Que a eternidade possa contradizer meus conceitos de tempo e deixar o poetrix gravado na memória e na história da literatura.
Amém!
Ana Mello
Era uma vez um menino esquelético que mal tinha o que vestir, nem sempre tinha o que comer e morava em uma casa que não tinha nada, mas tinha um teto, sob o qual seus pais procuraram fazer o melhor que podiam pela sua “criação”. Filho adotivo de Mário, um guarda civil comunista, paraplégico, aposentado por invalidez e de Maria, uma negra semi-alfabetizada de coração gigante, diziam os médicos que o menino raquítico não iria se criar, que não adiantaria tomar Emulsão Scott nem Biotônico Fontoura.
O golpe militar havia acontecido um ano antes e o pai adotivo – talvez por ironia, talvez por admiração – não hesitou em colocar no menino (nascido no Dia do Trabalhador) o nome do presidente deposto: João Goulart e lhe dar seu sobrenome: de Souza Gomes. Um ato de coragem, naqueles anos de chumbo e pólvora, nos quais pessoas desapareciam por muito menos. Não fosse por isso, o menino seria um Ferreira da Silva (sobrenome de Alice, sua mãe biológica), assim como Lampião, o rei do cangaço. Aquele menino não tinha noção de quase nada, nunca se perguntara a que veio ao mundo, nem mesmo para que o mundo servia. Vivia. Um dia após o outro, proibido de transitar nas perigosas ruas do Centro Histórico de Salvador, Bahia, onde morava, mas que tinha permissão para ir sozinho aos cines Liceu, Guarani, Tamoio, Excelsior, Bahia e à Biblioteca Monteiro Lobato, no Largo de Nazaré, sempre andando, pois dinheiro para a passagem do ônibus não havia.
Aquele menino, que se encantou com os poucos livros de seu pai (trancados em uma velha cristaleira, pois taças também não havia), os filmes do cinema e as séries de ficção científica da TV (Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do Mar, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, etc), foi o gérmen deste homem que aqui fala. Ninguém acreditaria que pudesse ser. Mas aos poucos, mais livros e filmes foram chegando. Como diria meu querido amigo, o poeta Damário da Cruz, o menino conheceu o mundo primeiro por intermédio deles. Daí, talvez, a visão equivocada, ficcional, das coisas que ele carregaria ao longo da vida. Não era um menino para integrar academias, nem de ginástica nem de letras. O escritor Antônio Torres conviveu com aquele menino e seu pai, antes de ganhar o mundo e uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Feliz coincidência: dois acadêmicos passarem por uma mesma casa.
O menino virou adolescente e foi trabalhar como office-boy do Banco Nacional do Norte, aos quatorze anos de idade. E a partir de então já não faltava dinheiro para comprar livros e mais livros, muitos deles adquiridos no sebo Casa dos Livros, de Dário, no Viaduto da Sé. Seis anos depois se casou com uma colega de trabalho (que já mudou de dimensão e lhe legou dois maravilhosos filhos: Gersínio e Leonardo), mesmo ano em que publicou suas primeiras poesias em uma coletânea. Mania de leitor voraz, que achava que podia ser escritor. E foi se inventando poeta, e foi garatujando muitas coisas. A Educação, a Cultura, o Conhecimento são os mais fortes elementos de transformação socioeconômica.
Foi um processo gradativo de mudanças de seus nomes literários: primeiro, Souza Gomes; depois, João Goulart de Souza Gomes, até afirmar-se como Goulart Gomes (por sugestão do poeta Hugo Pontes).
Olá, meus amigos poetrixtas!
É uma grande satisfação fazer parte dessa nossa Academia, tendo como objetivo a ampla divulgação do nosso poetrix. Ocupo a cadeira 6, tendo a honra de ter como patrono o saudoso mestre poeta Carlos Drummond de Andrade (Itabira-MG, 31 de outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987).
Sobre a minha formação universitária, bem como quanto à minha trajetória profissional, em resumo, tudo começou quando fiz o curso de Direito, entre 1977 a 1982, na Universidade Católica de Pernambuco. Logo após a conclusão do curso e, com o registro da OAB-PE, passei a exercer a minha atividade advocatícia na área do Direito do Trabalho. Posteriormente, contemplado no concurso para o cargo de Delegado de Polícia, exerci aquela função em diversas cidades do interior, até quando fui designado para a Corregedoria, onde completei a minha missão como Delegado, aposentando-me com a intenção de retornar a minha atividade anterior. Fiz mais dois cursos de pós-graduação na área jurídica. Porém, sempre fui apaixonado pela literatura, especialmente à poesia. Durante minha cavalgada poética, encantei-me pela poesia do admirável poeta Carlos Drummonde Andrade, meu digníssimo patrono.
Nesta oportunidade, venho saudar ao mestre e amigo Goulart Gomes, criador dessa nova linguagem poética, uma pessoa maravilhosa, inteligente, criativa, que se dedica à literatura em geral, especialmente à poesia, com quem continuo aprendendo muito, durante esses 20 e poucos anos na elaboração do nosso terceto.
Saudade, sinto muita, da época que começamos a criar, inventar, reinventar os nossos poetrix no grupo do Yahoo. A empolgação era intensa, uma alegria demasiada, uma vontade extraordinária de escrever sempre o que sentíamos, o que pensávamos, o que vivíamos, extraindo o que havia de melhor, de mais bonito...
Sinto-me grato e pleno por ter participado de todas as antologias publicadas pelo Movimento Internacional Poetrix.
Em 2014, publiquei o meu primeiro livro de poetrix, pela editora Literata - São Paulo, lançado primeiramente na Bienal do Livro de São Paulo e, posteriormente, na minha cidade Recife/PE, na Livraria Jaqueira. Foi um momento de conquista e de festa!
O meu desejo é seguir esse Movimento Literário sempre na condição de eterno aprendiz, participando de todos os eventos dedicados ao nosso poeminha. E que nem os afazeres e tampouco as adversidades da vida roubem de mim o tempo e a disposição para que eu cada vez mais desfrute dos meus momentos de leitura, de criatividade.
Para finalizar, agradeço de coração a todos os meus amigos poetrixtas e admiradores do nosso poemeto.
Abraços com poesia,
ACM
Hoje só é possível porque foi-se o ontem.
Tudo é transitório, desfazimento, e por mais que doa ou pareça doer, também passará.
Quisera ter conhecido Manoel de Barros e perdido passos ao seu lado pelas margens de um rio.
Imagino quantos descoisamentos ele poderia ter me revelado.
Na impossibilidade desse desejo, faço-o cúmplice de meus descompletares.
Manoel de Barros
Descobrir Manoel de Barros foi assombroso, foi como olhar dentro de mim.
Quando o leio, é como se estivesse lendo algo escrito para mim, sinto-me encontrando um amigo de velhos tempos. Não poderia escolher um Patrono que não ele.
Ser poeta não é divino, sublime, nem nada. Penso que ser poeta é mais um não-ser, o que exige o trabalho de desfazimentos.É difícil praticar desfazimentos, mas isso não precisa ser preocupante. Na verdade, quanto maior a pre-ocupação, menos a poesia sairá de trás da orelha, do bico da chaleira ou de dentro de uma nuvem.
Bem, o primeiro beijo sempre haverá de preocupar - e muito - o que não quer dizer que não possa ser poético, porque pode, já que começa por fazer-se e vira tudo que nem sabemos, como lagarta que voa, folha molhada de orvalho, concha que gestou pérola, o primeiro respiro de uma criança ou um raio de sol nadando em um lago .
Poetrix é poema de desfazimentos. Furtar dos versos as desnecessidades e oferecer em troca pegadas que não se sabe aonde chegarão, silhueta nua na sombra da parede, buraco de fechadura de onde escapa luz.
Estou aprendendo desfazeres. Há 20 anos.
Neste tempo de ligeirezas, percebi-me por vezes em um estado de não-ser, que somente a poesia ou sonhos orgásticos podem proporcionar, mas vocês sabem, ambos são como nuvens em uma linda manhã de outono, chegando e partindo sem aviso ou cerimônia.
Então vou seguindo por aí, especulando horizontes e veredas, e vez por outra dou de cara com fiapinhos de espantos largados ao pé de um tamarindeiro - Devires.
Não é segredo que tenho um caso - com o Poetrix - Um grande caso de amor!
Conheci-o através do Pedro Cardoso que à distância cutucou minha curiosidade, bem forte, creio, ou quem sabe fez-se essência do próprio nome e bateu-me na cabeça. Digo-lhe que não doeu, mas rachou, e escorreu um poetrix, o primeiro de muitos. Serei sempre grata pela cutucada e ensinamentos, querido Pedro!
Aquilae
Depois veio o João Goulart Gomes, o GG. Confesso ter sentido um pouco de medo.
GG era cheio de pequenas graças escondidas por trás dos óculos, enfeitava palavras com belezuras de tirar o fôlego, inventadas ali, na hora.