9 de abr. de 2021

7 de abr. de 2021

Poetrix de Martinho Branco

Rua dos Lusíadas
[Lisboa]


Numa tarde molhada,
os pombos debicam versos de Camões,
nas pedras da calçada…

(Martinho Branco)

6 de abr. de 2021

Poetrix de Marília Baêtas Tavernard

Asilo

Abrigo de corações
solitários e sofridos,
carentes de amanhã.

(Marília Baêtas)

5 de abr. de 2021

HOMENAGEM À KATHLENN LESSA, por José de Castro

 UMA CARTA PARA KATHLEEN LESSA (1949 -2016), por José de Castro

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Caríssima poeta:

Confesso-te: foi difícil escrever esta carta. Primeiro, porque tive que remexer em gavetas do tempo, reabrir escaninhos de memórias, quando a gente pode quase tocar as palavras que esculpias no teu caleidoscópio, no teu recanto de poeta apaixonada pela vida. A outra dificuldade: tive que buscar respostas noutras páginas de uma dimensão revirada ao avesso, por entre infinitos e estrelas, em tua poesia.

Sinto falta de ti, poeta. Aliás, todos nós sentimos, pois não são todos os dias que temos o privilégio de desfrutar a presença de alguém que fale de quase tudo com esse jeito às vezes irônico, ferino, mas sempre brincalhão e profundo. Um quê de meninice e brilho inocente no filosófico olhar.

HOMENAGEM À DENISE SEVERGINI, por Fátima Mota

 DENISE SEVERGNINI,  por Fátima Mota

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Que bom seria se você pudesse ler essa mensagem, mas você partiu precocemente e deixou uma enorme lacuna na poesia brasileira e por onde passou.

Seria também interessante a sua participação nesse projeto com seus belos poetrix, mas não somos donos do nosso destino e não podemos mudar o rumo dos acontecimentos.

Hoje não quero falar de tristezas e de saudade.

Permita-me falar de poesia como sempre fizemos, ainda que virtualmente.

HOMENAGEM À NATHAN DE CASTRO

 NATHAN DE CASTRO, por Lilian Maial

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Nathan de Castro era um poeta simples, dessas pessoas, como Manoel de Barros, que dizia belezas e sentia a natureza e a vida como poucos. Sua inércia perante a finitude e a incompletude era expurgada nas pequenas rebeldias de seus versos, fossem quartetos, sonetos ou tercetos. O poetrix possibilitou-lhe voos mais curtos, porém, com a mesma imensidão da poesia que brotava, feito olhos d’água, desse bardo liquefeito.

Sim, Nathan de Castro mantinha uma intensa relação com a água, desde seu nascimento (em meio a uma tempestade, como ele mesmo descrevia), até ao nome da cidade natal: “Olhos d’Água”, município de João Pinheiro – MG.

HOMENAGEM À SÁVIO DRUMMOND, por Goulart Gomes

 SÁVIO DRUMMOND, por Goulart Gomes

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019


Sávio Drummond é um dos mais completos multiartistas que eu já conheci. E digo É, por que acredito que, onde quer que ele esteja, continua a produzir magnificamente, como sempre fez.

Médico por profissão, nascido em Salvador, a 22-04-1971, aproximamo-nos primeiramente não pela arte, mas pelo trabalho. Colegas na mesma empresa, tomei conhecimento dos desenhos e textos que ele produzia, no âmbito da medicina do trabalho. Logo percebemos que tínhamos muito em comum.

Sávio desenhava muito bem, elaborou a capa dos livros de diversos escritores do Grupo Cultural Pórtico. Fez várias caricaturas minhas, gostava de “sacanear” os amigos, colocando-os em situações irônicas, em seus desenhos. Este seu perfil “gozador” também se estendia aos seus demais talentos, em contos, crônicas, poetrix e poesias. Mas, o que mais me surpreendia era como ele conseguia escrever bem tanto o trágico quanto o cômico, tanto o lírico quanto o popular.

HOMENAGEM À ARMANDO LEAL, por Martinho Branco

ARMANDO LEAL - por Martinho Branco

Fonte: Antologia 6  MIP - Editora Rumo Editorial, 2019

Para quem conviveu, ainda que virtualmente, através da sua escrita poética, de Setembro de dois mil e um a Outubro de dois mil e quatro, guarda na lembrança, certamente, o olhar atento, lúcido e dinâmico, patente nas escritas do poeta e poetrixta Armando Leal. Quando ele nos deixou… Pedi silêncio, porque tinha partido um poeta e um bom amigo.
Escrevi num poetrix, na altura, algumas palavras sentidas de homenagem
ao Armando…

Os poetas fazem a diferença

Questionam
Futuram a vida
Despertam silêncios *

É com profunda tristeza [emoção] e grande saudade que sentimos a ausência de um Amigo [Leal] tão verdadeiro. O Armando partiu demasiado cedo, em dois mil e quatro, e nunca [Nunca] nos encontrámos no mundo real. É curioso, em Portugal moramos todos perto uns dos outros [o país é tão pequeno], mas tão distantes, cada um de cada um.

HOMENAGEM À SONIA GODOY - Por Katia Marchese

QUERO FALAR DE NADIR TORQUATO, NOSSA SONIA G.

                                                             girassol não gira

à sombra imensa

dos dentes de leão.


Sonia G


Poeta, Poetrix, trabalhava a palavra com a maestria de um blue maduro e ácido, tinha a voz poética intensa como Elis Regina, que aliás ela cantarolava, viveu e vive em outras dimensões sua grande força feminina diante das belezas da arte e das injustiças sociais desta vida.

Uma mulher apaixonada e forte, e como dizem empoderada, sempre à frente do seu tempo, criou 04 filhos, foi mãe solteira na década de 60 e tinha orgulho de ter formado os filhos sozinha, comprou na mesma época seu próprio carro para ir a faculdade e trabalhar no Hospital Amparo Maternal em SP onde ousava dirigir a ambulância.

4 de abr. de 2021

Polêmica da polinização

 

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES (do Vandré, das abelhas, do poetrix, do clonix,do plágio...)

por Marilda Confortin

Então tá amigos poetrixtas. Vou cutucar esse vespeiro. O problema é que minha vara é curta e não tenho fumigador para me defender das ferroadas dos zangões. Sou tão leiga em apicultura quanto em linguística. Eu gosto mesmo é do produto final. Sempre comi e me lambuzei do mel cantado e decantado dessas duas artes, sem nunca ter me preocupado com os aparatos utilizados na sua fabricação ou colheita. Mas aí pintou uma nova marca chamada Poetrix e para melhor apreciá-la tive que pesquisar algumas ferramentas, técnicas e variações. Mas não fui muito fundo, não.

Tipo assim: Li que alguns apicultores usam máscara de filó, com chapéu de algodão e outros usam máscara de arame, com chapéu de palha. No poetrix, alguns autores fazem uso de metáforas e tropos enquanto outros preferem paródia e pastiche. Tem especialistas no MIP que conhecem bem a diferença entre essas ferramentas e podem explicar melhor que eu, como e quando utilizá-las. Como apreciadora de poetrix, quero mais é sentir o gosto do mel no meu pão de cada dia.

Lembrei do Leminski numa de suas palestras. Ele disse que poeta é quem sente a poesia, não importa se escreva, publique ao não. E reforçou dizendo que quem não tem senso de humor não acha graça da piada. Todo mundo riu alto. Bando de puxa-sacos. Aí percebi que senso de humor não se mede pelo volume da gargalhada e que nem sempre quem ri por último ri melhor (sempre tem um bobo pago para rir alto nos programas de auditório, perceberam?) Mas voltemos às abelhas.

Sei que a grande contribuição ecológica da apicultura é provocar a fecundação utilizando o pólen, isso é: a polinização; E qual é a grande contribuição cultural do poetrix, senão polemizar provocando a fecundação da poesia? (O quê? Polêmica não é derivada de pólen? Putz! Então acabei de criar um neologismo. Desculpem.)

Os aprendizes, quando sentem o perfume de uma flor no pote de mel, podem pensar que o produto é falsificado. É não, gente! É que as abelhas costumam visitar a mesma flor várias vezes. Leitores desavisados também podem sair dizendo que as canções de exílio de Casimiro de Abreu, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes e tantas outras, são todas plágio da Canção do Exílio de Gonçalves Dias. São não, gente! É que os poetas costumam visitar as mesmas flores várias vezes.

O geólogo e poeta Argemiro Garcia, ao ler um Poetrix de minha autoria, lembrou de um belo poema de Manuel Bandeira e escreveu: 

Vira-latas
a Marilda Confortin e Manuel Bandeira

Revirando o lixo,
menos que um bicho
é um menino. 

Inversão de valores
Marilda Confortin

Cachorro e seu mendigo
Olhares de compaixão
... para o cão
---

O Bicho, de Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
---

Plagiamos? Não! visitamos a mesma flor nascida na pobreza da nossa podre sociedade. Nem toda rosa é perfumada. A de Hiroshima era?  

O Poetrix, não só pratica a polinização (ou devo chamar de simulacro? Intertextualidade? Recorrência temática?), como incentiva a revisita, a releitura e até criou uma categoria chamada Clonix.

Um clonix, nunca pode vir desacompanhado do poetrix que o originou. Não precisa nem explicar o motivo. É só ler o belo exemplo da Eliana e Lilian e, como diz no Segundo Manifesto Poetrix: "Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire!"

MÃE

a teu colo sempre volto
quando a tristeza
me mima
(Eliana Mora)

MÃE

a teu colo sempre volto
quando há tristeza
menina
(Lílian Maial)

Gostaram? Eu também. E tem mais. Já leram o Segundo Manifesto Poetrix? "Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix" (Goulart Gomes)

Poetrix não é brinquedo não. Ou a gente procura entender o significado de cada uma dessas palavras, pesquisa aí na Internet a história do Chacrinha,do Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald, Drummond e do bispo que comeu sardinha, entra no espírito e diz um verso bem bonito, ou, diz adeus e vai simbora. Sem essa de ficar por aí, atirando um pau no gato e dizendo que o MIP incentiva o plágio. Que pobreza de espírito!

Uma curiosidade: "O Prof. Dr. Zander descobriu que uma abelha visita no mínimo 10 flores em um minuto. Ela precisa de 10 minutos para voltar de uma colheita. Visita, portanto, 100 flores. Ela faz, diariamente, 40 colheitas. Isso quer dizer que ela visita 4.000 flores por dia". Copiei essa informação do endereço: www.breyer.ind.br.

Querem saber quantas flores são polinizadas diariamente por uma colméia? Ou querem levar um susto e saber quantos poetrix foram escritos em 3 anos de existência do MIP e multiplicar pelo número de pessoas que leram esses poetrix na internet? Isso é que é polinização.

Ah, só para piorar: o título desta postagem é um plágio ou revisita a famosa música censurada do Geraldo Vandré?  

Qual era mesmo o motivo de eu estar escrevendo esse texto?

Publicado originalmente em 2006 no site do Movimento Internacional Poetrix