5 de abr. de 2022

Comunicado: falecimento do poeta Anthero Monteiro

POETAS NÃO MORREM, ESTREIAM EM OUTROS PANTEÕES


A Academia Internacional Poetrix expressa sua tristeza pelo falecimento de Anthero Monteiro, de Portugal. 
Poeta dos mais atuantes, dos primórdios do Poetrix, participou das Antologias e publicações organizadas desde o nascimento do Poetrix até as mais recentes.
Sua escrita tem a capacidade de envolver, encantar, arrebatar, surpreender todos os que leem seus maravilhosos poemas, minimalistas ou não.
Estamos tristes, ao mesmo tempo agradecidos pelo tempo em que ele esteve conosco.
Nosso conforto é a perenidade da sua inigualável palavra, em poemas imorredouros.
Esteja em paz, querido poeta! Para sempre salve a Poesia!

ressurreição
(Anthero Monteiro)

...e Lázaro chorou não de prazer
mas sim porque sabia
que iria remorrer

Antologia 5 - 2017


ORTOGRAFIA
(Anthero Monteiro)

uma gaivota só
um til sobre a palavra
imensidão
OCASO
(Anthero Monteiro)

Fuga
em Sol
menor
MORTE
(Anthero Monteiro)

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga
maré-cheia

vem agora
não tardes: é a hora
de afogarmo-nos

Antologia Poetrix 5 - 2017

QUANDO EU FOR GRANDE
(Anthero Monteiro)

quando eu for grande
quero ser do tamanho de uma brisa
suave leve improvisa

quero ser um olhar de violeta
o verso livre de um poeta
um rouxinol e o seu estribilho

quero ser uma borboleta escondida
a espreitar a vida
da corola de um pampilho

quando for maior muito maior
nem preciso ser mais do que um aceno

enfim quando for grande
quero ser pequeno

O MUNDO PAROU
(Anthero Monteiro)

repentinamente o mundo para de girar
não tarda nada vou ser projetado no espaço
o vento é uma asa congelada as nuvens carros avariados
o mar não mexe os barcos pasmaram

não há qualquer indício de ti
habitas decerto outro planeta
ou o cárcere longínquo de uma torre vigiada
caíste num pego sem fundo
perdeste a direção o sentido os sentidos se não a própria vida
um raio caiu entre nós olhamo-nos como pedras
a lava de um vulcão envolveu-nos para sempre
um silêncio inaudito brada na via láctea

por favor mexe um dedo a ver se tudo recomeça
por favor pestaneja para que o ar se mova
por favor inventa um sorriso para tudo descongelar
por favor põe os teus cabelos a fabricar mais volutas
para que essas espirais sejam o ovo de um ciclone
o olho de um furacão o eclodir de uma grande catástrofe

sim é urgente uma grande catástrofe
porque é preciso recomeçar tudo de novo
mais que soldar o eixo do planeta
impõe-se colar a recordação à realidade
e porem-nos a girar lado a lado
na mesma órbita
————-
in Sulcos da Memória e do Esquecimento,
Porto, Corpos Editora, 2013.

______________
Nota: A biografia do poetrixta Anthero Monteiro pode ser lida, na íntegra, no menu da AIP - Academia Internacional Poetrix

Um comentário:

Dirce Carneiro disse...

Nossa gratidão por ter estado entre nós, poetrixtas, poetas, escritores. Nossa saudade por tudo o que representou e será sempre presente através da sua obra e das boas lembranças.