade, não mais virtual. O ano de 2022 foi de ouro para mim no “universo poetrix”.

Desde que comecei a produção de poetrix me viciei; não há um dia em que eu não escreva, mesmo fora das propostas da Confraria Ciranda Poetrix. Assim declarei na apresentação do meu livro Pílulas poéticas:

O Poetrix me cativou desde o primeiro momento em que me deparei com a Bula, no Recanto das Letras. Comecei a escrevê-lo seguindo as orientações dadas por seu criador, Goulart Gomes, que o expôs a público em 1999. Foram-se 20 anos até chegar a mim essa preciosidade da literatura contemporânea, mas essa espera me encontrou com mais proficiência literária, e mais disposta a me aventurar nos poemas minimalistas, pois, os poemas que escrevi até o momento, raramente, são curtos.

Por si só o Poetrix já desperta curiosidade. Um flash de emoções à flor da pele que se condensa em poucas palavras, numa amplidão de sentidos que exigem atenta observação e sensibilidade do leitor, sua conexão com dois universos: o interior e o exterior. Ele tem de se deixar emergir nas palavras do poetrixta para que o elo que entrelaça a conectividade entre um e outro possa ser ativado, permitindo a leitura além do que está escrito em versos.

Ser poetrixta é um exercício de reflexão sobre a linguagem poética e sobre todas as suas possibilidades de representação, é adentrar na magia do poema e extrair dele mais do que beleza, é extrair aquela emoção em que faltaram palavras para descrever, é aparar arestas, modificar versos, encontrar a figuração certa, ou apenas deixar fluir sentimentos e alinhá-los ao que preconizam as regras para compor um bom poetrix. "Poetrixzar" é extenuar-se no labor poético até encontrar a sintonia entre o sentir e o dizer.

Não se engane quem pensa que compor Poetrix é tarefa comum, labor de qualquer pessoa com um pouco de criatividade e conhecimento literário. Não é, não! Compor Poetrix é um exercício mental dos mais árduos, uma vez que esse gênero exige que se diga muito com poucas palavras.

A inscrição para concorrer a uma cadeira na AIP foi um momento de apreensão e de perspectivas. Em meio a tantos compromissos pessoais e profissionais questionei-me se teria tempo de cumprir com a responsabilidade que a função de acadêmica exige, e lembrei-me de uma frase de Roberto Shinyashiki “quem quer fazer alguma coisa encontra um meio... quem não quer encontra uma desculpa”.

E aqui estou, em 09 de dezembro de 2023, data que será inesquecível, quase sem palavras para expressar meu contentamento, nesta cerimônia oficial de posse como acadêmica da Academia Internacional de Poetrix, para dispor de meu conhecimento literário, de minha inspiração poética e de minha dedicação como poetrixta. É grande honra fazer parte de uma instituição das mais profícuas na literatura contemporânea, com cada vez mais poetas aderindo à produção de poetrix e almejando “um lugar ao sol” sob o brilho que o poetrix irradia!



5 comentários:

Pedro Cardoso disse...

... E viva a poesia!!!

Valeria Pisauro disse...

Parabéns, querida! Realmente, o Poetrix vicia!

Boveto Sandra disse...

Bom conhecer mais sobre nossos companheiros poetrixtas! Parabéns, Cleusa, pela biografia, pelo discurso e pela conquista!

Andréa Abdala disse...

Uma honra estar com você aqui!

Marilda Confortin disse...

Bem vinda, Cleusa! 😘