4 de abr. de 2024

YOSA BUSON


 

NOME COMPLETO DO PATRONO: Taniguchi Buson

NOME LITERÁRIO: Yosa Buson

Yosa Buson

 

ANO DE NASCIMENTO: 1716

ANO DE FALECIMENTO: 1784

NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 07

FUNDADOR: Dreyf Gonçalves

ACADÊMICA ATUAL: Sandra Boveto

 

VIDA E DO PATRONO

 

Yosa Buson é um dos quatro grandes mestres do haicai japonês (haiku). Deu novos ares à poesia japonesa com Matsuo Bashô, Issa Kobayashi e Masaoka Shiki. Nasceu Taniguchi Buson, em Kema, na província de Settsu (atual Osaka), no Japão, em 1716, 22 anos depois da morte de Bashô. Foi um dos mais renomados artistas japoneses do período Edo, conhecido, especialmente, por suas habilidades na pintura e poesia haiku.

Buson mostrou interesse precoce pela arte. Sua paixão o levou a Kyoto, onde estudou pintura com um artista do estilo nanga, uma forma de arte literária japonesa influenciada pela pintura chinesa. Nessa arte, destacam-se as pinturas que fez para o templo da Ilha de Shikoku.

Apesar de inicialmente se dedicar à pintura, Buson, eventualmente, se voltou para a poesia haiku, um gênero que lhe permitiu combinar sua habilidade pictórica com a expressão poética. Sua abordagem única para o haiku, frequentemente, envolvia a fusão de imagens visuais e sensações emocionais, resultando em poemas que refletiam esses aspectos. Sua poesia e sua pintura traduziam sua profunda conexão com a natureza e com a capacidade de capturar momentos fugazes e atmosferas evocativas.

Em 1737, Buson se mudou para Edo (atual Tóquio) para estudar pintura e haiku, na Shômon, escola de Bashô. Durante sua vida, Buson viajou extensivamente pelo Japão, absorvendo as paisagens e as pessoas que encontrava em suas obras de arte. Em 1751, estabeleceu-se em Quioto, como pintor profissional, onde passou a maior parte de sua vida.

Anos depois, mudou-se para Tango, onde viveu, de 1754 a 1757, em um mosteiro budista local, exercitando-se nas práticas meditativas do budismo. Após esse período, regressou a Quioto, onde ficou até o final de sua vida. Foi então que mudou seu nome para Yosa, nome de uma cidade na província de Tango, acredita-se que em memória da mãe, que nasceu nessa região.

Além de sua contribuição para a literatura e as artes visuais, Buson também era um mestre do haiga, uma forma de arte que combinavam haiku e pintura. Seus haigas, muitas vezes apresentavam uma harmonia entre a palavra e a imagem, criando uma experiência estética única para o espectador.

Como oportunidade de observar a riqueza dos haikus de Buson, citam-se abaixo alguns exemplos, com anotações extraídas do Portal Nippo Brasil (nippo.com.br):


Vai-se a primavera
O alaúde nos meus braços
já bem mais pesado.

 

O kigo (termo de estação) desse haicai é yuku haru (a primavera se vai), locução que anuncia o fim da tão apreciada estação das flores e a chegada iminente da época do calor.

O alaúde japonês, chamado de biwa, é um instrumento musical de quatro ou cinco cordas e tem sua origem mais remota no Oriente Médio. De lá, foi levado para a China, chegando ao Japão no século VIII. Até antes da Era Meiji, menestréis ambulantes, frequentemente cegos, sobreviviam recitando passagens da literatura clássica ao som do alaúde, em especial as histórias da guerra entre os clãs Taira e Minamoto, passadas no século XII.

Num mundo já sem flores, a melancolia toma conta dos sentimentos. Resta cantar as lembranças do passado, mas até o corpo parece perder suas forças. Buson traduz em sensação física o fim a primavera.

 

Os dias se alongam –
Vão cada vez mais distantes
os tempos de outrora

 

O kigo desse haicai é osoki hi, dia que termina tarde ou dia alongado. É a percepção de que, dia após dia, o sol demora cada vez mais para se pôr, indicando que a primavera chegou.

Às vezes, acontece de sermos invadidos, sem mais nem menos, por lembranças “dos tempos de outrora”, passadas há mais de um ano. Após meses de frio e dias curtos, uma lufada de vento morno ou a constatação de que a noite demora a cair disparam memórias de épocas passadas. Só então percebemos que mais uma primavera chegou e que aquelas memórias pertencem a um passado que fica cada vez mais distante.

Para o autor, o “outrora” ainda tinha outros significados. Podia se referir à Era Heian, um tempo de refinada cultura dominada pelos nobres e seus palácios. Podia ainda se referir a Bashô, seu modelo poético. Ambos fazem parte de um romântico passado que Buson não viveu, mas que lhe despertava real nostalgia.


Escalo a colina

cheio de melancolia –

Ah, roseira-brava.

 

O kigo (termo de estação) desse haicai é hana ibara, (nome científico Rosa multiflora), arbusto espinhento de flores brancas e perfumadas, que traduzimos por roseira-brava – planta que floresce no verão.

Tomado por uma tristeza indefinida, o autor escala uma colina. Avista, então, uma roseira-brava, planta que aprecia muito, por trazer lembranças da infância na terra natal. Ao mesmo tempo, rememora um poema do chinês Li Po (701–762), do qual transcrevemos partes:

 

No Terraço da Fênix, onde esta outrora brincara,

Só se ouve o murmúrio das águas.

(...)

Roupas e luxos da dinastia Qin jazem nesta velha colina.

(...)

Uma nuvem sobre o sol

esconde a cidade para minha melancolia.

 

Buson transferiu o sentimento do poema chinês para o mundo do haicai, onde cada planta do caminho reverbera a melancolia do poeta. A nostalgia de Li Po é também a de Buson, cuja infância jaz soterrada pelo tempo.

Joaquim M. Palma, principal tradutor da poesia japonesa clássica, expôs: “Buson é, dos quatro grandes, aquele que tem uma existência adulta que se pode considerar como sendo a mais “normal” e tranquila. Organizou e manteve até ao fim uma vida familiar tradicional, foi pai, em casa havia dinheiro suficiente para o dia-a-dia […], viajou, dispunha de tempo para se dedicar ao estudo, à escrita e à pintura, teve amigos leais, morreu velho […]. E este estado de coisas reflectiu-se muito na sua escrita. Mercê de uma estupenda capacidade de observação da realidade que o rodeia, do conhecimento profundo que tem dos mestres antigos […], nos seus poemas é perfeitamente perceptível a existência de uma atmosfera de desprendimento, de simplicidade, de liberdade e de ternura pelas coisas pequenas do quotidiano”.

 

Obras exclusivas de Buson, em destaque na Língua Portuguesa:

 

A BORBOLETA E O SINO – uma antologia de haikus. Cultura e Barbárie Editora, 2016. Tradução de Sérgio Medeiros. De acordo com a Revista Memai (Letras e Artes Japonesas),

o Livro é um esforço de mudar poemas japoneses de Yosa Buson para a língua portuguesa. Sérgio Medeiros emprestou a expressão “poemas mudados para o português”, usada por Herberto Hélder, que traduziu haicais e tankas, reunidos na antologia O bebedor nocturno. Neste empréstimo, o tradutor indica o caminho da transcriação poética, cotejando versões em inglês e francês e rudimentos de japonês.

 

OS QUATRO ROSTOS DO MUNDO - Editora‎ Assírio & Alvim, 2023. Tradução de Joaquim M. Palma. Eis um trecho da introdução feita pelo tradutor:

 

À data da morte do poeta, um restrito grupo de amigos, desejando dar uma imagem minimamente coerente da grandeza poética de Buson, decidiu fazer uma recolha alargada de haikus, seleccionando aqueles que poderiam dar uma imagem inequívoca dessa realidade criativa. No final, tinham seleccionado oitocentos e sessenta e oito poemas, agruparam-nos por estações do ano, em dois volumes, e deram ao trabalho o título de Haikus Escolhidos do Mestre Buson, que foi publicado em 1785, um ano após a morte do autor. E é precisamente essa antologia que agora apresentamos aos leitores portugueses.

 

Os registros biográficos sobre a data de falecimento de Buson são incertos, apontando-se tanto o ano de 1783 quanto 1784, sendo este último o ano mais encontrado.

Buson deixou um legado duradouro que influenciou gerações posteriores de artistas e poetas japoneses. Sua obra continua a ser estudada e apreciada tanto no Japão quanto internacionalmente, sendo reconhecida por sua beleza poética, sensibilidade visual e profunda conexão com a natureza e a experiência humana.

Não se encontra um retrato de Buson, portanto, registra-se nesta galeria dos patronos uma ilustração, frequentemente encontrada nas pesquisas sobre sua biografia, provavelmente, baseada em descrições históricas de Yosa Buson ou em obras de arte que ele criou.


Autora: Sandra Boveto


4 comentários:

Andréa Abdala disse...

A beleza poética do haicai me fascina. Adorei conhecer mais sobre Buson.

Dirce Carneiro disse...

A cultura japonesa encanta, mais ainda assim, em poesia haikai, capaz de descrever imagens.

Marilda Confortin disse...

Ótima pesquisa para embasamento do texto, Sandra. Gostei de saber sobre os registros de época no formato de haiga, um precursor do Grafitrix.
Interessante também, saber que os tradutores usaram a expressão "poemas mudados para o português”, já que é quase impossível traduzir os kigos sem adaptar as estações e elementos de pada país.
Obrigada pela riqueza do texto, Sandra.

Tercetaria & Cia disse...

Belíssimo trabalho Sandra!