NOME
COMPLETO DO PATRONO: Taniguchi Buson
NOME
LITERÁRIO: Yosa Buson
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Yosa Buson |
ANO
DE NASCIMENTO: 1716
ANO
DE FALECIMENTO: 1784
NÚMERO
DA CADEIRA NA AIP: 07
FUNDADOR: Dreyf
Gonçalves
ACADÊMICA
ATUAL: Sandra Boveto
VIDA E DO PATRONO
Yosa
Buson é um dos quatro grandes mestres do haicai japonês (haiku). Deu
novos ares à poesia japonesa com Matsuo Bashô, Issa Kobayashi e Masaoka Shiki.
Nasceu Taniguchi Buson, em Kema, na província de Settsu (atual Osaka), no
Japão, em 1716, 22 anos depois da morte de Bashô. Foi um dos mais renomados
artistas japoneses do período Edo, conhecido, especialmente, por suas
habilidades na pintura e poesia haiku.
Buson
mostrou interesse precoce pela arte. Sua paixão o levou a Kyoto, onde estudou
pintura com um artista do estilo nanga, uma forma de arte literária
japonesa influenciada pela pintura chinesa. Nessa arte, destacam-se as pinturas
que fez para o templo da Ilha de Shikoku.
Apesar
de inicialmente se dedicar à pintura, Buson, eventualmente, se voltou para a
poesia haiku, um gênero que lhe permitiu combinar sua habilidade
pictórica com a expressão poética. Sua abordagem única para o haiku,
frequentemente, envolvia a fusão de imagens visuais e sensações emocionais,
resultando em poemas que refletiam esses aspectos. Sua poesia e sua pintura traduziam
sua profunda conexão com a natureza e com a capacidade de capturar momentos
fugazes e atmosferas evocativas.
Em
1737, Buson se mudou para Edo (atual Tóquio) para estudar pintura e haiku,
na Shômon, escola de Bashô. Durante sua vida, Buson viajou extensivamente pelo
Japão, absorvendo as paisagens e as pessoas que encontrava em suas obras de
arte. Em 1751, estabeleceu-se em Quioto, como pintor profissional, onde passou
a maior parte de sua vida.
Anos
depois, mudou-se para Tango, onde viveu, de 1754 a 1757, em um mosteiro budista
local, exercitando-se nas práticas meditativas do budismo. Após esse período,
regressou a Quioto, onde ficou até o final de sua vida. Foi então que mudou seu
nome para Yosa, nome de uma cidade na província de Tango, acredita-se que em
memória da mãe, que nasceu nessa região.
Além
de sua contribuição para a literatura e as artes visuais, Buson também era um
mestre do haiga, uma forma de arte que combinavam haiku e
pintura. Seus haigas, muitas vezes apresentavam uma harmonia entre a
palavra e a imagem, criando uma experiência estética única para o espectador.
Como
oportunidade de observar a riqueza dos haikus de Buson, citam-se abaixo
alguns exemplos, com anotações extraídas do Portal Nippo Brasil (nippo.com.br):
Vai-se a primavera
O alaúde nos meus braços
já bem mais pesado.
O kigo (termo
de estação) desse haicai é yuku haru (a primavera se vai), locução que
anuncia o fim da tão apreciada estação das flores e a chegada iminente da época
do calor.
O alaúde japonês,
chamado de biwa, é um instrumento musical de quatro ou cinco cordas e
tem sua origem mais remota no Oriente Médio. De lá, foi levado para a China,
chegando ao Japão no século VIII. Até antes da Era Meiji, menestréis
ambulantes, frequentemente cegos, sobreviviam recitando passagens da literatura
clássica ao som do alaúde, em especial as histórias da guerra entre os clãs
Taira e Minamoto, passadas no século XII.
Num mundo já sem
flores, a melancolia toma conta dos sentimentos. Resta cantar as lembranças do
passado, mas até o corpo parece perder suas forças. Buson traduz em sensação
física o fim a primavera.
Os dias se alongam –
Vão cada vez mais distantes
os tempos de outrora
O kigo desse
haicai é osoki hi, dia que termina tarde ou dia alongado. É a percepção
de que, dia após dia, o sol demora cada vez mais para se pôr, indicando que a
primavera chegou.
Às vezes, acontece
de sermos invadidos, sem mais nem menos, por lembranças “dos tempos de
outrora”, passadas há mais de um ano. Após meses de frio e dias curtos, uma
lufada de vento morno ou a constatação de que a noite demora a cair disparam
memórias de épocas passadas. Só então percebemos que mais uma primavera chegou
e que aquelas memórias pertencem a um passado que fica cada vez mais distante.
Para o autor, o
“outrora” ainda tinha outros significados. Podia se referir à Era Heian, um
tempo de refinada cultura dominada pelos nobres e seus palácios. Podia ainda se
referir a Bashô, seu modelo poético. Ambos fazem parte de um romântico passado
que Buson não viveu, mas que lhe despertava real nostalgia.
Escalo
a colina
cheio
de melancolia –
Ah, roseira-brava.
O kigo (termo
de estação) desse haicai é hana ibara, (nome científico Rosa
multiflora), arbusto espinhento de flores brancas e perfumadas, que traduzimos
por roseira-brava – planta que floresce no verão.
Tomado por uma
tristeza indefinida, o autor escala uma colina. Avista, então, uma
roseira-brava, planta que aprecia muito, por trazer lembranças da infância na
terra natal. Ao mesmo tempo, rememora um poema do chinês Li Po (701–762), do
qual transcrevemos partes:
No
Terraço da Fênix, onde esta outrora brincara,
Só se
ouve o murmúrio das águas.
(...)
Roupas e
luxos da dinastia Qin jazem nesta velha colina.
(...)
Uma nuvem
sobre o sol
esconde a
cidade para minha melancolia.
Buson transferiu o
sentimento do poema chinês para o mundo do haicai, onde cada planta do caminho
reverbera a melancolia do poeta. A nostalgia de Li Po é também a de Buson, cuja
infância jaz soterrada pelo tempo.
Joaquim
M. Palma, principal tradutor da poesia japonesa clássica, expôs: “Buson é, dos
quatro grandes, aquele que tem uma existência adulta que se pode considerar
como sendo a mais “normal” e tranquila. Organizou e manteve até ao fim uma vida
familiar tradicional, foi pai, em casa havia dinheiro suficiente para o
dia-a-dia […], viajou, dispunha de tempo para se dedicar ao estudo, à escrita e
à pintura, teve amigos leais, morreu velho […]. E este estado de coisas
reflectiu-se muito na sua escrita. Mercê de uma estupenda capacidade de
observação da realidade que o rodeia, do conhecimento profundo que tem dos
mestres antigos […], nos seus poemas é perfeitamente perceptível a existência
de uma atmosfera de desprendimento, de simplicidade, de liberdade e de ternura
pelas coisas pequenas do quotidiano”.
Obras exclusivas de Buson, em destaque na
Língua Portuguesa:
A
BORBOLETA E O SINO – uma antologia de haikus.
Cultura e Barbárie Editora, 2016. Tradução de Sérgio Medeiros. De acordo com a
Revista Memai (Letras e Artes Japonesas),
o Livro é
um esforço de mudar poemas japoneses de Yosa Buson para a língua portuguesa.
Sérgio Medeiros emprestou a expressão “poemas mudados para o português”, usada por
Herberto Hélder, que traduziu haicais e tankas, reunidos na antologia O bebedor nocturno. Neste empréstimo,
o tradutor indica o caminho da transcriação poética, cotejando versões em
inglês e francês e rudimentos de japonês.
OS QUATRO ROSTOS DO MUNDO - Editora Assírio &
Alvim, 2023. Tradução de Joaquim M. Palma. Eis um trecho da introdução feita
pelo tradutor:
À data da morte do poeta, um restrito grupo de amigos, desejando dar uma
imagem minimamente coerente da grandeza poética de Buson, decidiu fazer uma recolha
alargada de haikus, seleccionando aqueles que poderiam dar uma imagem
inequívoca dessa realidade criativa. No final, tinham seleccionado oitocentos e
sessenta e oito poemas, agruparam-nos por estações do ano, em dois volumes, e
deram ao trabalho o título de Haikus Escolhidos do Mestre Buson, que foi
publicado em 1785, um ano após a morte do autor. E é precisamente essa
antologia que agora apresentamos aos leitores portugueses.
Os
registros biográficos sobre a data de falecimento de Buson são incertos,
apontando-se tanto o ano de 1783 quanto 1784, sendo este último o ano mais
encontrado.
Buson
deixou um legado duradouro que influenciou gerações posteriores de artistas e
poetas japoneses. Sua obra continua a ser estudada e apreciada tanto no Japão
quanto internacionalmente, sendo reconhecida por sua beleza poética,
sensibilidade visual e profunda conexão com a natureza e a experiência humana.
Não
se encontra um retrato de Buson, portanto, registra-se nesta galeria dos
patronos uma ilustração, frequentemente encontrada nas pesquisas sobre sua
biografia, provavelmente, baseada em descrições históricas de Yosa Buson ou em
obras de arte que ele criou.
Autora: Sandra Boveto
4 comentários:
A beleza poética do haicai me fascina. Adorei conhecer mais sobre Buson.
A cultura japonesa encanta, mais ainda assim, em poesia haikai, capaz de descrever imagens.
Ótima pesquisa para embasamento do texto, Sandra. Gostei de saber sobre os registros de época no formato de haiga, um precursor do Grafitrix.
Interessante também, saber que os tradutores usaram a expressão "poemas mudados para o português”, já que é quase impossível traduzir os kigos sem adaptar as estações e elementos de pada país.
Obrigada pela riqueza do texto, Sandra.
Belíssimo trabalho Sandra!
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