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31 de mar. de 2021

POETRIX: UMA PROPOSTA PARA O NOVO MILÊNIO, por Goulart Gomes

Em 1984 a Universidade de Harvard (USA), solicitou ao escritor e crítico Italo Calvino que elaborasse uma série de palestras a respeito das qualidades da escritura. Ao todo seriam seis palestras. Contudo, em 1985, este escritor nascido em Cuba, mas radicado na Itália, viria a falecer, deixando prontas apenas cinco palestras. Estas palestras foram reunidas em um livro publicado no Brasil pela Companhia das Letras, sob o título “Seis Propostas Para o Próximo Milênio”.

Com sua vasta cultura, Calvino discorre com bastante elegância e propriedade acerca destas “qualidades” - Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade - fazendo um rico passeio pela literatura universal, desde os clássicos até os escritores contemporâneos.

II MANIFESTO POETRIX - 2002

Dos males, o menor!

Toda vanguarda será retaguarda: se não podemos ser eternos, sejamos pós-modernos; se não somos pós-doutores, sejamos pós-autores. Todas as ideologias estão mortas, todos os sujeitos fora de lugar.

Viva o Minimalismo e vamos flanar! O poetrixta desfolha a bandeira: descerrar é melhor que dissertar.

Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix! Viva a ciberpoesia!

Fazer poetrix não é fatiar uma frase em três partes. Viva a insubordinação gramatical, a desobediência civil! Abaixo as orações coordenadas e subordinadas!

Fora do título não há salvação.

Não mais que trinta sílabas para dizer o máximo.

E viva o canibal! Viva o caeté que comeu Sardinha e viva o Cabral!

Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire! Abaixo os derramamentos da poesia fast-food! Dizer muito, falando pouco. Concisão e coerência. Exploremos os significados polissêmicos das frases, a riqueza semântica das palavras, valorizemos as metáforas.

Queremos o salto
o susto
a semântica
a leveza
a rapidez
a exatidão
a visibilidade
a multiplicidade
a consistência

Queremos o Século XXI! Vamos acordar o Novo Milênio!

O poetrix é um projétil que se aloja na alma. O poetrix é um vírus em nossa memória discursiva. É a suprasíntese.

Viva Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald e Drummond!

E viva a Poesia!

E viva o Poetrix!

Viva a alegria e viva um planeta chamado Bahia!

Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu!


Maior é Deus.

Goulart Gomes

Bahia, Brasil, 28/07/2002.

I MANIFESTO POETRIX -1999



O I Manifesto Poetrix  foi publicado no livro TRIX POEMETOS TROPI-KAIS, de Goulart Gomes (Bahia: Pórtico Ed.,1999), premiado com Menção Especial pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores-RJ, em 2000


Alguns conceitos foram modificados posteriormente pelo MIP- Movimento Internacional Poetrix. 






Foi Aníbal Beça, um dos maiores pesquisadores brasileiros de Hai-Kai, quem gentilmente me falou: "Goulart, pode chamar seus inventivos tercetos do que quiser, menos de Hai-Kais". E ele estava absolutamente certo. Não podemos dizer que suco de uva é vinho sem álcool. O Hai-Kai (ou Haiko) é uma milenar arte oriental, que vem aprimorando-se com o passar dos séculos. Mexer na essência das coisas significa criar uma coisa nova, diferente da anterior.

Assim, necessariamente, o Hai-Kai deve possuir 17 sílabas, divididas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas; conter alguma referência à Natureza; referir-se a um evento particular e ater-se ao Presente.

O que apresento neste livro - e que também é feito por muitos outros poetas - é o que agora proponho se chame POETRIX (poe, de poesia, poema; trix, de três, terceto), ou seja, a poesia em três versos, o terzetto, originalmente chamado na Itália.

Mas não apenas isto: venho propor, também, um gênero com características (não, regras) bem definidas e abrangentes:

1. No POETRIX, o título é desejável, mas não exigível. Ele exerceria uma função de complementaridade ao texto, definindo-o ou sendo por ele definido.

2. Não existe rigor quanto ao número de sílabas, métrica ou rimas no POETRIX, mas o uso do ritmo e da similaridade sonora das palavras, sim.

3. O uso de metáforas e outras figuras de linguagem são uma constante no POETRIX, assim como a criação de neologismos.

4. A interação autor/leitor deve ser provocada através da subliminaridade do POETRIX.

5. O POETRIX é necessariamente uma arte minimalista, ou seja, ele procura transmitir a mais completa mensagem com o menor número de palavras.

6. O POETRIX considera Passado, Presente e Futuro como uma só dimensão: TEMPO, podendo ser utilizado indistintamente.

7. No POETRIX o observador (autor), as personagens e o fato observado podem interagir, criando condições suprarreais ou ilógicas ("non sense").

O POETRIX é tipicamente urbano. Ele também aproxima-se das leituras visuais, concretas, do epigrama e do caligrama, podendo ganhar formas animadas. Um experimentalismo deste tipo de POETRIX foi por mim realizado com a produção do livro em disquete MAIS FRACTAIS, em 1996.

O POETRIX vai muito além do ascetismo espartano do Hai-Kai. É isso o que trás este livro: poemetos tropi-kais, leves como quem vive abaixo da linha do Equador. Convido os poetas a exercitá-lo e os leitores a apreciá-los.

A capa deste livro é uma homenagem a Pablo Picasso, que também descobriu, em 1907, um jeito diferente de ver o mundo.

Muito obrigado.

Goulart Gomes


30 de mar. de 2021

Poetrix

 


Discurso de Posse de Goulart Gomes na AIP

Era uma vez um menino esquelético que mal tinha o que vestir, nem sempre tinha o que comer e morava em uma casa que não tinha nada, mas tinha um teto, sob o qual seus pais procuraram fazer o melhor que podiam pela sua “criação”. Filho adotivo de Mário, um guarda civil comunista, paraplégico, aposentado por invalidez e de Maria, uma negra semi-alfabetizada de coração gigante, diziam os médicos que o menino raquítico não iria se criar, que não adiantaria tomar Emulsão Scott nem Biotônico Fontoura.  

O golpe militar havia acontecido um ano antes e o pai adotivo – talvez por ironia, talvez por admiração – não hesitou em colocar no menino (nascido no Dia do Trabalhador) o nome do presidente deposto: João Goulart e lhe dar seu sobrenome:  de Souza Gomes.  Um ato de coragem, naqueles anos de chumbo e pólvora, nos quais pessoas desapareciam por muito menos. Não fosse por isso, o menino seria um Ferreira da Silva (sobrenome de Alice, sua mãe biológica), assim como Lampião, o rei do cangaço.  Aquele menino não tinha noção de quase nada, nunca se perguntara a que veio ao mundo, nem mesmo para que o mundo servia. Vivia. Um dia após o outro, proibido de transitar nas perigosas ruas do Centro Histórico de Salvador, Bahia, onde morava, mas que tinha permissão para ir sozinho aos cines Liceu, Guarani, Tamoio, Excelsior, Bahia e à Biblioteca Monteiro Lobato, no Largo de Nazaré, sempre andando, pois dinheiro para a passagem do ônibus não havia.

Aquele menino, que se encantou com os poucos livros de seu pai (trancados em uma velha cristaleira, pois taças também não havia), os filmes do cinema e as séries de ficção científica da TV (Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do Mar, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, etc), foi o gérmen deste homem que aqui fala. Ninguém acreditaria que pudesse ser. Mas aos poucos, mais livros e filmes foram chegando. Como diria meu querido amigo, o poeta Damário da Cruz, o menino conheceu o mundo primeiro por intermédio deles. Daí, talvez, a visão equivocada, ficcional, das coisas que ele carregaria ao longo da vida. Não era um menino para integrar academias, nem de ginástica nem de letras. O escritor Antônio Torres conviveu com aquele menino e seu pai, antes de ganhar o mundo e uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Feliz coincidência: dois acadêmicos passarem por uma mesma casa.

O menino virou adolescente e foi trabalhar como office-boy do Banco Nacional do Norte, aos quatorze anos de idade. E a partir de então já não faltava dinheiro para comprar livros e mais livros, muitos deles adquiridos no sebo Casa dos Livros, de Dário, no Viaduto da Sé. Seis anos depois se casou com uma colega de trabalho (que já mudou de dimensão e lhe legou dois maravilhosos filhos: Gersínio e Leonardo), mesmo ano em que publicou suas primeiras poesias em uma coletânea. Mania de leitor voraz, que achava que podia ser escritor. E foi se inventando poeta, e foi garatujando muitas coisas. A Educação, a Cultura, o Conhecimento são os mais fortes elementos de transformação socioeconômica.

Foi um processo gradativo de mudanças de seus nomes literários: primeiro, Souza Gomes; depois, João Goulart de Souza Gomes, até afirmar-se como Goulart Gomes (por sugestão do poeta Hugo Pontes).

29 de mar. de 2021

Biografia de Goulart Gomes

Goulart Gomes

CADEIRA 01
PATRONO: MATSUO BASHÔ
FUNDADOR: Goulart Gomes
ATUAL: Goulart Gomes
DATA DE INGRESSO: 5 de julho de 2020

GOULART GOMES, nascido em Salvador, Bahia, em 1 de maio de 1965, é historiador, escritor e numismata. Graduado em Administração de Empresas (UCSAL) e História (UFBA), pós-graduado em Literatura Brasileira (UCSAL) e em Gestão de Comunicação Integrada (ESPM-RJ), mestrando em Museologia (UFBA).

Fundador do Grupo Cultural Pórtico (1995) e criador da linguagem poética Poetrix (1999). Obteve mais de 70 prêmios em concursos de poesia, prosa e festivais de música, participou de mais de 50 coletâneas publicadas no Brasil, Cuba, Espanha, USA, Itália, França e Coréia do Sul e tem trabalhos divulgados em vários outros países.

Como editor alternativo propiciou a publicação de 60 livros e coletâneas de novos autores.

Homepage: www.goulartgomes.com

LIVROS DE GOULART GOMES:

POESIA

Anda Luz (1987)
Todo Desejo (1990)
Sob a Pele (1994)
LinguaJá, o Território Inimigo (2000)
Esfinge Lunar e Outros Enigmas (2001)
Conserto para Prego e Martelo – Poesia Reunida: 1984-1994 (2011)

POETRIX

Trix, Poemetos Tropi-kais (1999)
Minimal, dos males o menor (2007)
Lorem Ipsum (2017)

TEATRO

A Greve Geral (1997)
CORDEL A Divina Comédia (1989)
CONTOS Todo Tipo de Gente (2003)
ENSAIO Matrix Revelations – Tudo o que Você Queria Saber sobre o Filme (2005) 

ROMANCE 

Deixando de Existir (2009)