5 de jan. de 2024

Discurso de Posse de Valéria Pisauro


Prezada Presidente Andréa Abdala, Diretoria, integrantes da Academia Internacional Poetrix e fundadores, minha sincera saudação!

Saúdo o poeta, historiador e acadêmico Goulart Gomes, criador do gênero e fundador da Academia Internacional Poetrix, pelo seu incansável trabalho de projeção e divulgação para que o Poetrix alcançasse o êxito merecido dentro do cenário nacional e internacional.

Agradeço, também, aos acadêmicos que me prestigiaram com os seus votos, obrigada!

Desde já, comprometo-me em bem servir aos propósitos da Academia, elevando a cultura, a literatura, sempre com orgulho, dedicação e alegria. Com isso, poderemos fortalecer e fazer ainda mais conhecida a nossa AIP.

Caros acadêmicos ingressantes, acadêmicos de ontem, acadêmicos de amanhã.

E a todos os amigos e familiares que nos assistem virtualmente, boa noite!

É uma grande honra, orgulho e alegria me tornar membro nesta renomada Academia, ao lado de grandes poetas, pelos quais tenho grande apreço, admiração e respeito. Todos me encantam e me inspiram.

O dia 09 de dezembro de 2023 vai ficar marcado para sempre no meu coração.

Sou de Campinas-SP, neta de um maquinista e cresci às margens da linha do trem, acompanhando suas idas e vindas. Para mim, nada era mais belo e invencível que aquela máquina metálica que rasgava o horizonte abrindo caminhos para o novo. 

Eu ficava atenta ao tremor do assoalho da nossa casa, pois era o primeiro sinal de que o trem estava se aproximando, e eu corria para vislumbrar sua rápida passagem e o seu poder quase divinal de transportar lembranças, vidas e sonhos. E pensava… será que estavam indo ou chegando? Buscando ou levando? Era o começo ou o fim?

Com olhos fixos, paralisada, eu assistia ao desfile dos escolhidos para aquela viagem: roupas coloridas, chapéus, expressões pálidas, entristecidas, sorridentes.

Será que suas vidas estavam materializadas em suas bagagens? Será que todos os sonhos cabiam naquelas pequenas malas?

Depois, seguiam os vagões. Por que eram diferentes? Será que podiam mudar de vagão?

Então, eu corria para o meu quarto, deitava-me de comprido no chão e fantasiava histórias bonitas com todos os passageiros daquele trem.

Na época, eu já tinha tantas inquietações e sonhos e muitos deles, persistem até hoje.

Passados anos, tornei-me poeta, contista, roteirista e letrista musical!

Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que, muitas vezes, fico consciente de coisas das quais eu antes não sabia que sabia. Enfim, escrevo porque não tenho escolha, porque o mundo que crio na escrita compensa o que o mundo real não me dá. Finalmente, escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever.

Apropriando-se de uma citação de Fernando Pessoa, Ferreira Gullar afirmou que “a arte existe porque a vida não basta”. No entanto, não basta afirmar que a arte existe porque a vida é insuficiente. A arte, na verdade, existe porque a vida existe, e esta, deve ser festejava através da arte – por isso: eu escrevo!

Sou graduada em Letras e Teoria Literária pela UNICAMP – SP, em História da Arte pelo MAM – SP e Mestre em Brasil/Brasis: Literatura e Pluralidade Cultural – UNICAMP.

Em paralelo à minha carreira de docente, estou sempre à frente de discussões sobre arte e cultura. Organizo e participo de certames literários, de idôneas antologias poéticas e possuo poemas musicados, tendo a felicidade de compor e gravar com renomados compositores de todo o país.

Premiada em diversos concursos literários e em reconhecidos festivais de música pelo Brasil, venho realizando um trabalho de reafirmação cultural e de identidade musical há mais de uma década, angariando críticas positivas, o que vem me assegurando um lugar de destaque no cenário poético e musical brasileiro.

Integro grupos de estudo sobre cultura popular e de coletivos poéticos, como: Selo Poetrix; Mulherio das Letras; Mulheres Enluaradas; Canal Sororidade e Mulheres Escritoras.

Colaboro com várias revistas literárias; roteirista do curta-metragem “Se não”, do Concurso de Roteiros do 9º Amazonas Film Festival, contemplado pelo Programa de Apoio às Artes do Governo do Amazonas – PROARTE/2013, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura – SEC/AM, recebendo 14 prêmios em várias mostras e competições.

Em 2022, aprovei dois projetos junto ao PROAC-SP: a publicação do meu livro de poesia solo, Entre linhas e cordas e o lançamento do meu CD Travessia entre cordas e rimas, álbum com 15 faixas de parcerias premiadas nos maiores festivais de música.

No ano de 2019, encontrei nas redes sociais um chamado para o 8º Concurso Internacional Poetrix. Confesso que, até então, eu não havia praticado esse gênero. Como adoro desafios me inscrevi. Meu poetrix foi selecionado e publicado na Antologia 6 do MIP. A partir desse dia, o poetrix faz parte da minha vida. Como muitos dizem e eu concordo plenamente: Poetrix é um vício!

Fui abraçada poeticamente pelos queridos José de Castro, Diana Pilatti e Dirce Carneiro e guiada carinhosamente para o grupo Selo Poetrix, que é aprendizado constante. Participei das Mostras II, III, IV e V do Selo Poetrix e da Antologia 7 – Rexistir.

Hoje, poetrixta eleita, ocupo a Cadeira 20 e tenho a felicidade de ter como patrono o professor e poeta Anthero Monteiro que, devido ao seu encantamento, de acadêmico da AIP foi guindado à posição de Patrono, o que é uma homenagem mais do que merecida tendo em vista a qualidade de sua obra e seus méritos como poeta.

Anthero Monteiro, professor e poeta português, membro fundador da Academia Internacional Poetrix, empossado em 05/07/2020, Cadeira 5, faleceu em 05/04/2022.

É autor de dez livros de poesia, incluindo dois infantojuvenis, de textos poéticos editados em antologias, em Portugal e no Brasil, e de ensaios sobre história local, literatura e cultura, alguns publicados em livro, outros em revistas, algumas universitárias. Dedicou-se ativamente à divulgação da poesia, promovendo espetáculos poéticos em várias cidades.

Integrou o júri de vários concursos literários em Portugal e no Brasil. Foi homenageado com o Prêmio Manuel Laranjeira, na sua edição de 2004 e com a medalha de ouro de mérito da vila de S. Paio de Oleiros pelo trabalho realizado na direção da Biblioteca Pública local.

Obteve duas vezes o primeiro lugar em concursos literários mensais organizados pelo Movimento Internacional Poetrix, com sede no Brasil.

Entre os seus livros de Poesia, consta o primeiro de poetrix editado na Europa, intitulado "Esta Outra Loucura" e prefaciado por Goulart Gomes, (2014), Porto, Corpos Editora. Eis um dos seus poetrix:


MORTE

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga.

Anthero Monteiro



E, finalmente, parafraseando Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas.”

Por fim, gostaria de dizer que muito me honra, doravante, fazer parte desta conceituada Academia. Asseguro que envidarei todos os esforços no sentido de sempre ser merecedora deste acento na AIP. Procurarei aprimorar a minha arte de escrever Poetrix e farei todos os esforços que estiverem ao meu alcance para que esta modalidade de poesia minimalista seja amplamente divulgada, conhecida e praticada, não só no Brasil, mas pelo mundo afora.

Obrigada a todos e todas! Boa noite!

5 comentários:

Dirce Carneiro disse...

Bravo Valéria Pisauro. O tom solene do seu texto nos diz o modo como você vive os momentos da vida. Com sabedoria, profundidade, experiências de luas e de sóis, percepções e inquietações que parecem de nascença, pelo modo como expressou os sentimentos na passagem do trem. Como eu digo, Poeta já nasce. As técnicas a gente aprende. O ofício se aperfeiçoa. A cada momento seu hábito. Você vestiu este momento com uma bela e solene expressão literária.
Muito bem-vinda, vida longa na AIP e seja feliz.

Boveto Sandra disse...

"escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever." Eu me identifiquei bastante com esse sentimento.
Belo discurso, Valéria! Parabéns!

Valeria Pisauro disse...

Orgulho enorme de fazer parte da AIP, ao lado de renomados poetas.

Andréa Abdala disse...

Muito bom saber mais de você! Discurso emocionante!

Marilda Confortin disse...

Bem vinda, multi artista! Traga um pouco de música pra nossa academia 🎻