Cova grande
alguém pedia socorro
sufocado com as rimas
palavras tropeçavam nos versos
Cova grande
confiei ao poeta minhas rimas
uma a uma foi devolvida
...pobres demais!
Cova grande
dorme, dorme, dorme...
poeta maldito!
Pedro, tu és pedra
Cova grande
maracatu, tatu, urubu
na poça da lama o verso
esburacado na rima
Cova grande
ora me seduz
ora me magoa
rima pobre, rima rica, rima pobre ...
Cova grande
que bonito sorriso
belo beijo
a poesia não tem face
Cova grande
do presídio das paredes
rimas pobres ganham o mundo
a poesia está morrendo
Cova rasa
era meio-dia
corpo estendido no catre
nem sobra fazia
Cova rasa
vão demolir a casa
preto velho na janela
ficou na moldura
Cova rasa
uma pessoa grande
não coube na vala
os pensamentos ficaram com os pés de fora
Cova rasa
não permita que eu morra
buraco à flor da pele
não cabe meus poemas
Cova rasa
não era amor
alguém pedia socorro
o enterro passou antes da missa
Cova rasa
nua, nua, nua...
vitória-régia
o sonho é coisa pouca
Cova rasa
vão derrubar a casa
quarto, cozinha, banheiro
os poemas serão enterrados no quintal
PEDRO CARDOSO
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