11 de mar. de 2022

As Figuras de Linguagem no Poetrix - por Saulo Pessato


  • Introdução: o papel da arte literária

Entre as múltiplas formas de comunicação humana, destaca-se o discurso artístico, especial por sua preocupação com uma linguagem incomum. A comunicação artística supera o senso comum, propondo novas perspectivas nas relações com o mundo por meio da linguagem.

A Literatura em si é uma atividade artística que tem a humanidade, a sociedade e o mundo como matéria prima de seu trabalho: esteticamente, ela aborda-os, critica-os e modifica-os por meio dessa atividade especial com a língua escrita.

O Poetrix, enquanto manifestação artística, absorve todos esses atributos, que podem se organizar nas seguintes funções:

[FUNÇÃO ESTÉTICA]

Se a intenção artística do Poetrix é despertar admiração por sua beleza, podemos afirmar que nele se destaca a função estética. É importante ressaltar aqui que o conceito de beleza difere-se das noções naturais de bonito ou feio. A função estética, enquanto arte, exalta também o horrível e o monstruoso.


[FUNÇÃO LÚDICA]

Um texto literário pode ter como propósito simplesmente entreter ou divertir o leitor. Essa é a função mais elementar da Literatura e busca alimentar a fantasia e a imaginação.


[FUNÇÃO CATÁRTICA]

A catarse, em essência, é um instrumento de libertação. Quando um Poetrix proporciona "explosão" de sentimentos, inspirando o leitor a manifestar intensas emoções pessoais – riso, choro, raiva, ansiedade, calafrios, destaca-se nele a função catártica.


[FUNÇÃO ENGAJADA]

A função engajada apresenta-se quando o texto prioriza demonstrar, criticar, satirizar ou denunciar problemas sociais. Um Poetrix engajado pretende mudar a realidade ao expressar desconforto com relação ao mundo que o cerca.


[FUNÇÃO COGNITIVA]

É a manifestação artística com o propósito de informar, de produzir conhecimento. Se num Poetrix se destaca a função cognitiva, ele provavelmente versa sobre acontecimentos históricos, eventos culturais ou simplesmente dialoga com conhecimentos científicos.


[FUNÇÃO EVASIVA]

A função evasiva na arte propõe um lugar de fuga como forma de libertar-se de uma realidade ruim. Nesse sentido, um Poetrix pode propor a negação de problemas reais pela criação de utopias.

  • A importância da linguagem plurissignificada
Nos processos de comunicação artística literária, é fundamental o domínio e a extensão dos sentidos das palavras. Um Poetrix se enriquece quando uma palavra, frase ou oração tem seu sentido deslocado do usual, cotidiano. Dessa forma, quanto mais um texto explora novos e múltiplos significados, mais poético ele se torna. Para isso, é fundamental conhecer as figuras de linguagem.


[FIGURAS DE LINGUAGEM]

Figuras de linguagem, em Literatura, são recursos empregados no ato da comunicação escrita com o propósito de surpreender o leitor a partir da alteração ou do deslocamento:

- da disposição sintática dos termos de uma oração;
- do sentido (significado) das palavras e expressões.

Em suma, as figuras de linguagem são recursos utilizados para se construir um caráter especial na comunicação em si. Um bom poetrixta conhece as figuras de linguagem da mesma maneira que um bom pintor conhece as técnicas de pintura.

Para efeito didático, as figuras de linguagem são divididas em quatro classes:
  • Tropo;
  • Melopeia: aspectos e efeitos sonoros das palavras;
  • Logopeia: associações intelectuais e emocionais das palavras — ou “dança do intelecto das palavras” (Ezra Pound);
  • Fanopeia: sugestões visuais das palavras.

[FIGURAS DE PALAVRAS] - ou tropos

São figuras que, quando empregadas, alteram o significado convencional de um termo; as figuras de palavras proporcionam sentidos mais expressivos no ato de comunicação.

As figuras de palavras mais conhecidas são: metáfora, comparação, metonímia, catacrese, sinestesia, alegoria.


[FIGURAS DE PENSAMENTO]

São utilizadas para explorar a subjetividade de ideias e pensamentos, combinando seus sentidos de formas especiais.

As figuras de pensamento mais conhecidas são: antítese, paradoxo, eufemismo, gradação, hipérbole, ironia, prosopopeia e apóstrofe.


[FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU DE SINTAXE]

São as figuras que modificam os aspectos estruturais de uma oração. Como se sabe, a Língua Portuguesa é composta de elementos que compõem, na fala, geralmente, uma ordem lógica, como [sujeito] + [verbo] + [complementos]. Para um texto propor a "quebra" dessa ordem convencional, faz o uso de algumas figuras de construção.

As mais conhecidas são: Hipérbato, anástrofe, hipálage, assíndeto, polissíndeto, elipse, zeugma, anacoluto, silepse, pleonasmo.


[FIGURAS DE SOM OU DE HARMONIA]

Como o próprio nome sugere, essas figuras proporcionam efeitos sonoros na linguagem, valendo-se da exploração, reprodução, repetição, imitação dos sons dos fonemas da língua para intensificar a expressividade do texto.

As figuras de som mais conhecidas são: aliteração, assonância, paronomásia, onomatopeia.

Saulo Pessato - Cadeira 22 - AIP

Um comentário:

José de Castro disse...

Texto bem elaborado, consistente. Contudo, senti falta de que fossem colocados alguns poetrix que exemplificassem algumas das figuras de linguagem. Não precisaria ser de todas. Fica a dica. Parabéns...