3 de abr. de 2024

Eno Teodoro Wanke

 

NOME COMPLETO DO PATRONO: Eno Teodoro Wanke

NOME LITERÁRIO: Wanke

Eno Teodoro Wanke

 

DATA DE NASCIMENTO: 23/06/1923            

DATA DE FALECIMENTO 28/05/2001 

NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 17

FUNDADOR: Oswaldo Francisco Martins

NOME DO ACADÊMICO ATUAL: Oswaldo Francisco Martins

 

VIDA E OBRA DO PATRONO

 

Filho de Ernesto Francisco Wanke e de Lucilla Klüppel Wanke, Wanke nasceu em Ponta Grossa – PR. Foi alfabetizado na Escola Evangélica Alemã de Ponta Grossa, escola que viria a ser fechado em consequência de ação imposta pelo Estado Novo, tendo então sido transferido para o Liceu de Campos, que pertencia a professora Judith Silveira, que acabou por virar nome de rua na cidade onde nasceu Wanke.

Como aluno ainda estudou no Colégio Regente Feijó, de Ponta Grossa e no Colégio Santa Cruz, da cidade de Castro – PR, tendo no último terminado o Curso Ginasial, onde completou o ginásio. Foi morar em Curitiba – PR em 1948 e ali completou o Curso Científico no Colégio Iguaçu no Colégio Iguaçu. Em 1949 foi bem-sucedido em concurso vestibular para Engenharia Civil, curso que completou em 1953.

Após prestar vestibular, entrou para a Escola de Engenharia Civil da Universidade do Paraná, formando-se em 1953.

Exerceu atividades laborais como engenheiro civil:

– 1954-1955:  Prefeitura de Ponta Grossa como fiscal de construção de uma linha de alta tensão elétrica em Curitiba, da Companhia Força e Luz do Paraná;

– 1957: admitido no curso de Refinação de Petróleo, da Petrobrás, Rio de Janeiro, cujo ingresso se deu via por concurso público, curso que completou com êxito;

– 1958: ingressou na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, SP, tendo sido morador de Santos – SP por 11 anos contínuos;

– 1969: a partir deste ano e já transferido pela Petrobras para o Rio de Janeiro, desempenhou suas atividades na empresa até sua aposentadoria.

Na seara literária, seus escritos começaram a ser elaborados aos 11 anos de idade. Na construção do seu legado tesouro, Wanke se consagrou por apresentar várias facetas literárias e ter produzido escritos maravilhosos.

Wanke se notabilizou como poeta, trovador, contista, cronista, antologista, biógrafo, dicionarista, ensaísta, historiador, fabulista, prefaciador etc.

Com propriedade afirma a crítica literária que Wanke produziu textos literários que se nos conformam pertencentes aos ricos períodos do classicismo e do modernismo, tendo sido tudo escrito com extrema maestria, sendo muito bem navegado o lirismo, o romantismo e o parnasianismo pelo extraordinário paranaense escritor.

São destaques na obra de Wanke pensamentos humorísticos, esses expressos principalmente em clecs publicados e selecionados por Elmar Joenck, tais como os seguintes:

 

Quando um adjetivo mente, ele, por castigo, vira advérbio;

 Folha que se desprende da árvore não volta nunca mais;

 Melhor perder o trem do que perder a linha;

 O sol nasce para todos. Mas a maioria prefere dormir um pouco mais;

 Um tolo inteligente não fala, que é para não revelar sua condição. 


Famosíssimo escrito de Wanke é o soneto APELO, que contabiliza 160 versões para 95 idiomas e dialetos, trabalho esse que é considerado o soneto escrito em português mais traduzido para outros idiomas no mundo:

 

 

APELO

 

Eu venho da lição dos tempos idos

e vejo a guerra no horizonte armada.

Será que os homens bons não fazem nada?

Será que não me prestarão ouvidos?

 

Eu vejo a Humanidade manejada

em prol dos interesses corrompidos.

É mister acabar com esta espada

suspensa sobre os lares oprimidos!

 

É preciso ganhar maturidade

no fomento da paz e da verdade,

na supressão do mal e da loucura...

 

Que a estrutura econômica da guerra

se faça em pó! E que reinem sobre a terra

os frutos do trabalho e da fartura!

 

Wanke é considerado como criativo trovador e se que se notabilizou pelo intenso trabalho de propagador e historiador do Movimento da Trova Brasileira desde 1950.

Trovas antológicas foram escritas por Wanke trovador. Na rede mundial de computadores abundam excelentes trovas produzidas por Wanke. Algumas delas foram transpostas para ilustrar este texto:

 

Na praia deserta, eu penso

que a imagem da solidão

começa no mar imenso

e finda em meu coração.

 

O Rio de fevereiro
até no céu se intromete:
– a lua vira pandeiro,
estrelas viram confete.

(1º lugar - Maringá 1970)

 

Invejo a felicidade
de quem saudoso se diz.
– Quem hoje sente saudade
já foi, um dia, feliz!

 

Eu li tanto sobre o mal
resultante de beber,
meus amigos, que afinal
decidi deixar de ler...

Se a formiga é atarefada
de fato, quero que explique:
então por que é que a danada
nunca falta a um piquenique?...

 

Em Hollywood, a uma artista
jamais será permitido
em duas festas ser vista
usando o mesmo... marido!

 

Cuspiu na parede e quando
lhe chamaram atenção,
mostrou um cartaz rogando:
“Favor não cuspir no chão!”

 

No Brasil é atropelado
um sujeito, de hora em hora!
"Quê? Verdade?... Mas, coitado!
Por que ele não vai embora?...

Devemos ressaltar que tercetos, haicais e trovas configuram o lado minimalista da obra de Wanke. Deve-se ainda destacar que a trova monossilábica de Wanke representa o ínfimo de número total de sílabas poéticas desses poemas (tercetos e trovas) por óbvio. Centenas de livros e livrotes (ou livros de poucas ou menos de 49 páginas, conforme bem costumava dizer Wanke) estão disponibilizados e podem ser consultados em bibliotecas públicas do país ou estão à venda em sebos nacionais.

É mister ressaltar que Wanke se empenhou e se destacou na produção e na manutenção e no registro publicado da trova em geral (literária, popular, latrinária, escabrosa) no Brasil e para tanto atuou e

organizou e participou ao lado do Trovador Clério José Borges de Sant’Anna, dos Seminários Nacionais da Trova, no Estado do Espírito Santo, organizados pelo CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS, de 1981 a 1999. Recebeu o título de Cidadão Espírito-santense, conferido pela Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo. Faleceu a 28 de maio de 2001, deixando livros e livrotes que ultrapassam 1000 títulos.

Está presente em várias obras de Aparício Fernandes, entre outras: “NOSSAS TROVAS”, 1973; “NOSSOS POETAS”, 1974; “POETAS DO BRASIL”, 1975; “ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL”, 1976, 1977, 1978, 1979, 1980 e 1981; “NOSSA MENSAGEM”, 1977; “ESCRITORES DO BRASIL”, 1979, 1980. Participou também das “COLETÂNEAS DE TROVAS BRASILEIRAS”, organizadas pelo Trovador Fernandes Vianna, Recife, PE. Verbete de inúmeras obras literárias, entre outras: ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa, edição do MEC, 1990, edição revista e atualizada por Graça Coutinho e Rita Moutinho Botelho, em 2001[1].

 

 

Wanke foi membro da Academia de Letras dos Campos Gerais, na qual fundou e ocupou a cadeira de número 25. Deve-se ainda mencionar que a biblioteca dessa academia tem o nome de Biblioteca Paranista Eno Teodoro Wanke, tendo sido inaugurada em 20.09.2001, justo no ano em que Wanke veio a óbito.

São notáveis, extensas e variadas as obras do glorioso paranaense Wanke. A despeito disso, seguem exemplos pertinentes ao rico legado de mais de 1000 títulos deixados pelo magistral escritor:

 

NAS MINHAS HORAS (poesia, 1953);

MICROTROVAS (1961);

OS HOMENS DO PLANETA AZUL (sonetos, 1965);

OS CAMPOS DO NUNCA MAIS (poesia, 1967);

VIA DOLOROSA (sonetos religiosos, 1972);

A TROVA (estudo, 1973);

A TROVA POPULAR (estudo, 1974);

A TROVA LITERÁRIA (estudo, 1976);

REFLEXÕES MAROTINHAS (pensamentos humorísticos, 1981);

REFLEXÕES MAROTINHAS (pensamentos humorísticos, 1981);

 

VIDA E LUTA DO TROVADO RODOLFO CAVALCANTE (biografia, 1982);

 

A CARPINTARIA DO VERSO (didática da metrificação, 1982, 1989, 1990 e 1994);

 

DE ROSAS & DE LÍRIOS (minicontos, 1987);

 

O ACENDEDOR DE SONETOS (líricos, 1991);

 

ALMA DO SÉCULO (sonetos, 1991);

 

FÁBULAS (1993);

 

ADELMAR TAVARES, UM TROVADOR AO LUAR (biografia, 1997);

 

ANTOLOGIA DE SONETOS SOBRE A TROVA (1998);

 

CONTOS BEM-HUMORADOS (1998);

 

FARIS MICHAELE, O TAPEJARA (biografia, 1999);

 

ELUCIDÁRIO MÉTRICO (metrificação, 2000);

 

APARÍCIO FERNANDES, TROVADOR E ANTOLOGISTA (biografia, 2000);

 

NESTE LUGAR SOLITÁRIO (a trova em grafitos de banheiro, 1988);

 

ANTOLOGIA DA TROVA ESCABROSA (cobrindo a história do trovismo desde seu início em 1950, a obra é datada de 1989).

 

Eno Teodoro Wanke, cerca de um ano antes de falecer, teve o zelo de promover um verdadeiro levantamento de sua vida, o fazendo com a ajuda imensurável da autora da obra RADETIC, Therezinha. Eno Theodoro Wanke, sua vida e sua obra. Rio de Janeiro, Codpoe, 1900. 254 p.: il.; 21 cm.

Por demais recomendável é assistir o vídeo de Clério José Borges[2] com a viúva Irma Wanke, em sua residência no bairro Laranjeiras no Rio de Janeiro, ocasião em que além das publicações da obra, dos troféus, placas, medalhas e títulos conquistados por Wanke são mostrados, são também feitas citações ao casamento de Wanke e às filhas de nome Dorotea e Sofia.

 Eno Teodoro Wanke desencarnou no Rio de Janeiro em 28 de maio de 2001.

Singela nota final:

Cerca de dois meses antes da morte ocorrer, este poetrixta que redige esta biografia, escreveu uma carta ao Wanke solicitando autorização para publicar o soneto APELO na Revista da Casa do Poeta Brasileiro em Salvador, no que foi muito bem-sucedido e o soneto saiu no exemplar dessa publicação naquele mesmo ano.



[2] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=siFVYtUwP4Q. Acesso em: 01 abril

 2024.


Autor: Oswaldo Martins


4 comentários:

Andréa Abdala disse...

Belíssima trajetória literária!

Marilda Confortin disse...

Que grande escritor! Gostei muito de conhecer, Oswaldo. Parabéns pela pesquisa detalhada e farta. Obrigada!

Cleusa Piovesan disse...

Esse paranaense, "rei da trova" faz cócegas no coração da gente! Parabéns pelo texto, Oswaldo!

Lílian Maial disse...

Adorei conhecer um pouco do Wanke! Ele era sonetista, que é uma de minhas paixões! Muito bom o seu desenvolvimento da biografia, Oswaldo! Parabéns!