EU E O POETRIX
(Dirce Carneiro
Acadêmica AIP Cadeira 26)
Porque atraiu-me, dedico-me e escrevo Poetrix?
A proposta acenou-me como desafio.
Num mundo da velocidade, em que, muitas vezes, a pressa anula o intervalo entre o enunciado da mensagem e o seu fim – o raciocínio, o Poetrix, para mim, se apresentou como forma poética a romper essa bolha de clips rápidos e alienantes.
Já disse, em outras ocasiões, que o Poetrix une o clássico e o moderno-contemporâneo, contemplando uma das mais interessantes combinações culturais.
Clássica, porque traz, na forma, fixa, a exigência de 30 sílabas poéticas no terceto, não se considerando o título nesta contagem.
Moderno-contemporâneo, porque no seu conteúdo, livre, cabem todos os universos de assuntos que habitam a imaginação dos poetas.
Assim, para meu estilo dissertativo, fui desafiada a sintetizar enunciados poéticos e visões de mundo, tendo a profundidade e a máxima poeticidade (possível a cada autor), como atributos capazes de impactar o leitor.
Um, entre outros desafios, se apresenta neste fazer poetrixta: a independência dos versos. Muito já se falou sobre isso. Não me alongarei no básico da questão.
Só menciono a tendência de se compor tercetos sem oração (sem verbo) como artifício para fugir do chamado fatiamento.
Em debate, sempre frutífero, com um estudioso de Língua Portuguesa e outros idiomas, que justificava a ausência de verbos nos seus poemas, veio ao contexto a citação “No princípio era o verbo”
Sim, disse-lhe eu:
- O verbo estava oculto, existia no conceito, como ideia, mas na hora de se comunicar, ele se “fez carne”, materializou-se, mostrou a face do que pairava sobre a criação:
- O criador do mundo queria se comunicar, mandar sua mensagem.
O poetrixta quer se comunicar, numa mensagem de versos com enunciados completos.
Sem engessamentos. Nada é absoluto.
Às vezes, também nos comunicamos apenas com gestos, olhares, algo em suspenso e/ou secreto e até mesmo símbolos.
Clássico-moderno-contemporâneo. É o Poetrix. Certinho na forma, ousado, atrevido, lírico, poético e imprevisível no conteúdo. Tudo o que um poeta pode ser com as palavras.
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Dirce Carneiro
Acadêmica AIP Cadeira 26
Outubro/25
 
4 comentários:
Concordo, Dirce. O poetrix é uma forma revolucionária dentro das formas fixas... Com poucos versos, poucas palavras, pode expressar o máximo de conteúdo... E, ainda por cima, nos surpreender e encantar. O poetrix um pequeno notável que nos traz grandes possibilidades expressionais...
Grata pelo comentário poeta José de Castro. Poetrix é o miúdo profundo.
Gratificante este meu texto ter sido aprovado para publicação aqui no blog.
Oi Dirce.
Sua relação com o Poetrix tem alguma semelhança com a minha. Falei sobre ela no texto antigo "sobre a (in)utilidade do Poetrix".
A diferença fundamental é que, na época, eu não via o Poetrix como um desafio e sim como uma surpreendente e deliciosa poesia minimalista.
Não era "desafiador" escrever Poetrix. Era relaxante, agradável. Era uma forma de combater os desafios do dia a dia, através da poesia.
Mas, infelizmente pra mim, descobri que existe uma "pegadinha" no Poetrix: a independência sintática dos versos. Parece coisa de vestibular.
A partir daí, esse critério passou a ser uma armadilha para eliminar qualquer um que não seja um estudioso da língua e que se atreva a escrever Poetrix só por prazer, sem dissecar cada palavra, cada verso, como se fosse um um corretor ortográfico automático procurando os erros do poeta sem se importar com a poeticidade.
Mas, esse é um problema meu. Eu nunca encarei a poesia como um desafio, muito menos como um problema linguístico a ser decifrado. Prefiro decifrar metáforas ou apenas senti-las, sem obrigatoriamente traduzir em palavras.
Segue o barco, minha amiga. Apesar das diferenças, as colisões de nossas rotas não são desastrosas e sim construtivas 🚣♀️ 😘
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