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25 de fev. de 2023

Duplix de Valéria Pisauro e Dirce Carneiro

Imagem google

INSPIRAÇÃO // TELÚRICA

Rimar sóis e luas com sertão // Contar os dias do mandacaru
Tinta carregada de cores // tons da resistência sobressaem
Acorda o silêncio da pausa. // emerge a força do chão

Valéria Pisauro // Dirce Carneiro

Grafitrix de Dirce Carneiro

Dirce Carneiro
 

7 de fev. de 2023

Grafitrix de Dirce Carneiro


O SINO ENSINA QUE POETAS NÃO MORREM

Dobra o bronze
laço apertado no peito
ainda vejo a poeta em mim

Dirce Carneiro


Poetrix de Dirce Carneiro

LETRA-CHAMA

Poesia é ente amado
sente-se na alma
na palavra é encarnada

Dirce Carneiro

13 de jan. de 2023

Entrevista com DIRCE CARNEIRO

 ENTREVISTA POR ESCRITO COM ACADÊMICOS DA AIP

Entrevistada: Acadêmica DIRCE CARNEIRO
Cadeira: 26
Patrona: Eliana Mora

Dirce Carneiro

1)Quando criança, você escrevia no ar, como se o céu fosse um caderno infinito. Isso já era um prenúncio do que você seria quando adulta? Fale sobre como era sua infância, família, escola, brincadeiras...

Você disse “como se o céu fosse um caderno infinito”. Pois, estava escrito nas estrelas. Sonhos que, mesmo sem saber, joguei para o alto, o Universo acolheu e conspirou favoravelmente.

Inconscientemente, era uma alegoria, uma metáfora, que eu desenhava, quando escrevia frases no ar, respeitando o espaço aéreo para organizar as linhas, dando voltas no caminho já escrito.

Prenúncio de professora em sala de aula, o céu como lousa, ou a vocação para escritora... As duas coisas se concretizaram na minha vida.

Sim, sou escritora. Para a mulher reconhecer-se como tal foi uma conquista. Costumávamos dizer que escritoras eram grandes nomes reconhecidos. Dizíamos até que éramos escritoras amadoras, mas a discussão sobre o papel da mulher no mundo trouxe uma nova visão e aprendemos que “se uma mulher escreve, ela é escritora”, como disse uma vez a filósofa Marcia Tiburi.

Naquela época eu já morava em São Paulo, no interior, na cidade de Barretos, onde minha mãe aportou com todas nós (quatro filhas, o “único filho homem caçula” é paulista). Meu pai já tinha vindo, aventurar-se, com os irmãos. Minha mãe soube que aqui eles poderiam casar-se de novo, então ela deixou tudo nas Gerais: fazenda, casa, cavalos, os bois... eu tinha uma vaquinha.

Minha primeira infância, até os cinco seis anos foi aí, entre todas as brincadeiras que existiam: jogo das cinco Marias, pique (ou pega-pega), cantigas de rodas, papai e mamãe – sempre tinha a hora do parto, chamar a parteira Dona Lúcia - empinar papagaio (pipa, rabiola, quadrado), fogueira à noite no grande quintal circundado pelas casas, causos, descer à campina, nos pés de gabiroba (onde também íamos nos finais de semana cuidar dos casais de namorados, que nos mandavam pegar as frutinhas, as mais doces estavam sempre mais longe...). Brincávamos com bonecas de pano feitas por nossa mãe. Tardes brincando na estação de trem... as moças, sentadas, abriam, garbosas, as rodas dos vestidos e nós, crianças, nos divertíamos “murchando” os leques das vestimentas. Ríamos quando elas percebiam que os vestidos estavam murchos...

Data especial era o dia da chegada do “trem da capital”. Os garçons jogavam pães, guardanapos e outros mimos, com o trem em movimento. As moças reparavam como eles eram bonitos...

Todas as manhãs, íamos à fazenda buscar leite. O caminho era ladeado por mangueiras. Proibido comer manga e depois beber leite. Um dia, desafiamos a morte. Comemos manga, bebemos leite e ficamos esperando a morte. Meio-dia e nada. Resolvemos contar à mãe. “Valha-me Nossa Senhora”. Minha mãe era dramática. Deve ter consultado algum médico, amigo da família.

Não pude ir à escola com minhas irmãs. A professora achou melhor não. Eu sofria de vertigem noturna, tinha pesadelos. Não sei se por isso, mas não entrei para a escola na ocasião. Curioso, agora me dou conta: mas eu escrevia no ar...


2) O que mais você trouxe da infância na bagagem de vida quando mudou-se para a capital de São Paulo? Como foi viver na cidade grande? 

O que eu trouxe de bagagem foi a magia, os dias vividos no interior na primeira infância. Um mundo bom, confiável. Quando migramos, eu era muito criança, há vaga lembrança da casa em Minas, lembro que nos embrenhávamos no mato para catar lagartixa, que minha mãe torrava no fogão à lenha, era um remédio para alguma doença. Isso é real ou fantasia minha? Não sei, tenho isso na memória, assim como lembro da vegetação típica do norte de Minas, o cerrado. Tudo o mais de Minas sei pelas histórias que minha mãe contava, a Festa de Reis, Festa do Divino, a Festa dos Arcos, a vida na fazenda. Meu pai montado no seu cavalo, uma entidade, para conquistá-la...

Ainda está muito vívida a lembrança da viagem pelo Rio São Francisco, o vapor (barco que fazia a travessia), minha mãe, pensativa, sentada num canto, minha tia Oscarina, grande, alta, olhos verdes, voz possante, sempre solícita comigo.

O vapor sangrando o Velho Chico...

Aqui na capital acabou-se a magia. Outro mundo, difícil, de carências...

Era o meu terceiro mundo. Primeiro, o de Minas, segundo, o de Barretos, terceiro, o de São Paulo – Capital, no subúrbio, hoje chama-se periferia. Aprendi que existia mais um mundo, o da desigualdade social. O quarto mundo.

Todos habitando o meu mundo interior, e eu continuava a escrever no ar... Um mundo à parte, o quinto mundo, onde eu guardava tudo o que captava com o olhar, o sentir, as estranhezas, um mundo que só fui compreender muito mais tarde, com a ampliação da consciência, o estudo, os livros, a convivência com amigos, com o ser humano... a terapia...

Dizem que precisamos ter mundos interiores, para sobrevivermos...

Sempre fui muito observadora, propensa a fazer leituras de tudo o que eu via e vivia.

Dessa época, entre tantas coisas, lembro a primeira vez que andei de carro. Uma sensação incrível. Como se um século se passasse num segundo. A percepção da velocidade foi algo inusitado.

Um fato interessante desse tempo é que meu pai trabalhava “na cidade” e trazia livros/revistas de vidas de santos que eu lia. Ele achava bonito eu saber ler e mostrava-me lendo para as visitas.

Tivemos que trabalhar quando crianças. Na escola, eu me destacava e era impaciente quando a professora fazia perguntas e ninguém sabia. Às vezes, inquieta, eu respondia e era recriminada.

Trabalhar era prioridade...

Ganhei um concurso de redação na escola, sobre “as maravilhas que o governo faz com os impostos pagos pelo povo”. Prêmio em dinheiro. Fui com a professora na “cidade” receber. Como eu disse, morávamos no subúrbio.

Contudo, toda essa vivência não apagou a minha essência, que é de sempre acreditar no bom, no belo, no livre, na felicidade, no amor, na solidariedade, ter leveza...

Aparentemente, sou muito tranquila, mas tenho uma determinação que me faz nunca desistir, sou paciente. Isso me foi muito útil na vida.


3) Você é graduada e licenciada em Letras. O Magistério foi vocação ou necessidade? Exerceu por quanto tempo e como foi essa experiência? Você faria outros cursos, ou teria outra profissão além do Magistério?

Magistério foi vocação e necessidade. Como eu disse, trabalhar era prioridade.

Era o boom das profissões em Informática. O futuro. Mas eu tive resistência a exatas, números, ficar em escritórios. No fim precisei aprender a operar tudo isso, para sobreviver na era da tecnologia.

Exerci o Magistério sim, logo depois da Licenciatura. Foi um choque o confronto com um ideal, o que se aprende no mundo acadêmico e a realidade das salas de aula.

Entrei num processo de negação de teorias, revolta contra o discurso idealizado do Ensino, tal era a disparidade do que aprendi e o que enfrentei lecionando.

Passei a buscar uma mudança em mim, tornar-me mais objetiva e prática, saber a lidar com o mundo à minha volta. O mundo não é a imagem que fazemos dele. Assim como os seres humanos.

Foi um trabalho longo, doloroso, difícil, solitário, em todas as áreas da minha vida.

Entretanto, costumo dizer que por mais que nos transformemos, temos uma essência e é preciso sempre considerar este fato.

Estudando poetas, muitos tinham uma “inadequação ao mundo” e isso se refletia em suas obras. Conheço um pouco disso também.

Com o tempo, reconciliei-me com as teorias, reconheço sua importância e procuro mover-me no mundo desvencilhando-me das suas setas inflamadas.

A vida não é só uma comédia. Ela é drama, aventura, ação, ópera, enfim, sem script, sem manual, uma sucessão de atos de todos os gêneros e formas – há momentos sórdidos, maravilhosos, mágicos, sobrenaturais – uma grande travessia épica, o viver.

Aprendi o significado do perdão, da tolerância e compaixão, para nos mantermos saudáveis, para curarmos e entendermos nossas histórias.

“Hay que endurecerse pero sin perder la ternura” (a frase é do Che)


4) Você começou a escrever sob influência de autores clássicos ou contemporâneos? Quais autores te influenciaram no passado e quais te influenciam no presente?

Pela minha formação acadêmica - um curso que exige muita leitura, de autores de todos os tempos, dos clássicos aos contemporâneos. Li da Odisseia a Mário de Andrade, até os mais atuais. No entanto, não saberia dizer se houve influência na minha escrita, porque quando se lê na Faculdade o olhar é outro, tem objetivos definidos, um foco determinado. Principalmente nessa época, a preocupação era terminar o curso para poder trabalhar, dar assistência aos meus pais. Escolhi um currículo ambicioso para cursar, do qual eu desisti porque todos os irmãos se casaram e eu me sentia responsável por minha mãe. Prestei vestibular para poder mudar de curso, terminar em um ano a Faculdade e nesse mesmo ano minha mãe faleceu. Foi um choque, não sabia lidar com a morte, fiquei muito mal, ao mesmo tempo em que concluí que não temos controle de nada nesta vida. Fazemos planos, mas os desígnios divinos não sabemos.

Voltando, se tenho influência de algum autor clássico ou moderno, respondo que não, porque ainda busco minha voz literária, minha assinatura em tudo que escrevo.

Atualmente, estou num ano quase sabático, pensando no rumo que quero dar ao ofício, que já teve a fase de terapia, a fase da volta às teorias, a fase do olhar objetivo do mundo...Hoje, preciso encontrar um caminho, reencontrar-me como escritora e com o prazer e o bem que o ato de escrever sempre me deu.

 
Recentemente, sobre o que escrevo, elaborei a frase: "Durante muito tempo, escrever, para mim, foi cura, hoje eu busco a cura para a minha Poesia." (Dirce Carneiro)

Não posso deixar de citar os grandes autores portugueses, os da antiguidade, os brasileiros, como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Peçanha, Cesário Verde, Antônio Nobre, Machado de Assis, José de Alencar, Castro Alves, Aluízio de Azevedo, Casimiro de Abreu, Júlio Ribeiro, Padre Antônio Vieira, Clarice Lispector, Ligia Fagundes Telles, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Jorge Amado, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Pagu, Manoel de Barros, Guilherme de Almeida e muitos outros, a lista é enorme, infindável, imaginem cinco  anos estudando e tendo que ler muito, textos teóricos, romances, contos, poesias, manifestos de todas as escolas literárias, obras de todo tipo de autores de todas as nacionalidades, para fazer trabalhos, análises, resumos. E teve, à parte da graduação, o curso de Licenciatura, que habilita a lecionar.

Trabalhar durante o dia e estudar à noite, não havia finais de semana, feriados, férias...noites sem dormir... Valeu à pena, a alma se engrandece.


5) Quantos livros você publicou e em que gênero? Tem algum livro seu preferido? Tem expectativas de venda quando publica? Como faz para divulgar e vender a sua literatura?

algumas coletâneas
Já participei de mais de uma centena de coletâneas, antologias, plaquetes e outras publicações de prosa e poesia. Sempre priorizei o coletivo.

Com a chegada do primeiro neto, senti vontade de ter um livro solo. Escrevi Retrato em Verso e Vista, Coleção 2 do Mulherio das Letras, onde misturo prosa, poesia, mais da metade do livro com poemas minimalistas Poetrix, estes são do tempo da “inocência”, como eu chamo a fase em que se escrevia sem muito rigor técnico-poetríxtico. Trato de vários temas, sobre os quais eu me debruço, medito. O título é uma alusão a imagens e letras, uma ideia antiga que eu tinha sobre um livro, que ainda pretendo retomar em outro formato.

Escrevi também Mistérios da Quarentena, infanto-juvenil, história lúdica de uma criança vivendo o isolamento, na pandemia, no ambiente doméstico.

Por fim, Ressignificâncias – de gavetas e janelas abertas, como o primeiro, é um livro de “bolsa”, da Coleção 3 Mulherio das Letras. São textos escritos no passado e recentes, que colocam o ente escritor atingido por sua expressão, a palavra como elemento atemporal e imorredouro.

Gosto dos três, por motivos específicos. Se fosse para escolher, seria Mistérios da Quarentena, o infantil, cujo personagem é meu primeiro neto.

Não sei vender meus livros. Pessoas como eu (não afeitas ao comércio) deveriam ter um agente que cuidasse disso. Ainda não cheguei nesse patamar, hehe...

Dou de presente, vendo alguns...não sei vender mesmo, nem para bancar os custos. Publicar é muito caro. Por isso as publicações autorais são poucas. Todo o ônus é do autor, o sistema usufrui.

Penso em publicar um livro só de Poetrix, é o projeto sendo gestado. Mas preciso enfrentar o trabalho de seleção entre os mais de 5.000 que tenho – claro, muitos deles não seriam Poetrix genuínos, nem em cotejo com a Bula, nem com as Diretrizes. Não é que esses documentos se impõem, mas sim, que evoluí e o conceito de um belo e bom Poetrix mudou em mim com o tempo, assim como o conceito de um belo e bom poema ou texto em prosa.


6) De onde vem sua inspiração para escrever? Você acha que já definiu um estilo para sua escrita?

Inspiração é um caso à parte para mim. Já a entendi envolta numa aura mística. Gosto do texto que brota, que aparece “do nada”, geração espontânea. Depois, lendo, parece que não foi escrito por mim, alguns tão bonitos... para o meu gosto.

Ah...a prática...o aprendizado... 99% de transpiração e 1% de inspiração. Nada de baixar o santo. É trabalho, burilamento, técnica, estudo, ourivesaria. E repertório, tão importante, para não se repetir e ser atrativa a leitura.

O segredo é muita leitura e algum talento. Gostar. Não desanimar, insistir...

Sobre o meu estilo, como disse acima, ainda busco a minha voz literária, a minha assinatura.

Atualmente, preciso descobrir sobre o que quero escrever... Sair da inércia. Acho que foi efeito da pandemia, da situação que vivemos no país, a política, não sei... Ando preocupada também com umas questões pessoais.


7) Como é seu processo criativo? Tem períodos em que não produz? Se sim, como reage?

Já falei sobre a inspiração, quando o texto brota, a ideia vem, depois burilar...ou não.

Com ou sem a inspiração, preciso de quietude, decidir o que escrever, por necessidade ou prática da arte. É ato racional, meu lado prático aprendido, exercício de disciplina.

Geralmente é uma ideia, uma provocação, um clarão, ato de vontade, decisão.

Nas fases de “branco”, quando nada vem, são noites escuras, dolorosas, parece que perco o contato com o chão, saio de órbita. Costuma durar consideravelmente. Para vencer, é ato heroico, muita disciplina, vontade, pegar um tema e tentar escrever, trabalho muscular mesmo.

É meio triste, mas gosto quando consigo vencer.

Então, meu processo criativo envolve atitude para sair da inércia. Gosto de escrever sobre temas, motes, imagens, músicas, fotos, livros, filmes, enfim, eficaz quando provocada.

Anotar ideias, frases, para não esquecer. Percebo que tenho muitas ideias antes de dormir. Aí preciso levantar-me para anotar, do contrário, esqueço.

De todo modo, escrevo livremente primeiro, porque se fico pensando no certo ou errado, em convenções outras, há o bloqueio e não flui. Depois, leio e leio, fazendo concertos e consertos.

Sou muito liberta, não me prendo muito a convenções e os textos que faço com formas fixas, métricas, são para disciplinar-me, aguçar, acho, o lado esquerdo do meu cérebro. Precisei aprender um pouco de objetividade e pragmatismo para sobreviver.

Por isso, gosto de conviver com pessoas diferentes de mim, embora ainda me assuste com personalidades muito calculistas, frias, sem empatia. Existem pessoas que, embora muito objetivas, têm, também, o lado emocional bem desenvolvido, então é uma beleza a convivência. São pessoas especiais, aprendo muito com elas.

8) O que despertou o gosto pelo minimalismo e especificamente, pelo Poetrix? Quando conheceu e começou a escrever Poetrix?

O minimalismo, em si, atraiu-me.

Comecei a sentir necessidade da concisão, expressar-me com mais economia de palavras que fosse, ao mesmo tempo, uma capacidade de sintetizar a visão do mundo, das coisas, de conceitos, produto de reflexão da realidade exterior e interior que me habita.

Assim, encantei-me com o haikai (ou haiku, mais usual em outras partes)

Quando comecei a escrever publicamente, no Recanto das Letras, conheci o Poetrix. Foi amor à primeira vista. Pelo conceito, a técnica e, acima de tudo, por ser uma forma bem brasileira, nascida na Bahia, criada por Goulart Gomes.

Com formação em Literatura Brasileira e Portuguesa, logo vi a importância desta criação no contexto da Língua Portuguesa e sua Literatura. Cabe a nós, poetas, cultivá-la para que um dia seja reconhecida em todos os idiomas e suas literaturas, como é o haicai, o soneto, a trova, o rondel, o poema livre e tantas outras.

Então, dediquei-me freneticamente ao Poetrix, no Forum do Recanto das Letras, no qual atuava o grupo Parceiros de Poetrix, coordenado por Denise Severgnini, composto por poetas notáveis, como Fátima Mota, Karina K, Mardilê Friedrich Fabre, dentre outras e outrosEram poetrix feitos com paixão. Na época da “inocência”, não nos importávamos com as críticas, as desqualificações, cultivávamos a união do grupo. Quem sabe, se me ativesse às críticas, teria começado o aperfeiçoamento, já naquela época. Mas tudo tem seu tempo. É preciso amadurecer, evoluir.

Fui convidada para participar da Antologia Poetrix 5 por Goulart Gomes. A partir daí, o Poetrix passou a ser companhia diária.

Estudei bastante, principalmente a Bula Poetrix, Seis Propostas Para O Próximo Milênio e tantos outros textos teóricos, encontrados na internet, no Recanto das Letras e no Território Inimigo, este de Goulart Gomes.

Participei de grupo de Poetrix, o Ciranda Poetrix, do grupo Selo Poetrix, este de Diana Pilatti e José de Castro e agora, na Academia Internacional Poetrix, temos as Diretrizes, documento da Academina que procurou sintetizar e atualizar os conceitos para a escrita do Poetrix.

O aprendizado nunca se esgota, o importante é praticar sempre e ler muito.


9) Fale-nos sobre a importância da Arte na sua vida.

A Arte existe porque a vida não basta, frase de Ferreira Gullar, tão verdadeira. A Arte é essencial para vida, é o que nos tira do lugar comum, que nos eleva à dimensão do belo, da reflexão, da contemplação, provocando mudanças em nós.

A Arte cura, temos exemplos através da Música, da Literatura, das Artes Marciais, do Esporte, enfim, tudo isso nos coloca em contato com uma parte de nós ansiosa por algo que nos torne maiores e melhores do que somos. Arte é bálsamo, isso ficou provado durante a pandemia da Covid-19.


10) Chegou sua hora de responder essa pergunta: O que diria sobre a frase de Manoel de Barros “O que é bom para o lixo é bom para a poesia”?

Hehe...o feitiço virando contra a feiticeira, porque já fiz esta pergunta provocativa para outros entrevistados. Foi um desafio, não sabíamos o que íamos ter como respostas, mas todos surpreenderam com suas interpretações.

Penso que Manoel de Barros se refere á subjetividade do olhar e da percepção de cada um. O desimportante para uns é essencial para outros. Muitos criticaram Manoel de Barros pela forma e conteúdo do que escreveu. Hoje ele é celebrado como um dos maiores escritores contemporâneos. Sua casa, transformada em museu, tem um convite na entrada:

"Bem-vindos à casa do poeta das coisas desimportantes"

Poderia escrever muito sobre a frase, sobre a relação do lixo com a Poesia, o escrever de cada um.

Lixo, na frase, pode significar as coisas simples da vida, o corriqueiro, tudo o que é considerado descartável, desprezível, inútil; toda dor, infelicidade, rejeição, doença, vileza, gestos, enfim, tudo que serve para jogar fora – sucatas têm história, depende do olhar do poeta tirar de todo lixo a seiva poética, reviver com Poesia o aparentemente morto. Nada se despreza no olhar de um escritor, assim como toda imagem importa no olhar de quem fotografa.

Esta questão se conecta com a anterior, o papel da Arte na vida de todos. O que fazemos com nossos lixos, materiais e subjetivos...transformar, às vezes, lixo, em algo precioso.

Acho que se aplica a Manoel de Barros a afirmação de Leon Tolstói:

Fale de sua aldeia e serás universal.

Os maiores escritores, pintores, músicos, enfim – grandes artistas – falaram de si e de seus mundos, mas de uma maneira transcendente, diria mesmo filosófica, social e política e se transformaram em autores atemporais.


11) Você foi eleita para a Academia Poetrix em novembro de 2001 e logo em seguida assumiu a Diretoria de Comunicação. Como foi/é sua experiência na diretoria da AIP? Quais projetos implantou? 

Foi um desafio e ao mesmo tempo uma vontade imensa de ser útil à Academia, dizer a que se veio, sob o entendimento de que aqui estamos, não para sermos celebrados, mas para celebrarmos o Poetrix, ajudar a construir a casa que abriga os poetrixtas, edificar e fortalecer a AIP, por consequência, a forma de expressão literária à qual nos dedicamos.

Assumi, na Diretoria, a área de Comunicação e propus alguns projetos aos quais me dediquei, com o apoio de todos os membros da gestão e busquei a cooperação dos acadêmicos.

De início, soube, através da nossa Presidente, a Marilda Confortin, que iria cuidar do Blog, concernente à publicação dos poetrix dos acadêmicos e não acadêmicos. Gostei muito porque aprendi uma ferramenta tecnológica que eu não conhecia e porque gosto de ler os poetrix produzidos pelos poetas. No início, os acadêmicos não mandavam Poetrix, precisava pedir ou buscar nos livros publicados. Agora, este aspecto melhorou. Capto os poemas no grupo específico, que é o Publicação AIP, iniciativa herdada de Aila Magalhães, que é a vice-presidente da nossa Academia.

Link para a série

 Propus, também, os Poetrix Temáticos. Afinal estamos na Academia pelo Poetrix e precisamos sempre produzir, de todas as maneiras nos reinventarmos, publicar no Blog para divulgação da atividade dos acadêmicos.



Na Diretoria é assim: propõe, tem que apresentar o projeto completo, como será desenvolvido no tempo e no espaço. A partir daí, o projeto é discutido por todos na Diretoria, aperfeiçoado, até chegarmos ao formato que é levado aos acadêmicos, os quais ainda apresentam sugestões que podem ser incorporadas ao projeto.

Toda atividade com os acadêmicos é um desafio, pela necessidade de adesão, participação, aceitação.

Por não ser obrigatório, nem todos participam e é necessário muito empenho para a atividade acontecer. A atividade, em si, é prazerosa, mas quando não há adesão, é desgastante e triste.

Propus, também, as Entrevistas Por Escrito Com Acadêmicos da AIP.

Até hoje, todos os convidados, com três exceções, aceitaram a entrevista, que se caracteriza como uma possibilidade de se conhecer detalhes da vida e da personalidade dos acadêmicos. Este trabalho vem sendo uma uma experiência muito interessante para a Diretoria e para a AIP. Um material a ser guardado com muito carinho, aliás, como tudo o que está no Blog.

Sobre o tipo de atividade que aprecio, gosto demais de participar da seleção de conteúdo para Antologias, caso da Antologia Poetrix 8 – Infinito, publicação coordenada pela acadêmica Lílian Maial, Secretária-Geral da AIP. Dediquei-me com carinho e afinco a esse trabalho, que foi deveras gratificante. Com prazer e atenção específica, li os poemas dessa galeria fantástica de poetrixtas, participantes de publicação histórica, a primeira oficialmente realizada pela AIP, desde a idealização até a publicação.

Examinar Poetrix em Concursos Internacionais de Poetrix é uma tarefa que me dá muito prazer.

No mais, colaboro em qualquer área em trabalho de equipe, desde que tenha conhecimento para tal ou possa aprender, dentro das possibilidades de tempo e circunstâncias do momento.

12) Como Diretora de Comunicação da AIP, você entrevistou um acadêmico por mês. Como era a aceitação ao seu convite? Ainda faltam vários para serem entrevistados. Você acha que as entrevistas devem continuar nas próximas gestões? 

Todos aceitaram prontamente. Três, depois, por motivos diversos, não retornaram e foram substituídos. O aceite é sempre acompanhado da declaração de orgulho e muita honra por parte dos acadêmicos.

Agradeço a todos que colaboraram.

Se deve ou não continuar e mudanças a fazer, a próxima gestão, juntamente com o plenário, decidirá se continua com os projetos implementados pela gestão Por um Trix, que se encerra em março.


13) Por que escolheu Eliana Mora como patrona da sua cadeira?

A cadeira 26, designada a mim, como resultado da eleição de outubro de 2021, já tinha como patrona a poeta Eliana Mora, sobre a qual escrevi no meu discurso de posse, cuja íntegra está no link desta academia:

Sobre Eliana Mora, está escrito no seu blog:

“….no meio do caminho, sudeste, Brasil. Uma mulher que amanheceu a vida com Poesia. E com ela segue pelos entardeceres.”

Senti-me honrada por ter Eliana Mora como patrona, uma mulher, poeta, brasileira, jornalista, professora universitária, Mestre na Arte de Dizer.

Seu pai dizia que: "Ser poeta é uma coisa que nasce com a gente."

Concordo inteiramente, digo sempre que ser poeta está no DNA.

Conheçam mais de Eliana Mora visitando o link acima do Blog da AIP.

14) Qual sua opinião sobre as redes sociais? O quanto você interage nessas mídias?

As redes sociais, hoje, são um território multifacetado, merecem estudo. Há desde a função cultural, artística, social, política, de utilidade pública, até aspectos polêmicos.

As redes sociais participam da vida cultural da sociedade.

Como um microcosmos, refletem a realidade.

Permitem amplo engajamento em temas de toda a natureza, inclusive favorecendo discussões e análise da situação do Brasil e do mundo.


Um exemplo marcante da atualidade, foi o do mais amplo debate em campanhas políticas em nosso país, um dos pleitos mais acirrados, no qual as redes sociais tiveram um papel preponderante e de fundamental importância.

É um fenômeno verificado não só aqui, mas também nos Estados Unidos e em outros países.


Tenho divulgado o trabalho da academia nas redes. Publico no Face, principalmente na minha página e na página do Grupo Poetrix, no Instagram, no Twitter, no Recanto das Letras e nos outros grupos de Literatura e até de política.

Tenho muitos textos – não todos - hospedados no site Recanto das Letras.

Muitos usam as redes sociais para fins profissionais, acho isso positivo.

Escritores, poetas, artistas, divulgam seus trabalhos, isso é muito bom.

Não tenho sido muito assídua nas redes com publicações pessoais, autorais, mas quando tenho vontade, divulgo textos, livros, dou opinião, comento fatos atuais.

Por outro lado, as redes têm as fake news, tão nocivas, trazem a desinformação e muitas vezes prejudicam, expõem negativamente as pessoas.

Boa parte do povo só se informa por esses meios e acreditam nas notícias falsas veiculadas.

Com o tempo, talvez, se chegue a uma solução para o mundo cibernético.

O ser humano precisa aprender a usar as invenções para a evolução e o bem do Planeta.

15)O que acha dos grupos de literatura feminina e/ou feministas?

Foram essenciais para a visibilidade de mulheres escritoras, que não encontravam espaço nesse nicho dominado pelo gênero masculino.

Assim, as próprias mulheres, sem a tutela de homens, puderam se organizar e mostrar sua capacidade de trabalho no âmbito literário.


Ressalto o Movimento Mulherio das Letras, criado em 2017, idealização da educadora e ativista cultural, a freira Maria Valéria Rezende, a partir de uma página no Facebook. Logo reuniu milhares de mulheres e o movimento se expandiu para outros países. É o grupo literário feminino e feminista mais representativo no Brasil, hoje.

Realizam todos os anos um congresso, em uma das capitais brasileiras. Neste ano de 2023, será no Rio de Janeiro e a nossa acadêmica Lílian Maial está empenhada na organização do evento.

Há escritoras, editoras e todas as áreas envolvidas no meio editorial.

16) Qual a sua visão de mundo na atualidade e qual sua expectativa política, econômica e social para o Brasil a partir de 2023?

Acho que o mundo enfrenta grandes desafios, frente à perplexidade, em meio a forças antagônicas, aliás, como sempre foi, mas agora com grupos tentando legitimar atitudes, conceitos, ações e movimentos que se contrapõem à liberdade, ao bom, ao belo, ao transcendente. É um movimento global, só agora com os holofotes sobre ele, por causa de eventos alheios à civilização.

Por outro lado, há grandes segmentos em busca da espiritualidade, da transcendência, do bom, do belo, da evolução.

Como de hábito, quem grita mais alto aparece mais.

E como viver? Não perdendo a esperança, cada um fazendo a sua parte, o melhor para si e para todos.

Eu acredito no Amor, este sim, vencerá. O amor é que mantém o Universo sem sucumbir. Tenho crença, fé.

Especificamente, para o Brasil, gosto do advento de um tempo de leveza, da proposta da pacificação, da visão do País de todos, como é de verdade, bastando, para isso, que se edifique, consertando heranças estruturais, corrigindo-se visões tradicionais equivocadas na nossa teia sócio-política-econômica.

O verbo presente é esperançar. Estou acreditando. É bom sonhar, é bom saber que a vida não passou sem ver alguns ideais sendo possíveis.

Assisti a algumas posses de ministros.

Reforçaram a esperança, principalmente a beleza, a simbologia da apresentação dos indígenas, numa dança ritual, tão significativa.

E o discurso de Sonia Guajajara e Anielle Franco, num Palácio do Planalto em reconstrução, após ser atacado.

Nada de ódio, de grosseria, de vileza. Mulheres delicadas, firmes, corajosas, com palavras de ancestralidade, presente e futuro, vozes claras, cristalinas...como não acreditar e esperançar? Como não querer o bom e melhor para todos?

Desejo sorte e sabedoria a esses homens e mulheres nesse desafio.

Só de sentir a leveza, não viver de sobressalto, na incerteza, voltar ao planeta redondo, não ver gente diferente morrendo de medo de viver, ouvir discursos com lógica, já valeu à pena.


17) Você gostaria de abordar outros assuntos nessa entrevista? Fique à vontade para discorrer sobre eles.

Primeiro, gostaria de agradecer à acadêmica Regina Lyra por ter me incentivado a apresentar minha candidatura à AIP. 

Novamente, gratidão aos acadêmicos fundadores que votaram na minha trajetória.

Segundo, ressaltar o convívio com os membros da Diretoria, foi um tempo de aprendizado, cooperação e construção. Marilda, Lílian, Andréa e Francisco. Agradeço o período em que estivemos juntos.

Especialmente à Marilda, que teve paciência comigo, na minha inquietude.

Também peço desculpas a esse grupo de gestão se causei algum desconcerto, em certos momentos.

Finalmente, dirijo a palavra aos acadêmicos da casa: fortaleçamos a AIP, participem das atividades, proponham projetos, sobretudo, escrevam Poetrix!


Dirce, agradeço imensamente pela entrevista, pelo seu trabalho na diretoria da AIP,  e gostaria de encerrar com um belo Poetrix de sua autoria.


INTERESPELHO

Espelhar-se em poetas
poemas reverberam
a palavra se partilha

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Entrevistadora: Marilda Confortin, cadeira 14 da AIP


19 de dez. de 2022

Grafitrix de Dirce Carneiro


Foto e texto: Dirce Carneiro
Foto tirada em Bariloche - Argentina

Grafitrix apresentado na exposição Poetrix em Buenos Aires - Argentina
Organizado por Isi Caruso há alguns anos


27 de nov. de 2022

10 de nov. de 2022

18 de set. de 2022

Grafitrix de Dirce Carneiro

foto Google
Cortejo funeral da Rainha Elizabeth II


ROYAL CORTEJO (REAL)

Corpo levado por vivos
último passeio entre corpos
todos estamos de passagem

Dirce Carneiro

Poetrix de Dirce Carneiro

PINTANDO O SETE NO PLANALTO

A voz destoante
mudança de foco
questões de alcova

Dirce Carneiro

28 de ago. de 2022