NOME COMPLETO: JÚLIO AFRÂNIO PEIXOTO
NOME LITERÁRIO: AFRÂNIO PEIXOTO
MESTRE DE HIGIENE E MEDICINA LEGAL. ESCRITOR TALENTOSO
PAI
DO HAICAI NO BRASIL
Fonte: Jacobina, 2010 |
Júlio Afrânio Peixoto nasceu em Lençóis,
nas Lavras Diamantinas, Bahia, em 17 de dezembro de 1876. Filho de Virgínia de Morais Peixoto e do
capitão Francisco Afrânio Peixoto. Criado no interior da Bahia, cujos cenários
constituem a situação de muitos dos seus romances, sua formação intelectual se
fez em Salvador, onde se diplomou em Medicina, em 1897 (81ª turma), como aluno
laureado. Sua tese inaugural, “Epilepsia e crime” (Meirelles et al., 2004),
despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.
Iniciou
sua carreira docente como Preparador de Medicina
Legal na Faculdade de Medicina da Bahia. Logo depois o político baiano José
Joaquim Seabra, Ministro da Justiça e Negócios Interiores, o convidou para
atuar na capital federal. Juliano Moreira, seu mestre querido, agora colega
professor, já tinha se transferido para a capital federal, Ambos, que já se
encontravam no Rio de Janeiro desde final de 1902, pediram exoneração das
funções docentes na Fameb, que foi concedida em 1903 (Faculdade..., 1903, p.
431).
O primeiro vínculo na capital federal foi
o de inspetor de Saúde Pública (1902) e depois, a convite do diretor e amigo,
Juliano Moreira, foi auxiliara na diretoria do Hospital Nacional de Alienados
(1904). Entre 1904 e 1906, viajou por vários países da Europa, sobretudo na
França, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos no campo de sua
especialidade, aliando também a curiosidade de arte e turismo ao interesse do
estudo. Nessa primeira viagem à Europa travou conhecimento, a bordo, com a família
de Alberto de Faria, da qual viria a fazer parte, sete anos depois, ao casar-se
com Francisca de Faria Peixoto. Sobre sua experiência de estudos no Instituto
Pasteur, em Paris, segundo Prof. Carlos Lacaz, ele “sempre se referia ao que
ali ganhou na força do método, como elemento fundamental na sua formação
científica” (Lacaz, 1963, p.40).
Após concurso, em 1906, foi nomeado professor de Medicina Legal e Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de professor extraordinário da Faculdade de Medicina (1911). Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem examinou o corpo do escritor assassinado e assinou o laudo.
Alguns autores registram sua ferrenha
campanha na Academia Nacional de Medicina contra a indicação de Carlos Chagas,
pesquisador responsável pela descoberta do agente etiológico (Trypanosoma cruzi), dos vetores e de
formas clínicas da Doença de Chagas, para Prêmio Nobel de Medicina de 1921.
Houve a “divergência científica” de o bócio endêmico ser “assimilado à tal
tripanozomiase”, [...] “para mister impatriótico de gratificar uma fama pessoal
com uma calamidade pública” (Peixoto, 1922, f. iii-iv).
Alguns chegam a responsabilizá-lo por
Chagas não ter obtido o prêmio, ante as divergências entre cientistas no
próprio país do indicado (Maio, 1994), mas deve-se ter cautela, pois foram 44
indicados e nenhum premiado. Enquanto Hilário de Gouveia indicou Chagas, outro
brasileiro, C.S. de Magalhães, do Rio de Janeiro, indicou Patrick Manson, como
destacou Naftale Katz em conferência no XVII Congresso Brasileiro de História
da Medicina, São Luís, em 9 de novembro de 2012.
Esteve em outros cargos públicos como o de
diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915); diretor da Instrução Pública
do Distrito Federal (1916); deputado federal pela Bahia (1924-1930); professor
de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932). No
magistério, chegou a reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935. (Calmon,
1949)
A sua estreia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo,
com a publicação, em 1900, de “Rosa mística”, curioso e original drama em cinco
atos, luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato. O próprio
autor renegou essa obra, anotando, no exemplar existente na Biblioteca da
Academia, a observação: "incorrigível. Só o fogo." Ao vir ao Rio, seu
pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela
literatura após a publicação de “Rosa mística”. Sua obra médico-legal-científica
avolumava-se.
A retomada à
literatura foi uma implicação a que o autor foi levado em decorrência de sua
eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à
revelia, em 7 de maio de 1910, para a Cadeira n. 7, na sucessão de Euclides da
Cunha. Ele estava fora do país, no Egito, em sua segunda viagem ao exterior.
Começou a escrever o romance “A esfinge”, o que fez em três meses. O Egito
inspirou-lhe o título e a trama novelesca, o eterno conflito entre o homem e a
mulher que se querem, transposto para o ambiente requintado da sociedade
carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis, as conversas do
mundanismo, versando sobre política, negócios da Bolsa, assuntos literários e
artísticos, viagens ao exterior. Em certo momento, no capítulo "O Barro
Branco", conduz o personagem principal, Paulo, a uma cidade do interior,
em visita aos familiares ali residentes. Demonstra Afrânio, nessas páginas, a
atmosfera (“a força telúrica”) com que impregnou a sua obra novelesca (Academia...,
s/d).
O Médico, Professor e Escritor Júlio
Afrânio Peixoto.
Fonte: Jacobina, 2013 |
O romance, publicado em 1911, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros. Na trilogia de romances regionalistas “Maria Bonita” (1914), “Fruta do mato” (1920) e “Bugrinha” (1922), que foi violentamente criticada pelos modernistas, é importante a análise psicológica das personagens femininas.
Segundo o texto oficial da Academia, Afrânio Peixoto era “dotado de
personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um primoroso
conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e
encantadora”. “Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores
se igualaram na época a Afrânio Peixoto” (Academia..., s/d). Por outro lado, o
crítico literário Alfredo Bosi, autor do clássico
"História Concisa da Literatura Brasileira", fez uma análise
contundente sobre algumas das obras literárias de Afrânio Peixoto: "A
verdade é que nunca ultrapassaram os lugares-comuns do provincianismo cultural
de festejado acadêmico".
Em suas obras, também foi destaque as
biografias, como o ensaio Castro Alves, o poeta e o poema (1922); e,
entre os livros de crônicas, o Breviário da Bahia (1946), escrito com amor para
celebrar sua terra natal.
E o poeta Afrânio Peixoto? Ele tem um
grande protagonismo nos versos: foi o introdutor no Brasil do Haicai (haiku), o curto poema japonês, feito
em terceto (5/7/5 sílabas), e tem como tema principal a natureza ou as estações
do ano. Eis alguns haicais, que fez nem sempre seguindo o rigor japonês, como
por exemplo, colocando o título:
Pétala caída
Que torna de
novo ao ramo:
Uma borboleta!
Arte de Resumir
O ipê florido,
Perdendo todas
as folhas,
Fez-se uma flor
só.
Perfume Silvestre
As coisas
humildes
Têm seu encanto
discreto:
O capim
melado...
Herança
Ele pó, modesto,
Ela neve, pura: deram
Um pouco de lama.
(Afrânio Peixoto. Miçangas: poesia e folclore. São Paulo: Ed. Nacional, 1931)
Afrânio Peixoto - médico legista, professor, político, crítico,
ensaísta, romancista, historiador literário - procurou resumir em sua biografia
e o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras
que publicou em dois versos: "Estudou e escreveu, nada mais lhe aconteceu.
Ele se encantou no Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1947. Em Vitória
da Conquista, BA, foi criado, em 1966, o Hospital Psiquiátrico Afrânio Peixoto.
É nome de rua em Salvador, em Fortaleza, em Osasco e outras cidades. Foi membro
da Academia Brasileira de Letras (Cadeira n. 7).
Afrânio Peixoto é também o patrono da Cadeira 29 da Academia de Medicina
da Bahia, cujos Titulares foram José Santiago da Mota e Prof.ª Eliane Elisa de
Souza e Azevedo, sendo o Titular atual Ronaldo Ribeiro Jacobina, o autor deste
trabalho. No Instituto Baiano de História da Medicina e Ciências Afins, ele é
Patrono da Cadeira 36, que teve como Titulares Maurino Cezimbra Tavares,
Oswaldo Delway de Souza e Edson Francisco de Oliveira Cardoso. E como mais uma
prova de que está encantado em nossa memória, ele agora é patrono da Cadeira 25
da Academia Internacional Poetrix, sendo Titular, o autor desta biografia
breve. Sobre Afrânio Peixoto, Calmon (1949) afirma que
inúmeros foram os
ensaios, prefácios, conferências, estudos esparsos, que não chegou a reunir em
volume, e formam a sua bagagem de infatigável mestre de letras, de quem se
disse com razão, cultivou como raros a conversa, e nos mais variados campos da
inteligência deu a medida de seus méritos (Calmon, 1949, p. 219).
Júlio Afrânio Peixoto procurou resumir em
sua biografia e o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra, na
medicina legal e nas centenas de obras que publicou em dois versos: "Estudou e escreveu, / Nada mais lhe
aconteceu."
Principais obras:
Rosa mística, drama (1900); Lufada sinistra, novela (1900); A esfinge, romance (1911); Maria Bonita, romance (1914); Minha terra e minha gente, história
(1915); Poeira da estrada, crítica
(1918); Trovas brasileiras (1919); José Bonifácio, o velho e o moço,
biografia (1920); Fruta do mato,
romance (1920); Castro Alves, o poeta e o
poema (1922); Bugrinha, romance
(1922); Dicionário dos Lusíadas,
filologia (1924); Camões e o Brasil,
crítica (1926); Arte poética, ensaio
(1925); As razões do coração, romance
(1925); Uma mulher como as outras,
romance (1928); História da literatura
brasileira (1931); Panorama da
literatura brasileira (1940); Pepitas,
ensaio (1942); Breviário da Bahia
(1946). Além dessas, publicou obras de outros autores e numerosos livros de
medicina, história, discursos e prefácios.
Referências
ACADEMIA Brasileira de Letras.
Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro, s/d. Disponível em:<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=44&sid=127>.
Acesso em: 12/11/2008.
CALMON, Pedro. História
da Literatura Bahiana. São Paulo: Livraria e Editora José Olympio,
1949.p. 219-220.
LACAZ, Carlos da Silva.
“Afrânio Peixoto”. In: LACAZ, Carlos da Silva. Vultos da Medicina Brasileira. São Paulo: Editora Helicon/Pfizer,
1963. p. 40.
MAIO, Marcos Chor. Afrânio Peixoto; notas sobre uma trajetória
médica. Revista SBPC, n. 11,
p.75-81, 1994.
MEIRELLES, Nevolanda S.;
SANTOS, Francisca da C.; OLIVEIRA, Vilma L.N. de; LEMOS-JÚNIOR, Laudenor P.;
TAVARES-NETO, José. Teses doutorais de
titulados pela Faculdade de Medicina da Bahia, de 1840 a 1928. Gazeta Médica da Bahia, v.74, n.1, p.
9-101, jan.-jun. 2004.
PEIXOTO, Afrânio. Carta ao Prof. Miguel Couto, mui digno
Presidente da Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro, Acervo da
Academia Nacional de Medicina, 8 dez. 1922.
PEIXOTO,
Afrânio. Miçangas: poesia e folclore.
São Paulo: Ed. Nacional, 1931.
SOUZA Antônio Loureiro de.
Afrânio Peixoto. In: SOUZA Antônio Loureiro de. Baianos ilustres (1564-1925). 2.ed. Bahia: Secretaria da
Educação e Cultura-Governo do Estado da Bahia, p. 249-250, 1973.
TAVARES-NETO, José; OLIVEIRA,
Vilma; SANTIAGO, Eliane; SANTOS, Francisca. Formandos de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Feira
de Santana-BA: Academia de Medicina de Feira de Santana, 2008. 331p.
Autor: Ronaldo Ribeiro Jacobina
10 comentários:
A ideia de criar uma Galeria dos Patronos da academia Poetrix, foi de Ronaldo Jacobina, lá atras quando ele se inscreveu para concorrer à uma cadeira na AIP. Demorou, mas está aí, o projeto em andamento. E é ele que inaugura a página no site da AIP. Abraços, Jacobina!
É uma alegria estar inaugurando nossa Galeria dos Patronos AIP!!. Este ato da gestão Mínimo é Mais é um passo importante e se fazia urgente. Nossos Patronos são especiais. Agradecemos aos membros da comissão, em especial a Marilda Confortin pela lembrança e a Ronaldo Jacobina pela excelente proposta. Viva!
Parabéns, Ronaldo Jacobina. Com Afrânio Peixoto inaugura-se esta bela Galeria de Patronos AIP... Vamos que vamos!
Parabéns à AIP pela acolhida da sugestão de Ronaldo Jacobina, de fazermos a Galeria dos Patronos. Esses nomes ajudam a ilustrar quem os poetrixtas homenageiam e o universo é vasto.
Essa ideia merece os nossos aplausos. Adoro ler sobre os poetas que admiro de paixão!!!
Essa "sociedade dos poetas mortos" da AIP só tem os vares mais importantes da nossa literatura. Parabéns pela excelente exposição sobre seu patrono, Ronaldo!
Parabéns, Ronaldo, pela inauguração dessa galeria, que foi ideia sua. Parabéns à diretoria, por colocá-la em prática. É muito importante sempre lembrar dos poetas que nos inspiram.
Parabéns Ronaldo, um conteúdo maravilhoso do teu Patrono. Os Patronos da AIP são inspiradores, realmente, como falou nossa amiga Lilian Maial.
Confreiras e Confrades, obrigado pelas palavras generosas. Que bom que uma ideia boa não foi perdida!
É interessante conhecer todos os Patronos de nossa Academia. Um abraço
Texto acima: Ronaldo Ribeiro Jacobina Titular da a cadeira n 25 da AIP cujo patrono é nosso querido Júlio Afrânio Peixoto
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