NOME COMPLETO: Terezinha P. S. Sayago Soares
NOME LITERÁRIO: Tê Soares
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Tê Soares |
DATA DE NASCIMENTO: 15/11/1952, em São Paulo/SP
DATA DE FALECIMENTO: 23/04/2023, em Brasília/DF
NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 27
FUNDADOR: Cleusa Piovesan
NOME DO ACADÊMICO ATUAL: Cleusa Piovesan
VIDA
E OBRA
Apresentação
Para resgatarmos uma memória, individual ou
coletiva, vamos falar de Tê Soares? Quem é essa poetrixta, cuja presença no
universo do Poetrix se tornou tão importante, e foi para outro plano de
existência tão cedo? Tê Soares possuía Graduação em Letras e em Pedagogia, na
Universidade do Distrito Federal (UDF), atuou como professora e coordenadora
pedagógica, no Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Brasília. E também era corretora das provas do ENEM.
A relevância de escrever esta biografia é
fazer o resgate do legado de uma poeta, que sobrevive à dualidade tempo e
espaço, porque sua obra perpassa o tempo e ocupa um novo espaço, o espaço da
memória, que resgata pessoas e fatos, edita-os, atualiza-os, e, assim,
recriam-se, por meio da intertextualidade, novos olhares sobre os registros
históricos, numa realidade ultra e interdimensional, que só a poesia pode
explicar.
Na primeira pesquisa, já me deparei com uma
frase que me chamou a atenção, com a qual minhas ideias também coadunam ... é maravilhoso ter intimidade suficiente
com as palavras para brincar com elas, além de ser pura arte...[1]. E
houve outras conexões com o fazer poético de Tê Soares que me instigaram a pesquisar
seus escritos.
Na mensagem de despedida de Pedro Cardoso a
Tê Soares, há um Poetrix dela que, mais tarde, percebi, como se conectava
comigo, numa sintonia poética, além da realidade concreta. Este poema – 1º
Lugar nos I Jogos Florais “Palavras e Música”, Chamusca – Portugal – me conecta
a Tê:
FUGAZ[2]
Cama desarrumada,
liberdade para as borboletas
estampadas nos lençóis...
Falar de ter Soares não é
fácil, pois ela tinha uma vida muito reservada e seus Poetrix estão espalhados
apenas em arquivos avulsos, aos quais apenas seus amigos da literatura têm
acesso, sendo difícil falar expor a amplitude de sua poesia. Talvez as palavras
de Clarice Lispector expliquem o eu poético de Tê Soares, quando diz de si
"O que escrevo agora não é para ninguém: é diretamente para o próprio
escrever, esse escrever consome o escrever. Este meu livro da noite me nutre de
melodia cantabile. O que escrevo é
autonomamente real[3]”. O que
me resta é fazer um trabalho meticuloso para que nada se perca e consiga
registrar quão grande é o legado de Tê Soares, na composição do Poetrix, uma
vez que ela também despertou minha veia poética, e compus um Poetrix em
homenagem a ela, registrando um encontro entre almas sensíveis, perpassando os
limites do tempo e da realidade:
PESQUISA POÉTICA
Uma
mulher à sombra das imagens
outra
mulher com candeeiro na alma
ambas
iluminadas pela poesia
Tecerei algumas análises a respeito dos
poucos Poetrix que encontrei, explorando a relação imagem texto em que a
poetrixta era uma exímia artesã. Há também a análise de alguns Duplix, e de
alguns Triplix, ampliações do Poetrix, em que Tê Soares teve parceria na
criação de novo gênero, a partir do Poetrix.
Há nas composições da autora, nos Poetrix
selecionados para esta apresentação, um corte temporal de uma década entre cada
grupo de poemas aqui expostos, o que não compromete a qualidade de sua escrita,
porque sendo o primeiro grupo de 2001, outro de 2012, e os mais atuais, de
2022. Pode-se contatar que a Tê Soares tem uma poesia atemporal, o que
demonstra que foi uma poeta da contemporaneidade – viveu em seu tempo, entendeu
e agregou aspectos do passado, magistralmente.
A simplicidade é marca registrada dos Poetrix
de Tê Soares, porque, na observação do cotidiano, ela consegue extrair a magia
da poesia, e ampliar seus significados para além do concreto, extrapolando em
poucas palavras o que se levaria horas para entender ou explicar. E o lema
desse gênero literário, criado por Goulart Gomes, em 1999, "o mínimo é o
máximo", é seguido à risca pela autora.
A concisão que Tê emprega nos versos dos
Poetrix sintetiza a preocupação com o fazer poético, seguindo os preceitos das
Diretrizes da AIP[4] para compor um bom
Poetrix, cujos pilares se encontram fundamentados na “independência sintática
de cada verso, diversidade vocabular, elemento surpresa, concisão e síntese,
linguagem poética”. Não basta criar três
versos e distribuí-los em 30 sílabas poéticas. É preciso extrema reflexão para
se "dizer o máximo com o mínimo de palavras", e nessa arte Tê Soares
era uma exímia criadora de encantamentos poéticos.
A evocação de imagens que suscita de seus
poemas nos remete a uma poeta extremamente sensitiva, a quem a inquietação
sobre a própria existência a faz desvelar-se em cada verso. Eis alguns Poetrix,
de 2021, que comprovam toda a sinestesia empregada em sua composição!
Estética (Tê
Soares) 07/2003
Das
muitas cicatrizes,
algumas,
tão bem feitas,
já
são tatuagens.
A técnica de distribuir uma frase de sentido
completo entre os três versos é recorrente na poética de Tê, e facilita o
entendimento do leitor uma vez que a poesia, na maioria das vezes, mostra-se
fragmentada, o que dispersa o entendimento, razão pela qual muitas pessoas
dizem "não leio poesia porque não entendo". De fato, a distribuição
do texto na vertical, as lacunas que o leitor tem de preencher ao ler poesia, a
linguagem figurada, tornam, muitas vezes, complexo o seu entendimento. Tê tem consciência
disso e em seus Poetrix, quase sempre, ela se utiliza do recurso poético enjambement, como pode ser observado no
Poetrix Estética.
Poucos Poetrix da autora foram publicados. Os
dois poemas, a seguir, escritos para a Antologia Poetrix. Movimento
Internacional Poetrixta (MIP)[5]
seguem a mesma estratégia do enjambement,
o que confere simplicidade à poética de Tê Soares, ao mesmo tempo que
desconstrói o que se espera de um poema que, normalmente, não é narrativo.
...AMÉM! ...
ave
palavra, cheia de graça
bendito
é o fruto do teu ventre
que
me traz, sempre, um pão pra comer.
O Poetrix, ...
Amém..., ao mesmo tempo que é uma oração, uma súplica, é um agradecimento,
é um paradoxo, e traz a intertextualidade com o texto bíblico. Apresenta uma
temática que converge com a condição do ser humano de estar em busca do
espiritual, uma conexão com Deus, que pode ter diferentes simbologias, de
acordo com a fé de cada um. Tê conecta-se com o leitor por meio da imagem de
suas ações cotidianas em relação à expressividade da fé.
Na simplicidade das composições de Tê Soares,
podemos visualizar pessoas e fatos, de modo que a evocação das imagens que cada
Poetrix apresenta, despertam um click imediato e a cena se apresenta,
holograficamente. Outro exemplo é o poema a seguir:
JURAS
no dorso amante,
a mão ausente
é dor só.
Esse Poetrix também contém um paradoxo, e
conta uma história. É possível perceber que ao mesmo tempo em que faz promessas
demostra a dor pela perda, que pode ser interpretada como a condição de luto
pela ausência do/a amado/a falecido/a, ou pelo rompimento de uma relação,
possibilitando, também, uma interpretação ambígua. Em ambas, a promessa é de
não esquecimento, por meio da sinestesia e do eufemismo, e da ambiguidade no
último verso “é dor só; uma dor solitária ou apenas dor? Essa preocupação com a
utilização de mecanismos da poesia, faz dela uma mestra na composição do
Poetrix, que lhe deu a liberdade de criar, sem as marcas da formalidade.
1. A
criação do Duplix: experimentação poética
Tê Soares é co-criadora do Duplix, uma
ampliação do Poetrix, juntamente com Pedro Cardoso, numa parceria poética que
captou as possibilidades que a linguagem literária nos proporciona, pois,
juntando dois Poetrix independentes, eles perceberam que ambos se entrelaçavam,
criando um novo poema. Esse conceito foi ampliado para o Triplix e,
posteriormente, para o Multiplix, ou seja, a parceria de autores com uma
composição individual, cuja temática apresenta um sentido em comum. Sendo
possível a junção, cria-se nova composição poética, faz-se uma brincadeira com
a linguagem, que nos mostra que em poesia nada é estanque, sempre há
possibilidades de ir além de o que está dito e, até é possível, explorar os
interditos sugeridos pela inspiração e pela intencionalidade de cada autor.
Pedro Cardoso e Tê Soares entraram em
consenso de que a melhor definição para o Duplix e o Triplix foi a que Goulart
Gomes, criador do Poetrix deu: O duplix é
uma viagem! Realmente, é muito empolgante entrar na poesia "alheia" e
tomar conta dela, criando algo novo. Esse pensamento coaduna com a
afirmação de Pignatari (2004, p. 116), que afirma que “as artes da literatura entram em nova conjunção cíclica, em que o
verbal é recuperado pelo não-verbal, de modo a revelar novos extratos e novas
virtualidades de sua própria natureza – em novas criações e criações novas”.
Só é possível entendermos a grandiosidade da
obra de Tê Soares, por meio da memória prodigiosa de Pedro Cardoso e dos
registros que ele guarda de suas composições com a amiga, compartilhados comigo
por meio de contato pelo WhatsApp.
Sendo Tê Soares uma poeta que mantinha sua
vida literária restrita a poucos contatos com outros autores do universo
Poetrix, garimpar sua trajetória na literatura dependeram do auxílio das
pessoas que com ela conviveram. Sem esse auxílio, não poderíamos conhecer Tê
Soares, essa autora que nos instiga a “pensar o mundo” por meio da semiótica e
sua relação signo/significado, uma vez que não dá para ler um Poetrix seu sem
criar uma imagem mental que o represente.
Pedro Cardoso também se recordou da primeira
vez em que falou do Duplix, em 23/11/01, e disse que “o Duplix é um “casamento
de ideias” que pode ser aperfeiçoado em muito, acho que ele ainda está
nascendo, muitas ideias podem ser implementadas para que desenvolva”, e
complementou “o Duplix veio para fortalecer os laços de amizade entre nós”. Ele
e Tê compuseram um Duplix que representa o quão é importante a sintonia entre
os autores para que o Duplix apresente qualidade literária, não apenas uma
junção aleatória.
DUPLIX
Pedro Cardoso //FELIZ Tê Soares
é uma parceria//uma alegria
um gozo a dois//um sonho do depois
sem mais nem porque//como porto, cais em
você...
A conexão entre esses dois poetrixtas,
brinda-nos com um Duplix composto por rimas. A composição de um bom Poetrix, as
rimas não são obrigatórias, e quase não ocorrem, uma vez que outros recursos
são privilegiados, principalmente, o uso de figurações, ambiguidades e
intertextualidade, o que lhe confere complexidade, mesmo sendo composto com
apenas um título e três versos, mas a junção, no Duplix de Pedro Cardoso e Tê
Soares, primou pelo ritmo e musicalidade, sem comprometer a beleza dos versos.
Nos
Poetrix de Tê Soares, percebe-se que o uso de poucos verbos de ação, porque ela
envolve as ações do eu lírico com verbos nominais, extraindo-lhes as emoções
que desencadeiam o sentido completo do poema por meio de circunstâncias
sugeridas por outras classes gramaticais, como pode ser percebido nos poemas Fugaz, Juras, ...Amém!..., Estética,
Imaginação.
2. Novas
parcerias poéticas e a ampliação do Duplix para o Triplix
A poesia não é um fenômeno estanque, por
isso, de tempos em tempos, novas formas poéticas vão se agregando às já
existentes e sugerindo novas possibilidades de expressão literária. O Triplix
surgiu da ampliação do Poetrix, composto por dois autores, para a composição em
trio. A conexão entre os autores é estabelecida por meio da temática e por meio
da conjunção que pode ser estabelecida entre as composições.
Pode-se perceber, claramente que o Poetrix
dela, composto há 20 anos, segue o recurso do enjambement, enquanto os meus, na atualidade, privilegiam a conexão
entre os versos pela independência dos versos e pela conexão implícita de
sentidos entre eles.
A poesia conecta seres que têm uma paixão em
comum, e isso o filme Sociedade dos
poetas mortos (1989), estrelado por Robin Williams fez tanto sucesso. É
preciso ler, ouvir e assimilar o legado dos que partiram.
Outro Triplix que vale a pena registrar é
este de Tê Soares, em parceria com a poeta mineira Nana Merij e Pedro Cardoso,
composto em 13/08/01:
DESFOLHARES
Nana Merij // FOLHAS MORTAS Pedro Cardoso // ARES E COMPORTAS Tê Soares
Apago sobras,// de um amor
distante// de agora em diante
De dor e mágoa.//guardo as
cicatrizes...// quiçá sejam águas sob as
marquises
Folhas
mortas.// escondidas em meu coração// a lavar trancas e portas, sonhos
E este, de cunho erótico, que não encontrei a
data de composição, mas suponho que seja da mesma época do anterior:
REVOLUÇÃO
Maria José Limeira // TRAIÇÃO Pedro Cardoso / TESÃO Tê Soares
Você chegou de repente.//
Buliu o meu corpo// cravou-me os dentes
Nenhum aviso me deu.//
fugiu como uma vadia// e partiu com a mão vazia
Me subverteu...//na
escuridão da noite// levando dois desejos: o meu e o teu...
Por encontrar tanta preciosidade poética, conhecer,
estudar, analisar, aprofundar-me na obra de Tê Soares permitiu que eu me
conectasse a ela, numa experiência poética transcendental, porque vivi a
possibilidade de visitar um outro mundo, um universo poético que se conecta ao
meu e ao de outrem, porque está impregnado de versos que conecta nossa essência
de humanidade.
Tê Soares nos apresenta uma poesia autêntica,
embebida de subjetividade, de exacerbação de sentimentos, de emoções que nos
remetem às nossas vivências, por isso, o que ela escreveu vem ao encontro de
ideologias e de idiossincrasias que se conectam com o senso de humanidade de
muitos outros poetas e mantém viva a chama de sua existência terrena.
3. A arte da sedução na poética de Tê
Soares
Tê
Soares também se aventurou na escrita de poesia erótica, como já foi possível
perceber no Triplix composto por Tê Soares com Maria José Limeira e Pedro
Cardoso. E, se considerarmos que os poemas a seguir foram escritos em 2001,
podemos perceber que a poetrixta expõe ao público uma poesia libertária, uma
vez que as mulheres, ao adentrarem o espaço da literatura erótica também estão
expostas, porque é difícil para o leitor diferenciar a voz do eu lírico com a
voz da autoria.
O
Poetrix Fugaz despertou a veia
poética erótica de Pedro Cardoso que, aprofundando o jogo de sentidos e imagens
que o poema carrega, compôs não um, mas dois Duplix com Tê, ampliando a conexão
entre as duas criações poéticas, além de ampliar as interpretações que o poema
sugere, alterando a ordem de colocação de cada Poetrix.
Fugaz
Tê Soares (DF)//Amante
Pedro Cardoso (DF)
Cama desarrumada,//corpos
jogados,
liberdade para as
borboletas//agora somos
estampadas nos
lençóis...//carcaça de nós...
Amante
Pedro Cardoso (DF)//Fugaz Tê Soares
(DF)
corpos jogados,//cama
desarrumada,
agora somos//liberdade
para as borboletas
carcaça de
nós...//estampadas nos lençóis...
A
ousadia da autora foi além de alguns escritos, pois vários poemas apresentam o
erotismo em sua beleza e despertam, além da imaginação, muito falatório, porque
falar de sexualidade desvela um baú de desejos contidos, à luz de uma sociedade
que vive nas trevas do preconceito e que faz com que esse viés da literatura
seja explorado por poucos autores. Tê ousou. E o eu lírico de seus Poetrix
eróticos revelou-nos toda sua sensibilidade com tema tão melindroso, muito mais
restrito à imaginação e à prática clandestina do que às “vias de fato”.
IMAGINAÇÃO
em
meu seio tímido
um
sexo solidário
me
desorganiza. E agora?
Esse
poema de Tê Soares fez eco na imaginação do poeta Djalma Filho e ambos, unindo
suas composições, criaram um maravilhoso Duplix, composto em 13/08/01, permeado
de sedução e dos interditos do erotismo, numa sintonia que faz a cadência do
ato sexual se tornar uma dança, na qual os parceiros se conectam, entrelaçando
corpos e extravasando a emoção.
EJACULAÇÃO
Djalma Filho//IMAGINAÇÃO Tê Soares
Tua boca úmida//em meu seio tímido
entre pernas solitárias//um sexo
solidário
molha meu colo.//me desorganiza. E
agora?
As imagens que o poema erótico suscita despertam no leitor
toda a magia do desejo que se realiza e se esvai, deixando o eu lírico com as
emoções à deriva.
Analisando
a composição formal, a junção dos dois poemas tem o uso de proparoxítonas nos
dois primeiros versos, de paroxítonas nos demais versos, conferindo
musicalidade à declamação. O uso das proparoxítonas, que representam uma regra
fixa de acentuação em Língua Portuguesa, tem a função de demarcar certa
apreensão e até mesmo, certa retração ou timidez, diante de o que,
supostamente, seria “proibido” expor, mas, em seguida, ao fazer uso das
paroxítonas no final dos versos seguintes, o eu lírico solta as amarras do
desejo contido e é despertado para o gozo, sem mais pudores formais, inclusive,
abolindo as rimas.
O
enlace poético entre os Poetrix de Djalma e de Tê Soares também sugere uma
sintonia literária entre os autores, uma vez que a composição solo possibilita
que o autor se expresse subjetivamente, sem comprometimento com a velocidade de
o que diz, enquanto a escrita em conjunto exige que os autores confiem, não
apenas seus conhecimentos sobre a linguagem poética, mas também que entrem em
sintonia com as ideias e reflexões que o poema suscita, além de si mesmos.
Outro
Duplix de teor erótico, agora composto por Tê Soares com Aila Magalhães podem
dar margem ao leitor incauto a questionar a sexualidade das autoras,
desconhecendo que a poesia não tem ”sexo”, tem um sujeito poético que se
expressa nas mais variadas identidades.
VIRTUAL Aila Magalhães//FACTUAL Tê
Soares
Respiro teus cheiros//reviro seus pelos
Desgusto teus sabores// com a volúpia
dos seus odores
Gozo teu invisível amor...//de noite -
dia inteiro sem o sol se pôr
.
Esse instigante Duplix, composto por duas mulheres libertárias, é de uma
sexualidade e sensualidade extravasantes, que pode, sim, representar uma
relação homossexual, o que corrobora com a ideia de que as autoras, livres de
preconceito, conseguiram expressar o amor universal, não apenas uma relação
corporal, fisiológica.
Enfim,
constata-se que a arte da sedução foi muito bem elaborada por Tê Soares e suas
parcerias poéticas, porque atravessaram o “deserto do erotismo” e demonstraram
afinidades autorais e concepções de escrita em comum, além da proficiência na
abordagem do tema, para muitos, um tabu.
4. Conclusão
Aventurar-me
na escrita da biografia uma autora que, praticamente, vivia no anonimato foi um
desafio, mas encarei-o como uma nova perspectiva de aprendizagem e, realmente,
o foi, além de me propiciar conhecer os meandros da escrita de Tê Soares, tive
o grato prazer de me conectar com Pedro Cardoso, não apenas virtualmente, mas
poeticamente, e ressignificar sua poética por meio dos meandros da
memória.
Ao
desvelar a riqueza dos Poetrix compostos por Tê Soares, posso apresentar ao
público a simplicidade e o comprometimento dela com a arte poética, por meio da
publicação de alguns de seus Poetrix (alguns nunca publicados) e das análises
que teci, destacando não apenas os recursos poéticos que ela utilizava, mas a
relação semiótica que ela imprimia em sua composição, ampliando, assim, o
sentido de cada poema.
Descobrir as peculiaridades de composição da
obra de Tê Soares, fez-me perceber seu estilo próprio, que se caracteriza,
principalmente, pelo uso do enjambement e
pelo pouco uso dos verbos de ação, preferindo os verbos de estado. Esses
recursos denotam o conhecimento de linguagem da autora e sua preocupação, além
da própria inspiração, com o fazer poético, suas significações e a
expressividade das emoções.
É um prazer apresentar-lhes um vislumbre da
poética de Tê Soares!
Cleusa Piovesan
[3]LISPECTOR,
Clarice. Um sopro de vida: pulsações. Rocco Digital, out/2020, p. 53.
7 comentários:
Foi uma garimpagem de dois meses! Gratidão ao querido Pedro Cardoso, sem o qual eu pouco saberia sobre Tê Soares e não faria esse resgate de sua bela poética!
Obrigado Cleusa!!!!!E viva a poesia!!!
Muito bom, Cleusa! Uma pesquisa e tanto! Estou adorando ler a história de nossos patronos, contada por poetas
Bela apresentação, Cleusa! Tê Soares merece este destaque!
Parabéns, Cleusa! Que bela apresentação... um trabalho detalhado e primoroso.
Parabéns Cleusa pelo trabalho apresentado, um pouco de Tê para todos.
Parabéns Cleusa pela bela apresentação! Obrigado por nos trazer a trajetória poética da nossa querida Tê Soares e sua grande importância para a história do Poetrix!
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