6 de abr. de 2024

MILLÔR FERNANDES

 

NOME COMPLETO DO PATRONO: MILTON VIOLA FERNANDES

NOME LITERÁRIO: MILLÔR FERNANDES

Millôr Fernandes

 

DATA DE NASCIMENTO: 16/08/1923            

DATA DE FALECIMENTO: 27/03/2012 

NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 28

FUNDADOR: Marcelo Marques Ferreira

NOME DO ACADÊMICO ATUAL: Marcelo Marques Ferreira 

 

VIDA E OBRA DO PATRONO



            Millôr Viola Fernandes (1923-2012) nasceu no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923. Era filho do engenheiro Francisco Fernandes um imigrante espanhol, e de Maria Viola Fernandes. Deveria ter se chamado Milton, mas a caligrafia do tabelião o fez Millôr.

Millôr Fernandes foi um desenhista, humorista, tradutor, escritor e dramaturgo brasileiro. Conhecido por suas frases provocativas e bem-humoradas, é considerado um dos maiores dramaturgos do país. Era um artista com múltiplas funções. Escreveu colunas de humor para as revistas O Cruzeiro e Veja, para o tabloide O Pasquim e para o Jornal do Brasil.

            Ele ficou órfão de pai quando tinha dois anos de idade. Passou a infância ao lado da mãe e dos irmãos, Hélio, Judith e Ruth, época em que enfrentaram dificuldades financeiras.

            Aos 12 anos, perdeu a mãe e os irmãos se separaram. Millôr foi morar na casa de um tio materno. Com habilidades para o desenho e leitor de histórias em quadrinho, copiava quadro por quadro com perfeição.


Início da carreira


            Incentivado pelo tio Antônio Viola, Millôr levou seus desenhos para o periódico O Jornal, que logo foram publicados lhe rendendo uns trocados.

            Em 1938, com 15 anos, o jovem Millôr ingressou no mercado de trabalho, como office-boy em um consultório médico e na revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand. Para se aperfeiçoar em sua especialidade além de iniciar seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Nesse ano, foi o vencedor em um concurso de contos da revista A Cigarra, onde passou a trabalhar.


No ano seguinte, escreveu para o Diário da Noite e se tornou diretor das revistas A Cigarra, O Guri e Detetive. Já em 1942, fez sua primeira tradução: A estirpe do dragão, da escritora americana Pearl S. Buck (1892-1973). Em 1943, terminou seus estudos no Liceu e retornou à revista O Cruzeiro.

Cinco anos depois, em 1948, o autor viajou aos Estados Unidos, onde conheceu Walt Disney (1901-1966). Nesse mesmo ano, casou-se com Wanda Rubino. Já em 1951, fez uma viagem pelo Brasil, durante quarenta e cinco dias, em companhia do escritor Fernando Sabino (1923-2004), com o intuito de conhecerem melhor o país. Em 1952, Millôr viajou para a Europa, conheceu a Itália e, em seguida, Israel.

A primeira peça teatral do autor — Uma mulher em três atos — estreou em 1953. A partir de então, ele iniciou uma carreira bem-sucedida no teatro. Também apresentou o programa de televisão Universidade do Méier, na TV Itacolomi, em 1959. No ano seguinte, sua peça Um elefante no caos estreou após censura. Com ela, Millôr Fernandes ganhou o prêmio de melhor autor da Comissão Municipal de Teatro.

O dramaturgo e desenhista conheceu o Egito, em 1961. Dois anos depois, esteve também em Portugal. Nesse mesmo ano, abandonou O Cruzeiro e foi trabalhar no Correio da Manhã. Em 1964, criou a revista Pif-Paf. No mais, colaborou em vários periódicos durante a sua vida, tais como: O Jornal, Tribuna da Imprensa, Veja, O Pasquim, IstoÉ, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo, Bundas e O Estado de S. Paulo.

Da década de 1960 até a sua morte, ocorrida em 27 de março de 2012, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o teatro foi um dos principais meios de expressão do artista, mas ele participou também de programas de televisão.

No início de sua carreira, ele usava pseudônimo, mas, depois, decidiu assumir o nome Millôr, pois, em sua certidão de nascimento, o nome Milton ficou com o “t” sem traço, colocado sobre a letra “o”; já o “n” ficou faltando um pedaço, daí a palavra “Millôr”."

Revista O Cruzeiro

No começo dos anos 40, Millôr começou a assinar a coluna O Pif-Paf para a revista O Cruzeiro, em parceria com o cartunista Péricles. Continuou assinando com a alcunha, mesmo durante o período áureo na revista, entre 1945 e início dos anos 60.

Como desenhista, dividiu o primeiro lugar com o americano Saul Steinberg, em um concurso realizado na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1956.

No ano seguinte, organizou uma exposição individual com seus desenhos e pinturas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Sua coluna O Pif-Paf, que depois viraria uma revista à parte, mas de vida breve foi um dos carros chefe da maior publicação nacional do período. Já confiante, em 1962, assumiu seu nome da certidão.

Em 1963, publicou em O Cruzeiro uma versão da história de Adão e Eva, que despertou a ira religiosa dos leitores e terminou com sua demissão da revista, acusado de fazer matéria “insultuosa às convicções religiosas do povo brasileiro”.

Além de seu espírito provocador, Millôr tinha uma grande capacidade de criar aforismos e suas ilustrações estavam repletas de humor e criatividade:

Revistas Veja e O Pasquim

Em 1968, Millôr passou a publicar seu trabalho na revista Veja. Nesse mesmo ano, ajudou a criar O Pasquim, um tabloide que fustigava a ditadura militar e que, na opinião de Millôr, “se fosse independente não duraria 100 dias e se durar 100 dias não é independente”. O jornal durou 8.173 dias.

Em 1970, os responsáveis pela editoria do tabloide O Pasquim foram presos, entre eles, Ziraldo, Fortuna, Sérgio Cabral e Paulo Francis, que permaneceram dois meses na cadeia.

Em 1971, Millôr assumiu a presidência de O Pasquim, que estava submetido à censura prévia. A liberação do tabloide só veio em 1975.

Millôr insistiu em fazer propaganda política para Leonel Brizola, então candidato ao governo do Rio de Janeiro, na sua seção da Veja, mas foi demitido em 1982, porém, voltou a escrever para a revista em 2004, permanecendo até 2009.

Outros trabalhos

Millôr deu o nome de Poste-Escrito ao conjunto de frases, versos, textos inteligentes e engraçados. A página fez sucesso imediato e acabou por virar uma coluna fixa na revista e assinava a coluna com o nome de Vão Gôgo, alcunha que usou durante um longo período.

Foi ainda colunista da revista Isto É, do Jornal do Brasil, de O Estado de São Paulo, O Dia, o Correio Brasiliense e a Folha de São Paulo. Millôr também escreveu várias peças teatrais, crônicas e diversos livros.

Millôr Fernandes foi casado com Wanda Rubino entre 1948 e 2012. Com ela teve dois filhos, Ivan e Paula.

Morte

Em 2011 Millôr Fernandes foi vitimado por um AVC, que lhe deixou bastante debilitado, e que lhe levou a permanecer por um longo período no hospital.

Millôr Fernandes faleceu em sua casa em Ipanema, Rio de Janeiro, no dia 27 de março de 2012.


Características da obra de Millôr Fernandes

Os textos de Millôr Fernandes, tanto a prosa quanto as peças de teatro, são caracterizados pelo humor, muitas vezes ácido. A ironia também está presente em sua obra, marcada por um espírito provocativo, que leva os/as leitores/as e, também, o público de teatro a refletirem sobre a realidade e sair da zona de conforto a que todos recorremos em nosso dia a dia.

A crítica sociopolítica é marcante em sua obra, que também se presta à reflexão acerca da natureza humana. No texto teatral, em particular, o autor transita entre a crítica de costumes — algo recorrente em sua dramaturgia — e o discurso político.

Por fim, além de ser conhecido por suas comédias sobre o cotidiano carioca, o autor também enveredou pelo caminho do teatro de resistência, como a crítica define o espetáculo Liberdade, liberdade, e pelo chamado teatro do absurdo, assim definida, pela crítica especializada, a peça Um elefante no caos."

 

Publicações em prosa

Eva sem costela: um livro em defesa do homem (1946)

Tempo e contratempo (1949)

Lições de um ignorante (1963)

Fábulas fabulosas (1964)

Esta é a verdadeira história do Paraíso (1972)

Trinta anos de mim mesmo (1972)

Livro vermelho dos pensamentos de Millôr (1973)

Compozissõis imfãtis (1975)

Livro branco do humor (1975)

Devora-me ou te decifro (1976)

Millôr no Pasquim (1977)

Reflexões sem dor (1977)

Novas fábulas fabulosas (1978)

Que país é este? (1978)

Todo homem é minha caça (1981)

Diário da Nova República (1985-1988)

Eros uma vez (1987)

The cow went to the swamp ou A vaca foi pro brejo (1988)

Millôr definitivo: a bíblia do caos (1994)

Crítica da razão impura ou O primado da ignorância (2002)

100 fábulas fabulosas (2003)

Apresentações (2004)

Novas fábulas & Contos fabulosos (2007)

Circo das palavras (2007)

O mundo visto daqui: Praça General Osório (2010)

A entrevista (2011)

 

Em poesia

Papáverum Millôr (1967)

Hai-kais (1968)

Poemas (1984)

 

Em texto teatral

Uma mulher em três atos (1953)

Do tamanho de um defunto (1955)

Bonito como um deus (1955)

Diálogo da mais perfeita compreensão conjugal (1955)

Um elefante no caos (1962)

Pif, tac, zig, pong (1962)

Liberdade, liberdade (1965) |1|

Pigmaleoa (1965)

A viúva imortal (1967)

Computa, computador, computa (1972)

É... (1977)

A história é uma história (1978)

Os órfãos de Jânio (1979)

O homem do princípio ao fim (1982)

Duas tábuas e uma paixão (1982)

A eterna luta entre o homem e a mulher (1982)

Kaos (1995) – Nota: escrita em coautoria com Flávio Rangel (1934-1988), a peça pode ser considerada um musical.

 

Frases de Millôr Fernandes


"A morte é compulsória, a vida não."

"Amor não é coisa para amador."

"O ruim das amizades eternas são os rompimentos definitivos."

 "A boca é o aparelho excretor do cérebro."

 "Errando é que se aprende a errar."

 "Especialista é o que só não ignora uma coisa."

 "As estatísticas provam: as estatísticas não provam nada."

"A vida seria muito melhor se não fosse diária."

 "Clássico é um escritor que não se contentou em chatear apenas os contemporâneos."

"Brasília é o desnecessário tornado irreversível."

 "O político é um gaiato que prefere a aversão ao fato."

 "Livrai-me da justiça, que dos malfeitores me livro eu."

 "Me arrancam tudo à força e depois me chamam de contribuinte."

 "O sujeito que me fará acreditar na imortalidade da alma ainda está para ressuscitar."

 “Não se escreve com 11 palavras o que se pode escrever com 10 (a não ser que você seja americano e ganhe por palavra; aí a proposição deve ser invertida).”

 “Todo homem nasce original e morre plágio.”

 “E isso é isso.”

 “Abdômen: palavra machista significando barriga pra ambos os sexos. Deveria haver também abdmulher.”

 “O B é um l que se apaixonou por um 3.”

 “Dar mel não faz da abelha um ser superior.”

 “Aborígine é a maneira pejorativa dos conquistadores chamarem o dono da propriedade.”

 “Só uma coisa preenche tudo — o nada.”

 “Não beber é o vício dos abstinentes.”

 “O pior abutre é o desespero.”

 “Não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte.”

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Autor: Marcelo Marques Ferreira

 

Referências

Foto 1 https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/mi/ll/millor-fernandes-l.jpg?auto_optimize=low&width=255

Foto 2 https://recantodopoeta.com/storage/2019/04/millor-fernandes-2005-original.jpeg

https://www.ebiografia.com/millor_fernandes/

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/millor-fernandes.htm

https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/mi/ll/millor-fernandes-l.jpg?auto_optimize=low&width=255

https://recantodopoeta.com/storage/2019/04/millor-fernandes-2005-original.jpeg

4 comentários:

Marilda Confortin disse...

O Millôr era genial! Obrigada pela pesquisa, Marcelo 👏

José de Castro disse...

Para mim que também escrevo humor, Millôr sempre uma referência... Eu tive uma coluna de humor num jornal do Vale Paraibano, em São José dos Campos. Publicava frases e dei o nome de PÓS ESCRITOS à minha coluna. Só tempos depois é que soube que Millôr assinava uma coluna intitulada POSTE ESCRITO. Ele era genial em tudo o que fazia... Parabéns pelo excelente texto, Marcelo.

Cleusa Piovesan disse...

Bela pesquisa biográfica, Marcelo! Millôr representa nossa literatura de protesto de forma irreverente!

Andréa Abdala disse...

Conheci mais da poesia minimalista com Millor. Sempre apreciei seus poemas! Belo Patrono!!