25 de dez. de 2025

Discurso de Posse de Rita Queiroz - cadeira 3

 Prezada Presidente Valéria Pisauro, Prezada Diretoria, Prezados integrantes e fundadores da Academia Internacional Poetrix, Prezada Comissão eleitoral, minhas sinceras saudações!

Saúdo também o poeta Goulart Gomes, a quem reverencio pela criação, pela divulgação e pela projeção do poetrix. Seu trabalho é incansável em prol desses objetivos, sendo também o motivo pelo qual nos reunimos nesta arcádia.

Meus agradecimentos às acadêmicas e aos acadêmicos que votaram em mim, validando meu trabalho como poeta. Meu muito obrigada!

É uma grande honra tornar-me membro da Academia Internacional Poetrix, juntamente com renomados poetas, pelos quais sinto grande admiração e respeito! Assim, comprometo-me a zelar e a servir aos propósitos desta arcádia, no sentido de elevar a cultura, a literatura e todas as ações que sejam encampadas para esse fim.

Saúdo e agradeço, especialmente, a acadêmica Luciene Avanzini, minha madrinha poetrixta, por todo incentivo que vem me dando desde 2019, ano em que nos conhecemos em Natal durante a realização do III Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Foi ela quem me convidou para a oficina de poetrix, ministrada pela renomada Aila Magalhães, e para a Ciranda Poetrix, da qual faço parte desde então. Assim conheci oficialmente o poetrix e me apaixonei por esse texto minimalista.

Sou soteropolitana! Vim ao mundo aos 22 dias do mês de agosto, às 21h10min, ao som das águas da Baía de todos os Santos e sob as cores mágicas que fazem dessa data o dia do Folclore. Em Salvador, vivenciei algumas fases de minha vida, sempre tendo o Oceano Atlântico como horizonte, para onde mirava e sonhava com outros mundos, outros povos, outras culturas. O mar sempre me encantou, sendo banhada por ele desde bebezinha. Trago uma imagem muito forte da baía, quando visitei pela primeira vez o Museu Solar do Unhão. As luzes douradas refletidas nas águas diziam para mim que as dores sempre se esvaem na poesia, essa libertária manifestação artística que tudo transforma.

Seguindo meu destino ligado à palavra, cursei Letras Vernáculas na Universidade Federal da Bahia, onde também me tornei Mestre em Letras. Apaixonada por escritas antigas, dediquei-me ao estudo de manuscritos, sejam estes antigos ou contemporâneos. No Mestrado, estudei os sonetos do poeta baiano Arthur de Salles, falecido em 1952. No Doutorado, cursado na Universidade de São Paulo, debrucei-me sobre os manuscritos medievais do texto Castelo Perigoso, traduzido do francês para o português no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, o qual é composto por sete tratados que falam sobre como nos proteger dos perigos mundanos. Prosseguindo com a pós-graduação, fiz Pós-doutorado em Estudo de Linguagens na Universidade do Estado da Bahia, estudando o vocabulário de Jorge Amado na obra Tereza Batista cansada de guerra. Com toda essa ligação com o mundo das letras, fui professora universitária durante 30 anos, tendo lecionado a disciplina Filologia Românica na Universidade do Estado da Bahia e na Universidade Estadual de Feira de Santana.

Durante 25 anos dediquei-me com afinco à carreira acadêmica, sendo professora com dedicação exclusiva, produzindo diversos artigos, capítulos de livro, livros; orientado alunos e alunas de iniciação científica, de tcc, de mestrado e de doutorado, além de ter uma supervisão de pós-doutorado. A partir de 2015, aliando as carreiras acadêmica e literária, criei o coletivo Confraria Poética Feminina, o qual reúne escritoras baianas e que conta com 9 coletâneas, 2 agendas literárias e 1 CD. Com a Confraria Poética Feminina alavanquei a minha carreira solo, com 22 livros publicados: 10 de poemas, 3 de contos, 1 biográfico e 8 infantojuvenis. Participei de mais de 200 coletâneas/antologias, sejam estas nacionais ou internacionais. Dentre os livros de poemas, 1 é exclusivo de poetrix, Silêncios submersos (premiado em 2º lugar no Prêmio Ecos da Literatura 2024 na categoria livro de poesia), e 1 com poetrix, haicais e aldravias, Mínima poesia (premiado em 2º lugar pela Academia Internacional Poetrix na categoria livro que contenha poetrix).

Esta noite é memorável, como outras que já vivi e que ainda viverei. Neste 12 de dezembro de 2025, torno-me oficialmente membro da Academia Internacional Poetrix, ocupando a cadeira de número 3, tendo como patrona a escritora Olga Savary e como fundadora a Ana Mello.

Biografia de Rita Queiroz

 



RITA QUEIROZ, nascida Rita de Cassia Ribeiro de Queiroz, em Salvador, Bahia, Brasil, aos 22 dias do mês de agosto de 1963, sexo feminino. Filha de Edvaldo Ribeiro de Queiroz e Raulina Ribeiro de Queiroz. Tem pós-doutorado em Estudo de Linguagens (UNEB-2017), doutorado em Filologia e Língua Portuguesa (USP-2002), mestrado e graduação em Letras (UFBA-1995, 1989). Professora universitária aposentada. Filóloga. Poeta. Escritora. Como pesquisadora e professora universitária, conta com 96 artigos, 14 livros, 50 capítulos de livros publicados e 18 homenagens feitas por aluno(a)s: paraninfa, patronesse, amiga da turma, professora homenageada.

Poetrix de Rita Queiroz

NATAL DE LUZ

Foguetes riscam os céus
Fronteiras duelam sem trégua
Órfãos estendem a mão


NOITE FELIZ I

Choram os sinos
Barrigas roncam
Sapatinho espera na janela


NOITE FELIZ II

Brotam pés de sonhos
Esperanças renovadas
Não há luz na favela


Rita Queiroz

Poetrix e Grafitrix de Margarida Montejano

E ERA ASSIM

Expectativas de Dezembro
Pés de meias descalços
Sonhos desembrulhados

2026

Rio desagua mar adentro
Dentro de mim, maremoto
Ano novo respira esperança!





Margarida Montejano

Discurso de Posse de Margarida Montejano - cadeira 29

 Boa noite, Poetas, Poetrixtas, Confrades, Confreiras, Amigos e Amigas!

É um prazer imenso em estar com vocês nesta noite de festa e de inauguração de um novo tempo literário para mim e para outros quatro poetas: Rita, Ximo, Carmem e Soroka! Sinto-me feliz em estrear ao lado de pessoas tão potentes na arte da escrita!

Apresento-me a todas e a todos com emoção, alegria e, ao mesmo tempo, ansiosa com a responsabilidade que nos pesa em relação à AIP. Mas desafios são tentadores!

Eu sou Margarida Montejano, uma catadora de sentidos e palavras! Feminista e atenta ao cotidiano, reflito e escrevo, sobre a história das mulheres ao longo dos séculos e busco traçar um paralelo entre passado e presente no sentido de entender as metáforas, enigmas e senhas que nossas ancestrais nos deixaram. Escrevo desde a adolescência, mas foi na pandemia que minha escrita ganhou corpo. Sou autora do livro de contos,“Fio de Prata”; do livro de poemas e fotos “Chão Ancestral”; e dos livros infantojuvenis “A Poeta e a Flor” e “A Poeta e a Sabiá”, todos de engajamento feminino. E tenho, no prelo, o livro de contos, “O Silêncio da Loba”, a ser lançado no início de 2026.

Escrevo para a revista literária Voo Livre e para o blog Feminário Conexões. Participo de vários grupos, dentre eles: Selo Poetrix e Confraria Ciranda Poetrix, além de diversas coletâneas e dos principais eventos literários que ocorrem no Brasil.

Sou doutora em Educação e atuo como funcionária pública em Campinas. Moro em Paulínia/SP.

Sobre a origem da minha escrita

Penso que minha memória poética tem origem noutras vidas e, desde muito cedo, meu olhar busca encontrar uma pista. As situações do cotidiano clamam por serem escritas. Exemplo disso é quando vejo a vida ameaçada. Para mim, a escrita é um convite para que não desistamos de entender a realidade a fim de que possamos modificá-la e melhorá-la.

E é dessa forma que a escrita de memória dos corpos, mentes e vivências femininas me acham e me habitam. Escrevo movida pela indignação do que hoje, em pleno século XXI, vivemos. O massacre cotidiano à vida de mulheres não pode ser banalizado e normalizado e, para mim, a escrita é espaço e instrumento de denúncia.

Sobre o Poetrix e eu...


Como poeta, contista e, há aproximadamente três anos, escritora de Poetrix, assumo minha admiração por esta modalidade literária brasileira, de gênero poético, criada por Goulart Gomes.

O que me levou a concorrer a uma vaga nesta Academia tem a ver com o que o Poetrix fez comigo. De uma prática de poemas e textos longos para dizer algo simples, o Poetrix mostrou-me que eu sou capaz de ser sintética, objetiva, leve, audaciosa e artística na produção de textos literários. Que suas regras, ao mesmo tempo que limitam o tempo e o espaço, dão ao poeta a liberdade de dizer, fluir e voar. Sua singularidade me ensina que é possível surpreender, impactar e encantar em três versos.

Aprendi a gostar de Poetrix a partir do desafio de uma artesã das palavras, a querida poeta e escritora, Valéria Pisauro, e passei a produzir meus versos mínimos. Hoje, ouso me construir nessa arte que sempre me seduz. Obrigada, Valéria por me apresentar o Poetrix e por me desafiar à leveza! Valeu! Grata também aos amigos Poetrixtas que me ensinam, estimulam e comigo caminham!

Finalmente, sob a bênção da minha Patrona...

Aldrava me auxilia a bater à porta!

Peço licença à patrona da cadeira 29, a poeta MARDILÊ FRIEDRICH FABRE, para aqui tomar assento e sentir sua energia pulsante em versos. Peço vênia para realçar a presença dela nesta noite e dizer de sua imortalidade, pois sei que está conosco, no vento e no eco das palavras, quando fazemos poesia. E, por falar nisso, ao ler e estudar a poesia de Mardilê, deparei-me com o seu significativo Poetrix “VELA”, que assim diz: “Vela violácea, vermelha / viceja vencendo o vácuo, / vagarosamente vela a vida.” Sim, poesia que vela e que se faz possibilidade de voo, colo, abraço e esperança.

E é assim, minhas confreiras e meus confrades, que recebo o carinho de Mardilê noutro Poetrix intitulado “ACALENTO”, que me abraça, abençoa e acolhe, preparando-me para esta conceituada Academia: “Afetuoso abraço,/ abençoado abrigo,/ agradável acolhida.”

Como rastros ancestrais de seu legado, Mardilê, hoje agradeço à Academia Internacional Poetrix a oportunidade de conhecê-la por meio da escrita e apresentá-la como minha Patrona neste importante espaço de literatura. Que eu possa fazer jus a ela!

Mardilê Friedrich Fabre nasceu em Cachoeira do Sul (RS), em 1938, e faleceu em outubro de 2018. Detentora de um vasto currículo e de experiências múltiplas nas áreas de educação e literatura, Mardilê, licenciada em Letras Neolatinas, viveu uma carreira literária profícua, marcada por reconhecimentos nacional e internacional. Ela foi laureada com diversas distinções, incluindo prêmios da Academia de Letras e Artes de Fortaleza, da Sociedade Cultural da Ilha da Madeira e da Abrasa (Viena, Áustria).

Dona de uma sensibilidade ímpar, sua escrita versátil abrange vários gêneros literários. Publicou livros de poemas e ensaios, além de uma produção vasta de crônicas, contos, poemas livres e formas minimalistas como o Haicai, o Tanka, a Aldravia e o Poetrix.

Como forma de respeito, relembro trechos de uma descrição da própria autora sobre si:

“Sou um indivíduo com qualidades e defeitos que aprendeu, no decorrer da vida, a respeitar e amar os outros indivíduos com suas qualidades e seus defeitos. Faço trabalhos voluntários, sou revisora de textos, amo ler, ir ao cinema, ao teatro, a museus, a espetáculos de dança (qualquer tipo), ouvir de avião e de elevador... Sou fiel aos amigos e aos amores... Como todo o mundo, gosto de ser incentivada. Gosto de jogar conversa fora com os amigos... Gosto de passear à beira mar, à tardinha… Sou capricorniana, legítima representante do signo: tenaz, teimosa, persistente, amante das artes e por aí vai... os capricornianos sabem... e os que convivem com eles também. Sou tanto e não sou nada. Quem sou?

E, como ela diz, Sou a ave que voa no sonho/ Sou o vento que canta risonho/ Sou o riacho que renova a alegria/ Sou o sol que nasce cada dia/ Sou a lua que prateia as flores ... Por aí vai se misturando à natureza, à alegria, ao afeto e à simplicidade da vida...

Que a poética de Mardilê me inspire e nos inspire a continuar pela literatura, abrindo caminhos, denunciando injustiças e anunciando esperanças, porque, como ela escreve numa potente aldravia, “submergem em versos nossos sonhos iguais”. E assim, que num sonho coletivo, possamos, por meio da Academia Internacional Poetrix, fazer, da poesia de ontem e de hoje, um caminho em direção a um futuro de êxito.

Sob a bênção de nossas e nossos Poetas imortais, um forte abraço a todos e a todas!

Muito obrigada.

Biografia de Margarida Montejano


 Margarida Montejano é uma catadora de sentidos e palavras! Tudo em minha vida vira prosa e poesia. Seja para anunciar ou denunciar. Autora dos livros: FIO DE PRATA, CHÃO ANCESTRAL, A POETA E A FLOR, A POETA E A SABIÁ, cujos conteúdos versam sobre o protagonismo da mulher num mundo marcado historicamente pelo poder do capital e pelos interesses do patriarcado. Graduada em Pedagogia, pelo Instituto Maria Imaculada (Mogi Mirim/SP), mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP, e doutora em Educação, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Exerci, no período de 2001 a 2009, os ofícios de Professora de Ensino Superior e Coordenadora do Curso de Pedagogia, no Centro Universitário de Espírito Santo do Pinhal/SP. Atualmente sou servidora pública na Secretaria Municipal de Educação de Campinas/SP, desde 2009. Dentre minhas atribuições como Supervisora Educacional, no ano de 2023, pós pandemia, passei a coordenar os Projetos “CONSTRUINDO CIDADANIA E BEM-ME-QUERO: EMPODERAMENTO FEMININO, DESDE A INFÂNCIA”. Esses projetos envolvem estudantes, educadores e servidores de um modo geral e, dentre as ações desenvolvidas estão: rodas de conversa sobre a valorização da mulher na história e a reflexão visando compreender a fim de poder desconstruir os sentidos dos construtos: misoginia, sexismo, machismo, feminismo, à luz dos direitos sociais da mulher. As ações envolvendo a Prevenção à Gravidez na Adolescência; Dignidade Menstrual e Prevenção ao HPV e câncer de colo de útero e de mama são desenvolvidas com estudantes, educadores e funcionários da escola pública.

Considerando que educação e consciência se constroem para além da teoria e da prática, no decorrer dos três últimos anos, atuei e atuo na promoção de diversos eventos socioculturais:


2023 –

"A literatura feminina como instrumento de libertação” - participação das escritoras Tânia Alves, Marta Cortezão e Margarida Montejano;
“Ledores do Breu” - teatro apresentado pelo Grupo Teatral Cia. do Tijolo;
“A Nova ordem bruxólica” – espetáculo teatral e Roda de Conversa com a Cia. Coletivo Aluará.

2024 -

“Intensas” - show musical apresentado na abertura do Seminário do Projeto de empoderamento feminino e enfrentamento do machismo/feminicídio, tendo como público-alvo as equipes educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Campinas.
“A Quatro Vozes” – show musical e manifestação Cultural pela igualdade de gênero.
“Conhecer a história é preciso: prevenção à violência de gênero e ao racismo” - seminário.

2025 –

“A Luta contra a Misoginia: construindo a prática do diálogo” – palestra com a filósofa e escritora, Márcia Tiburi.
“Escola de Mulheres - uma sátira ao patriarcado” - espetáculo teatral apresentado pelo Grupo Lunar de Teatro;
Participação ativa como membra titular nos coletivos: CMDM - Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Campineira e no Comite de Campinas da Rede de Cuidados e Proteção Social da Criança e Adolescente, vítima de violência.
Colunista da Revista Voo Livre, LEITURA ORGÂNICA, desde o mês de maio de 2024, até o presente.

LIVROS PUBLICADOS:

Discurso de Ximo Dolz - cadeira 30

Ximo Dolz (Joaquim Dolz)

Senhora Presidente Valéria Pisauro, Senhoras e senhores Acadêmicos, queridas e queridos poetas, amigas e amigos das plataformas Poetrix.

Sou Joaquim Dolz, mas assino apenas Ximo, nome pequeno que guarda minha infância e, talvez, o modo mais verdadeiro de entrar no território sensível do Poetrix. Ter sido eleito para integrar a Academia Internacional Poetrix, AIP, é, para mim, mais do que uma distinção: é um espanto luminoso, um susto doce no terceiro verso da vida.

Não sou nativo da língua portuguesa, não herdei linhagens literárias nem pertenço ao berço cultural que hoje tanto admiro. Chego como estrangeiro, aprendiz e viajante. E, justamente por isso, sinto ainda mais profundo o significado deste gesto de acolhimento. Aceito-o com humildade, com gratidão e com a alegria serena de quem encontra, em terra distante, um lar tecido de palavras.

O Poetrix chegou até mim quase como uma epifania. Acompanhava minha pós-doutoranda, Paula Cobucci, na investigação das potências desse gênero criado por Goulart Gomes, quando percebi que não era eu quem estudava a forma: era ela quem me estudava, me transformava, me convocava. Foi Paula Cobucci quem postou um vídeo no Grupo Selo Poetrix, no qual eu, entusiasmado, comentava o Poetrix a uma professora da Universidade de Genebra.

A poetrix Dirce Carneiro, membro do grupo, sugeriu o convite para que eu integrasse a plataforma Selo Poetrix. Fui aceito e recebi dela as primeiras mentorias, com generosidade e rigor.

Vocês me confiaram a Cadeira 30, cifra simbólica onde o Poetrix encontra seu limite de sílabas. É nessa morada que se celebra um patrono plurilíngue, japonês e português, que fez da língua uma ponte e uma travessia: Hidekazu Masuda Goga, mestre do haikai, autor de obras fundadoras cujo legado faz a natureza respirar em cada sílaba. Quero destacar o percurso poético desse jovem emigrante japonês de dezoito anos que chegou ao Brasil trazendo na bagagem pouco mais que a memória dos tempos de Hiroshima e o sopro espiritual do haikai.

Desde cedo, Goga transformou o desarraigo em raiz: fez do Brasil sua paisagem interior e, com olhar atento de artesão, colheu no cotidiano brasileiro, nos bambus e nos capinzais, nas águas mansas e nos temporais, a matéria sensível de seus versos. Foi ele quem abriu caminhos entre o haikai clássico e a sensibilidade tropical, sem perder a precisão do instante, a epifania do mínimo, o silêncio luminoso inscrito entre as palavras. Ao longo de décadas, formou discípulos, publicou livros essenciais e consolidou uma escola em que tradição e invenção não se opõem: respiram juntas.

Goga é um haigô, o nome literário com que selava seus haikais. Tenho especial apreço por meu novo patrono: “Goga” significa Rio Ganges. Segundo o próprio mestre, o Ganges é simultaneamente o rio mais impuro e o mais sagrado da Índia, metáfora das contradições que habitam a condição humana e também da minha própria tentativa poética de caminhar, livre, pelas sendas do Poetrix. No seu exemplo encontro humildade, rigor e a serenidade daquele que sabe que um único verso, se verdadeiro, pode iluminar uma vida inteira.

Assumir esta cadeira é assumir, igualmente, esse paradoxo fecundo: a poesia que nasce do mínimo, mas toca o essencial; o verso breve que abre janelas largas; o silêncio que, de súbito, se transforma em revelação. No Poetrix, descobri que a palavra pode ser leve sem ser frágil, breve sem ser pequena, contida sem ser limitada demais, porque, no seu interior, arde sempre um mundo.

Agradeço à Academia Internacional Poetrix esta honra tão generosa.

Agradeço às comunidades Selo Poetrix e Confraria Poetrix, que me receberam com mãos abertas e espírito atento.

Agradeço às poetas e aos poetas que me viram chegar estrangeiro e, antes de me conhecerem, já me reconheciam.

Permitam-me, com reverência e alegria, partilhar o que aprendi nesse caminho. Ofereço-vos meu Decálogo do Poetrix, não como norma, mas como homenagem:

1. A brevidade não é ausência: é presença intensificada, palavra que abre fendas de sentido.

2. Três versos podem conter uma vida inteira. Por isso, para mim, o Poetrix é escrita terapêutica.

3. A imagem que acompanha o poema e as metáforas (o imaxtrix, o retratrix) são sua respiração visual, sua segunda voz.

4. A música e o silêncio também escrevem; e, no Poetrix, são mestres da reflexão.

5. A concisão é irmã da coragem: dizer o essencial é arriscar-se.

6. O Poetrix deve surpreender até o próprio autor. Busco sempre o susto do último verso.

7. A poesia mínima exige entrega máxima: pesquisa, trabalho e lirismo.

8. A simplicidade é conquista, não atalho.

9. A liberdade é o eixo invisível do rigor.

10. E, sobretudo: o Poetrix é ponte entre pessoas, línguas, culturas e afetos.

É por isso que este gênero me é tão caro: nele, a palavra reencontra sua pureza original e a poesia seu gesto mais essencial.

Como professor e pesquisador, vejo no Poetrix um horizonte vasto para o ensino de línguas em plural. O poema breve convoca o aprendiz a experimentar: a tatear a forma, a escutar a música das palavras, a criar sentidos com economia, precisão e, acima de tudo, com liberdade.

O Poetrix educa o olhar, afina a escuta, desperta a autoria. Permite que cada estudante, seja brasileiro, espanhol, suíço, francês ou catalão, encontre na língua uma casa possível, íntima, própria.

Comprometo-me, assim, a trabalhar em três direções fundamentais:

1. Modelizar didaticamente o gênero, respeitando seus princípios e valorizando sua dimensão estético-literária.

2. Aproximar aprendizes da língua portuguesa através de práticas de criação poética que sejam autênticas, humanizadoras e libertadoras.

3. Construir sequências e itinerários didáticos inspirados nas plataformas digitais, unindo tradição e inovação, teoria e prática, escola e mundo.

Entro nesta Academia com o espírito leve e o coração aberto.

Não chego para disputar espaços, impor regras ou reacender tensões. Chego com a convicção profunda de que a poesia floresce onde há acolhimento, respeito e escuta.

O Poetrix nasceu de um gesto de liberdade, e é essa liberdade que desejo honrar. Menos fronteiras, menos prescrição; mais pontes, mais diálogo; mais criação, mais mãos estendidas.

Recebo esta cadeira como quem recebe um barco: com respeito pelo ofício e com vontade de navegar. Que eu seja digno da linhagem que herdo. Que eu aprenda, a cada Poetrix, a respirar mais fundo, a ver com mais nitidez, a escutar o que se cala. E que meu verso, ainda estrangeiro, encontre morada na sensibilidade desta Academia.

Muito obrigado.

Biografia de Ximo Dolz

 



Ximo Dolz é o nome artístico de Joaquim Dolz, nascido em Morella (Espanha) em 12 de abril de 1957. Professor honorário de Didática das Línguas e Formação de Professores na Universidade de Genebra (Suíça), construiu uma trajetória acadêmica internacional marcada pela articulação entre pesquisa, formação docente e compromisso com a renovação do ensino de línguas.

Sua formação universitária iniciou-se na Universidade Autônoma de Barcelona, onde realizou seus primeiros estudos superiores. Concluiu o doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean-Paul Bronckart, uma das figuras centrais da didática das línguas e do interacionismo sociodiscursivo. Posteriormente, realizou pós-doutorado na Universidade Charles-de-Gaulle Lille III, na França, sob a supervisão do professor Yves Reuter, aprofundando suas investigações no campo da didática, dos gêneros textuais e da formação docente.

Ao longo de sua carreira na Universidade de Genebra, Joaquim Dolz exerceu múltiplas responsabilidades institucionais e acadêmicas. Entre elas, destacam-se a presidência da Seção de Ciências da Educação e a coordenação da formação de professores, funções nas quais contribuiu de maneira decisiva para o fortalecimento da pesquisa em didática e para a consolidação de dispositivos de formação inicial e continuada. Paralelamente, esteve envolvido em numerosos projetos de pesquisa nacionais e internacionais, voltados ao desenvolvimento teórico e metodológico da didática das línguas.

Seus trabalhos abrangem engenharia didática, com ênfase no estudo das habilidades dos aprendizes, na modelagem didática de gêneros textuais, no ensino da produção oral e escrita, bem como na análise dos objetos ensinados e da atividade dos professores de línguas. Atualmente, seu interesse concentra-se no estudo dos objetos e processos envolvidos na formação de professores, sob uma perspectiva didática, investigando como professores aprendem a ensinar e como as práticas pedagógicas se organizam em diferentes contextos educacionais.

No Brasil participou ativamente na Olímpiada da Língua Portuguesa: Escrever o futuro. E faz parte de uma rede internacional de pesquisadores onde participam vinte universidades brasileiras. Dirige o grupo Historicidade dos Textos e ensino das Línguas (HISTEL) com Aúrea Zavam e Valéria Gomes. 

Desde 2022, dedica-se ao Poetrix, nas plataformas Selo Poetrix (2022) e Confraria Poetrix (dezembro de 2024), onde publica poemas que combinam lirismo, experimentação textual e reflexão pedagógica, articulando sua prática poética com sua pesquisa sobre linguagem e ensino.

Principais Linhas de Pesquisa:

Engenharia Didática: concepção, análise e implementação de dispositivos didáticos para o ensino de línguas e outras áreas curriculares.

Habilidades e Competências do Aprendiz: estudo das capacidades cognitivas e linguísticas de alunos em diferentes níveis de escolaridade.

Modelagem Didática de Gêneros Textuais: análise de como os gêneros textuais podem ser utilizados para apoiar o desenvolvimento de competências de escrita e oralidade.

Ensino da Produção Oral e Escrita: desenvolvimento de metodologias e materiais que promovem a expressão oral e escrita de forma estruturada e significativa.

Estudo dos Objetos Ensinados: investigação sobre o conteúdo específico do ensino, incluindo gramática, vocabulário e estruturas discursivas.

Atividade Docente e Formação de Professores: análise de práticas pedagógicas e de processos formativos, com foco no desenvolvimento profissional contínuo de professores de línguas.


Publicações Selecionadas

Entre suas principais obras publicadas nos últimos anos destacam-se:

S’exprimer en français (com M. Noverraz e B. Schneuwly) – abordagem do ensino da expressão oral e escrita em francês.

Pour un enseignement de l’oral (com B. Schneuwly) – propostas para o ensino da oralidade em contexto escolar.

Curriculum, enseignement et pilotage (com F. Audigier e M. Crahay) – análise do currículo e da gestão do ensino.

Formation des enseignants et enseignement de la parole et de l’écriture (com S. Plane) – estudo das práticas e processos de formação de professores.

Pratiques de l’enseignement grammatical (com C. Simard) – reflexão sobre o ensino da gramática em diferentes níveis educacionais.

Des objets enseignants (com B. Schneuwly) – investigação sobre a natureza e o papel dos objetos de ensino na didática.

Além dessas obras, publicou uns duzentos artigos em revistas acadêmicas internacionais, capítulos de livros e materiais didáticos em francês, espanhol, catalão e português. Seus trabalhos são frequentemente citados em pesquisas sobre didática de línguas e formação de professores.

Poetrix de Ximo Dolz


NINGUÉM É DO OUTRO

matou, porque era sua
a vida não se possui
corpo é verbo livre



HOME PERDIDO

criado para reinar
elas sopram ventos
perde-se no labirinto


Ximo Dolz

Discurso de Carmem Galbes - cadeira 31

Caros membros da diretoria, prezados acadêmicos, senhoras e senhores,

É com o coração em estado de poema que me apresento.

Sou Carmem, um nome que, por muitos anos, me pareceu grande demais, forte demais para uma menina ainda sem voz ativa. Até o dia em que descobri que, em latim, Carmem significa “poesia”.

Ali, algo se alinhou em silêncio.

Como se o futuro tivesse me dado um aceno discreto e terno, dizendo: “vem, é por aqui. Você nasceu palavra.” Em um destino feito de verso e prosa, que mais tarde se consolidaria na carreira de jornalista.

Minha história com a escrita começou na adolescência, naquele território entre o corpo em sala de aula e a mente nas nuvens.

Enquanto o mundo cobrava presença, a palavra me oferecia transcendência: uma forma de narrar o inenarrável, de mostrar o monstruoso, de digerir o impalatável e, assim, seguir humana.

Na minha vida - inclusive a profissional - a palavra é ferramenta, ponte e abrigo.

Com a palavra, eu erro, aprendo, me desenvolvo, educo meu filho, me relaciono, ganho a vida e,sobretudo, ganho vida.

O Poetrix entrou na minha trajetória como uma revelação: três versos, um universo.

O número 3, símbolo da criação, sempre me fascinou: Pai, Filho e Espírito Santo; corpo, mente e alma; início, meio e eternidade.

Ao conhecer o Poetrix, em uma disciplina do curso de formação de escritores, percebi que sua força não é apenas estrutural, é espiritual.

Ele é síntese, essência e impacto.

É precisão que arde.

É intensidade que respira.

No poetrix me vi como alguém que habita profundezas, mas que ama a contenção do raio que se fecha em três linhas.

Assumir hoje a Cadeira 31 é muito mais que um reconhecimento literário.

É uma espécie de reencontro.

É como se a menina que temia seu próprio nome finalmente coubesse, com serenidade, dentro da palavra que sempre a abrigou: poesia.

Aqui, diante de vocês, falo da honra e da responsabilidade de ter como patrona alguém que sempre admirei, e que, nos últimos meses, tornou-se presença íntima na minha trajetória: Hilda Hilst.

Foi caminhando pela Casa do Sol, sentindo o cheiro da madeira antiga, a vibração dos manuscritos, a força das paredes que testemunharam coragem, que compreendi o tamanho dessa escritora.

Hilda não apenas transgrediu a língua; ela atravessou a alma, a própria e a nossa.

Ela estava à frente do nosso tempo e, talvez, ainda esteja.

Ao andar por cômodos impregnados de sua energia, senti algo que não sei nomear, mas reconheço: não chego à Academia Internacional de Poetrix sozinha.

Há algo da mão de Hilda sobre o meu ombro.

Há algo do sopro dela na minha escrita.

Há algo do olhar inquieto dela me guiando.

É essa força que carrego comigo.

Permitam-me apresentar brevemente essa escritora que ilumina a Cadeira 31:

Hilda de Almeida Prado Hilst nasceu em Jaú, interior de São Paulo, em 1930.

Mulher de espírito jovem e vanguardista, nunca aceitou a ideia de uma existência discreta. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX, é reconhecida por sua obra inovadora e profundamente espiritual.

Autora de cerca de 40 títulos - transitando entre poesia, teatro, prosa, crônicas e textos experimentais -rompeu fronteiras com o misticismo, erotismo, filosofia e metafísica.

Recebeu diversos prêmios literários e já teve sua obra traduzida para o francês, inglês, espanhol, alemão e italiano.

Formada em Direito pela Universidade de São Paulo, abandonou a carreira jurídica para dedicar-se integralmente à literatura.

Em 1966, mudou-se para a Casa do Sol, em Campinas - local projetado e construído por ela mesma - que se tornou um reduto da intelectualidade. Lá viveu e escreveu de maneira intensa e disciplinada, criando um dos acervos literários mais originais do país.

Sua obra, inicialmente incompreendida, alcançou reconhecimento tardio e hoje é referência fundamental na literatura brasileira contemporânea.

Visionária, inquieta, corajosa, Hilda investigou o sagrado, o desejo, a existência e o silêncio como poucos.

Sua escrita permanece viva, desafiadora e urgente, uma lâmpada acesa no escuro da nossa linguagem.

Assumir a Cadeira 31 sob sua luz é aceitar um pacto: o de escrever com coragem, com verdade, com limite nenhum e, ao mesmo tempo, com a delicadeza do que cabe em três versos.

Ela mesma se desafiou na microliteratura, no genial texto intitulado Desejo:

“Quem és? — perguntei ao desejo.

Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.”

Agradeço à espiritualidade que me trouxe até aqui e, numa sincronicidade emocionante, colocou Hilda em meus caminhos.

Agradeço à minha família pelas raízes que sustentam e pelas asas que libertam.

Agradeço aos colegas poetas, em especial a Goulart Gomes, Luciene Avanzini e Lourenço Ferrari, e a esta  Academia pela confiança, pela acolhida e pela oportunidade de integrar um círculo voltado para a síntese, a beleza e a profundidade.

Prometo seguir contribuindo para que o Poetrix continue sendo o que sempre foi: um texto minimalista, jamais minúsculo.

Muito obrigada!

Biografia de Carmem Galbes




Carmem Galbes, Campinas/SP - Brasil, jornalista de formação, escritora por vocação.

Narradora de fatos da vida e de atos poéticos.

Especializada em Sociopsicologia, Economia e Escrita Criativa.

Uso palavras e afeto para ajudar pessoas e marcas a darem vez para a própria voz.

Meu trabalho acontece na interseção entre saúde mental, escrita e posicionamento.

Na minha vida, inclusive a profissional, palavra é matéria-prima e produto.

Discípula do estilo minimalista, meus minicontos estão em livros didáticos e concursos seletivos. Meus poetrix integram coletâneas.

Em tempos de pouco tempo, palavras precisas são pontes

É essa intersecção que me move: o institucional e o humano. O racional e o sensível. Eu e nós.

Criei um neologismo, dando nome a um sentimento: coexpatriada. O termo desaguou em um livro. Esse fruto do meu ofício é também uma bandeira: a defesa da autonomia da mulher.

E sigo escrevendo.

Com a palavra, erro, aprendo, me desenvolvo, educo meu filho, me relaciono, ganho a vida, ganho vida.

Caço palavras para mim e procuro digeri-las para o mundo. O processo é esse mesmo: visceral.

Porque palavra é mais que ferramenta, é rito de passagem.

E o que é a escrita senão o que nos inscreve?

Meu manifesto: Por uma vida minimalista, não minúscula.


Obras publicadas ou em fase de publicação:

Coexpatriada – A Jornada de Quem Muda de Vida para Apoiar a Carreira de Outra Pessoa em Outro Lugar (Crônicas). Editora Penalux - 2021

Bifum – A História do Macarrão de Arroz que Conquistou o Brasil (Biografia). Gatas Editorial - 2024

Pérolas II Poetrix (Coletânea de Poetrix). Areia Dourada - 2024

Pérolas III (Coletânea de Poetrix). Areia /dourada (em edição) - 2025

Agenda Poetrix (Coletânea de Poetrix). Areia Dourada - 2025

Premiações literárias:

4ª Intervenção Poética Nacional da Transvê Poesias - “10 Anos Transvendo o Brasil” - poemas selecionados em edital. 2024.

Revista SerEsta: A Vida e A Obra de Conceição Evaristo. Conto selecionado para compor a edição 12. 2023.

Participação em grupos de Poetrix:

Ciranda Poetrix - www.cirandapoetrix.com.br. Desde 2023. Ingresso por concurso (2º. Lugar).

Publicações de Poetrix na Internet:

Instagram - @carmem_galbes

Participação em eventos e projetos específicos de Poetrix:

Encontro entre poetas da Ciranda Poetrix, em São Paulo, com a presença de Goulart Gomes. 2024.

Participação na Bienal de SP, como autora no estande da Areia Dourada. 2024.

Endereço de site, blog ou perfis literários nas redes sociais (Instagram, Facebook, YouTube, etc.):

owww.carmemgalbes.com.br



DO CACO AO MOSAICO

Nem ânsia de ter, nem tédio de possuir
Pena vaga sem limite
Poeta só é inteiro aos pedaços

EM FESTA

Fogos explodem em íris virgem
Lágrima leve lava e leva
Alma amálgama

EPIDERME

Voz tatuada em pele selvagem
Seu texto rasura minhas camadas
Subtexto subverte

Discurso de Posse de Paulo Soroka - cadeira 32

 Ilustre presidente da Academia Internacional Poetrix, prezados confrades e confreiras,

“A luz nasce no instante em que descobrimos que somos mais que a nossa sombra.”


A citação de Rabindranath Tagore evoca o delicado movimento humano entre trevas e claridade. Todos nós sabemos, por experiência íntima, que alcançar a luz muitas vezes exige atravessar longos e sinuosos caminhos. Somos feitos de travessias. A minha escrita poética nasce justamente nesse espaço — no território do inefável, onde aquilo que ainda não tem nome começa a ganhar forma. Impelido pela urgência de expressar o que arde na alma, poetas garimpam palavras: quando elas não bastam, nós as inventamos. E, quando nem isso é possível, sustentamos o silêncio pelo tempo necessário. Sustentar o silêncio é possível quando se descobre que ele tem voz — mesmo que, por longos períodos, a voz do silêncio possa se mostrar inaudível.

Sempre fui apaixonado por palavras e também pelo silêncio. Talvez por isso, ao longo da minha formação médica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenha descoberto a vocação para a psiquiatria. Mais tarde, já psiquiatra, compreendi que ainda havia muito a desvendar da condição humana — essa permanente oscilação entre luz e sombra, palavra e silêncio. Isso me levou à formação psicanalítica na Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, cidade onde construí minha vida.



ECOS DOS DIAS

Fios infindos tecem momentos
Sinfonia de memórias afaga a alma
Tempo dança entre suspiros

Ainda que a escrita sempre estivesse presente em mim, ver meus poemas ganhando forma impressa aconteceu mais tarde. Meus três primeiros livros vieram em rápida sucessão, justamente no período da pandemia — talvez porque havia muito por ser dito, por ser descoberto, por emergir. A trilogia é composta por Um poema a cada dia para fazer a travessia; Quando o mundo voltar a girar; e Outro primeiro dia.

Quando conheci o poetrix, há alguns anos, senti de imediato a potência desse formato minimalista em que o dito e o não dito convivem, ressoando nas linhas e, sobretudo, nas entrelinhas. Foi apenas questão de tempo até que eu chegasse à Confraria Ciranda Poetrix, onde encontrei talentosos poetrixtas e novas amizades que se tornaram parte essencial da minha trajetória.

Na Confraria, mergulhei na escrita do poetrix, que passou a ocupar um lugar de destaque na minha vida criativa. Escrever tornou-se ainda mais vital. Escrever é respirar. Escrever é viver.

Participei de antologias e escrevi dois livros de poetrix solo: Versos Mínimos Poetrix e Instante Eterno — Sopros Poéticos, este último com publicação prevista para janeiro próximo.

Hoje, o tão almejado ingresso na Academia Internacional Poetrix é mais uma etapa dessa travessia. Se antes era sonho, agora é destino — e também um novo ponto de partida, que acolho com alegria plena, pronto para viver novos primeiros dias.

Assumo, com honra e responsabilidade, a Cadeira 33, cujo patrono é o amazônida Thiago de Mello, um dos maiores poetas brasileiros do século XX. É uma alegria e uma responsabilidade caminhar sob a luz de um poeta que dedicou sua vida à dignidade humana, à liberdade e à poesia como gesto de justiça.

Amadeu Thiago de Mello nasceu em 1926. Sua infância foi marcada por uma relação visceral com a floresta, os rios e a cultura de seu local de origem. Já vivendo no Rio de Janeiro, participou de círculos literários e iniciou sua carreira como escritor. Seu poema mais famoso, Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente), foi escrito após o Golpe Militar de 1964. Uma das vozes mais autênticas da poesia latino-americana, ele se tornou um símbolo da resistência democrática. Nele, o poeta decreta princípios de humanidade, liberdade, solidariedade e alegria, tendo se tornado um dos poemas brasileiros mais citados e celebrados.

“Fica decretado que agora vale a verdade.” “Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.”

Durante o exílio no Chile, manteve amizade e um rico intercâmbio com Pablo Neruda. Ao retornar ao Brasil, fixou residência em Manaus. Publicou mais de 40 livros — poesias, ensaios e traduções. Sua obra foi traduzida para mais de 30 idiomas. Poeta da esperança, faleceu em 2022, aos 95 anos, deixando um legado a todos aqueles que acreditam que a poesia pode iluminar vidas e transformar o mundo.



AUTENTICIDADE

Ser singular na essência
Compor trilha autoral
Tatuar impressões digitais

Profundamente emocionado por ter como patrono poeta de tamanha envergadura, desejo que minha participação na AIP — cujo compromisso com a liberdade de expressão e a ética é inequívoco — possa contribuir à divulgação do poetrix, não apenas como importante manifestação cultural, mas também como veículo de transformação social. Ao assim fazê-lo, espero fazer jus ao legado de Thiago de Mello, mantendo luminosa a chama que ele um dia acendeu.

Agradeço o acolhimento da Academia Internacional Poetrix e a confiança em mim depositada. Ingressar nesta casa, mais do que ter minha escrita poética reconhecida, é um chamado. Um chamado para seguir adentrando a alma humana — suas luzes e suas sombras. Que o somatório

de nossas vozes, honrando o legado de Amadeu Thiago de Mello, possa ampliar os horizontes do poetrix! Que a poesia seja sempre um farol na escuridão!



PARA ALÉM DA ESCURIDÃO

Sonhos navegam incertezas 
Desejos cavalgam temores 
Amanheço esperanças


Muito Obrigado!

Poetrix de Paulo Soroka



À SOMBRA DA SEQUOIA

Delimites da imaginação
Galhos são braços que abraçam
Raízes são colo de mãe


GUARDAR CONSIGO

Instantes são nuvens passageiras
Segundos mergulham no tempo
Desejos são artesãos de memórias


Paulo Soroka

Biografia de Paulo Soroka

 



Paulo Soroka, filho de Chaim Soroka e de Rosa Wulff Soroka, do sexo masculino, nascido em Porto Alegre, a 14 de dezembro 1959. Reside em Porto Alegre.

Apresento inicialmente informações a respeito de minha atividade profissional.

Cursei a faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fiz a residência médica em Psiquiatria no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, vinculado àquela Universidade.

Posteriormente, ingressei na formação psicanalítica na Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, de cujo Instituto sou membro.

Sou docente e supervisor do ITIPOA – Psicanálise e Criatividade, bem como coordenador do Curso de Formação em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica de Adultos 60+ nesta instituição de ensino. Sou professor convidado no Instituto W. Bion.

Descobri anda na infância o prazer da escrita. À época escolar, participei de concursos literários, tendo sido premiado.

Sou autor de Um poema a cada dia para fazer a travessia, Quando o mundo voltar a girar e Outro primeiro dia Estes três livros de poemas livres foram escritos durante o período da pandemia.

Entendi ser urgente, especialmente naquele momento, alcançar poemas às pessoas. Nesse empenho, desenvolvi projeto literário nos parques e praças de Porto Alegre.

Sou autor de Versos Mínimos - Poetrix, pocket que integra coleção organizada pela Confraria Ciranda Poetrix. Participei da Antologia Pérolas II, da Agenda Poética 2025 e do Pérolas III (no prelo). Meu novo pocket, Instante Eterno - Sopros Poéticos, que integra a nova coleção organizada pela Confraria Ciranda Poetrix, tem publicação prevista para janeiro de 2026.

Sou acadêmico da Confraria Ciranda Poetrix, da Academia de Letras do Brasil - seccional RS, da Federação Brasileira dos Acadêmicos de Ciências Letras e Artes e da Sociedade Brasileira de Aldravianistas. Participei de antologias organizadas por três destas associações literárias.

Tenho poema na Antologia “A vida é mais tempo alegre do que triste”, publicada em Portugal.

Fui premiado em Concurso de Trovas de Nova Friburgo (2022) e concurso realizado pela FALARJ em 2023, em duas categorias. Em 2023 fui classificado em concurso para ingressar na Confraria Ciranda Poetrix.


• São os seguintes os links de minhas páginas no Instagram, em que tenho por hábito postar poetrix e vídeos poéticos:

https://www.facebook.com/share/1FopxkfABR/

https://www.instagram.com/travessiascompaulosoroka?igsh=MWZkaTQzbGtlcHM2dw==

https://www.instagram.com/paulosoroka?igsh=MW5sb2l4cGx6NmRkNA==

• Os seguintes links remetem a vídeos poéticos criados a partir de poetrix de minha autoria:

https://www.instagram.com/p/DHd1KKROAOX/

https://www.instagram.com/p/DGbezJ8PMVt/

https://www.instagram.com/p/DCrYfBDOtWL/

https://www.instagram.com/p/DEFgfLWuu74/

https://www.instagram.com/p/DGnuYXKOrJX/

https://www.instagram.com/p/DAtOzAyuEgH/


• Escolhi os seguintes poetrix como exemplares do meu estilo de escrita:


SOLIDÃO

Chora alma plena de vazios
Borbulham afetos míopes
Silêncio busca ecos de outrora

ETERNIDADE

Brinco de vai-e-vem no tempo
Lembranças bailam no infinito
Festa no quintal da memória

CORPO E ALMA

Olhos gritam silêncios
Pele é mapa de viagens
Sentidos garimpam vida


Cordialmente,

Paulo Soroka

22 de dez. de 2025

Poetrix de Valéria Pisauro


SEM AÇÃO

Adverbializou a vida
Possessivos a incomodavam
Rasgou o verbo.


DESCOLOR(AÇÃO)

Dentes de ferro mastigam o verde
Lençóis cinzas cobrem a natureza
Azul só observa.


(AMAR)ELOU

Olhos verdes de esperança
Ver-te é paraíso
Inferno contradiz.


Valéria Pisauro