31 de mar. de 2024

SÁVIO DRUMMOND

 

NOME COMPLETO DO PATRONO: Hermógenes Sávio de Carvalho Drummond

NOME LITERÁRIO: Sávio Drummond

 

Sávio Drummond

DATA DE NASCIMENTO:1951       

DATA DE FALECIMENTO: 2014

NÚMERO DA CADEIRA NA AIP: 23

FUNDADOR:  Andréa Abdala

NOME DO ACADÊMICO ATUAL: Andréa Abdala

 

VIDA E OBRADO PATRONO

 

Sávio Drummond, baiano, médico, possui um belo acervo de contos, poesia e poetrix, além de uma habilidade para desenhar. Como desenhista criou caricaturas de amigos e capas dos livros de diversos escritores do Grupo Cultural Pórtico. Tratava-se de uma alma liberta, por isso não demorou muito neste plano. Após seu falecimento prematuro, Goulart descreveu sobre o poeta: Passeava do trágico ao cômico, do lírico ao popular, com muita leveza e propriedade.

Fui presenteada com um extenso arquivo contendo contos escritos por Sávio, alguns datados de 1995, outros de 2011 e 2012, neles procuro traçar linhas de sua personalidade, estilo, gostos e desgosto.

Sávio habitou num tempo onde a postagem de fotos e selfies não eram tão comuns como nos dias de hoje. A única foto que temos do poeta ainda é desfocada, escondendo pouco de seu rosto, porém delineando o corpo que servia de abrigo para uma alma brilhante, visível nos textos deixados por ele. Sendo assim, eu o apresento em alguns poemas:

 

FADA

 

Corre fada, sara meu mal de amor.

Vem em teus passos de vento assanhar o meu leito,

acalmar meu peito, calar pra sempre esta dor.

Expulsa os fantasmas eternos das muitas noites sem fim.

Ama-me intensamente ou simplesmente, finges que sim.

 

Esse é um poema com acentuado estilo romântico da Segunda Geração em que o poeta explora as emoções exacerbadas e a subjetividade, nele representados pela invocação de uma fada, ser místico, de seus sonhos e da sua imaginação, deixando para trás o que supõe ser uma perversa, talvez, crua, realidade material, de sentimentos idealizados. Por meio do poema o eu lírico faz um pedido a um ser imaginário, ao qual se atribui poderes mágicos, a fim de lhe aplacar as dores causadas pela perda de um amor intenso, que ainda povoa seus pensamentos e o faz sofrer.

 

 

ANJO

 

Se o amor tomasse forma

teria que ter o teu jeito.

Teria os cabelos negros

e muita dor no peito.

 

Às vezes penso que não existes

assim em teu olhar de mel.

Pois se estás aqui comigo

deve estar faltando anjo no céu.

 

Em Anjo, o poeta também usa a temática da Segunda Geração do Romantismo: um amor idealizado, a mulher sonhada, projetada, mas inatingível, primando pela sonoridade das palavras e a musicalidade dos versos demonstrando seu cuidado com o labor poético. Esses recursos contribuem para a estética da obra, além de nos permitir enxergar um eu lírico apaixonado, comparando a mulher amada a um anjo.

 

Poetrix de Sávio Drummond

 

 

antropofágico

 

quando te fores

leva contigo meus olhos,

já que levastes as cores.

 

 

ferohormônio

 

pressinto-te no ar,

farejo-te no vento,

qual bicho ao relento

 

 

pergunta

 

pergunto-me deste criança:

o que resta ao homem,

quando acaba a esperança?

 

O amor e a paixão estão presentes nos poetrix que acabamos de ler. Há em antropofágico um certo tom de melancolia e uma sensação de saudade que permeiam muitas obras românticas, refletindo um sentimento de perda ou insatisfação com o presente.

A poesia romântica frequentemente recorre a imagens simbólicas e metáforas para transmitir emoções e ideias complexas. Percebe-se nos versos de Sávio a valorização da expressão do eu interior e da subjetividade.

No e-book Patronos, publicado pela Academia em 2023, encontram-se poetrix de minha autoria, compostos em homenagem a Sávio. Aqui estão:

 

NAS ASAS DE SÁVIO DRUMMOND

 

Misturou-se às tintas

Coloriu risos e palavras

Um coração caricato

 

MOSAICO

 

Nele cabiam riscos

Dele brotavam versos

Na alma assinava – médico

 

SALVE, SÁVIO!

 

Amou a fada, adolescente

Amor de anjo licencioso

Foi abraçado no paraíso

 

Finalizo por aqui esta singela apresentação sabendo que deixei um pouco deste estimado e grandioso Patrono na companhia de vocês. Sinto-me muito feliz por ser ele quem me prestigia e que me apresenta aos leitores e admiradores do poetrix através da AIP. Termino minha narrativa com um texto de Sávio Drummond na coletânea de contos, presente de Goulart Gomes, em pdf, sem capa ou mesmo título. 



Ao leitor


Segundo a milenar sabedoria chinesa, todo homem deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, para justificar sua existência.

Plantar uma arvore? Plantei várias. No meu jardim, dois Jambeiros frondosos, abrigam dezenas de harmoniosos e barulhentos pássaros, que me acordam todas as manhãs. 

Escrever um livro? Escrevi vários. Pequenos é verdade, na maioria Coletâneas de contos e poesias.

Ter um filho? Tive uma filha, meu mais belo poema.

Quer dizer, que já justifiquei minha existência e posso morrer?

Que nada. Enquanto houver desocupados como você pra ler o que escrevo, vou levando... 

 Sávio Drummond

 

 

REFERÊNCIAS:

 

Arquivo particular de Goulart Gomes;

Antologias Tempoema (Ed. Pórtico, 1995);

Anuário Pórtico, 1997;

Antologia 501 Poetrix, 2021;

Antologia Poetrix 1, 2002.


Autora: Andréa Abdala


3 comentários:

Andréa Abdala disse...

O meu Patrono não poderia ser outro. Admirável!

Marilda Confortin disse...

Puxa! Fiquei emocionada com a apresentação do Sávio. Pena que não o conheci pessoalmente... correria o risco de eu me apaixonar.
Adorei a carta ao leitor. E o que são esses poetrix que Andréa escolheu! Geniais.
Parabéns pelo texto e pelos poetrix em sua homenagem!

Dirce Carneiro disse...

Os Poetrix compostos por Andréa resumem a temática do Patrono Sávio Drummond, um romântico, que longe de se ausentar da realidade, penso eu, mergulham nela, a ponto de ressignificá-la em mundos interiores criados na imaginação, na arte, tornando a vida possível de ser vivida no tempo dado pelo destino.