19 de abr. de 2023

Poetrix de Marilda Confortin



OUTONO CHUVOSO 


Morre mais um dia
A noite cai em prantos
Sapos não (co)acham a lua


Marilda Confortin

9 comentários:

José de Castro disse...

Excelente poetrix! Não há como classificá-lo como haicai, pois o cânone do terceto oriental não prevê uso de metáforas... E tão poetrix que realiza o chamado "susto", que prefiro chamar de "efeito surpresa", no terceiro verso. Parabéns, Marilda...

Andréa Abdala disse...

É um poetrix delicado, harmônico e repleto de significados. Adorei!

Marilda Confortin disse...

Obrigada, José e Andréa. Alguém comentou no grupo que esse Poetrix tinha cara de haicai. Sempre que compomos tercetos sobre as estações do ano, somos remetidos ao haicai. A temática desse poetrix é a mesma, mas a estrutura dos versos é bem diferente, né. Reforçando:

- O haicai (original) não tem título;
- Os versos seguem a métrica 5, 7, 5 sílabas;
- O haicaísta observa e reproduz fielmente a natureza, sem dar à ela características ou sentimentos humanos;
- Haicai desaconselha o uso das figuras de linguagem e/ou símbolos que possam gerar dúvidas sobre o significado exato das palavras;
- Tem que ter, obrigatoriamente, um elemento (Kigo) que identifique a estação do ano em que foi escrito.

Já o Poetrix...:
- Tem que ter, obrigatoriamente, título;
- Os três versos, juntos, podem ter até 30 sílabas no máximo;
- O poetrista interage com a natureza e/ou com o fato observado, misturando suas realidades e sentimentos;
- O uso de figuras de linguagem é altamente recomendado e é permitido o uso de artifícios que ampliem o sentido das palavras permitindo outras interpretações;
- É atemporal (não precisa identificar o momento/período em que foi escrito)
- É recomendável a existência de um elemento surpresa que dê um sustinho gostoso no leitor, fazendo-o ler novamente com outros olhos.

Para mim, essas são as principais diferenças entre esses dois maravilhosos tercetos. Gosto dos dois.

Abraços e obrigada pela leitura.

Francisco José disse...

Lindo Poetrix, Marilda.
Título articulado com os versos, no segundo e terceiro versos duas belas figuras de linguagem, e no terceiro um baita susto. Parabéns.

Dirce Carneiro disse...

Gostei muito desse Poetrix que nos traz a memória do haiku. Assim como a explanação sobre um e outro.
Só quem domina ambas as técnicas pode brincar assim de fazer poema.

Pedro Cardoso disse...

"A noite cai em prantos" depois deste verso eu vou falar o quê?

Andréa Abdala disse...

Que delícia ler a descrição acima. Senti representada! Gosto demais dos dois!!

Dirce Carneiro disse...

Creio que houve um mal entendido sobre o meu comentário, quando disse que o excelente Poetrix de Marilda nos trazia a memória do Haicai. Não é a mesma coisa de ser confundido com Haicai, do qual conheço o conceito e pratico. Enfim, mas se foi ensejo para termos lição de Haicai, então valeu.
Bashô não se zangaria com meu comentário, porque neste belo Poetrix há um elemento que ele usou num dos seus haicais mais famosos: o sapo. As artes conversam entre si. Espero ter esclarecido, Marilda e José de Castro.
Mas eu entendo, às vezes, uma mensagem ser tomada apenas em uma de suas partes e não no todo do seu significado. Cada um tem sua leitura e modo de interpretar as coisas.

Marilda Confortin disse...

Dirce, nem sei quem disse que o Poetrix lembrava o Haicai... Só aproveitei o comentário do José para passar a limpo e gravar na minha cabeça as diferenças entre um e outro. Não me senti nada ofendida. Muito pelo contrário. Gostei da leitura apurada e dos comentários que vc e os outros postaram. Muito obrigada!