22 de nov. de 2023

Síndrome de M. DE A. por Francisco José



MACHADO

cortou um membro
lembrou-se de Brás Cubas
havia um verme póstumo

Francisco José




Poucos tiveram suficiente coragem para criticar com vividez o grandiloquente M. de A., autor de dez romances, 200 contos, 600 crônicas, várias coletâneas de poemas e inúmeras cartas.

Um certo ensaísta e admirador do famoso escritor chegou a dizer, com eufemismo de crítica, que o autor de "o alienista" sofria do M al de A bsenteísta.
Como se na verdade fosse portador do M al de A lzheimer, "esquecera" a própria cor, os pais mortos precocemente, abandonando cedo a madrasta, a mulata que o criara com tanto desvelo.

Dizia-se nascido em São Cristóvão e não no Morro do Livramento.

Mulato, feio, gago e epiléptico, seus personagens só podiam ser brancos e bem-nascidos.
Era sensível, porém não denunciou a escravidão, preferindo anestesiar-se, enclausurando-se naquela "casulação do ser no ser que pensa".

Já não conseguia ser o homem M achado de A ssis, mas o arremedo do personagem de M emorial de A ires, o qual, no primeiro diário de suas memórias do dia 9 de janeiro de 1888 dizia ter completado um ano que havia voltado da Europa.

Casou-se com uma europeia.

Foi o melhor amigo de um escravagista confesso, tendo sido convidado para ser padrinho de seu filho M. de A lencar., que alguns afirmaram, depois, ser na verdade o filho de um adultério, pois a esposa era estéril. 

O "bruxo do Cosme velho" sofria na verdade da síndrome do M al de A gouro. 

Francisco José Soares Torres

4 comentários:

Dirce Carneiro disse...

Texto inusitado sobre este considerado. O maior escritor brasileiro. Diante do "conteúdo dos autos" concluo que só poderia ser ele o fundador da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro imortal. Já disseram que de perto ninguém é normal. Por isso eu amo M achado A ssis. Escritor expertíssimo na psicologia humana. Será que nos seus escritos ele falava dele mesmo? Sinceríssimo.

José de Castro disse...

Machado sempre cortou fundo na literatura brasileira, principalmente nos contos. Um mestre, com pena afiadíssima qual machado de lenhador eficiente. O texto de Francisco José é muito criativo. Gostei demais! Grande abraço, amigo.

Marilda Confortin disse...

Um belo (m)achado esse texto, Francisco. Corajoso e diferente de todos os que li. Gostei muito.

Marília Tavernard disse...

Muito bom ler teu texto sobre Machado de Assis. Sempre mais um aprendizado.