28 de nov. de 2021

Discurso de posse de Ronaldo Ribeiro Jacobina - cadeira 25


Caro Goulart Gomes. Com o criador do Poetrix, saúdo todos os outros Confrades da Academia Internacional Poetrix.

Cara Marilda Confortin. Com a Presidente, saúdo todas as outras Confreiras da AIP.

Saúdo também a todas Pessoas que nos assistem ou assistirão. Boa Noite!

É uma honra ocupar a cadeira de número 25 da Academia Internacional Poetrix, que terá como Patrono, o Médico, Professor, Escritor e Poeta Afrânio Peixoto. Vamos relembrar aqui um pouco da história do nosso patrono:

Júlio Afrânio Peixoto nasceu em Lençóis, Bahia, em 17 de dezembro de 1876. Filho de Virgínia de Morais Peixoto e Francisco Afrânio Peixoto, foi criado no interior da Bahia, cujos cenários vão constituir a cena de muitos dos seus romances, mas sua formação intelectual se fez em Salvador.

Formou-se pela Faculdade de Medicina e de Farmácia da Bahia, em 1897, tendo sido aluno laureado. Sua tese inaugural, Epilepsia e crime, despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.

Afrânio Peixoto tem um protagonismo ainda estudante de medicina. Em 1896, o jovem Professor Juliano Moreira se matriculou para o concurso de Lente Substituto de Clínica Psiquiátrica e Doenças Nervosas. Além de Moreira, havia mais dois candidatos. Dos cinco membros da banca examinadora, designados pela Congregação, corria pelos corredores da Faculdade a notícia que um dos candidatos contava com a simpatia de três professores, conhecidos pelas suas posições escravistas.

Naquele momento, destacou-se a força coletiva dos Acadêmicos de Medicina, pois eles decidiram zelar pela lisura do concurso, que era público. Os acadêmicos, sobretudo os sextanistas, sob a liderança de Afrânio Peixoto, acompanharam de perto os exames: prova oral, prova escrita com leitura pública, prova prática e defesa de tese. Com três tipos de verificação por 5 examinadores, o prof. Juliano Moreira obteve a média máxima (10).

Formado, Afrânio Peixoto iniciou sua carreira docente como Preparador de Medicina Legal na Fameb. Logo depois, com seu mestre e agora colega, Moreira, se transferiram, em novembro de 1902, para o Rio de Janeiro. Seu primeiro vínculo na capital federal foi como Inspetor de Saúde Pública (1902). Em 1903, no novo governo, o amigo e político baiano José Joaquim Seabra, Ministro da Justiça e Negócios Interiores, aceitou sua indicação e convidou Juliano Moreira para a Assistência Psiquiátrica do país. Este, por sua vez, convidou Peixoto para um cargo dirigente no Hospital Nacional de Alienados.

Entre 1904 e 1906, realizou viagens por vários países da Europa, sobretudo na França, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos, aliando também a curiosidade de arte e turismo.

Em 1906, após concurso na capital federal, foi nomeado Professor de Medicina Legal e Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907). Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem examinou o corpo do escritor assassinado e assinou o laudo.

Como não fazemos uma história celebratória cabe aqui um registro sobre sua ferrenha campanha na Academia Nacional de Medicina contra a indicação de Carlos Chagas, pesquisador responsável pela descoberta do agente etiológico Trypanosoma cruzi, dos vetores e de formas clínicas da “Doença de Chagas”, para Prêmio Nobel de Medicina de 1921.

Alguns chegam a responsabilizá-lo por Carlos Chagas não ter obtido o prêmio, ante as divergências entre cientistas no próprio país do indicado (MAIO, 1994), mas deve-se ter cautela, pois foram 44 indicados e nenhum premiado. Enquanto Pirajá da Silva e Hilário de Gouveia indicaram Chagas, outro brasileiro, C.S. de Magalhães, do Rio de Janeiro, indicou Patrick Manson.

Bem Afrânio Peixoto foi também um educador e político. Na carreira política, foi Deputado federal pela Bahia (1924-1930). No magistério, foi o primeiro Reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935. Criou a Inspeção médico-escolar; entre suas obras pedagógicas destaca-se a “Educação da Mulher”, de 1936.

Cabe agora, destacar o Afrânio Peixoto escritor. Ainda na Bahia, sua obra de estreia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo, com as publicações de Lufada sinistra (em coautoria com Juliano Moreira) e de Rosa mística, ambas em 1900. Esta última obra é um curioso e original drama em cinco atos, levado pelo amigo Juliano Moreira para ser luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato. O próprio autor renegou essa obra, anotando no exemplar existente na Biblioteca da Academia: “Incorrigível. Só o fogo."

Já no Rio, em 1902, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela literatura, após as duas publicações referidas acima.

Nesse período sua obra médico-legal se avolumou. A retomada à literatura se deu de modo curioso: ele foi levado a voltar à literatura, em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia, em 7 de maio de 1910, para a Cadeira n. 7, na sucessão de Euclides da Cunha. Relembrar que ele foi o legista que examinou e assinou do laudo do grande escritor de Os Sertões.

Ele estava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior. Lá, começou a escrever o romance A esfinge, o que fez em três meses. Depois, destacam-se a trilogia de romances regionalistas: Maria Bonita (1914), Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922), que foi duramente criticada pelos modernistas. De todo modo, estas obras trazem importante análise psicológica das personagens femininas.

Em suas obras, também foi destaque as biografias, como o ensaio Castro Alves, o poeta e o poema (1922); e, entre os livros de crônicas, o Breviário da Bahia (1946), escrito com amor para celebrar sua terra natal.

Agora o poeta Afrânio Peixoto. Ele tem um grande protagonismo: ele foi o introdutor no Brasil do Haicai, o curto poema japonês, feito em terceto. Permitam-me recitar alguns:

[Pétala caída]: Pétala caída /Que torna de novo ao ramo:/Uma borboleta!

Arte de Resumir: O ipê florido,/Perdendo todas as folhas,/Fez-se uma flor só.

Perfume Silvestre: As coisas humildes / Têm seu encanto discreto: / O capim melado...

Herança: Ele pó, modesto, / Ela neve, pura: deram / Um pouco de lama.

(Afrânio PEIXOTO. Miçangas: poesia e folclore. São Paulo: Ed. Nacional, 1931)

Em conclusão desta breve biografia, cito o texto oficial da Academia Brasileira de Letras, que diz ser Afrânio Peixoto “[...] dotado de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um primoroso conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora”. “Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto”.

Enfim, Afrânio Peixoto procurou resumir em sua biografia e o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que publicou em dois versos: "Estudou e escreveu, / Nada mais lhe aconteceu."

Júlio Afrânio Peixoto se encantou no Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1947. Em Vitória da Conquista, BA, foi criado, em 1966, o Hospital Psiquiátrico Afrânio Peixoto. É nome de rua em Salvador, em Fortaleza, em Osasco e outras cidades. Foi membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira n. 7), é o Patrono da Cadeira n. 29 da Academia de Medicina da Bahia. E como mais uma prova de que está encantado em nossa memória, ele agora é patrono da Cadeira n. 25 da Academia Internacional Poetrix.

Após o Patrono da cadeira n. 25, cabe agora alguns dados biográficos do seu primeiro Membro Titular.

Grafo meu nome para a Poesia completo e em minúsculas: ronaldo ribeiro jacobina. Nasci em Santo Antônio de Jesus, uma cidade dinâmica no recôncavo baiano, em 15 de março de 1954. Estudei do curso primário ao doutorado em instituições públicas (escolas, colégios, universidades).

Médico, atuei em Psiquiatria e Medicina social/Saúde pública; como docente, fui de Professor Auxiliar a Professor Titular em Medicina Preventiva e Social. Tenho Mestrado em Saúde Comunitária pela Faculdade de Medicina da Bahia, escola mater da medicina brasileira, e Doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública-ENSP, Fiocruz, RJ. Na minha produção científica, tenho mais de quatro dezenas de artigos publicados e quase quatrocentas apresentações em eventos científicos e culturais. Destaco os livros “Conversando sobre drogas”, junto com o amigo Antônio Nery Filho; “Faculdade de Medicina: mais de 200 anos de pioneirismo”, em coautoria com mais 54 estudantes, celebrando o bicentenário da FMB; e mais recentemente, “Juliano Moreira, um intelectual de múltiplos talentos” (2019).

No Ensino, fui paraninfo e professor homenageado por uma dezena de turmas de formandos, ensinando num campo de saber contra hegemônico, buscando construir uma consciência crítica, social e ética do futuro médico, e a valorização também das medidas de promoção da saúde e prevenção das doenças e outros agravos. Na Pesquisa, recebi prêmio com trabalho em Psiquiatria (1980), o Prêmio Jornalista Sérgio Cardozo, da Fundação Santo Amaro – NICSA/Secretaria da Educação e Cultura do Estado, com o trabalho “Dom Quixote de Berimbau”; e mais recentemente o Prêmio Jesuíno Neto do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins, com o trabalho “Presença Negra na Fameb”. Na Extensão, em 1994, recebi o maior prêmio da Universidade Federal da Bahia, com o Programa “Rádio Saúde” na Rádio Excelsior da Bahia, com mais de 100 mil ouvintes. E no Programa de Atividade Curricular em Comunidade, o Projeto de Educação em Saúde na Região de Subaúma, que durou de 2001 a 2016, e obteve dois prêmios nacionais. Há um livro no prelo analisando esta incrível experiência com mais de 400 estudantes de 33 cursos universitários.

Na Cultura, em ficção tenho trabalhos em prosa (contos, crônicas, memória e teatro) e sobretudo em poesia. De “Poemas Piche”, em 1980, ao “O Poeta e o Lógico”, em 2019; tem os livros infantis “Cantigas de ninar A & B, até Z é com Você”, “Cantigas para ninar Cecília & Poemas para Acordar Gente grande” e o recente “Frida, Paçoca e o Poeta” (2021), que será lançado em 12 de dezembro próximo, com tercetos, na maioria poetrix.

No livro eletrônico tenho em poetrix “Ciranda em 3” e “Cirandinha em 3” e “Macaquinho de Marfim”, com os poemas premiados e/ou publicados em coletâneas. Nele, estão alguns dos principais Poetrix premiados: Nu Divã, 1º lugar no IV Concurso Internacional Poetrix, em 2004; New Orleans, 4° Lugar no V Concurso Internacional de Poetrix, em 2007; Pena Capital, em 6° lugar no VII Concurso Internacional de Poetrix, em 2009.

Entre os premiados na Confraria Ciranda Poetrix, destaco: Heroicas, 1º lugar, em 2019, com a temática “Utopias e Ucronias; Desafio, 1º lugar, de 2020, com a temática “Desconhecido”; e Receita contra o Tédio 1º lugar, em junho de 2021, com a temática “Cotidiano”.

A convivência com a comunidade do Poetrix tem sido constante. Participei da Antologia Poetrix 4 – Terra (São Paulo, 2010), o livro 501 Poetrix para ler antes do amanhecer (Lauro de Freitas-BA, 2011); a Antologia Poetrix – Edição definitiva (São Paulo, MIP, 2012); a Antologia Poetrix 5 (São Paulo, 2017); bem como na III Mostra Poetrix: Quatro estações poéticas (Campo Grande-MS, mar. 2021); e na IV Mostra Poetrix: Água, Terra, Fogo e Ar (Campo Grande-MS, set. 2021), organizadas por Diana Pilatti e José de Castro; e também na primeira Coletânea Ciranda Poetrix (Natal, 2020) e agora na II Coletânea Ciranda: Poetrix: 22 anos de arte poética, organizadas pelo Confrade Lorenzo Ferrari. Por fim, estou na Antologia Poetrix 7 – R[e]XISTIR, organizadas por Goulart Gomes e Aila Magalhães.

Participo do grupo “Confraria Ciranda Poetrix” (zap), desde 2018 e do grupo R(E)XISTIR (zap). Registro aqui que tive a iniciativa, provocado pela solidariedade a um artista atacado pelo obscurantismo cultural que vivemos e inspirado no haicai no renga, o haicai coletivo, criei o Compartrix, o Poetrix coletivo, que deve ter de preferência múltiplos de três, como 21, na originária Ciranda com Aroeira, de 25 de junho de 2020, iniciado pelo coordenador, com uma temática específica poetizada pelos participantes. Em 6 de novembro último, fizemos um pequeno compartrix (Elegia à Cantora da Sofrência, com dois confrades e três confreiras da AIP).

Agradecer: ficar ao Outro vinculado,

Gratidão profunda, sem igual.

Só em português: Obrigado!


MUITO OBRIGADO!

Terceto 3 do Poema da Gratidão


Ronaldo Ribeiro Jacobina
27 de novembro de 2021

3 comentários:

Dirce Carneiro disse...

Parabéns poeta. Grande trajetória. Abraços.

Lílian Maial disse...

Excelente discurso, querido! Amei conhecer mais da vida do Afrânio e Juliano Moreira, além da sua trajetória também. Parabéns e bem-vindo!
Abração!

Regina Lyra disse...

Muito bom!