10 de jan. de 2023

Série Poetrix de Pedro Cardoso


Cova grande

alguém pedia socorro
sufocado com as rimas
palavras tropeçavam nos versos

Cova grande

confiei ao poeta minhas rimas
uma a uma foi devolvida
...pobres demais!

Cova grande

dorme, dorme, dorme...
poeta maldito!
Pedro, tu és pedra

Cova grande

maracatu, tatu, urubu
na poça da lama o verso
esburacado na rima

Cova grande

ora me seduz
ora me magoa
rima pobre, rima rica, rima pobre ...

Cova grande

que bonito sorriso
belo beijo
a poesia não tem face

Cova grande

do presídio das paredes
rimas pobres ganham o mundo
a poesia está morrendo



Cova rasa

era meio-dia
corpo estendido no catre
nem sobra fazia

Cova rasa

vão demolir a casa
preto velho na janela
ficou na moldura

Cova rasa

uma pessoa grande
não coube na vala
os pensamentos ficaram com os pés de fora

Cova rasa

não permita que eu morra
buraco à flor da pele
não cabe meus poemas

Cova rasa

não era amor
alguém pedia socorro
o enterro passou antes da missa

Cova rasa

nua, nua, nua...
vitória-régia
o sonho é coisa pouca

Cova rasa

vão derrubar a casa
quarto, cozinha, banheiro
os poemas serão enterrados no quintal

PEDRO CARDOSO

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