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25 de jun. de 2024
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Dirce Carneiro
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24 de jun. de 2024
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21 de jun. de 2024
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17 de jun. de 2024
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14 de jun. de 2024
Mulher em Gestação por Andréa Abdala
Eu sou uma admiradora da poesia de Lílian e isso vem de
alguns anos atrás quando nos conhecemos através de grupos literários no vasto
mundo sem fronteiras chamado de mundo virtual. Seus poemas são expressivos,
fortes, certeiros e falam mesmo quando pedimos silêncio, eles tomam espaços,
são gigantes.
Mulher em gestação é uma pequena amostra da força da poetisa
em apenas três versos. O título já nos surpreende. Ele fala da mulher gestante,
como também, da mulher em construção, a mulher que é concebida por nós, em
nossos ventres, a cada dia de existência.
A mulher se diferencia do homem em pequenos e grandes
detalhes, alguns importantes outros sem nenhuma importância, no entanto, existe
algo que é só dela, homem nenhum experimenta, é algo sublime, divino, mágico,
intimamente surpreendente, a gestação. E para isso é preciso sangrar de verdade,
sangue vermelho vivo, sangue que expressa dor e vaidade, sangue de cor, da força
e delicadeza.
No primeiro verso - Cinco dias do mês eu sangro. São dias onde a expressão feminina alcança
seu ápice e sua glória, não desmerecendo os outros vinte e cinco ou seis. Somente
as mulheres compreendem o significado da menstruação em suas vidas e como este
rubro período causa impacto sobre suas
identidades, sobre seus títulos de nobreza. E sangra, fazendo arte, fazendo
vida. A plenitude do prazer e da reprodução habita o corpo feminino e nele
encontra acolhida. São hormônios, ovários, útero, trompas, bocas, lábios... pura
arte!
A mulher se enche de beleza tal qual uma obra prima, sim, uma
obra da natureza no seu sentido mais puro. A mulher se encontra disponível à
gestação, amando e brigando.
No verso final, fora isso, nunca mais. A princípio eu pensei
em falência, queda, desistência, um final triste. Por algum motivo ou vários,
aquela gestação teria sido única, não haveria mais barrigas, fetos, embriões,
vida sendo reproduzida. É provável que a autora tenha pensado nesse contexto,
nos trazendo a dor e o lamento, um final não esperado para um título de grande
expressão e significados. O elemento
surpresa do poetrix. Um susto triste.
Uma nova leitura pode ser feita, não seria o terceiro verso
um ato de resistência?. Não sangro mais, nunca mais!... Não sofreremos com os
ataques impiedosos aos nossos corpos, aos nossos modos, aos nossos desejos.
Basta deste sangue ralo, sem cor e ternura.
É muito forte e agradável ler Lílian Maial.
Andréa Abdala
Acadêmica AIP – cadeira 23